Capítulo 9
Laurel estava zonza.
Muito zonza.
Será que ninguém sabia que uma dose muito alta de Veritaserium afetava as capacidades cerebrais da pessoa?
- O seu nome é Laurel Black Ravenclaw? - questionou Fudge, visivelmente satisfeito.
Pelo canto do olho, a jovem conseguiu distinguir os contornos de Remus, que se debatia. Tinha sido preciso dois Aurors para o prender durante o julgamento, visto que não parara de gritar o quanto aquilo era ilegal e injusto.
Dumbledore, por sua vez, permanecia calado ao lado de Laurel. O homem com mais classe do mundo parecia tranquilo mas a neta conhecia-o o suficiente para notar o tamborilar dos seus dedos nas costas da cadeira onde estava sentada e saber o que significava.
- Sim. - respondeu, de imediato.
- Nascida a 17 de julho de 1980?
- Sim.
- Filha de Cora Ravenclaw e... Regulus Black?
- Não precisa ser tão desdenhoso em relação ao meu pai, Ministro. - comentou Laurel, com o soro da verdade na ponta da língua - Mas sim, sou filha deles.
- Sobrinha de Sirius Black?
- Sim. Vai continuar a fazer perguntas inúteis?
Fudge resmungou baixinho, tentando não perder a postura. Laurel sorria, a mente ligeiramente embaçeada pela dose excessiva de poção.
- Sabe o paradeiro de Sirius Black?
- Não. Ouvi dizer que ele estava em Londres mas um perigoso assassino como aquele pode estar em qualquer lado, não é?
Era a mais pura verdade. Conhecendo Sirius e a sua mania de quebrar as regras, poderia estar em qualquer lugar, especialmente em Hogwarts para estar de olho em Laurel e em Harry. Por isso, ela não fazia ideia onde o tio estava.
É tudo uma questão de perspetiva.
- Mais alguma questão? Sinto-me horrivelmente mal e gostaria de saber onde posso reportar esta ilegalidade.
- Esteja calada enquanto não falarem consigo. - retorquiu Fudge, rispidamente - Ajudou o seu tio a fugir?
- Não.
- Sabe onde ele poderá esconder-se?
- Sei.
A Ravenclaw praguejou baixinho. Estava a correr tudo às mil maravilhas, exceto aquele pequeno detalhe. Claro que ela sabia onde Sirius poderia estar, havia inúmeras opções...
- Pode estar no Três Vassouras a beber um copo neste exato momento. - respondeu, cerrando os punhos e concentrando-se - Ou aqui mesmo, no Ministério. O meu tio é muito matreiro, pode estar em qualquer lugar.
Perspetiva. Tudo uma questão de perspetiva.
Os ombros de Dumbledore descaíram ligeiramente, mostrando o alívio que sentia. Remus prensou os lábios, notando o estado debilitado de Laurel.
- Já chega. - exigiu, afastando os Aurors de si - Olhem para ela!
- Não me sinto bem... - murmurou Laurel, olhando para o avô.
- Senhor Ministro, acho que já chega. - disse uma voz fria.
Lucious Malfoy entrou na Sala do Tribunal com toda a calma do mundo. Atrás de si, Narcissa Malfoy soltou um gemido ao ver Laurel pálida como um cadáver, os cabelos ruivos caindo-lhe sem vida para o rosto. A mulher aproximou-se dela imediatamente, ajoelhando-se à sua frente.
- O que te fizeram? - questionou ela, baixinho.
- Olá, Mrs. Malfoy. - saudou Laurel, com um sorriso cansado.
- Olá, meu amor. Dumbledore, o que lhe fizeram?
- Veritasserium. - respondeu o mais velho, nada surpreso por ver a Malfoy ali.
- Numa criança? - questionou, horrorizada.
- Lucious, esta sessão é restrita... - começou Fudge, sendo interrompido imediatamente por Narcissa.
