Claro que eu ainda me lembrava o quanto Lorenzo era atraente, porém, não estava preparada para vê-lo usando jeans e uma camisa branca de botões, se vestindo terno ele encantava, com roupas casuais era um escândalo, impossível não olhar nos botões entreabertos e suspirar, talvez seja por causa da bebida que estou hipnotizada por esse homem. No entanto tenho a impressão que ele está ainda mais irresistível essa noite.

— Achou que iria se livrar de mim? — perguntou sorrindo ao me cumprimentar com um beijo no rosto e segurar na minha cintura por mais tempo do que deveria, porém, não fiquei nem um pouco preocupada com a sua indiscrição, na verdade até gostei dela.

— Talvez, não esperava que fosse um perseguidor — comentei retribuindo o sorriso que ainda estava estampado no seu rosto.

— Não sou perseguidor, só quero conhecer melhor uma mulher bonita — explicou segurando minha mão e me puxando em direção ao seu carro. Ele abriu a porta pra mim, como um perfeito cavalheiro que era, depois deu a volta para enfim entrar e dar a partida. Estava tão feliz e animada que não perguntei onde ele iria me levar e nem me importei. Não costumo entrar no carro de estranhos, mas estava num país diferente, um pouco alegre demais devido as bebidas que ingeri, decidi ignorar o bom senso, somente dessa vez. Observei as luzes encantadoras das ruas de Roma e esperei até ele estacionar o carro conversível em frente uma praça.

— Vamos parar aqui? — indaguei assim que ele abriu a porta do passageiro e me deu a mão para ajudar a sair do carro, levantei com cuidado ajeitando o vestido de verão florido que usava e desci.

— Sim, vamos passear por Roma do melhor jeito — disse arqueando as sobrancelhas.

— Qual é? — questionei curiosa.

— Caminhando pelas ruas— explicou segurando minha mão novamente e me arrastando até uma praça.

— Conhece essa praça? — perguntou animado ao chegar perto de uma fonte belíssima.

— Não, essa é a primeira vez que venho até aqui.

— Nunca esteve em Roma antes?

— Já, mas não sai dos arredores do hotel.

— Que pena, precisamos consertar isso. Você não pode deixar Roma sem conhecer um pouco do seu encanto. Podemos começar pela Piazza Navona — disse abrindo os braços para mostrar a linda praça toda iluminada, lotada de pessoas sentadas nas mesas do lado de fora dos restaurantes, uma moça cantava uma música romântica em perfeito italiano ao fundo — você pode notar que a praça tem o formato de elipse, pois foi construída sobre as ruínas de um antigo Estádio de Domiciano, onde ocorriam lutas dos gladiadores e animais no século I e está aqui é a Fontana del Nettuno — explicou.

— É linda! — exclamei empolgada com a fonte iluminada pelas dezenas de luzes e a lua cheia brilhando bem alto no céu.

Passamos o resto da noite conversando e caminhando pela praça, descobri que Lorenzo nasceu em Florença e toda a sua família morava lá, tinha duas irmãs mais velhas que já eram casadas e três sobrinhos que ele parecia gostar bastante. Depois que se tornou advogado veio morar em Roma e assumiu o escritório do pai que se aposentou recentemente. No entanto vai quase todo final de semana pra casa visitar a família.

Sentamos em uma das mesas espalhadas do lado de fora do restaurante e comemos a melhor pizza de marguerita que já experimentei na vida, degustamos um vinho tinto suave, enquanto o Lorenzo me fazia rir contando histórias engraçadas sobre seus sobrinhos que eram umas pestinhas, segundo ele. Nunca ri tanto.

— Está na hora de saber sobre você — questionou assim que bebi mais um gole do vinho.

— Não tem nada importante, não sou interessante como você — disse dando de ombros e observando a garota italiana que ainda cantava na praça, porém, agora uma música de Ed Sheran, se não estiver enganada era Perfect.

— Pare de me enrolar, claro que você é interessante, não estaria aqui se não estivesse me conquistado durante o voo.

— Está exagerando, você nem ligou pra mim durante as onze horas que permaneceu ali.

— Fui ao Brasil cuidar de uma separação entre um italiano e uma brasileira, fiquei dois dias no país e não consegui um acordo, já tinha desistido de conseguir esse caso quando embarquei de volta. Poucos antes do avião decolar recebi uma mensagem, que só fui ler depois que você me questionou sobre a bebida, eles estavam concordando em assinar um novo contrato, cheio de clausulas e restrições quanto a guarda das crianças, por isso não consegui dar a atenção que você merecia, passei o voo inteiro lendo e redigindo o melhor contrato de divórcio que eu consegui.

— Boa explicação e vou perdoar você, se me confirmar que eles assinassem o acordo?

— Sim, enviaram assinados pouco antes de eu ir buscar você no hotel.

— Quer dizer que está comemorando o desfecho de mais um caso?

— Não, isso é só trabalho estou comemorando minha sorte em conhecer você — explicou levantando a taça para um brinde.

