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Dezesseis

EDUARDO

Depois de devorarmos a travessa inteira — mais eu do que elas, é claro — e nos empanturrarmos de café e suco de maracujá — uma combinação nada harmoniosa —, vovó foi para seu quarto, mas não antes de garantir que Maria estava bem instalada no meu.

Esse quarto já foi do Henrique em sua infância, mas, bem antes do Felipe nascer, morei cerca de um ano com minha vó, depois que minha mãe precisou viajar a trabalho e o marido dela não tinha tempo pra cuidar do filho. Minha mãe, porém, abandonou o trabalho e preferiu ficar comigo. No entanto, o quarto continuou sendo meu, pois minha vó vira e mexe pedia para que eu ficasse com ela. Na época não entendia, mas hoje sei que isso acontecia quando minha mãe e Henrique brigavam. Dona Madalena só queria me poupar.

Minha mãe e minha vó são os maiores exemplos de mulheres fortes que conheço. Meu avô era militar, morreu como um coronel condecorado quando minha vó ainda tinha seus 60 anos, eu era muito pequeno e quase não me lembro dele, mas lembro nitidamente de vê-lo brigar feio com seu filho por algo que já não lembro mais. Minha vó me disse que eles costumavam ser assim, e talvez isso seja uma herança maldita de família, um filho que não se dá bem com o pai...

Ouço um barulho na cozinha e levanto a cabeça para olhar. Vejo Maria com um copo na mão, levando ao filtro.

— Desculpa, tentei vir bem devagar pra não te acordar — ela fala enquanto enche seu copo.

— Não estava dormindo. E, na verdade, não ouvi nenhum passo seu pela sala. Tem pés de algodão? — brinco ao levantar o tronco para olhar melhor para ela, que ri.

— Tenho duas colegas de quarto, e uma delas tem muito costume de dormir na sala depois de uma noite agitada, então meio que aprendi a andar silenciosamente para não atrapalhar o sono dela.

— Ah. É claro, sempre pensando nas pessoas... — volto a me jogar no sofá.

— O quê? Como assim? — Ela bebe sua água.

— Ah para, acho que você é a pessoa mais altruísta que conheço, loirinha.

— Não é bem assim. — Maria franze sua testa. — Eu só... sei lá. — Levanto-me outra vez,  tempo de vê-la dar de ombros e termina o último gole de água. — Quer um pouco de água? — Ela oferece e rio, ao perceber a ironia, Maria faz uma careta, mas ri também.

— Está sem sono? Incomodada com os trovões?

— Não. Quer dizer, um pouco. — Ela sai da cozinha e caminha até a sala. Eu me sento no sofá e indico a poltrona ao meu lado para que ela se sente. — Acho que só estou pensando demais, sabe?

— É, eu sei — concordo, mesmo ela não tendo ideia de como realmente sei, já que está acontecendo o mesmo comigo. Na verdade, acho até que ela sabe, pelo jeito que me olha. — Quer conversar? Você não falou muito sobre sua mãe. Está preocupada?

— Seria estranho pra você se eu dissesse que não? — fala com um sorriso e apenas a instigo com o olhar para que ela termine seu raciocínio. — Lembra no hospital que, antes do meu pai chegar, eu tinha dito que Deus me fez lembrar que Ele é Quem tem o controle de tudo?

— Claro

— Então, acredito que isso que tenha acontecido foi justamente o que devia acontecer. E esse infarto da minha mãe não era pra morte, mas pra vida.

— Desculpa, loirinha, mas eu boiei — tombo minha cabeça para o lado e ela sorri, mas solta um longo suspiro.

— Sei que não fui muito explícita quanto ao que tenho passado, apesar de você e todo mundo saber o que minha família tem passado...

— Olha, saber mesmo, eu não sei. Só sei que seu pai não está trabalhando mais no colégio. Não me atento às fofocas.

— Bom, esse foi o princípio de tudo. — Maria suspira outra vez e consigo ver o quanto é difícil pra ela tocar no assunto.

— Você não precisa falar nada, loirinha. Não precisa mexer no que te dói.

