Capítulo 21 - Relações e pessoas (Violet)
Seis meses depois.
Estava extremamente frio. A estação estava mudada, as folhas amareladas que antes coloriam todo o chão tinham desaparecido um pouco, apodrecendo ou sendo levadas pelas chuvas. Não demoraria muito para que começasse a nevar, estávamos muito perto do sul da Russia. E também muito perto do inverno, as arvores sem qualquer folha denunciando.
E isso era preocupante, para nossos animais e nossa economia...
Nando caminhava ao meu lado, estávamos coletando ervas e frutas nativas durante uma hora da manhã, antes que o Sol ficasse a pino. Ele estava como um fantasma, completamente colado do meu lado, já fazia tempo, como sempre era quando estava comigo. Ainda não sabia se gostava disso, ou me incomodava com todo aquele silêncio.
Ele parecia sempre desconfortável do meu lado, por algum motivo que ainda não sabia qual era, mas descobriria uma hora ou outra.
Agachei, o capuz sobre os olhos, apertando as cochas pra me adaptar ao chão desconfortável. Com a cesta, catei algumas frutas do arbusto, e raízes medicinais que normalmente nasciam por ali.
— Encontrou alguma coisa de ervas Nando?— Perguntei.
— Não.
— Frutas?— Continuei, ainda tentando puxar assunto.
— Algumas só.
Suspirei profundamente com as cortadas deles. Sentei no chão, o rosto suado, mas as pontas dos dedos frias.
— Você sabe falar mais do que duas palavras?— Ri, baixinho, sarcástica, e ele me olhou no rosto, pela primeira vez no dia.
— Claro que sei.— E corou, olhando para os próprios como se sua vida dependesse daquilo. Percebi que suspirou um pouco antes de resmungar.— Desculpa, não estou em um bom dia hoje.
— Só hoje Nando?— Olhei por baixo do capuz pra ele, a sobrancelha arqueada sem que eles perceba.— Quando você era mais novo conversava mais comigo...
— Já faz bastante tempo isso Violet, já faz quase 8 anos. Pessoas mudam não acha?— Disse, mais ríspido do que achei que me responderia.
— Calminha, não quis ofender, só achei que poderia conversar mais com você, já faz realmente tempo que não conversamos, mesmo quando vocês chegaram aqui.— Sorri, tentando voltar com o clima amigável, já que sempre coletamos juntos.
— É, pode até ser, qualquer hora...— Resmungou, terminando com mais um gelo aquela conversa.
Quando voltamos para o acampamento, já era hora do almoço. Os postes com tochas crepitavam, deixando o lugar bem mais acolhedor e caloroso, além que parava a ventania fria que estava sempre me deixando arrepiada!
— Violet!— Uma voz fininha e infantil gritou, correndo pelo acampamento com as perninhas curtas, os braços abertos. Peguei Em no colo, jogando ela pelo ar.
— Oi Emily! Como estão as pernas?— Perguntei, um sorriso preocupado no rosto.— Você não tentou nadar sozinha de novo, tentou?
— Não, mamãe disse que se eu fizer isso não vou poder comer torta depois do jantar.— Respondeu, inocente, enquanto eu tirava uma mecha de cabelo escuro do seu rosto.
— Sua mãe está certa, você nos assustou!— Disse, um pouco mais séria, vendo o rosto dela murchar um pouco.— Onde está sua mãe meu amor?
— Falando de mim?— Barb veio caminhando, meio aos tropeços, pra nós, passando as mãos nos cabelos da filha.— Vamos comer meninas, está muito frio aqui fora, não sei porque gostam de ficar conversando no vento!— Abraçou os próprios braços, esfregando as mãos com frio.
Caminhamos junto com a leva de pessoas que ia junta para a tenda de refeitório, entrando no ambiente abafado com o calor das panelas, dominado de pessoas falando, e pelo cheiro da comida que infestava todo o ar.
Pegamos um prato, nos servimos, e olhando pela nossa maior tenda, procurando uma mesa que não estivesse apinhada de pessoas comendo. O calor ali dentro era muito bom...
Achamos Lara sentada mais afastada, no fundo da tenda onde estava um pouco mais frio e vazio do que o resto do lugar. Um ótimo lugar pra nos sentarmos.
— Oi Lara.— Cumprimentei, sentando bem ao seu lado.
— Boa tarde.— Respondeu, esboçando um sorriso.
Lara nunca foi muito de conversar com as pessoas à volta, o que não me incomoda de jeito nenhum, poderia ser tímida. Por um longo tempo também fui esse tipo de pessoa, sei como é. Barb também não se importava muito com isso, provavelmente porque sabia de mais motivos do que eu.