— Se acha um homem sortudo por estar aqui comigo essa noite? — indaguei curiosa para descobrir o quanto Lorenzo estava interessado em mim.

— Claro, por que não estaria? Você é uma mulher linda e atraente — respondeu sem tirar os olhos dos meus.

— Obrigada — agradeci com as bochechas coradas, já recebi elogios antes, mas esse cara sabia mexer com algo dentro de mim que eu não conseguia explicar.

— Estou esperando, você já conhece minha vida toda e eu não sei nada sobre você. Além de que tem os cabelos ruivos mais lindos e os olhos verdes mais encantadores que já vi.

— Se continuar assim, vou ficar com vergonha de contar sobre minha vida e decepcioná-lo.

— Conte, nada pode me decepcionar — falou decidido.

— Sério! Depois não diga que eu não avisei, vamos lá. Sou comissária de bordo e trabalho nessa companhia faz 3 anos, moro na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro com minha amiga Juliana, mas sou mineira nasci em Belo Horizonte. Meus pais e minha irmã ainda moram lá, acabei de completar 23 aninhos bem vividos, não tenho nenhum arrependimento e adoro correr na praia nas poucas manhãs que estou em casa, sou louca por livros antigos.

— Sabia que me surpreenderia, livros antigos? Posso saber a razão?

— Nada especial, eu adoro folhear as páginas amareladas com o tempo, o encanto de passar meus dedos em algo que percorreu tantas mãos e ainda está aqui intacto para que eu possa senti-lo, ler e me envolver com uma história que não foi escrita para o meu tempo, o escritor sequer sabia que um dia eu estaria lendo sua história e mesmo assim consigo me identificar com sua narrativa como se tivesse escrito esse livro meses atrás e não quase uma centena de anos.

— Você realmente gosta de livros antigos — comentou maravilhado com a minha empolgação ao explicar o porquê amo livros antigos.

— Sim — murmurei baixinho passando o dedo na borda da taça vazia.

— Quer mais vinho?

— Não, volto para o Brasil amanhã e preciso estar no mínimo apresentável para entrar no avião.

— Quer dizer que não vamos mais nos ver — anunciou nitidamente desapontado.

— Não sei, trabalhamos por escala e quando voltar para o Rio descanso dois dias e vou para Nova York, Paris, Alemanha e mês que vem retorno a Roma.

— É muito tempo — disse sem tirar os olhos dos meus, seus olhos outrora tão azuis, agora estavam escuros e quase pretos sob a luz do luar.

— Talvez, mas o tempo passa rápido e se você estiver desocupado, podemos passear novamente pelas ruas da cidade, exatamente como fizemos hoje.

— Você está me convidando para um segundo encontro? — perguntou empolgado com o meu convite.

— Talvez, ainda quero conhecer mais de Roma e você parece ser o guia perfeito — respondi sorrindo.

A noite estava quase acabando, sabia que tinha sido especial, encontrar o Lorenzo no voo e depois em frente ao hotel, foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Ele pagou a conta sozinho, apesar dos meus protestos. Saímos do restaurante e voltamos caminhando animados até o carro, ele abriu a porta do passageiro mais uma vez, mostrando que não estava só tentando me impressionar. Ele era real e depois de passar uma noite toda com ele, podia apostar nisso. O que eu ainda não sabia era o caminho que estávamos seguindo, desconfiava que havia interesse em algo mais, porém, nenhum dos dois queria dar o primeiro passo. No meu caso estava tão relutante em sair da bolha segura em que estava que decidi esperar até o último segundo.

Paramos em frente ao hotel, um olhando para o outro e abaixei a cabeça envergonhada, não deveria estar, isso nunca aconteceu antes, geralmente sou desinibida com os homens, pelo menos era o que eu pensava até agora.

Ele tocou meu queixo devagar, levantando meu rosto, nossos olhos se encontraram como aconteceu inúmeras vezes durante o passeio pelas ruas de Roma. Todavia dessa vez, era diferente, eu sabia que o clima tinha mudado, a vontade de beija-lo deixavam meus lábios formigando, mordi a parte inferior do meu lábio a fim de adormecer esse sentimento. Porém, o olhar que ele me lançou ao perceber metade da minha boca aprisionada por meus dentes me fez recuar e solta-lo no mesmo instante. No entanto era tarde demais, a chama de desejo já tinha sido acessa e não tinha mais volta. Senti suas mãos na minha cintura me puxando de encontro ao seu corpo, senti seu perfume invadir meu espaço e por fim senti seus lábios devorando os meus, como eu imaginei que seria, intenso, desesperado e sem qualquer pausa para respirar. Ele tinha urgência em explorar minha boca e sabia exatamente o que estava fazendo. Por isso não protestei, nem me importei o que pensariam ao presenciar aquela cena. Deixe minha aparente inibição de lado e deixei que ele me beijasse como se nunca mais fosse me ver novamente.

Boa noite!! Conforme prometido olha aqui mais um capítulo, espero que gostem comentem e deixem suas estrelinhas para fazer a autora feliz!!