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Capítulo 1 - Papai (Barb)

     Emily dormia nos meus braços, pequena e murcha, como uma bolinha. Seu rosto, calmo e sereno, pálido, exalava inocência. Tão pequena e que precisa de atenção e ajda.

     Uma manhã quente, mas fresca, nascia mais uma vez. As ultimas brisas da primavera passaram por mim, caracterizando o fim de maio. Sorri, vendo como minha pequena se espreguiçou ao Sol, acordando aos poucos. Ela sorriu um pouco, me lembrando que precisava levantar.

     Devon e Nando estavam acordados, cozinhando alguma coisa que tinha cheiro de carne. Era muito cedo, porque o orvalho ainda cobria as arvores, e o frio ainda estava forte, apesar de ser quase verão.

     — Bom dia Barb.— Nando murmurou baixinho pra mim, provavelmente para não acordar Em.

     — Bom dia.

     Passei ao lado de Daniel e Louis, que dormiam um ao contrario do outro, sem fazer barulho. Encostei ao lado de Devon, que ainda estava bem sonolento na manhã, com o intuito de ajudar a cozinha. Quanto mais rápido terminarmos, mais rápido continuaremos a andar. Não é seguro para Em ficarmos muito tempo em um só lugar. Para os adultos mesmo já era perigoso.

     Devagar, Lara, Daniel e Louis acordavam, e com a nova movimentação, Emily também acabou acordando. Tratei rapidamente de acorda-la direitinho, e trocar suas roupas folgadas e mais quentes por algo mais leve. Emily não reclamou de nada, e as vezes eu me perguntava se aquilo era o comportamento normal de uma criança de 6 anos, ou se Em era só uma criança bem treinada.

     Isso é um pensamento horrível Barbara. Crianças não são treinadas, são educadas! Ser treinado não é infância. Minha mente me repreendeu.

     Digeri meus pensamentos junto com a comida enquanto voltávamos a andar pelos campos montanhosos. Como todos os dias dos últimos dois anos, Em caminhava durante algumas horas e depois eu precisava carregar minha filha no colo (Em não é mais tão pequena assim).

     Daniel sempre me ajudava nessas horas. É impressionante como ele tem paixão por Emily, como ama minha filha. Segura com um amor tão enorme, um cuidado imenso, e Em sempre consegue dormir quando ele coloca ela na cama.

      O Sol subiu no céu e desceu de novo, enquanto atravessávamos uma montanha pelo lado menos perigoso. Um novo campo com arvores se estendeu, e arfei um pouco quando paramos por um segundo para olhar o por do Sol.

     Emily pediu para descer do colo para o chão, e puxou minha blusa, encarando meu rosto com os olhinhos cinzentos.

     — Tão bonito mamãe.— Sorriu pra mim.

     — É bonito mesmo meu amor.— Concordo, segurando a mãozinha dela.

     — Vamos acampar por aqui mesmo hoje.— Louis murmura, descendo alguns poucos metros para um lugar onde caberia todos para passar a noite.

     Um tanto mais ao longe, via-se uma cidade, ou um começo de uma, sendo iluminada pelo Sol. Sentamos e Devon começou a produzir a fogueira, que depois de tantos anos fazendo isso todas as noites, pegava rápido.

     O fogo não era realmente para nos esquentar, já que o calor fazia isso sozinho. Era uma forma de acolhimento, já que decidimos fazer do mundo nosso lar, e cada fogueira nos acolhia. Em era fascinada pelo fogo, e eu adoro o rostinho da minha pequena observando as chamas, ouvindo o crepitar. Sempre imagino o que ela vê, qual seu fascínio por aquilo.

     Segurei na mãe dela, sorrindo com sinceridade, enquanto encarava as feições tão parecidas com as do pai. Era tão parecida com ele, e não só pelos olhos...

     — Você é igualzinha ao seu pai meu amor.— Beijei o topo da cabecinha dela.

     — Onde está o papai mamãe?— Perguntou, inocente que só ela.

