Capítulo 29
Meredith observou Ashley, que repousava tranquilamente na sua cama, imersa num sono profundo. Aquele era um dos poucos tempos livres que tinham juntas e gostavam de o passar a fazer uma sesta, abraçadas uma à outra com carinho.
O que Ley não sabia é que Meredith não dormia.
Já era difícil para ela adormecer à noite e descansar horas suficientes para aguentar o dia, quanto mais fazê-lo durante o dia e com toda aquela claridade. Os pesadelos que a afligiam à noite eram frequentes e Meredith recusava-se a pedir uma Poção Sonorífera ou qualquer outro tipo de ajuda.
Meredith Lovelace resolvia as coisas sozinha desde criança.
Ela não precisava de ajuda.
A Hufflepuff remexeu-se no sono, murmurando algo inaudível. Meredith sorriu. Para ela, não havia nada mais pacífico do que observar a bela morena dos cabelos cacheados a dormir ao seu lado.
- Estás a olhar para mim. - resmungou Ley, entreabrindo um dos olhos âmbar.
- Como não olhar? És linda.
Ashley levou as mãos ao rosto, esfregando-o para disfarçar o embaraço. Meredith era tão direta que nem sequer dava conta quão romântica era sem nem tentar. A rapariga dura e fria desvanecia tão rapidamente na presença da namorada que Meredith nem se apercebia da máscara que tinha.
Com carinho, Meredith puxou-a para si, os corpos de ambas perfeitamente encaixados na cama de solteira do dormitório de Ley. O ambiente acolhedor e florido dos dormitórios dos Hufflepuff eram estranhamente acolhedores para a Lovelace, embora estivesse habituada ao ambiente frio e esmeralda dos Slytherin. Aquele quarto lembrava-a de Ashley e, para uma alma sombria como a de Meredith, a luz e a alegria de Ley eram tudo o que mais falta lhe fazia.
- Tenho aula de Poções com o Slughborn agora. - disse a Diggory, o rosto encaixado na curva dos ombros de Meredith - E a seguir é Defesa Contra as Artes Negras com o Snape. Ele é um bom professor, não é? E amanhã é o jogo de Quidditch entre os Slytherin e os Grinffindor. Pobre Ron, estava tão nervoso quando o vi...
Os lábios de Meredith colaram-se aos de Ashley, arrebatadores. A Lovelace gostava de conversar com ela e adorava a sua tagarelice natural mas, naquele momento, ela estava tão adorável que não resistiu.
Ashley suspirou. Meredith Lovelace era assim: pouca conversa, muita ação e a boca mais sedutora de Hogwarts. As mãos frias envolveram-na, roçando-lhe a pele nua das costas, a camisola tendo subido durante o sono e lhe exposto as costas. O arrepio que sentiu desorientou-a e Ashley não soube exatamente como foi que o seu corpo se colocou em cima do de Meredith, os joelhos de cada lado do corpo dela e o peito debruçado para aprofundandar ainda mais o beijo, deixando a Lovelace visivelmente admirada.
A conexão entre elas era intensa e apaixonada. Admiravam-se mutuamente e respeitavam-se como poucos casais conseguiam. O que uma não tinha a outra completava, e vice-versa.
Duas faces da mesma moeda.
A sensação da pele de Ashley sobre os seus dedos era mágica e inebriante e Meredith queria mais. Antes que a Diggory pudesse protestar, puxou-lhe a camisa amarelo-torrado pela sua cabeça, atirando-a para um qualquer ponto longínquo do quarto. Por breves instantes, permaneceram quietas, em silêncio, enquanto Meredith admirava o corpo belo de Ashley parcialmente exposto.
- Não me olhes assim. - pediu Ley, embaraçada.
Toda a vida Ashley tivera vergonha de si mesma. A sua pele e o seu cabelo eram diferentes da maioria das meninas com quem já se cruzara e isso era motivo de chacota e preconceito, estivesse onde estivesse. O Baile de Inverno do quarto ano fora a prova disso. Nenhum menino a convidara por causa de ser negra e era essa a realidade. Desde o orfanato que Ley aceitara os olhares de lado e os maus tratos por causa da sua cor e aprendera a lidar com isso através das roupas coloridas que usava. Se já era tão diferente e estranha, porque não ao menos vestir-se da forma que gostava, mesmo que fosse completamente anormal?
Podia até ser bonita mas o que isso interessava?
Era negra.
O peito de Ashley subia e descia por causa da respiração acelerada e Meredith sentiu o estômago contrair-se de ansiedade com aquele movimento. Os caracóis caíam-lhe pelos ombros de forma rebelde enquanto a pele cor de café a seduzia de uma maneira que Ashley não tinha noção.
- És linda. - murmurou Meredith, puxando-a para si - Linda. - depositou-lhe um beijo lento e molhado na pele magnífica, tão suave e deliciosa - Sedutora. - um beijo no pescoço e Ashley ronronou, arrepiada - Por Merlim, assim não aguento, Ashley Diggory.
Beijou-a novamente, os dedos entrelaçados nos cabelos da sua nuca. As mãos de Ashley subiram timidamente pela barriga destapada de Meredith, que gemeu, sem pudor. Ley afastou-se, surpreendida e Meredith ergueu a sobrancelha. Ao ver que a namorada não se mexia, retirou a blusa que vestia bruscamente, observando satisfeita os olhos vidrados de Ashley sobre o seu corpo.
