Capítulo 39
- Draco não faças isto... - implorou Laurel, tentando arrancar a Cobra dos Puros - Liberta-me...
- Petrificus Totalis!
Laurel foi arremessada contra a parede, embora o feitiço fosse suave. Draco tremia, os olhos cinza cheios de remorso e lágrimas contidas.
- Perdoa-me, Laurel... Perdoa-me... Eu preciso fazer isto...
- Draco, não... - murmurou Laurel, o corpo colado à parede, incapaz de se mexer.
A única coisa que conseguia fazer era falar, o feitiço não sendo poderoso o suficiente para a impedir.
- Draco, Draco, não és um assassino, Draco. - afirmou Dumbledore, com convicção.
- Como é que sabe? - retrucou ele, de imediato.
- Porque te conheço, Draco! - exclamou Laurel, sem conseguir conter as lágrimas que lhe escorriam pela face - Draco, não és um assassino!
- Não sabes do que sou capaz... - Malfoy fitou Dumbledore, com veêmencia - Não sabe o que já fiz!
- Oh sei, sim senhor. - contrapôs Dumbledore com voz suave - Quase mataste Katie Bell e o Ronald Weasley. E tens andado todo o ano, cada vez mais desesperado, a tentar matar-me. Perdoa-me, Draco, mas as tuas tentativas têm sido muito débeis.... tão débeis, para ser honesto, que me pergunto se puseste de facto o teu coração nesta tarefa.
- Pus, é claro que pus! Tenho andado a trabalhar nisto durante todo o ano e esta noite...
Os olhos cinza de Draco fixaram-se em Laurel. Dumbledore estava certo; o seu coração nunca estivera naquela tarefa, e sim na ruiva que agora o fitava com o seu próprio coração despedaçado.
- Por favor...- murmurou ela, os olhos safira implorando.
Dumbledore continuou a falar, extraindo informações de Malfoy. O Diretor sempre soubera que era ele o responsável pelos ataques, tal como Laurel sabia. Nenhum dos dois fizera nada. Um por acreditar que conseguiria evitar o destino do rapaz; a neta por amor.
Laurel fechou os olhos, recusando-se a ouvir a voz de Draco. Como pudera ser tão estúpida? Confiara nele, confiara que seria capaz de o libertar das garras de Voldemort mas era demasiado tarde; Draco fizera a escolha que ela sempre soubera que ele faria.
Ela é que não quisera enfrentar essa realidade.
A ruiva focou toda a sua atenção na pulseira que lhe esmagava o pulso. O seu corpo podia estar imobilizado mas a sua mente estava mais desperta do que nunca, procurando dentro de si aquela magia instável que temera toda a sua vida.
Agora, precisava dela.
Como um leão enjaulado, Laurel cerrou os punhos, combatendo o feitiço. A magia dentro de si rosnou, enclausurada pela jóia. Tinha que a libertar. Na muralha, Dumbledore escorregava e Draco empalidecia com as palavras do Diretor, que nunca desistiria de um dos seus alunos:
- ... Eu posso ajudar-te Draco. - afirmou o avô de Laurel, que abriu os olhos, fitando a figura pálida e destroçada do seu ainda namorado.
- Não, não pode... Ninguém pode. Ele ordenou-me que o fizesse, ou mata-me. - olhou para Laurel, como se olhasse pela última vez - Ele mata-os a todos. Não tenho opção.
- Vem para o lado dos bons, Draco, e podemos esconder-te totalmente. - pediu Laurel, a mente ainda presa à jóia, sem desfocar a sua atenção da mesma - Dumbledore pode mandar a Ordem ainda esta noite para proteger Narcissa...
- O teu pai está seguro em Azkaban mas quando chegar à altura, podemos protegê-lo também... - continuou Dumbledore - Vem para o nosso lado, Draco, não és um assassino.
O espanto de Draco era bem visível na sua expressão. Avô e neta não estavam dispostos a desistir dele.
Mesmo assim, ele estava.
- Mas eu cheguei até aqui, não cheguei? - perguntou, devagar - Pensavam que eu ia morrer a tentar, mas aqui estou eu... E o senhor está sob o meu poder... Eu é que tenho a varinha... Está à minha mercê...