- Eu não sei o que aconteceu aqui mas fui notificada que alguém da minha família estava sob julgamento sem qualquer acusação fundamentada. - Narcissa endireitou os ombros, fitando Fudge com fúria - Irei agora mesmo levar a minha sobrinha daqui para fora e exijo uma explicação para isto!
- Mrs. Malfoy... - chamou Fudge, engasgando-se ao ver a mulher retirar as algemas que prendiam Laurel à sua cadeira - Lucious, se puderes controlar a tua mulher...
- A minha mulher sabe controlar-se sozinha, Senhor Ministro. - retorquiu Lucious, friamente - Como a única familiar de sangue viva e livre de Laurel, à exceção de Sirius Black claro, Narcissa Malfoy irá dar início ao processo de reclamação pelo que aqui aconteceu. O uso de Veritasserium numa menor é ilegal e o Senhor Ministro sabe disso. - o homem fez uma pausa - Isto será entre si e Narcissa, nada tem a ver comigo, Senhor Ministro.
Com a mente conturbada, Laurel soltou uma risadinha, achando graça ao descaramento de Lucious. A mulher podia ficar metida em problemas com o Ministério mas ele nada tinha a ver com isso.
Devorador da Morte esperto.
- Remus, podes ajudar-me? - questionou Narcissa, fitando o lobisomem.
Lupin estava em choque. Ver Narcissa depois de tantos anos era, por si só, uma surpresa mas vê-la defender Laurel com unhas e dentes recordava-o de quem Narcissa era: a melhor amiga de Cora Ravenclaw, cuja filha jazia praticamente desfalecida nos braços da mulher.
O lobisomem lançou um olhar cauteloso a Dumbledore, que assentiu.
- Levem-na para Hogwarts. - disse Albus, fitando Lucious Malfoy que, apesar de tudo, o olhava com o mesmo desprezo de sempre - Madame Pomfrey cuidará dela. Narcissa, podes ficar junto de Laurel o tempo que quiseres.
- Avô... - chamou a Ravenclaw, com a voz exausta - Tu... Não vens?
Dumbledore aproximou-se da neta, sentindo o peso de todos os olhos do Wizengamot fixos em si. Com carinho, depositou um beijo nos cabelos da neta, que fechou os olhos.
- Tenho de resolver umas coisas aqui primeiro. - respondeu, fitando Fudge com toda a fúria que contera durante o julgamento.
Laurel sorriu.
- Vai-te a eles, avô.
**
Ashley foi a primeira a chegar à enfermaria mal Remus e os Malfoy chegaram com Laurel nos braços. A Diggory sentira imediatamente a presença da amiga em Hogwarts e correra para junto dela, levando as mãos à boca ao ser defrontada com uma Laurel Ravenclaw semi-inconsciente.
- Oi Ley. - saudou Laurel, acenando brevemente.
- O que te fizeram?! - questionou Ashley, aproximando-se da cama onde ela estava.
- Miss Diggory, já estão aqui pessoas suficientes! - ralhou Madame Pomfrey.
- Lamento Madame Pomfrey mas ainda chegaram mais. - comentou Meredith, entrando na enfermaria a passos largos.
Harry, Hermione e Ron entraram logo de seguida, o Weasley ficando ao lado de Ashley, Hermione ao lado de Meredith e Harry dando a mão a Laurel, que se deitara.
- O que aconteceu? - perguntou Harry, preocupado.
Lucious trocou um olhar com a mulher, que assentiu. Uma coisa era proteger Laurel do Ministério, outra muito diferente era estar no mesmo teto que Harry Potter sem o levar imediatamente a Voldemort. Por Narcissa, o Malfoy afastou-se, regressando a passos largos para a sua carruagem sem olhar para trás e deixando a mulher exatamente onde ela mais queria estar há meses.
- A Laurel foi submetida à Poção da Verdade numa dose superior à que devia. - explicou Remus, colocando as mãos nos bolsos de forma nervosa - O Ministério está a ir longe demais... Dumbledore tentou impedi-los mas Fudge está louco e quer a todo o custo apanhar Sirius.
