Capítulo 15
Ashley praticamente mudara-se para o dormitório de Meredith e Laurel nos dias que se seguiram.
Daphne Greengrass ameaçara fazer queixa delas mas assim que Laurel se aproximou dela com uma chama a arder na palma da sua mão direita, calou-se imediatamente, amedontrada. Chegava todos os dias apenas para dormir e era a primeira a sair de manhã, obrigando-se a si mesma a fazer de conta que não via a Diggory junto de Meredith todas as noites.
Meredith acordava frequentemente com pesadelos, gritando aterrorizada. Sonhava com Azkaban, com os Dementors e culpabilizava-se pelas mortes que de vez em quando apareciam documentadas no Profeta Diário. Por isso Ashley ficara com ela, dormindo na mesma cama que a Lovelace e estando lá para a acalmar sempre que a morena acordava assustada.
Fevereiro finalmente chegara e com ele a segunda visita a Hogsmeade. Nenhuma das três mencionara o encontro que Meredith teria naquele dia, focando-se em vez disso no dia especial que se avizinhava: o São Valentim.
- Recebi um cartão de São Valentim! - anunciou Ashley naquela manhã, alegre.
Meredith sorriu, penteando os cabelos. Laurel há muito que saíra do dormitório, alegando precisar esclarecer uma dúvida com o professor Flitwick sobre Feitiços. Era a primeira vez que a ruiva ia a Hogsmeade e ainda assim a sua primeira prioridade eram os estudos.
Laurel sendo Laurel.
Ashley abriu o cartão em formato de coração, lendo o conteúdo em silêncio. Quando terminou, jogou-se abruptamente nos braços de Meredith, que deixou cair a escova com o susto.
- Eu também gosto muito de ti... - sussurrou Ley, com carinho - Vens comigo a Hogsmeade? Eu sei que tens a tua... Missão... Mas podemos beber uma Cerveja Amanteigada antes, o que achas?
- Desde quando bebes Cerveja Amanteigada? - questionou a Lovelace, ajeitando a gola mal dobrada da rapariga dos cabelos cacheados.
- Desde que estou apta a experimentar coisas novas, incluído esta coisa dos sentimentos. - respondeu Ley, prontamente.
- Estás a convidar-me para um encontro? - perguntou Meredith, fingindo-se de desentendida.
Ashley revirou os olhos, ajeitando a sua saia azul até aos pés, que combinava perfeitamente com a blusa de gola alta roxa que vestia.
- Deixa de te fazer de difícil, Meredith Lovelace e apenas aceita.
A Slytherin soltou uma risada, ao que a Herdeira de Hufflepuff respondeu com um empurrão. Sem mais rodeios, Meredith puxou-a para um beijo suave, que deixou Ley embaraçada e sem conseguir raciocionar como deve ser.
- Claro que aceito, Ashley Diggory. O que mais haveria eu de querer no mundo?
**
Laurel observou Hogsmeade com um misto de curiosidade e êxtase. Nunca estivera ali antes, pois Remus não a autorizara no terceiro ano e estivera demasiado mal devido às insónias no quarto ano para sequer pensar nisso. Também não fora na primeira visita simplesmente porque não tinha vontade e portanto estava ali agora, com Ron e Hermione ao seu lado, tagarelando sobre os sítios que devia conhecer.
- Harry e Cho? - perguntou, avistando o Menino Que Sobreviveu ao longe, acompanhado da Seeker dos Ravenclaw - Ela seguiu em frente muito rápido, não? Quer dizer, depois de Ced...
Ron e Hermione trocaram um olhar inquieto, sem saber o que responder. Laurel encolheu os ombros, despreocupada.
- Não é da minha conta, foi só um comentário.
- Gostas do Harry? - perguntou Ron, sem rodeios.
- Ron! Isso não é da tua conta! - repreendeu Hermione, ruborizada.
