Capítulo 17
- Miss Ravenclaw... Uma palavrinha?
Laurel prensou os lábios, virando-se lentamente na direção de Umbridge. Desde o seu pequeno incidente no Ministério que a professora terminara a sua detenção, o que fora um alívio para a Ravenclaw. A sua mão ficara inchada e ferida por semanas, até finalmente sarar, embora as letras nunca desaparecessem. Nas costas da sua mão estariam para sempre guardadas as palavras que nunca seriam verdade:
Eu não sou nada.
- Sim? - questionou, educadamente.
Uma chuva intensa caía lá fora, batendo nas janelas da sala de Defesa Contra as Artes Negras. Estavam em Março num dia particularmente chuvoso e Laurel não estava muito bem disposta, o desejo de se enfiar na cama coberta pela sua mantinha, e evitar a humidade que lhe destruía por completo o cabelo naturalmente ondulado, bastante presente na sua mente.
- Tenho aqui um Decreto Educacional assinado pelo Ministro...
- Outro?
Umbridge estalou a língua, visivelmente aborrecida por ter sido interrompida.
- Como eu estava a dizer... O Ministro deu-me permissão para organizar uma equipa composta por alunos a fim de monitorizar a escola...
- Para monitorizar existem os monitores. - retorquiu Laurel, sem papas na língua - A senhora quer espiões.
- Cale-se, Miss Ravenclaw. - rosnou Umbridge, a perder a paciência - Gostaria de lhe dizer que recomendo vivamente a sua participação na minha Brigada Inquisatorial...
- Não.
A professora ergueu as sobrancelhas, fitando a jovem à sua frente, que erguia o queixo em desafio.
- Todos os seus colegas Slytherin já se inscreveram...
- Todos os meus colegas são uns lambe-botas natos. Eu não, professora, já devia saber isso. Para além disso, não fará de mim um exemplo.
- Um exemplo? A senhora é de facto muito inteligente para a sua idade...
- Estou ciente disso. Colocou-me em detenção por semanas, sou a rapariga que desafiou o Ministério e ainda por cima sou a Herdeira de Ravenclaw. A senhora quer fazer de mim um exemplo para os outros alunos aprenderem a não desafiá-la. Acha mesmo que eu vou cair nessa?
- Mais um mês de detenção fará com que repense melhor, não concorda?
Laurel soltou uma risada. Aquela mulher achava que, só porque tinha o Ministério a apoiá-la, iria domar tudo e todos?
- Faça o que quiser. Não me vou subjugar a si como toda a gente.
Sem esperar uma resposta, virou-lhe as costas, saindo do gabinete da professora a toda a velocidade. Blaise esperava-a do lado de fora da sala, a sua expressão indicando exatamente o que o rapaz estava a pensar.
- Deverias repensar...
- Nem tentes, Blaise. - interrompeu Laurel, depositando um suave beijo nos lábios dele - Nunca vou fazer o que aquela megera quer.
- Mas...
- Sem mas.
- Laurel...
- Blaise...
Os dois adentraram na Sala Comum dos Slytherin, onde os alunos de quinto ano se tinham juntado. Por alguma razão, a Aula de Artes Divinatórias tinha sido cancelada, dando aos alunos a oportunidade perfeita para descansarem um bocadinho do imenso trabalho e pressão a que estavam a ser submetidos.
Todos, exceto Laurel, que simplesmente não conseguia descansar enquanto não verificasse na sua agenda se ainda tinha algum trabalho por fazer e/ou entregar.
Blaise franziu o sobrolho, observando a namorada folhear a agenda Muggle que Hermione lhe oferecera. A Granger pensara imediatamente na amiga ao dar de caras com uma agenda simples encadernada com pele de dragão falsa, uma imitação barata mas que era exatamente o tipo de coisa que Laurel gostava. Em conjunto com uma engraçada caneta Muggle, a Ravenclaw adorara e andava com os objetos para todo o lado, pousando-os descaradamente numa das poucas mesas da Sala Comum dos Slytherin sem pensar no que estava a fazer.
- Podes guardar isso...? - pediu Blaise, olhando em volta.
- Deixa-me confirmar se já entreguei o trabalho de Herbologia...
- Laurel, isso é um objeto Muggle...
Os olhos azul-safira da Ravenclaw fitaram os cor de chocolate de Zabini, confusos. Ao ver Blaise se colocar entre ela e o seu habitual grupo de amigos, Laurel entendeu qual era o problema e a sua expressão mudou radicalmente.
- Estou no direito de ter o que eu quiser, Blaise. Muggle ou não.
- Blaise, sinceramente, não achas que já te misturaste que chegue com essa traidora de sangue? - questionou Daphne, sempre atenta à conversa dos outros.
Zabini sequer olhou para a loira, os olhos fixos no rosto impassível da namorada.
- Só não quero que...
- Já te divertiste que chegue, Blaise, já podes descartá-la. - comentou Pansy, venenosa.
- Não sou nenhuma carta para ser descartada, Parkinson. - retorquiu Laurel - Agora podes, por favor, não te meter na conversa dos outros? - pediu, com toda a sua gentileza - E tu também, Daphne.
- Estás na Sala Comum, não podes esperar que haja privacidade aqui, otária. - ripostou Pansy, colocando-se de pé e afastando-se dos sofás onde os seus amigos se encontravam sentados.
- Otária é a tua prima.
Draco encontrava-se junto deles, sentado entre Crabbe e Goyle sem dizer uma única palavra. As duas raparigas fitavam-se, qual duelo de titãs mas ele não se meteria. Se havia algo que aprendera sobre Laurel é que ela não precisava da sua protecção ou de defesa.
Blaise, o seu namorado, não percebera isso.
- Pansy, cala a boca. Laurel, vamos embora daqui...