- Não, Draco. - contrapôs Dumbledore, baixinho - O que interessa neste momento é a minha mercê e não a tua.
Draco não respondeu. Os olhos procuraram os de Laurel, que assentiu, com a gentileza e a bondade que o atraíram.
- Não és um assassino, Draco. - afirmou ela, convicta - Por favor...
- Eu fiz todas aquelas coisas... - murmurou Draco, baixando a varinha ligeiramente.
O coração de Laurel acelerou.
- E eu continuo a amar-te mesmo assim, Draco.
Ele hesitou. Por momentos, pairou um silêncio de antecipação, as palavras de Laurel pairando no ar.
Depois, cinco figuras negras encapuzadas adentraram o espaço e a gargalha tresloucada de Bellatrix Lestrange fez-se ouvir.
- Dumbledore está encurralado! Muito bem Draco! - os olhos escuros viraram-se para a figura pequena e pálida de Laurel, que cerrou os dentes ao ver a mulher que matara o seu tio chegar-se demasiado perto de onde ela se encontrava - A cria de Cora Ravenclaw! Draco, és tal e qual a tua mãe: um traidor nato!
- Eu não a traí... - murmurou Draco, embora não acreditasse nisso.
- Afasta-te de mim, Bellatrix, ou arranco-te a língua. - rosnou Laurel, num tom de aviso.
- Que medinho!
Os restantes Devoradores da Morte baixaram o capuz e Laurel prendeu a respiração assim que a quinta figura a encarou, sem qualquer expressão no rosto familiar.
Meredith Lovelace aproximou-se da Ravenclaw, puxando-a com brusquidão na sua direção, a varinha firmemente apontada às suas costelas. Laurel, imobilizada, tentou sacudir-se mas o aperto de Meredith era mais firme do que esperava, os olhos negros fitos na cena à sua frente enquanto prendia a ruiva contra si.
- O que estás a fazer? - murmurou Laurel, discretamente.
- O que me pediste. - respondeu a Lovelace, sem pestanejar.
Dumbledore continuava a agir como se nada fosse, conversando com os Devoradores da Morte como se não estivesse cada vez mais fraco. Draco mantinha-se de pé à sua frente, a mão erguida e a varinha apontada. Todo ele tremia e mal conseguia fazer pontaria, estremecendo sempre que a tia lhe tocava ou incentivava a cometer a atrocidade a que se comprometera.
- Eu não te pedi para me prenderes. - retorquiu Laurel, sacudindo-se.
O Feitiço de Congelação desvanecia-se lentamente e Laurel abriu os dedos das mãos, um movimento que não passou despercebido a Meredith. Com eficácia, a morena apontou a varinha na direção dos seus pulsos antes mesmo que Laurel pudesse sequer pestanejar, prendendo-lhe as mãos com cordas mágicas.
- Não podes entregar-me a ele, Meredith, por favor...
- Eu tenho de o fazer. - afirmou, sem rodeios - Está muita coisa em jogo para recuar agora, Laurel...
- Vais deitar tudo a perder...
- Cala-te.
Laurel bufou, sacudindo-se com mais veemência numa tentativa de se libertar do aperto de Meredith. A Lovelace pareceu surpreendida ao vê-la lutar contra si.
Mesmo sem magia, Laurel não iria ceder sem dar luta.
Dumbledore escorregou mais um pouco, os olhos fixando-se em Laurel, que se desesperou. Estava cada vez mais pálido e fraco; Laurel tinha que chegar até ele. Ela tinha que o proteger.
- Avô... - murmurou a Ravenclaw, chorosa.
O avô sorriu-lhe, com a mesma calma e tranquilidade que tinha desde sempre. Laurel recordou-se por instantes de quando era pequena; uma vez por mês, Dumbledore batia à porta da cabana isolada no meio da floresta mais densa de Inglaterra, com um livro novo na mão e o conjunto de chá que nunca largava. Fora ele quem a ensinara a ler; fora ele quem lhe ensinara a investigar aquilo que não compreendia, varrendo bibliotecas inteiras se fosse preciso. Dumbledore confiava em si, criara-a e amara-a como se fosse sangue do seu sangue.