- Não, Ron, não gosto do Harry. - respondeu Laurel, soltando uma risada - Já nos beijamos algumas vezes... Demasiadas... Mas nunca gostei dele, só como amigo.
Ron encolheu os ombros, resmungando qualquer coisa enquanto Hermione o repreendia pela sua falta de noção. Os dois começaram a andar e Laurel ficou parada com um sorriso na cara, vendo os dois tão embrenhados um no outro que sequer deram pela falta dela.
Suspirou. Era uma romântica incurável.
Sozinha, a Ravenclaw deambulou calmamente pela vila, espreitando as lojas, comprando alguns doces e cumprimentando algumas pessoas com quem se cruzava pouco no castelo, como Luna Lovegood e Ginny Weasley, com quem conseguira conversar durante o Natal e parar de associar à imagem de Tom Riddle.
Numa loja de roupa, Laurel parou junto da secção de inverno, encantada com um gorro branco que lá se encontrava. Era uma apreciadora de tudo o que a impedisse de sentir frio e ficou a ponderar se levava. Embora as Ravenclaw tivessem vários bens guardados, Laurel era muito poupada, principalmente porque Remus Lupin raramente conseguia um emprego estável e tinha muitas dificuldades financeiras.
Além disso, o seu tutor legal e pai adotivo era extremamente teimoso e só recorria ao dinheiro de Laurel quando não tinha mesmo outra alternativa, embora a filha lhe dissesse várias vezes que o que era dela era dele também.
- Precisas de ajuda? - perguntou Blaise Zabini, com um sorriso galã no rosto.
- De ti? Não, muito obrigada. - respondeu Laurel, com um sorriso gentil - Os teus amigos estão ali à tua espera, Zabini.
Blaise olhou na direção do grupo de Slytherin que se encontrava à porta da loja. Nenhum deles notara a sua ausência a não ser Daphne, que o encarava com uma sobrancelha arqueada e um ar desconfiado.
- Eles esperam um bocadinho. Olha, Laurel...
- Não somos amigos, Blaise. Já te tinha dito isso então por favor, vai ter com quem é.
- E se eu quiser ser teu amigo, Laurel?
- Como quiseste o ano passado para te aproximares de mim e depois me entregares a Voldemort? - Blaise deu um passo atrás, chocado - Oh desculpa, achavas que eu não iria saber?
- Draco contou-te? - perguntou Zabini, furioso com o amigo - Aquele sacana...
- Draco não precisou de me contar nada, Blaise. Eu sei somar dois mais dois. Muito meu amigo até uma certa altura, desaparecido em combate depois do que aconteceu no Torneio. - Laurel abanou a cabeça, com um sorriso irónico no rosto - Chamo-me Ravenclaw por algum motivo, Zabini. Agora, se me dás licença... - passou por ele em direção à porta, piscando-lhe o olho - Tem um bom dia, Blaise.
Laurel continuou a andar, passando pelo grupo de Slytherin sem olhar para eles. Theodore Nott, um dos amigos mais próximos de Blaise, estendeu a perna quando ela passou, pregando-lhe uma rasteira tão súbita que a rapariga sequer teve tempo de pensar, caindo no chão duro com violência.
- Ups. - proferiu Theodore, ao mesmo tempo que ria junto dos amigos.
- Nott. - rosnou Blaise, aproximando-se de Laurel para a ajudar - Estás bem?
- Afasta-te de mim, Zabini.
Laurel pôs-se de pé, irritada. De punhos cerrados, procurou controlar-se, sabendo que se não o fizesse a sua magia sairia descontrolada e alguém ficaria magoado.
Sem pensar duas vezes, deu um soco no rosto de Nott, que soltou um guincho agudo, agarrando-se ao nariz, que sangrava.
- O que pensas que estás a fazer, demónia?
Pansy Parkinson aproximou-se do grupo, colocando-se ao lado de Daphne. Crabbe e Goyle, os outros dois Slytherin, rosnaram em uníssono, de punhos cerrados e um olhar ameaçador no rosto.
