Capítulo 38
Ashley escutava atentamente Luna Lovegood discursar calmamente sobre as propriedades mágicas da Poção dos Mortos Vivos, uma das que saía no NPF de Poções. Ao seu lado, Astoria Greengrass olhava para as suas unhas numa clara demonstração do seu desinteresse. Ley revirou os olhos e bateu na mão da Slytherin, que protestou, indignada:
- Isso dói!
- Sensível! - Ashley bufou, semicerrando os olhos na sua direção - Não é suposto estares a prestar atenção? A tua nota em Poções está péssima e com os NPF's a chegar...
- Foi a Laurel que me obrigou a ter explicações contigo. - murmurou Astoria, aborrecida.
- Pergunto-me porquê. - retorquiu Luna, com um ar vago.
Ley soltou uma risada, observando as suas duas alunas mais novas. Fora Laurel quem sugerira que Ashley as ajudasse com Poções, cada uma sendo mais terrível que a outra, embora por motivos diferentes: Luna era demasiado distraída para a arte minuciosa de efectuar uma poção com sucesso e Astoria muito pouco paciente para seguir as regras à risca.
Apesar de protestar, Astoria endireitou-se, prestando atenção. Ela nunca admitiria em voz alta mas o respeito e admiração que tinha pela ruiva faziam-na querer ser melhor em tudo o que realmente importava: como pessoa, como aluna e como Slytherin.
Tal como Laurel sempre insistira em ser.
Um movimento tumultuoso fora da Biblioteca fez-se ouvir e Hermione entrou a toda velocidade no local, seguida de Ron. Ambos estacaram ao ver Ashley e dirigiram-se a ela, com um ar aflito.
- Onde está a Laurel?
- À espera de Dumbledore. - respondeu a Hufflepuff, de imediato - O que se passa?
- Precisamos de ajuda. Harry pediu-nos que vigiassemos o Malfoy e Snape quando saiu...
- Snape? - questionou, de sobrolho franzido.
Hermione assentiu.
- Também não acho que ele faria alguma coisa... Mas Dumbledore está fora da escola e Draco...
Eles não sabiam mas Ashley viu a dúvida nos olhos de Hermione. Harry nunca desistira da ideia de que Draco Malfoy era um Devorador da Morte e tinha todas as razões para isso.
- Eu ajudo. - ofereceu-se Luna, colocando-se imediatamente de pé.
Ley tinha um mau pressentimento. O estômago contorceu-se de ansiedade e recordou as palavras de Laurel poucos minutos antes de se recolher no gabinete do avô para esperar por ele, a preocupação bem presente em toda a sua expressão.
"Fica atenta esta noite... E tem cuidado, Ley".
- Preciso encontrar a Meredith. - afirmou, sem pensar duas vezes - Asty, tu queres...
- Vou certificar-me que os alunos permanecem no dormitório esta noite. - disse a Greengrass, colocando-se também ela de pé - Quanto menos alunos estiverem nos corredores, mais seguro é, certo?
- Não sabemos se vai acontecer mesmo alguma coisa... - começou Hermione, surpreendida pela atitude da Slytherin.
- Mas suspeitam e isso basta-me. - Astoria virou-se para Ashley, a mesma preocupação em mente - E a Laurel?
- Ela está no gabinete de Dumbledore. Se existe realmente algum sítio seguro no castelo, é esse.
- Hermione, temos de ir... - disse Ron, com a mão pousada no seu ombro e a outra firmemente agarrada a um pergaminho velho - Neville e Ginny já estão na Sala das Necessidades a vigiar o Malfoy...
A Granger assentiu, segurando no braço de Luna e correndo dali para fora. Trocando um último olhar com Ley, Astoria fez o mesmo, desaparecendo pela porta da Biblioteca num ápice.
A Hufflepuff deixou-se ficar por breves instantes onde estava, rezando para que nada acontecesse naquela noite. Talvez Harry estivesse enganado e não houvesse nenhum plano por parte de Draco. Talvez...
As luzes da Biblioteca tremeluziram. Era de noite e não era suposto ninguém andar pelos corredores de Hogwarts àquelas horas mas a Bibliotecária fora gentil e permitira que Ley ficasse ali com as suas alunas, visto que durante o dia elas tinham muito pouco tempo para estudar.
O mau pressentimento de Ashley assentuou-se. Aprendera ao longo dos anos a seguir o seu instinto e tornara-se muito intuitiva, sendo por isso difícil estar enganada.
Algo estava para acontecer.
**
Meia hora depois, Ley finalmente encontrou Meredith.
A jovem parecia um fantasma, de tão translúcida. Um estranho frio gélido imanava dela e as nuvens lá fora eram cada vez mais densas, a pouca luz que entrava pela grande janela da Torre de Astronomia transformando-a numa mistura de sombras pálidas que combinavam com ela. Meredith era a criança nascida em Azkaban e nunca antes se parecera tanto com a escuridão densa que a prisão tinha por natureza.
- Mer? - chamou Ashley, aproximando-se.