- Tens noção do que fazes comigo? - sussurrou-lhe, colocando descaradamente as mãos nas nádegas de Ley e esperando que a namorada risse e a afastasse, como já acontecera antes.
Ela não o fez.
- Quero-te. - afirmou Ley, afagando-lhe a face com ternura.
Os olhos de Meredith, antes fogosos e cheios de desejo, suavizaram. Sentia-se corada e ofegante, completamente arrebatada por aquela mulher.
Fitaram-se, em silêncio. A Lovelace procurou ver dúvida nos olhos da namorada, mas não havia nenhuma.
Tudo o que havia era amor.
E por isso beijou-a, dando-lhe exatamente isso pelo resto do tempo livre que tinham.
**
- Miss Ravenclaw! Miss Ravenclaw!
Laurel acelerou ligeiramente o passo, fingindo não ouvir. Talvez, se fingisse bem o suficiente, conseguiria evitar falar com ele...
- Miss Ravenclaw, espere um pouco!
Fechou os olhos, rezando a todos os santinhos dos Muggles que conhecia para que ele desistisse.
Não funcionou.
- Miss Ravenclaw!
- Sim, professor? - questionou, relutante.
Horace Slughborn desacelerou o passo ao aproximar-se dela. Parecia desconcertado e provavelmente estaria a perguntar-se se a jovem à sua frente não o ouvira ou se fizera de propósito, algo que Laurel não estava minimamente preocupada. Por fim, pareceu decidir que ela não o ouvira e sorriu-lhe abertamente, os olhos piscando com entusiasmo por vê-la.
- Miss Ravenclaw, ainda bem que a encontro! Não tem vindo aos encontros do Clube dos VIPS, tem estado doente.
Laurel pestanejou.
- Não, professor, porquê?
- Não tem vindo...
- Eram obrigatórios?
O professor de Poções engasgou-se, desconcertado. Laurel permaneceu impávida e serena, encarando-o com a sua melhor expressão de inocente.
Talvez Snape tivesse razão.
Começava a ficar realmente parecida a Sirius Black.
- Não eram obrigatórios mas são encontros tão agradáveis que não vejo porque não comparecer! Na verdade, vinha convidá-la para a festa de Natal do Clube...
- Não estarei presente, professor.
- Porquê? - questionou Slughborn, começando a ficar irritado.
- Porque não gosto desse tipo de favoritismos, professor. - respondeu a ruiva, educadamente - O senhor apenas convida os alunos que têm familiares importantes ou algum tipo de talento, como a Ginny Weasley e a Hermione Granger. - fez uma pausa, encolhendo os ombros - O Clube dos VIPS? Desculpe mas não me identifico com esse tipo de coisas.
- Favoritismos? Oh, não lhe chamaria isso... - Slughborn abanou a cabeça, desapontado - A sua mãe frequentava-os todos, a querida Cora... Ela adorava os meus eventos e as festas, até ajudava a preparar tudo! Tinha muito orgulho em ser uma Ravenclaw.
- Está a insinuar que eu não tenho? - perguntou Laurel, sentindo o sangue começar a ferver.
- A menina é Herdeira desta escola, tem noção disso? É uma celebridade! Procurar esconder isso...
- Eu não estou a esconder nada!
- Cora nunca o faria, era tão inteligente e bondosa...
- EU NÃO SOU A MINHA MÃE! - gritou Laurel, furiosa.
O rosto de Horace enrubesceu. Parecia indignado por ter uma aluna a gritar-lhe na cara e por isso endireitou-se, como se a diferença de alturas provasse a sua superioridade enquanto professor.
- 20 pontos a menos para os Slytherin. - afirmou, fitando a ruiva de cima abaixo - A sua mãe teria vergonha de si, Miss Ravenclaw.
E virou-lhe as costas, resmugando sozinho.
Laurel permaneceu quieta, fitando o chão. As palavras de Slughborn tinham-na atingindo, o assunto da sua mãe sendo sempre algo sensível para ela.
Teria o professor razão? Teria Cora realmente vergonha da filha?
Abanou a cabeça. Fora Cora que lhe pedira para esconder a sua identidade o máximo de tempo que conseguisse. Fora Cora que confiara nela para ter a magia roubada de Voldemort dentro de si. Mesmo não conhecendo a filha, já que Laurel era apenas um bebé quando acontecera, Cora confiara nela para desempenhar o seu papel.
Cora Ravenclaw teria orgulho da filha que tinha.
Ainda assim, Laurel virou as costas, andando a passos largos em direção à Torre dos Ravenclaw. Lá, procurou a Dama Cinzenta, que permanecia junto à janela do último piso a observar o pôr do sol, algo que amava fazer.
- Viver na sombra de uma mãe brilhante é horrível, não é? - perguntou Laurel, colocando-se ao lado do fantasma.
Helena Ravenclaw, filha de Rowena Ravenclaw, fitou a sua descendente com um sorriso debochado no rosto.
- Só agora é que descobriste? - questionou, irónica.
Laurel revirou os olhos, embora sorrisse.
Mais ninguém a entenderia tão bem como Helena, pensou, os dedos envolta do medalhão que carregava ao peito.
O brilho safira da jóia em forma de coração acalmou-a.
Cora teria orgulho em si, tinha a certeza.
- O pôr do sol está lindo hoje. - comentou, tranquila.
Helena assentiu, melancólica.
- Está sempre, Laurel. Está sempre.
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