— Às vezes é necessário cutucar a ferida para que a dor saia de uma vez. Deixar cicatrizar sem limpar, pode gerar uma infecção e piorar a situação infinitamente mais. — Suas palavras me fazer refletir sobre o quanto não falo do Henrique, e também no quanto pensar nele me machuca. — Se você não se importar, gostaria de falar sobre isso. Acho que preciso. Estava esperando Sofia para conversar, mas cheguei a um ponto que parece que vou sufocar, sabe? — Maria tampa o rosto com as duas mãos e me aproximo o máximo que os móveis permitem, retiro uma mão de seu rosto e beijo seu dorso, depois a seguro perto de mim.

— Estou aqui por você, Maria. Pro que quiser. E vou ouvir tudo que quiser me contar. E se por acaso puder te aliviar um pouco do fardo que está sentindo, então o farei — digo com tanta sinceridade que percebo que é algo que eu mesmo gostaria de ouvir.

— Obrigada, Du. De coração. — Ela põe a outra mão sobre a minha enquanto a mão que peguei antes ainda permanece enlaçada entre as minhas. — Só quero que saiba que faço das suas palavras as minhas, e que estou aqui por você. Seja lá para o que for.

Minha primeira reação é a surpresa, depois é uma mistura de satisfação com temor. Na mesma intensidade que quero desabafar, também morro de medo do que isso pode fazer comigo. Desde que o Ben foi embora, não falei com ninguém sobre isso, e não são poucas as vezes em que sinto que vou explodir.

— Vamos focar em você, loirinha. Por ora. — Meu acréscimo parece deixá-la satisfeita.

— Só soube que meu pai tinha perdido emprego quando cheguei aqui. Eles disseram que não queriam me falar nada por telefone e que agora eu tinha a minha vida para cuidar. A verdade é que eles nunca aceitaram bem o fato de eu ter ido para a capital para estudar. Eles esperavam que eu ficasse na cidade e morasse com eles para sempre.

Maria sorri, mas é de nervoso ou algo parecido.

— Enfim, quando cheguei e soube disso, soube também que meu pai está passando por uma grande depressão. Não sei se você sabe, mas ele foi mandado embora porque o novo dono o acha velho demais para trabalhar.

— Não sabia... Mas isso é um absurdo! Seu pai tem o quê? Uns 50? — falo com indignação.

— Ele tem 51. O novo dono disse que queria modernizar a escola e que meu pai não acompanharia ou algo assim.

— Maria, ninguém conhece aquela escola como seu pai. Seu Gérson sempre me pegava nos meus esconderijos que achava serem secretos — sorrio com a lembrança, e o sorriso que vejo no rosto da loirinha é sincero dessa vez.

— Ele falou sobre isso no hospital.

— Ah, é? Tipo o quê? — pergunto um pouco nervoso.

— Na verdade, ele perguntou se estava rolando algo entre nós dois e se ele deveria se preocupar da garotinha dele com o mulherengo na escola. — Ok, sei que estou muito vermelho agora. E Maria solta uma gargalhada baixa. — Edu, você vai explodir.

Levanto do sofá e caminho até a cozinha. Não estou com sede, mas preciso de algo que me refresque.

— Isso não tem graça — digo ao pegar um copo.

— Tem sim! — Maria veio atrás de mim. — Mas relaxa, falei pra ele que somos só amigos e que confio em você.

— Isso é bo-bom. Quer dizer, seu pai me deixa nervoso, ele desperta o adolescente dentro de mim que espera pela bronca — faço uma careta, mas disfarço levando o copo à boca.

— Não deveria. Meu pai é super gente boa, sabia? Fora do trabalho, ele até faz aquela piada do pavê.

— Ah, ele faz o tipo tiozão? — sorrio com isso e não comento que também faço essa piada.

— Muito. Tipo você. — Ela pisca pra mim. — Tenho certeza de que vocês seriam ótimos amigos agora que ele não precisa relatar suas bagunças para o diretor. E ele é um verdadeiro paizão.

Por um segundo fico triste ao pensar que não sei o que isso significa. E percebo que ela também fica triste, provavelmente pelo que ela falou sobre a depressão.

— Senti muito a diferença de quando cheguei e o vi deitado sobre a cama, sem reagir ou fazer uma piada sequer. Ele se tornou outro homem.

— Não reparei nada no hospital — comento me apoiando na pia. — Depressão é realmente uma doença silenciosa.

— Sim, é. E o pior é que ele não aceita isso, principalmente porque tem um primo que se matou há uns anos. Ele tinha depressão e, depois desse episódio, essa palavra virou xingamento na família.

— Que barra! Sinto muito, Maria. Não fazia ideia...