- Precisas sair daqui, Ley. - afirmou Meredith, continuando a fitar o céu - Por favor.
- O quê? Não, eu não vou a lado nenhum...
- É hoje.
- O que é que acontece, hoje? - Ley aproximou-se dela, puxando-a pelo braço para a obrigar a olhar para ela - Mer, o que se passa?
O coração de Ashley parou de bater ao ver a dor nos olhos de Meredith, que suspirou, abraçando-a com força.
- Os Devoradores da Morte vão tomar Hogwarts, Ley. - sussurrou, enterrando o rosto nos cabelos de Ashley - E não há nada que eu posso fazer para os impedir...
- O quê?! - Ley afastou-se bruscamente dela, em choque - Precisamos avisar os professores! E chamar a Ordem! E... Laurel...
Ao ouvir o nome da Ravenclaw, Meredith fechou os olhos, incapaz de encarar a namorada.
- Se alguma vez tivesses que escolher entre mim e Laurel... - Meredith ergueu os olhos, escuros como breu - Quem escolhias?
Ashley recuou um passo. A luz da Lua atingiu-a, apenas um raio por entre as nuvens negras que cobriam a noite. Por momentos, as duas fitaram-se, em clara oposição de lados.
- Não queres saber a resposta. - respondeu Ashley, os olhos âmbar mais iluminados do que nunca.
Meredith sorriu, aliviada.
- Essa é a minha garota.
A Devoradora da Morte virou-se em direção à janela, erguendo a varinha. Antes que Ley a pudesse impedir, já Lovelace abrira a boca, lançando o feitiço que anunciaria ao mundo o início de uma nova Guerra:
- Morsmodre!
O feitiço deixou a varinha de Meredith com um solavanco, atingindo o céu com estrondo. Ashley susteve a respiração, sentindo o frio entranhar-se no seu corpo.
A Marca Negra erguera-se no céu.
Quando olhou em frente, Meredith sorriu tristemente, correndo pelas escadas abaixo. Sem pensar suas vezes, Ley seguiu-a, pronta para exigir uma explicação à namorada.
Mas Meredith desaparecera sem deixar rasto, deixando Ashley sozinha no corredor com uma expressão confusa e sem saber o que fazer.
Isto até as gargalhadas estridentes de Bellatrix Lestrange cortarem o silêncio da noite e a primeira batalha de todas começar.
Ashley ouviu os feitiços lá em baixo e tomou rapidamente uma decisão.
Sem pensar, correu para a janela mais próxima e ergueu a varinha, lançando faíscas vermelhas para o ar pelo máximo de tempo que conseguiu.
- Por favor... - pediu ela, virando as costas em direção aos gritos.
Ashley Diggory chamara a Ordem de Fénix e eles vieram, prontos para defender o castelo.
**
Laurel ouviu primeiro o estrondo, reconhecendo de imediato a Marca Negra que brilhava demoníaca no céu nublado. Depois, ouviu os gritos e, por fim, um pedido de ajuda para a Ordem.
Como seria de esperar, ergueu-se de imediato do cadeirão do avô e saiu do gabinete a correr, em direção à Torre de Astronomia, onde a Marca Negra fora lançada.
Passou pelos imensos Devoradores da Morte que tinham surgido em Hogwarts, atirando feitiços em todos o que se aproximavam dela. Amaldiçou-se a si própria, sabendo que Draco com certeza era o responsável por aquele ataque. Se o tivesse impedido...
- Laurel! - exclamou Ashley, nas suas costas.
A Ravenclaw virou-se, lançando um escudo protector em redor de Ashley, que estava prestes a ser atingida por uma Maldição da Morte. A Hufflepuff agradeceu com um aceno, tentando falar por cima das vozes e dos gritos que ecoavam, em vão. A Ordem combatia fervorosamente os Devoradores da Morte e Laurel deu por si costas com costas com Remus, que mais uma vez se perguntava o que fizera de mal para ter uma filha sempre metida em sarilhos.
- Se eu te pedir para saíres daqui, tu sais? - questionou Lupin, desviando-se de um feitiço.
- Claro que não! - ripostou Laurel, de mãos erguidas - Quer dizer, tenho que chegar à Torre de Astronomia por isso... Sim, já estou a ir!
A Ravenclaw deitou a língua de fora ao pai, que resmungou baixinho. Sem mais demoras, correu em direção à Torre, sentindo o seu corpo atravessar uma qualquer barreira mágica que não entendia de onde tinha vindo.
A Marca Negra era sinónimo de morte e, se Dumbledore chegasse a Hogsmeade e a visse, viria de imediato para a Torre. Laurel fez o mesmo, galgando as escadas o mais depressa que conseguiu e procurando de imediato pelo corpo de quem morrera.
A sala estava vazia.
Laurel franziu o sobrolho. Os gritos lá em baixo continuaram e ela sentiu-se na obrigação de voltar para a batalha, estacando abruptamente ao ver Harry e Dumbledore chegarem agarrados a uma vassoura, o mais velho claramente num estado debilitado.