     Daniel voltou sua atenção sutilmente para nossa conversa, encarando de solslaio minha mão e a mão da minha filha. O que também significava irmã dele...

     — Olha pro céu Emily.— Pedi, e ela fez isso, tirando os cabelos do rosto inocentemente.— Tá vendo todas essas estrelas? Papai sempre gostou muito de estrelas, e depois que aconteceram umas coisas, papai foi morar com elas, e fica sempre olhando e protegendo nós duas...— Encarei Daniel por um momento, voltando o olhar para Nando. Suspirei.— Nós quatro...

     — Papai virou uma estrela?— Perguntou, franzindo as sobrancelhas confusa.

     — Sim Em.

     Minha filha olhou para mim, para Daniel e Nando, e depois encarou de novo as estrelas, enquanto a observávamos. Até Devon, Louis e Lara pareciam curiosos para ver onde tudo aquilo iria chegar. Emily terminou de digerir a notícia, e me perguntei se ela realmente entendia o que aquilo significava.

     Aquela conversa já foi feita outras vezes, mas Em sempre se contentava com histórias sobre as estrelas como essa, e talvez, criamos ela para ser tão ingênua que ainda não entendia alguns significados.

     — Mamãe...— Continuou.— Como era o papai?

     A pergunta me pegou completamente de surpresa. Era inédita. Em não costumava passar do "onde", e agora começou com o "como", logo ela chegaria ao "por quê", e essa seria uma pergunta difícil de contornar. Onde, como e porque, são as perguntas que eu mais temo que Emily aprenda a fazer.

     — Seu pai era...— Comecei, formulando uma frase. Até mesmo Nando prestava total atenção no que eu diria.— Era um homem bom, com seus defeitos.— Soltei o ar ao falar.— Ele sempre lutou pelo que achava certo, sempre foi um homem de palavra e fez de tudo para te proteger!

     Senti olhos me fuzilando.

     Daniel e Nando escolheram perdoar André, me disseram isso em uma das poucas conversas que tínhamos. Mas não significava que concordavam em endeuzar as escolhas do pai e tomar como verdade.

     Daniel encostou e Emily colocando ela em seu colo. Fez com que a menina olhasse para ele, segurando seu queixo.

     — Papai foi um bom homem, que fez escolhas ruins e se envolveu com pessoas erradas.— Daniel a fez concordar.— Ele amava muito a gente.

     E o assunto morreu.

     Olhei  quando Daniel colocou minha filha pra dormir, murmurando alguma coisa quando Emily finalmente adormeceu. Ele sentou para olhar o fogo queimar, comendo nosso último estoque de carne guardado.

     Enquanto mastigava, Daniel encarou o vulto da cidade iluminado pela lua ao longe. A necessidade pairou no ar, uma opção que já tínhamos seguido outras vezes acompanhando o cheiro de carvão queimado. Um arranha-céu demonstrava o tamanho do perigo, mas também ilustrava a necessidade.

     Assim são nossos dias e noites a dois anos.

     De dia, o silêncio acompanhava o ritmo acelerado do Sol e dos pensamentos maquinantes de todos. Assim que anoitece, as estrelas embalam nossas necessidades e opções para o dia seguinte.

     Buscávamos proteção, segurança. Mas as vezes, era preciso se arriscar para a paz vir depois.

     Pouco tempo depois, deitei como todas as noites ao lado da minha filha, estendendo os sacos de dormir enquanto Devon buscava reviver a fogueira para passar a noite acesa. Animais era uma preocupação pouco discutida, mas que as vezes levava um de nós a ficar acordado.

     Encarei Em, novamente encolhida como uma bolinha. Sorrindo, não demorei para adormecer.


     Oiieeee meus milhos pra pipoca!!! Como vão?? Espero que bem!

     O que acharam da conversa de mãe e filha? Vocês explicariam as coisas da vida para os seus filhos como a Barb explicou? Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, e deem aquela estrelinha linda que me ajuda demais!!!

    Beijos e até amanhã!!!

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