Chapter 23
De todas as coisas que Brunna já havia feito em sua vida, essa definitivamente era uma das mais corretas, julgada por ela. Seu dedo voltou a pressionar a campainha e no segundo seguinte Silvana abriu a porta.
-- Olá! -- Silvana recepcionou com um enorme sorriso. -- Por favor, entrem. -- Ela disse para Brunn e seus amigos. Todos haviam sido convidados para o Natal, afinal quanto mais gente melhor para Silvana. Este seria o primeiro natal que passaria em sua casa desde que se acidentaram anos atrás. O primeiro natal que passaria longe do hospital.
-- Eu gostaria de agradecer por ter convidado meus amigos. -- Brunna disse, entrando na casa. Brunna apresentou Larissa à Silvana e todos retiraram seus casacos, dando uma boa olhada pela casa. Os olhos de Brunna se prenderam em Ludmilla, mas ela os desviou rapidamente. Primeiro tinha algo que fazer. -- Podemos conversar um minuto a sós, Silvana?
-- Bem... -- Silvana disse arqueando uma sobrancelha. -- Claro, me acompanhe até a cozinha. -- Pediu. -- Vocês fiquem à vontade. Já voltamos.
Brunna acompanhou Silvana até o cômodo, sentindo o delicioso cheiro de algumas coisas que já estavam sendo preparadas. A empregada estava cozinhando, porém Brunna não se importou com sua presença, afinal a mulher usava fones de ouvido e dançava feito louca enquanto cortava algumas batatas.
-- Pois não? -- Silvana perguntou e Brunna suspirou, vendo a mais velha se debruçar sobre o balcão.
-- É sobre Ludmilla. -- Disse, vendo Silvana piscar ainda calada, esperando por algo a mais.
-- O que tem ela? -- Perguntou naturalmente.
-- Hm, ontem ela... Digo, isso já veio de antes, desde o assunto das flores. -- Silvana franziu o cenho, segurando o riso pelo aparente nervosismo de Brunna. -- A massagem também foi um sinal, mas talvez ela nem saiba o que esteja passando.
-- Compreendo. -- Silvana disse, balançando a cabeça, fazendo Brunna gargalhar no momento seguinte.
-- Desculpe. Não falei nada coerente, é que estou muito nervosa. -- Disse, enxugando o suor das mãos na calça jeans.
-- Tudo bem, querida. Não se preocupe. -- Silvana disse com gentileza.
-- Eu não sei bem como isso aconteceu, mas eu gosto da sua filha de um jeito mais intenso do que eu creio que deveria. Eu peço perdão por isso, eu realmente não sei como controlar e eu não quero que a senhora pense que eu estou me aproveitando dela, porque eu não estou.
-- Gosta dela romanticamente, você quer dizer? -- Silvana perguntou e Brunna assentiu um pouco hesitante.
-- Ontem ela meio que, hm, me beijou. -- Confessou temerosa. -- Não foi um beijão, foi um simples esbarrar de lábios, mas eu definitivamente não queria te esconder isso. Se a senhora achar que devo me afastar eu entenderei, apesar de realmente querer ficar por perto.
-- Eu já sabia sobre o beijo. -- Silvana disse, vendo Brunna a olhar surpresa. -- E não quero que se afaste de Ludmilla, Brunna. De onde tirou isso?
-- Não sei. Só entendo que ela tem coisas para lidar: A fisioterapia, as aulas, a readaptação com tudo.
-- E você faz tudo isso ser mais fácil para ela. -- Silvana disse. -- Olhe, criança, se você for paciente e não for machucar a minha menina, estou mais do que de acordo com isso. -- Confessou. -- Conversei com Ludmilla ontem, ela está confusa e acha que você está brava com ela. -- Compartilhou. -- Isso não será fácil, ela ainda é, na maioria das vezes, a Ludmilla ingênua.
-- Eu sei. -- Brunna disse, ligeiramente mais aliviada. -- Eu não pretendo acelerar as coisas. Eu sequer sei como agir, para ser sincera. -- Confessou envergonhada.