Laurel soltou uma risada debochada.
- Apenas dei uma maquilhagem nova ao teu amigo, Pansy. - apontou para Theodore, que tentava estancar a hemorragia - Também queres uma?
- Já chega.
A voz fria de Draco Malfoy chegou-lhe aos ouvidos perto demais, fazendo-a estremecer. Draco pousou a mão no seu ombro, obrigando-a a recuar e olhar para si, algo que se recusara a fazer durante semanas, desde que o vira a beijar Pansy.
- Tira as patas de cima de mim. - retorquiu Laurel, sem um pingo da sua habitual gentileza.
Antes que alguém dissesse alguma coisa, Draco puxou-a pelo pulso, afastando-a do resto do grupo, que limitou-se a chamar-lhe nomes e ameaçá-la à distância. Blaise seguiu-os, verdadeiramente preocupado com a rapariga que um dia quisera enganar por interesse.
- Larga-me! - exclamou Laurel, debatendo-se - O que queres, Draco? A tua namorada está bem ali, vai ter com ela!
- Laurel, tu estás bem? - questionou Blaise, vendo a ruiva assentir com firmeza - Belo soco que deste ali!
- Obrigada. - esboçou um pequeno sorriso, ligeiramente mais calma.
- O que te deu?! - repreendeu Draco, observando-lhe a mão ferida do soco que dera - E pelas Barbas de Merlim, Pansy não é minha namorada!
- É só aquela que beijas ocasionalmente?
- Não fizeste o mesmo com o Potter?
- Não tem nada a ver!
- Desculpem mas eu... Vou me retirar... - disse Blaise, olhando de um para o outro.
Nenhum deles o ouviu.
- Mas o que tu tens a ver com quem eu beijo?! - ripostou Laurel, irritada - És meu dono ou quê?!
- Tu é que não falas comigo há semanas! Ficaste com ciúmes de mim e da Pansy, foi?!
Blaise soltou uma risada e afastou-se, embora não tivesse ido muito longe. Laurel segurou-o pelo pulso, puxando-o para junto dela, demasiado perto.
- Podes beijar quem tu quiseres, Draco Malfoy, tal como eu posso.
E beijou Blaise Zabini com tanta intensidade que o rapaz não conseguiu ficar indiferente. Laurel era linda e o gosto dela... Antes que a ruiva se pudesse separar dele, Blaise envolveu-lhe a cintura, aprofundando o beijo...
Que durou pouco tempo, porque Draco Malfoy o puxou para longe dela e lhe deu um soco no rosto com tanta violência que Blaise foi parar ao chão.
**
Meredith ria, feliz, apreciando a companhia de Ashley e acariciando as costas da mão dela suavemente.
O Três Vassouras não era nem de longe nem de perto o lugar mais romântico de Hogsmeade mas as duas estavam a divertir-se tanto que sequer se importavam. Ashley era muito divertida, contando as histórias mais mirabolantes sobre a sua infância.
Sempre que falava de Cedric, o protagonista de muitas das suas histórias, os seus olhos brilhavam de emoção e saudade.
- Fico feliz que estejas a conseguir fazer o teu luto, Ley. - disse Meredith, olhando-a nos olhos - Cedric com certeza iria querer que sorrisses quando falasses nele em vez de chorares.
- Tenho a certeza disso. Tenho muitas saudades dele mas... Eu sei que ele foi feliz enquanto esteve aqui. Nada mais importa.
A Lovelace assentiu, puxando-a para um beijo. Estavam na mesa mais afastada de todas, escondidas por um pilar de madeira enfeitado com alguns corações de cartão e Meredith roubara uma vela do Salão Nobre antes de sairem do castelo, colocando-a no centro da mesa onde estavam.
