Capítulo 4
O quinto ano em Hogwarts era o mais difícil de todos: imensos trabalhos de casa, preparação para os NFs e uma intensa pressão por parte dos professores para se dedicarem e esforçarem mais do que qualquer dos anos anteriores.
Laurel terminou a sua composição de Poções com um suspiro cansado. Ao seu lado, Ashley dormia, exausta. Meredith, por outro lado, tentava a custo pensar num sonho que tivesse tido para escrever para Artes Divinatórias. Era talvez das poucas alunas que realmente gostava daquelas aulas, apesar de não acreditar minimamente na capacidade Divinatória da professora Trelawney.
- Está na hora do castigo da professora Umbridge. - mencionou Laurel, pondo-se de pé - Podes acordar a Ley quando terminares? Acho que ela não tem aulas agora mas mesmo assim...
- Claro. Boa sorte com aquela megera e por favor não partas mais nada. - pediu a Lovelace, com um sorriso na cara - É melhor não arranjares mais dias de detenção.
A Ravenclaw deu uma risada, afastando-se da biblioteca a passos largos. Do lado de fora, uma figura esguia e pálida esperava-a, como se soubesse exatamente o momento em que ela estaria sozinha.
- Posso ajudar-te? - questionou Laurel, fitando Malfoy com suavidade.
Draco prensou os lábios.
- Posso fazer-te companhia?
- Até ao gabinete da Umbridge? Deves gostar mesmo daquela mulher.
- Alguém gosta? Eu sei me posicionar, Ravenclaw.
- Acredito. - Laurel encolheu os ombros - Eu prefiro ser honesta e respeitar os meus princípios pessoais do que fazer de conta que gosto de alguém.
- E é por isso que arranjas detenções. - comentou ele, andando de mãos nos bolsos ao lado dela.
- Chama-se ter caráter, Draco. Um dia eu ensino-te o que isso é.
Seguiram lado a lado, picando-se um ao outro e comentando as aulas, Umbridge e os imensos trabalhos que tinham para fazer.
Ao passarem por outros alunos, Laurel esperou ver Draco seguir sozinho. Em vez disso, o Malfoy afundou ainda mais as mãos nos bolsos mas permaneceu junto dela, fazendo-lhe companhia tal como tinha dito que faria.
A Ravenclaw sorriu discretamente.
**
- Ley, acorda.
Ashley abriu os olhos. Os olhos negros de Meredith fitavam-na, sorridentes e a Diggory endireitou-se de imediato, ajeitando o cabelo e esfregando os olhos. Devia estar com a cara toda amassada e provavelmente cheia de vincos, visto ter dormido em cima do seu livro de Poções mas Meredith olhava-a naturalmente, sem reparar no seu estado bagunçado.
Envergonhada, pousou os olhos nos pergaminhos espalhados pela mesa, sustendo a respiração ao ver todos eles preenchidos.
- Fizeste os meus trabalhos de casa? - perguntou, surpreendida.
As bochechas de Meredith coraram.
Meredith estava envergonhada.
Não era algo frequente na Lovelace, a rapariga orgulhosa e segura de si. Fazia muito tempo desde que Meredith deixara de ser a miúda que se importa com o que os outros pensam e se tornara a mulher feroz e confiante que sempre mostrara conseguir ser.
Ainda assim, a forma como Ashley a olhava desconcertara-a.
- Estavas a dormir e sei que andas sobrecarregada... - começou a explicar, incerta de ter feito a coisa certa - Eu já tinha adiantado os meus trabalhos e... As tuas aulas extra de Poções...
Sentadas lado a lado na mesa habitual da Biblioteca, Ley debruçou-se imediatamente para abraçar a amiga. Meredith ficou tensa por instantes, descontraíndo segundos depois. Não estava habituada a abraços mas aquele tinha tanto carinho e gratidão envolvido que era impossível não se sentir bem.
- Obrigada! - exclamou a dos cabelos cacheados, entusiasmada - Nem acredito que fizeste isso por mim!
Meredith limitou-se a sorrir, analisando o rosto de Ashley quando esta a soltou.
- Por quem mais eu faria?
Ley engasgou-se, aquela afirmação apanhando-a desprevenida. Meredith corou, mexendo no cabelo para disfarçar a sensação estranha que sentia ao estar tão próxima da amiga.
- Acho que tens Transfiguração agora, queres que te leve lá? - perguntou atabalhoadamente, amaldiçoando as suas bochechas quentes e certamente rosadas de vergonha.
- N-não. - respondeu Ley, arrumando as suas coisas apressadamente - Eu vou sozinha... Deves querer estudar ou assim...
- Na verdade, não quero...
- Até mais tarde, Mer! - exclamou, saindo dali a correr.
Meredith suspirou. O que se passava com ela?
Os olhos cor de âmbar de Ashley ainda a fitavam na sua memória, belos e felizes.
Sorriu.
Ela sabia exatamente o que se passava.
**
- A senhora quer que eu faça o quê? - perguntou Laurel pela segunda vez, descrente.
- Quero que escreva a frase que lhe disse, Miss Ravenclaw. - disse Umbridge, com o sorriso cínico de sempre - Tem problemas de audição?
Laurel abanou a cabeça, ultrajada.
- Eu não vou escrever isso.
- Sim vai. Quer que repita de novo?
Como a aluna não respondeu, a professora repetiu, visivelmente satisfeita.
- "Eu não sou nada"
- Isso com certeza não é verdade. - rosnou a ruiva, o corpo a tremer.
- Mas é, Miss Ravenclaw. A menina aqui não é nada. É o Ministério que manda, é o Ministério que dita o que é verdade e o que é mentira e não é a menina nem ninguém que alguma vez terá mais influência na nossa sociedade do que o Ministério. - Umbridge inclinou-se na direção da mais nova, que nada dizia - Em comparação comigo e com o poder do Ministério da Magia, a menina não é nada.
Com alegria, a professora estendeu-lhe uma das suas penas, a qual Laurel agarrou vagarosamente. Respirou fundo, tentando acalmar-se a si e à magia que fervia no seu sangue.
Aquilo não significava nada. Era apenas a loucura de uma mulher demente e com demasiado poder para o seu próprio bem.
Aquilo não significava nada.
Pousou a pena no pergaminho, a mão a tremer. Aquilo não significava nada.
Pensou em Draco, na forma como ele se esforçava por não ser tão detestável junto dela. Para outra pessoa, poderia ser apenas uma farsa, uma personagem que o Malfoy adotava por causa de si e pelas mais variadas razões: por ser a mais bela, por ser a mais inteligente, pela sua conexão a Voldemort...
Mas não era nada disso. Draco queria ser diferente para estar com ela porque gostava dela, apesar de todo o mal que já lhe fizera era ele que queria fazer esse esforço. Tal como Harry. Como Meredith. Como Ashley.
Como ela própria, caramba. Ela gostava de si mesma, do caminho que percorrera, da pessoa que assumira ser. Orgulhava-se de si, mesmo depois do que descobrira, mesmo depois das dúvidas em relação à sua essência.
Laurel amava-se a si própria e sabia que poderia sim mudar o mundo se assim o desejasse.
Aquela mera frase não lhe tiraria essa certeza.
- Onde está a tinta? - perguntou, erguendo o queixo em desafio.
- Não precisará de tinta.
A primeira letra saiu-lhe com uma dor física que não esperava. Fitou a pena, confusa. Umbridge, por outro lado, recostou-se na cadeira, como se aguardasse algo. Laurel fitou o pergaminho e escreveu a segunda letra.
A sua mão esquerda doeu-lhe e da sua mão direita caiu-lhe sangue.
A tinta era o seu próprio sangue.
Laurel continuou a escrever, recusando-se a proferir qualquer som que mostrasse a agonia que sentia e a dor de ver aquela frase impressa na sua mão. Era isso que Umbridge aguardava: o som do seu sofrimento.
Aquela frase não significava nada.
Eram apenas palavras de uma mulher demente.
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