-- Que tal agir como sempre, hm? -- Silvana propôs. -- Isso realmente soa agradável para todos.
Após a conversa com Silvana, ambas voltaram à sala. Todos estavam sentados no sofá devorando algumas jujubas que Ludmilla havia oferecido. Os olhos de Brunna focaram em Ludmilla, ela usava um vestido rosa com as bordas pretas rendadas.
-- Oi. -- Brunna disse docemente assim que se aproximou de Ludmilla. A morena estava ao lado da árvore de natal com Leo sobre as pernas, na cadeira de rodas.
-- O Leo sentiu saudades, Bu. -- Ludmilla disse, vendo Brunna sorrir e se abaixar diante dela.
-- Só o Leo? -- Ludmilla olhou para os pisca-piscas da árvores de natal um pouco hesitante.
-- A mamãe também. -- Brunna não resistiu em rir.
-- Eu também senti saudade deles. -- Disse, apesar de ter passado apenas vinte e quatro horas. -- E de você mais ainda. -- Os olhos Brilhantes encontraram os castanhos e Ludmilla sentiu seu coração saltar em seu peito.
-- Você não ficou brava? -- Ela perguntou e Brunna negou com a cabeça.
-- Não fiquei. -- Confessou. -- Acho que te devo um pedido de desculpas.
-- Por quê?
-- Por ter saído daquele jeito ontem e, provavelmente, ter te deixado confusa. Não foi a minha intenção. -- Ludmilla piscou algumas vezes antes de dizer algo.
-- Você caiu na neve? -- Brunna riu e mordeu seu lábio inferior.
-- Sim. -- Disse, vendo os olhos de Ludmilla percorrerem seu corpo em busca de algum hematoma. -- Não se preocupe, a blusa amorteceu a queda.
-- Bu... -- Ludmilla chamou com o dedo indicador, fazendo Brunna se inclinar para que ela pudesse dizer algo em seu ouvido. -- Me desculpa?
-- Por quê? -- Brunna perguntou confusa.
-- Por ontem. -- Confessou acariciando o ursinho em seu colo. -- Por tudo. Eu não quero que você vá embora porque eu sou uma boba.
-- Você não é uma boba, Ludmilla. Eu que fui. -- Brunna disse.
-- Você não, Bu. -- Ludmilla disse com veemência. -- Eu prometo não fazer de novo. -- Os olhos de Brunna foram atraídos pela alta risada de Diego, que comia um cachorro quente que uma das empregadas estava servindo enquanto conversava com Silvana e seus amigos.
-- Eu gostei do que você fez, Ludmilla. Eu só... Não estava preparada. -- Brunna informou, vendo Ludmilla começar a acariciar sua mão, que estava sobre sua perna.
-- Não ficou brava mesmo? Jura de dedinho?
-- Juro, princesinha, mas me diz, por que fez aquilo? -- Ludmilla pareceu pensar por alguns milésimos de segundos.
-- Não sei, parecia certo. -- Disse brincando com os dedos da menor. -- Eu gostei, mas você foi embora.
-- Prometo nunca mais ir embora assim, tudo bem? -- Brunna disse, se levantando e deixando um demorado beijo na testa de Ludmilla.
-- Tudo bem. -- Disse, tendo o início de um sorriso nascendo em seus lábios. -- Bu, adivinha quantos dedos tem aqui? -- Disse, tampando os olhos de Brunna com uma mão e estendendo outra com três dedos esticados.
-- Hmm, deixa eu ver... cinco. -- Brunna chutou e Ludmilla retirou sua mão da frente do olho de Brunna para que ela pudesse ver.
-- Errou! -- Disse rindo.
-- Não errei não. Tem cinco dedos, dois abaixados e três esticados. Você não especificou. -- Ludmilla entortou a boca e franziu o cenho, parecendo verdadeiramente pensativa.
-- Tem razão. Não valeu! -- Disse, repetindo a situação enquanto Brunna ria. Ah! Como ela adorava estar por perto de Ludmilla.
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