- Avô! - gritou Laurel, correndo até eles.
Dumbledore agarrou-se à parede, com um jovem em cada lado a segurar-lhe os ombros. Os seus olhos azuis abriram-se, fitando um qualquer ponto à sua frente. A sua mão queimada ergueu-se, levando-a ao peito, em claro sofrimento.
- Avô, o que aconteceu? - perguntou Laurel, confusa.
- Harry, vai acordar o Severusm - pediu o diretor, numa voz fraca mas nítida - Contra-lhe o que aconteceu e trá-lo até mim. Não faças mais nada, não fales com mais ninguém e não tires o Manto. Eu espero aqui, com a Laurel.
- Mas...
- Juraste obedecer-me, Harry... Vai!
O rapaz correu em direção à escada em caracol que Laurel subira poucos minutos antes. O brilho verde doentio da Marca Negra atingia o rosto exausto e adoentado de Dumbledore, que fitou a neta com pesar.
- Laurel...
O diretor ergueu a varinha, apontando-a na direção onde Harry estaria. Em seguida, a porta escancarou-se e alguém irrompeu da abertura, gritando:
- Expelliarmus!
A varinha de Dumbledore voou pela sala, caindo bem longe. Laurel colocou-se imediatamente em frente ao avô, escudando-o, enquanto o mesmo se apoiava na muralha, muito pálido.
Os olhos safira de Laurel arregalaram-se.
- Draco? - murmurou, surpreendida.
- Boa noite, Draco. - saudou Dumbledore, fracamente.
Malfoy avançou, olhando rapidamente em volta. Os seus olhos recusaram-se a encarar os de Laurel, prendendo-se em vez disso na segunda vassoura caída no chão.
- Quem mais está aqui?
- Uma pergunta que eu te poderia fazer. - disse Dumbledore, com uma calma extrema - Ou estás a agir sozinho?
- Não, não está. - respondeu Laurel, erguendo as mãos, pronta para atacar - Esta noite há Devoradores da Morte na sua escola, avô.
- Laurel, fica quieta... - pediu o diretor, com dificuldade - Ora bem, ora bem. Diria mesmo muito bem. Descobriste uma forma de os deixar entrar, não foi Draco?
- Foi. - confirmou Malfoy, ofegante - Mesmo debaixo do seu nariz, e o senhor nunca se apercebeu!
- Muito engenhoso. - respondeu Dumbledore - E, contudo... Perdoa-me... Onde estão neste momento? Pareces não ter apoio.
Laurel fitou o avô, irritada. Ela não sabia ao certo porque ele faria tão calmo e nem porque lhe lançava um olhar de quem claramente não queria que ela agisse. Por respeito, obedeceu, embora em nenhum momento fosse sair da frente dele.
Se Draco quisesse magoar o seu avô, teria de passar por ela, algo que ele claramente não queria.
- Encontraram parte da sua guarda. Estão a lutar lá em baixo. - respondeu Draco, fitando Laurel - Ashley está lá e pode não correr bem. Eles não se demoram mas eu... Eu vim à frente. Tenho... Tenho um trabalho a fazer.
A missão.
Draco continuava com a varinha apontada a Dumbledore, os olhos tempestuosos fitando Laurel com um pedido de desculpas bem presente.
A missão de Draco...
Dumbledore.
- Bom, então tens de te despachar, meu rapaz. - afirmou Dumbledore, com toda a naturalidade do mundo.
- Tu não vais fazer isso... - Laurel abanou a cabeça, incapaz de acreditar - É a minha família, Draco...
- E é a minha, Laurel! - gritou Draco, perturbado - Se eu não fizer isto ele mata os meus pais! Laurel, ele ameaçou matar-te!
- Ele não pode matar-me, seu idiota! - berrou Laurel, fora de si - Se ele me matar perde a oportunidade que tem de recuperar todos os seus poderes! Ou achas mesmo que, se Voldemort tivesse metade do poder que tinha antigamente, mandaria um rapaz estúpido matar o seu inimigo mortal?!
- Ele disse...
- ELE MENTIU! É ISSO QUE LORD VOLDEMORT FAZ! - berrou a ruiva, deixando toda a sua raiva sair dela - ELE MANIPULA AS PESSOAS, SEU IDIOTA!
- Eu tenho de fazer isto... Eu tenho de proteger a minha família...
- Destruindo a minha?!
Laurel ergueu as mãos. Draco ergueu a varinha dele, as mãos a tremer.
- Bombarda!
Nada aconteceu.
Um sibilar chamou-a à atenção, o mesmo que ouvira na noite mais impotente da sua vida.
- Eu disse que tens uma confiança cega em mim. - murmurou Draco, incapaz de controlar o tremor na sua voz.
Laurel limitou-se a olhá-lo, a mão agarrada à jóia que a impedia de realizar magia.
Draco usara a Cobra dos Puros a seu favor, algo que Laurel jurara que nunca iria acontecer.
Ele traíra-a.
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