— Você não tinha como saber. Vamos voltar pra sala? — Ela fala e a sigo de volta para o sofá, dessa vez sentamos os dois no mesmo.

— Eu só não entendo sobre o que disse desse infarto ser para vida, não para morte.

— Foi Deus Quem me falou isso. — Maria sorri, como todas as vezes em que fala sobre Deus e Seu poder.

— Como assim? — pergunto curioso. Não é que eu duvide do que ela acabou de dizer, só não entendo. O que sei é que Maria sempre teve uma fé extraordinária.

— Minha mãe basicamente teve um infarto por causa de estresse. E, desde que cheguei, o que mais percebo é que ela tem estado muito cansada. Muito mesmo. Está até mais velha do que é. E ela tem feito tudo pelo meu pai, tudo. O que percebo do agir de Deus é que meu pai precisa se lembrar sobre seus motivos para viver, não só minha mãe e sua vida em si, mas o próprio Deus.

— Então, Deus permitiu que sua mãe parasse no hospital pro seu pai sair da cama?

— Isso! Basicamente isso!

— Preciso admitir que faz sentido — falo bastante pensativo.

— Mesmo se não fizesse sentido, faria, porque com Deus é assim. — O sorriso nos lábios da Maria é enorme. — O Senhor tem um jeito de fazer tudo se encaixar, de fazer tudo dar certo. E não precisamos entender Seu agir, só precisamos deixa-Lo se manifestar e acreditar nEle.

— Então você acha que agora seu pai vai sair da depressão assim? Como mágica? — questiono, mas sinto receio de parecer debochado. — Desculpa, só estou tentando entender.

— Se está perguntando se eu acho que meu pai não precisa mais de um tratamento, então é resposta é não, pois acredito que Deus deu sabedoria aos profissionais que tratam dos problemas mentais e psicológicos por uma causa clara. Mas se sua pergunta é sobre eu achar que Deus é o Médico dos médicos e que toda cura vem dEle, então sim, acho exatamente disso. Ele faz tudo que não podemos fazer, e nos dá força para fazermos o que precisamos.

— Maria, não é que eu duvide de milagres, não duvido. Conheço bem a história da Sofia, afinal. É só que, sei lá, tudo parece tão surreal. Tipo a história do infarto, por que Deus permitiria que sua mãe sofresse apenas para que seu pai acordasse pra vida? — questiono realmente confuso. Já não estou mais no sofá, apenas ela, estou andando para refletir.

— Porque às vezes é necessário permitir a dor para que haja cura. Não entendemos o agir de Deus porque não somos capazes de vislumbrar o que Ele reservou pra nós. O que sei que é mesmo quando o cenário parece desfavorável, Ele está agindo e tudo faz parte do propósito.

— Tudo?

— Tudo!

— Então essa dor alucinante que corta a alma faz parte de algo que Ele reservou pra nós? Mesmo que doa como o diabo por agora, temos apenas que confiar que amanhã, ou sei lá que dia for, vai passar? — Agora tem um pouco de deboche em minha voz, assim como não estou mais falando dos pais dela e sei que ela sabe disso.

— Sim. — Ela responde. Maria pega minha mão sem se levantar, ela me puxa ao ponto que me sento outra vez. Seu olhar é tão intenso que é como um rio de águas fluidas. Quer dizer, mel, não água. — Toda dor é por enquanto, já ouviu falar disso?

— Já, só não consigo acreditar.

— O mundo é cruel, Edu. As pessoas também podem ser muito cruéis. Mas a Bíblia diz que existe um lugar pra nós onde não haverá mais lágrimas, nem morte, nem dor, nem nada de ruim, pois tudo isso ficará para trás*. E é nisso que eu creio. Não importa o quanto haja sofrimento na Terra, eu sou do Céu.

— Mas e se esse sofrimento me fizer não querer estar mais da Terra? — sussurro. Falo algo que nunca tive coragem de falar com ninguém.

— O problema não está no sofrer, mas em carregar isso sozinho quando não é necessário. Fala comigo, Eduardo. Estou aqui. Pro que quiser. E vou ouvir tudo que quiser me contar. E se por acaso puder te aliviar um pouco do fardo que está sentindo, então o farei. — Ela chora ao repetir as palavras que usei mais cedo e, só então, sinto uma lágrima molhar minha bochecha.




*Baseado em Apocalipse 21.4

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