- Ashley Diggory... - chamou Meredith, quando se separaram - Com tudo o que irá acontecer, eu não sei quanto tempo vai durar nem sei os riscos a que te vou expor ao perguntar-te isto mas... Qualquer hora ao teu lado já me faz feliz e se só estivermos juntas duas semanas, será o suficiente para mim.
- Meredith, a romântica. - comentou Ashley, sorridente - Nunca pensei, Mer.
- Não me interrompas! - brincou a Lovelace, corada - O que eu quero dizer é... Bem... Ley, queres namorar comigo?
Ashley observou a rapariga ao seu lado. O estômago embrulhou-se, aquela estranha sensação no seu peito a querer explodir para fora de si.
- Claro. - sussurrou, com a voz a tremer - Claro que sim!
E atirou-se ao pescoço dela, numa atitude tão típica de Ashley que Meredith não pode deixar de rir, apertando-a contra si.
Quando se soltaram, um bilhete tinha sido deixado à frente de Meredith, que empalideceu.
Nenhuma delas proferiu uma palavra. Meredith pegou no pedaço de pergaminho, abriu-o e leu-o, enquanto Ashley procurava a pessoa que o deixara ali. A Lovelace prensou os lábios, deixando a Hufflepuff mais apreensiva ainda.
- Mer... O que foi? É o tal... Encontro?
Meredith abanou a cabeça, pálida como a parede ao seu lado.
- Uma carruagem está à minha espera a poucos metros daqui. É ele, Ley. Vou ter com ele.
Soltou um suspiro, abraçando a sua mais recente namorada com redobrada força.
- Vou ter com Voldemort, Ley. Agora.
**
- Aquela... Besta... Cúbica...
Blaise soltou um gemido de dor, fazendo Laurel bufar. A ruiva tentava colocar o gelo que Madame Pomfrey lhe entregara de forma suave na cara do rapaz mas a raiva que sentia de Draco era superior à sua gentileza natural.
- Eu ponho isso. - resmungou Blaise, tirando-lhe o saco de gelo da mão - Porque raio a Madame Pomfrey não fez um feitiço ou uma poção para isto passar logo? Tenho a cara inchada!
- Porque eu lhe pedi para seres tratado como um Muggle. - ripostou Laurel, com um sorrisinho - Assim ficas menos ignorante no que toca aos Muggles, que tal?
Blaise revirou os olhos. Laurel nunca entenderia, tinha crescido demasiado longe da sociedade bruxa para entender como as coisas funcionavam e como deveriam funcionar.
Também não seria ele a explicar-lhe, aprendera a sua lição.
- Gostas de Draco? - perguntou-lhe, curioso.
- Não.
- De certeza?
- Não.
O rapaz soltou uma risada, endireitando-se na cama da enfermaria onde tinha sido colocado. Laurel estava sentada ao lado dele, fitando a mão ferida e sorrindo orgulhosamente.
- Foi mesmo um belo soco.
- Porque me beijaste? - questionou Zabini, aproximando-se dela.
- Porque Draco é um idiota e sempre será. Simplesmente quis provar um ponto e consegui. Mais alguma pergunta ou posso ir?
- Posso beijar-te de novo? - perguntou, incapaz de não apreciar a beleza dela.
- Porque razão eu te deixaria fazer isso, Zabini?
- Porque estás com raiva de Draco. Porque não gostas do Potter, que seria quem realmente querias gostar. - Laurel fitou-o, surpreendida - Sou muito observador, Ravenclaw. E tão astuto como qualquer Slytherin que se preze.
- Não te vou beijar, Zabini.
- Mas gostaste.
- Não tive tempo para apreciar.
- Agora tens.
Puxou-a para si e colou os lábios de ambos, acariciando-lhe o rosto com o polegar. O beijo tornou-se mais profundo e Laurel correspondeu, sem sentir qualquer orgulho pelo que estava a fazer.
Ainda assim, não podia deixar de admitir que Blaise beijava muito bem.
**
Laurel de quinze anos com as hormonas aos saltos... Não a julguem <3
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