Emily comia fofinha como uma criança, sorrindo as vezes quando jogava comida longe com o garfo, o que fazia Barb quase ficar vermelha como uma pimenta sempre que a comida atingia alguém que estava sentado ao nosso lado. Eu sabia que era obrigação dela, mas ficava com dó das broncas que Barb estava dava na filha. Emily era sempre tão fofa... Tinha adquirido uma paixão por ela, por tudo o que aquela criança fazia, desde as piores até as melhores coisas. Acho que, talvez, essa seja a definição de uma irmã, ou uma mãe, ou algo assim, porque o que eu tinha por aquela menina não era normal.
Mas se eu parasse pra pensar, nada naquelas pessoas era muito normal...
Atrás de uma das tendas mais afastadas, onde nós parávamos as carroças e os animais, ficava Alasca, uma égua branca, com 2 anos de idade, que era o que eu poderia chamar de meu xodó, naquele acampamento.
Sorri, me aproximando devagar do animal, que sempre ficava amarrado e pastando no fundo do cercado, como se estivesse isolada. Era extremamente adorável...
Eu sempre amei cavalos, desde quando era bem novinha, com pouco mais de 5 anos de idade. Tinha estátuas por todos os lados, brinquedos que me lembravam cavalos... Era como se eu soubesse que precisaria daquela paixão mais tarde. Nos tempos em que tudo estava bem, eu não podia chegar perto de um cavalo, morava nas cidades, e sempre vislumbrava algum pelas ruas, era como se meu coração disparasse. Pode parecer uma loucura, e realmente é, mas pessoas são viciadas em drogas, armas, e eu? Sou viciada em cavalos.
Caminhei até encostar no cercado improvisado que ficavam os animais, os dois braços encostados na madeira. Alasca tinha nascido naquele lugar, mas nunca parecia ter se adaptado ao ambiente. Tinha as orelhas negras, apesar do corpo inteiro ser branco, e os olhos pequenos e negros, que sempre faiscavam. Aquela égua nasceu pra ser livre, mas era a mais forte e robusta entre todas, o que impedia de a mandarmos embora, ou deixa-la ir (por que eu já teria feito isso a muito tempo se fosse escolha minha).
Alasca colocou a cabeça no meu ombro, assim que finalmente caminhou até mim. Aquela égua era muito apegada a mim, e eu a ela. Acariciei a pelagem do seu rosto e crina. Passando devagar as orelhas finas e negra
— Como anda a minha menina?— Perguntei baixinho, ouvindo ela bufar de animação no meu ouvido.— Estava com saudades de você, faz bastante tempo que não te vejo Alasca.— A égua balançou a cabeça devagar, para me encarar, meu rosto refletindo nos olhos profundos.
— Você fala com animais e eu sabia?— Daniel falou alto, caminhando por entre as carroças e cercas pra chegar até mim.— É tipo uma branca de neve conversando com passarinhos?
— Não, é só a velha Violet conversando com cavalos.— Ri, assim que ele chegou perto, me cumprimentando com um beijo na bochecha.— Essa é Alasca, eu estava vindo ver como ela está.
— É a égua que você tinha me contado?
— Sim, ela mesma.— Sorri ainda mais, voltando meu olhar de volta pro animal.— Alasca, esse é Daniel.— O animal o olhou, como se conseguísse realmente nos entender.— Ela é dócil, mas não se engane, é a mais rápida e forte que temos. Pode encostar, coice ela não vai te dar.— Alasca deu dois passos pra perto de Daniel, um pouco desconfiada. Daniel levantou a mão e tocou o vento dela, também acariciando a crina dela.
— Ela é incrivelmente linda!— Suspirou, abrindo um sorriso quase como se estivesse triste com alguma coisa.
O vento chacoalhou meus cabelos e os dele, bagunçando nós dois enquanto Daniel vasculhava com os olhos Alasca, devagar. Joguei o capuz por cima da cabeça, fazendo Alasca me olhar um pouquinho.
— Preciso ir, sai um pouco do trabalho, mas preciso voltar agora, só passei pra dar uma olhadinha em Alasca.— Resmunguei.— Tem gente que precisa de cuidados lá na tenda hospitalar.
— Que pena, achei que poderia ficar por perto um pouco de você!— Ele fez biquinho.— Acho que vou ter que ficar doente...
— Se você aparecer por la...— Me aproximei, ficando com as pontas dos pés pra sussurrar no seu ouvido.— Sem que esteja com uma perna amputada...— Ri, soltando o ar.— Eu corto suas bolas.
E roubei um selinho antes de caminhar de volta pra dentro do acampamento.
Oieee milhos pra pipoca!!! Tudo bem?!! Espero que sim!!
Capítulo da Violet aqui pra vocês, queria muito mostrar a relação deles depois desses 6 meses de convivência, e acho que consegui sim!! Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, e não se esqueçam da estrelinha linda que me ajuda demais!!
Beijinhos e até amanhã milhos pra pipoca!!!
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