- Porque eu haveria de fazer isso? - questionou a ruiva, olhando para ele com incredulidade - Eu estava aqui no meu canto sem incomodar ninguém!
- Colocando coisas dos Muggles à vista de todos?! - Blaise abanou a cabeça, frustrado - Mas será que tu não compreendes?!
- Ela é uma traidora de sangue, Blaise. Com certeza gosta de andar enrolada com os Muggles nas horas vagas. - Pansy estalou a língua no céu da boca, indiferente - E tu aí de roda dela...
- Pansy, cala a boa ou eu juro...
- Blaise cala-te tu! - berrou Laurel, possessa - Eu não preciso nem quero que me defendas!
- Eu sou teu namorado...
- Mas não és meu dono e eu uso a porcaria da agenda que eu quiser! Quem tá mal que se mude!
- Como é que tu permites que ela...
- Pansy, eu acho que já chega. - manifestou-se Draco, a voz tão gélida que todos se calaram para o ouvirem, a sua figura alta e esbelta dando a impressão de que ocupara toda a sala - Laurel, queres vir comigo até à Biblioteca? Preciso entregar o trabalho de Transfiguração hoje e estou bastante atrasado...
Os dois fitaram-se por breves instantes, com Laurel a ponderar. A pulseira que Draco lhe oferecera pendia no seu pulso esquerdo, nunca tendo de lá saído. Eram estranhos e tempestuosos mas, no final, eram o mais próximos de amigos que conseguiriam ser.
- Sim, vou contigo. - respondeu Laurel, fechando bruscamente a agenda e guardando-a na mala - Até mais tarde, Zabini.
Passou pelo namorado com uma indiferença forçada, seguindo atrás de Draco. Pansy, chocada, correu atrás do seu suposto namorado, forçando-o a parar e a olhar para ela.
- A misturar-te com traidores de sangue? - questionou-o, ríspida - A seguir vão ser os Weasley? Ou a Sangue de Lama?
Aquela foi a gota de água. Antes que Draco pudesse responder, o corpo de Pansy foi jogado contra a parede, ficando prensado com força pelo pescoço. Enfurecida, Laurel caminhou até ela, a mão que realizava o feitiço erguida à altura dos seus olhos.
- Não fales assim da minha amiga, ouviste?!
- Laurel! - chamou Draco, assustado - Pára com isso!
- Laurel! - Blaise aproximou-se dela, os olhos esbugalhados de medo - Estás a sufocá-la!
Pansy engasgou-se, sem conseguir respirar. Laurel prendia-lhe a traqueia com magia ao ponto do rosto da morena ficar roxo. Somente quando Draco lhe pousou a mão no ombro é que Laurel conseguiu respirar fundo, deixando a magia no seu sangue desaparecer e o corpo de Pansy cair ao chão, a arfar.
- Não te metas comigo, Pansy Parkinson. Não vais gostar do resultado.
Laurel virou-se para Draco, que limitou-se a assentir, a mão ainda pousada no seu ombro. O Malfoy, esperto, aproveitou a oportunidade para puxá-la para mais perto de si enquanto a conduzia até à Biblioteca, em silêncio.
E Blaise ficou para trás, os lábios crispados de raiva e ciúmes.
**
- Um sonho? - questionou Laurel a Harry, algumas horas mais tarde.
Os dois encontraram-se no Corujal, quando a ruiva ia enviar uma carta a Sirius e a Lupin a contar as suas perdas de controlo mágicas. O Grinffindor precisava de falar com ela sobre as suas visões de Voldemort e facilmente a encontrara, bastara fechar os olhos e pensar nela para saber onde estava.
- E tu eras Voldemort? - Harry assentiu, pensativo - E Rockwood está em sarilhos? Isso significa que alguma coisa correu mal... - Laurel prensou os lábios, racicionando - Isso quer dizer que só agora é que ele percebeu...
- O quê?
- Nada. - mentiu, prontamente - Nem eu sei o que digo às vezes.
Só agora é que Voldemort percebeu que só ele e Harry podem recolher a profecia do Departamento de Mistérios.
- Obrigada por me dizeres. E Harry? Fazes-me um favor?
Harry assentiu e Laurel soltou um suspiro, sentido-se mais uma vez culpada.
- Podes dizer ao Neville que eu lamento muito que a Belatrix tenha sido libertá-la? Ela merecia ficar em Azkaban para sempre depois do que fez aos pais deles...
- Claro, Lau, eu digo-lhe. - Harry sorriu, verdadeiramente admirado - És tão gentil e bondosa mesmo depois de tudo o que já passaste... Como é que o Chapéu Selecionador te colocou nos Slytherin?
Laurel olhou para Harry, surpreendida. Uma coisa era o comportamento dos Slytherin ser verdadeiramente questionável em relação a muita coisa; outra muito diferente era dizer que todos os Slytherin eram maus e destinados a serem preconceituosos e arrogantes.
E algo que Laurel não suportava era injustiças.
- Nem tudo na Casa das Cobras é maldade, Harry. - respondeu a Ravenclaw, friamente - Estou nos Slytherin porque sou um deles, porque represento as verdadeiras características apreciadas por Salazar: astúcia, orgulho e ambição. Sou tudo isto, tal como o meu pai era. - Laurel abanou a cabeça, afastando-se dele - Isto não é nenhuma gaveta onde colocas toda a gente e pões um rótulo, Potter.
Com um suspiro alto, virou-lhe as costas, deixando Harry pendurado sem saber o que dizer.
Uma pergunta permanecia na sua cabeça, insistente.
Até que ponto alguém conseguia ser totalmente bom e totalmente mau?
Até que ponto ela seria Boa?
Pensou em Pansy, a sufocar.
Até que ponto a sua essência permanecia a sua e não a de Voldemort?
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