Olhando-a por entre a Escuridão e as Trevas, Dumbledore sorria, apenas aproveitando a oportunidade para admirar a mulher guerreira que a sua pequena se tornara.
"Luta." pediu ela com os olhos, debatendo-se nos braços de Meredith, que se mantinha gélida como uma estátua.
Draco ergueu a sua varinha. Atrás de si, Laurel gritou o seu nome, implorando-lhe que parasse. A sua mão tremia, os olhos cheios de lágrimas.
Então entrou Severus Snape. Laurel virou-se para ele, sentindo o alivio assolá-la. O professor de Poções passou por ela sem a olhar e a Ravenclaw percebeu que havia alguma coisa errada.
- Professor...
Severus sequer se virou. Os olhos raivosos e cheios de ódio fitaram Dumbledore, que parecia ter ficado ainda mais calmo com a presença de Snape.
- Severus... Por favor...
Laurel arregalou os olhos.
Dumbledore implorava.
O professor ergueu a varinha, firme, sem dúvidas, sem remorso.
Laurel gritou, desesperada.
- Avada Kedavra!
O tempo parou. À medida que o feitiço atingia o peito de Dumbledore, a pequena ruiva gritava, tentando chegar ao avô. O corpo do mais velho tombou lentamente em direção à janela, caindo como que lentamente e suavemente.
- NÃO!
O grito de Laurel ecoou por Hogwarts inteira e a sua magia explodiu. A jóia no seu pulso pareceu uivar quando pequenas fissuras surgiram na serpente de prata no preciso momento em que o leão enjaulado se soltou.
Fogo brotou na Floresta Proibida com estrondo.
Meredith viu o seu corpo ser arremessado pela magia de Laurel, que estava cega. A menina correu em direção à janela, nunca a atingido, pois os braços de Draco envolveram-na de imediato, mais por ela do que por ele.
- Não olhes... - pediu Draco, puxando-a.
- LARGA-ME! - berrou Laurel, tentando empurrá-lo - LARGA-ME! AVÔ! AVÔ!
A cada grito, o fogo alastrou-se, destruindo tudo por onde passava. O chão do castelo tremeu debaixo dos seus pés e os Devoradores da Morte afastaram-se dela, assustados.
- USA A JÓIA, DRACO! - berrou Bellatrix, apoiando-se na parede mais próxima.
- LARGA-ME! DRACO, LARGA-ME!
Draco forçou-a a olhar para ele, tempo suficiente para a magia dentro da jóia fazer efeito. Laurel chorava desesperadamente mas a expressão no rosto dele era fácil de ler.
Se ela continuasse, destruiria Hogwarts.
A magia abandonou-a tão depressa como chegou e Laurel permitiu-se ser domada de novo. Mesmo assim, não iria ser levada de ânimo leve e por isso fez a única coisa que lhe surgiu.
Um soco no rosto de Draco Malfoy e Laurel correu em direção às escadas, tentando fugir.
Meredith bloqueou-a, a varinha em riste.
- Deixa-me ir. - ordenou Laurel, as lágrimas secando imediatamente, o perigo bem presente no seu tom de voz.
- Nunca.
- Não te vou perdoar. - jurou a ruiva, sem piedade.
Os Devoradores da Morte circundavam-na. Snape agarrara em Draco e desaparecera pela abertura, lançando um último olhar à filha de Regulus, seguido de imediato por Bellatrix.
Meredith prensou os lábios. Mil emoções passaram-lhe pelo rosto mas escondeu-as todas, impedindo a amiga de a ler.
- Vens comigo, Laurel.
A ruiva abanou a cabeça, tentando desviar-se dela.
- Crucius!
A dor atingiu-a de surpresa, apanhando-a desprevenida. Caiu de joelhos, incapaz de aguentar a agonia mas cerrou os dentes, recusando-se a gritar. O feitiço fora poderoso e Laurel viu-se ser levantada bruscamente por um dos seguidores de Voldemort, que a forçou a andar.
Meredith sequer a olhou.
O grupo atravessou o castelo como se nada fosse. Ao longe, Laurel ouvia os membros da Ordem aos gritos e desejou ir atrás deles, desejou que a vissem.
Se Ashley a sentisse...