- Disseste-lhes onde ele estava? - perguntou Ron, baixinho para que Narcissa não ouvisse.
Laurel sorriu, cansada.
- Claro que não, Ron. Consegui contornar a verdade e debati-me com o soro tempo suficiente para dar respostas vagas. É por isso que estou assim. Gastei todas as minhas energias a tentar não dizer toda a verdade.
- És incrível. - sussurrou Harry, baixinho.
- Dumbledore ficou para trás para enfrentar Fudge e eu vou apresentar uma queixa formal. - afirmou Narcissa, olhando para Remus - Como pai adotivo e tutor legal da Laurel, suponho que fiques do meu lado?
Remus assentiu.
- Não voltam a tocar nela. - afirmou, enraivecido.
- Mãe? - chamou Draco, entrando na enfermaria de sobrolho franzido - Blaise disse-me que te viu aqui mas...
Malfoy calou-se ao ver Laurel deitada na cama do costume. O rapaz ia abrir a boca mas a presença de Harry fez-se sentir quando o Menino-Que-Sobreviveu o encarou, a mão pousada na de Laurel.
- Olá Draco. - saudou a Ravenclaw, tentando endireitar-se.
A mão de Laurel afastou-se da de Harry e o sorriso mais forte foi dirigido a Draco, algo que não passou despercebido a quem melhor a conhecia. Meredith revirou os olhos e Ashley sorriu, achando graça à forma como Malfoy bufou um "oi" desajeitado.
- Já chega! Vocês, todos daqui para fora! - enxotou Madame Pomfrey. dirigindo-se aos mais novos - Os senhores podem ficar, se quiserem.
Narcissa e Remus trocaram um olhar, medindo-se mutuamente. Por fim, o lobisomem assentiu, enfrentando a mulher.
- Por Cora. - afirmou, sentando-se à beira de Laurel.
- Por Cora. - retorquiu a Malfoy, fazendo o mesmo.
Opostos na Guerra, unidos pelo amor à jovem deitada e à mãe da mesma, Narcissa e Remus fitaram-se, sem ódio entre eles.
Harry despediu-se de Laurel com um beijo na testa, enraivecendo Draco. Ron acenou brevemente à rapariga e Hermione abraçou-a como pode, assegurando-lhe que traria os apontamentos como sempre fizera ao longo dos anos. Meredith e Ashley estavam relutantes em se irem embora, fitando a ruiva com uma expressão de desgosto.
- Amanhã já estou bem. - assegurou a Ravenclaw, sorrindo às melhores amigas - É menos um dia que sou torturada pela megera da Umbridge, só por isso já valeu a pena.
Ashley soltou uma risada.
- Podes crer. Temos algumas coisas para te contar, Lau.
- Por isso, põe-te boa, ouviste? - exigiu Meredith, com a falta de gentileza do costume.
Laurel assentiu e as duas saíram da enfermaria, cabisbaixas. Enquanto Remus e Narcissa falavam baixinho, Draco aproximou-se de Laurel, com as mãos nos bolsos.
- Espero que fiques bem. - desejou, prensando os lábios.
- Está tudo bem? - perguntou ela, estranhando a tensão do rapaz.
- Gostas do Potter? - questionou, de rompante.
A Ravenclaw ergueu as sobrancelhas, descrente.
- Eu estou extremamente cansada depois de ter sido julgada sabe-se lá porquê e tu estás preocupado com os meus problemas amorosos? - a ruiva soltou uma gargalhada, assustando o Malfoy, que se afastou um passo, envergonhado - Se eu pudesse gostar de Harry, eu gostaria mas não, Draco, não é de Harry que eu gosto.
E fechou os olhos, num claro sinal de que precisava descansar. Ainda assim, as palavras dela ficaram na cabeça de Draco, que não se conteve mais.
- As melhoras, Laurel. - sussurrou, beijando-lhe a bochecha.
Por virar as costas, Draco Malfoy não viu o pequeno sorriso que se formou na sua Bela Adormecida.
**
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Cora Ravenclaw está prestes a chegar 😉
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