Os campos fora de Hogwarts saudaram-na. O cheiro a fumo era intenso e o fogo continuava a queimar por entre as árvores. A poucos metros adiante, Draco, firmemente agarrado por Snape, virou-se para trás, procurando Laurel com os olhos.
O arrependimento era claro mas era demasiado tarde e Laurel virou-lhe a cara, sem conseguir esconder o sentimento de traição que a possuía.
Bellatrix, louca pela vitória, atirou um feitiço à cabana de Hagrid, que irrompeu em chamas.
- Hagrid! - exclamou Laurel, aos tropeções - Hagrid!
- Cala a boca, Laurel! - rosnou Meredith, ao lado do grandalhão que praticamente a arrastava.
Fraca, dorida e em sofrimento, Laurel soluçou, sentindo-se cansada.
Estava cansada de lutar e para quê?
O Rei Branco naquele jogo de xadrez morrera.
- SECTUMSEMPRA! - berrou alguém atrás de si, o feitiço quase atingindo Snape.
Laurel virou-se. Mesmo à distância, ela viu o terror espalhar-se pelo rosto de Harry ao vê-la. Os olhos de ambos arregalaram-se.
- HARRY!
- LAUREL!
Harry correu na direção dela, lançando mais feitiços na direção deles. Snape, irritado, ordenou que o grupo seguisse sozinho, deixando-se ficar para trás para enfrentar Harry.
- LAUREL!
A voz de Ashley cortou o ar. A presença da Hufflepuff a correr na sua direção foi o suficiente para Laurel ganhar forças, lançando um pontapé nas partes baixas do Devorador da Morte que o carregava. Ao seu lado, Meredith bufou, erguendo a varinha na direção dela.
- Expelliarmus!
A varinha de Meredith voou para longe enquanto a de Ley foi apontada ao seu peito. A Diggory colocou-se à frente da Ravenclaw, ambas fitando Meredith com o mesmo semblante sério.
- Não me façam fazer isto. - pediu Meredith.
A expressão de Meredith vacilou ao fitar Ashley. Não que a Lovelace estivesse surpreendida; Ley sempre iria escolher Laurel. Estavam ligadas para sempre, uma conexão mágica e que só tornava a amizade entre elas mais intensa.
Morreriam uma pela outra se fosse preciso.
- A Laurel fica. - afirmou Ashley, a varinha em riste.
- Se ela ficar, eu morro. Se ela ficar, tu morres. - Meredith abanou a cabeça - Não vou arriscar.
- Ley, tira-me isto... - pediu Laurel, tentando arrancar a Cobra dos Pulsos de si.
Um momento de distração foi o que bastou. Meredith ergueu as mãos; praticara magia sem usar a varinha e conseguira o suficiente para fazer a sua varinha regresssr para junto de si. Ley, que baixara a sua, ergueu os olhos.
- Atordoar!
O corpo de Ley voou, embatendo no chão com força. A cabeça tombou, inconsciente.
Um fio de sangue escorreu-lhe pelas têmporas, pintando a relva verde do mais puro encarnado.
- O QUE FIZESTE?! - gritou Laurel.
Meredith empalideceu. Snape aproximou-se delas, segurando a Ravenclaw pelo pulso e impedindo-a de chegar à melhor amiga.
- Vamos embora. - ordenou ele à Lovelace, que não se moveu.
Os olhos escuros de Meredith prenderam-se ao corpo de Ley, que parecia nem sequer respirar.
- LARGA-ME! - gritou Laurel, sendo colocada por Snape nos seus ombros - ASHLEY! - gritou ela, socando as costas do professor com força.
Snape fechou os olhos com força, procurando ignorar os gritos da jovem, procurando ignorar a sua melhor aluna a morrer no chão, procurando ignorar todos os últimos acontecimentos.
Severus Snape queria apenas seguir em frente.
- LAUREL!
Harry rastejava na direção dela. Laurel tentou libertar-se, os olhos safira prendendo-se nos verde-esmeralda dele.
- HARRY!
Atravessaram os portões e Meredith sequer olhou para trás.
O grupo de Devoradores da Morte desapareceu, deixando apenas o rasto dos gritos de Laurel Ravenclaw para trás.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro