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Três - Niven

Mal consigo fechar os olhos durante a noite. Apesar de ter uma casa magicamente mobiliada, ela não está lá muito arrumada, o cheiro desses móveis não é dos melhores e o medo de perder a hora impera em meus pensamentos.

Já que são seis da manhã, acabo decidindo me levantar e ir até o restaurante.

Certamente chegar um pouco adiantada não me trará um efeito colateral negativo.

É sobre isso que divago enquanto observo o conjunto floral de Ana Laura estirado em uma gôndola do banheiro. Solto um suspiro, arrependendo-me quase instantaneamente de não ter passado em uma loja de roupas qualquer. Eu realmente terei que usar essas cores fluorescentes em meu primeiro dia de trabalho.

Quando pego o cabide, contrariada, faço uma nota mental a fim de acrescentar "ir às compras" no meu programa de atividades do dia.

Demoro cerca de quinze minutos para chegar ao restaurante, e faço isso caminhando, já que o apartamento em que moro foi estrategicamente alugado com esse propósito. Ao passar pelo suntuoso hall de entrada, cumprimento uma moça na recepção, para a qual me apresento, e ela indica o caminho que devo tomar para encontrar-me com o Chef a quem, acabo de me lembrar, não enviei o e-mail que deveria.

Quando me aproximo da cozinha, minha primeira sensação é o aroma de alecrim característico, meu estômago se contorce um pouco, fazendo com que me repreenda mentalmente por não ter tomado mais do que um café preto antes de deixar a casa. Não que eu tivesse muita opção, mas talvez devesse ao menos ter passado em uma padaria. Não posso deixar de refletir sobre o quanto o olfato e o paladar são, de fato, intrínsecos no que se refere a gastronomia.

O ambiente que começa a se materializar diante os meus olhos, conforme meus passos me conduzem cada vez mais para o interior do estabelecimento, me convence, gradativamente, que eu vou gostar de passar meus dias por aqui: tudo é muitíssimo branco, limpo e organizado, quase como se tivesse feito por um decorador com mania de limpeza: os utensílios brilham, as bancadas parecem ser apenas enfeite. Noto os fornos que pré-aquecem antes do horário de abertura local e um objeto incomum em uma parede. Uma pequena lousa branca, daquelas que se escrevem com uma caneta piloto. Nela há algumas tarefas, bem como ingredientes aleatórios: palavras soltas, que não parecem fazer muito sentido.

Corro os olhos pelo recinto e, como não há muitos funcionários presentes, sigo o rastro deixado pelo alecrim até encontrar uma pessoa. É dessa forma que acabo me deparando com as costas largas do homem que prepara um prato no fogão e... bem, deduzo que este seja Ítalo, já que se move como se dominasse o ambiente.

Ele está concentrado, absorto de tal maneira que mesmo quando pigarreio para chamar sua atenção, não move um musculo sequer. Ou sua entrega ao que faz é total, ou não estou próxima o suficiente.

Deixo o corredor e adentro o local, um pouco mais empolgada do que gostaria, e assim, num passe de mágica, ele percebe que estou ali: vira-se lentamente, usando uma das mãos para diminuir o fogo. Seus olhos, castanhos e muito claros, arregalam-se quando encontram os meus.

Perco o ar.

Mal posso acreditar que seja ele. O homem do meu corredor. O tal babaca-mal-educado que tinha praticamente me atropelado e saído sem se desculpar. Eu o xinguei das piores maneiras, como nunca fiz com ninguém, e agora descubro que será o homem com quem dividirei minha cozinha pelos próximos... agora, na verdade, já não estou certa de por quanto tempo.

Sua boca está entreaberta, assim como a minha, e nossos olhares desacreditados demais para se desviarem. Segundos se passam, dois, três, trinta talvez, e ouço um chiado vindo da frigideira. Quando levo minha atenção para ela, menos de alguns segundos se demoram para que ele finalmente desperte do choque causado por nosso reencontro e faça o mesmo. O homem se move com velocidade, executando movimentos exasperados para apagar o fogo.

Palavra alguma sai de sua boca, nenhum palavrão sequer.

− Desculpe-me – praticamente sussurro, mas ele não responde.

Está concentrado em limpar a bagunça que a surpresa de minha presença acabou ocasionando. Quando se vira, percebo a insatisfação em seus olhos. Não há coisa mais frustrante para um cozinheiro do que queimar sua comida. Ele não precisa retribuir aos xingamentos do dia anterior para que eu entenda que comecei com o pé esquerdo.

Neste momento, em que o homem finalmente volta-se para mim, seus lábios estão franzidos ao ponto de resumirem-se a uma pequena linha. Os olhos, mais uma vez, cravados nos meus.

− Então – sibilo, na tentativa de me sentir menos constrangida. – Você é o Ítalo?

Ele faz que sim com a cabeça, antes de perguntar:

− Você?

O quê? Ele não estava esperando por mim?

− Niven. A Sous Chef. Roman me contratou.

Seus olhos reviram até desaparecerem totalmente e ele solta um suspiro. Estou angustiada, esperando que diga alguma coisa, mas tudo que faz é soltar uma lufada de ar pela boca, e mandar que eu me sente. Exato, mandar. Ítalo não faz cerimônia, não diz por favor, sequer me encara com simpatia. Apenas solta:

− Senta.

Desse jeito. Sem se importar nem um pouco com boas maneiras. Sem a menor educação. O mesmo motivo por tê-lo ofendido ontem.

Minhas vísceras tremelicam no abdome e eu, discretamente, levo a mão até ele, afagando-o para tentar manter a calma. Depois de tantos meses. Todos os planos e toda essa mudança. Eu não posso simplesmente aceitar perder o emprego no meu primeiro dia.

Ergo os olhos para espiar Ítalo, que está empenhado em organizar sua bagunça. Pergunto se precisa de ajuda. Uma pergunta que provavelmente deveria ser retórica, embora no fundo eu espere pela resposta que ele não me dá. Portanto não movo um músculo. Mantenho-me estática, petrificada, a mão repousada sobre o ventre contorcionista. Até que ele se vira, sinalizando com os dedos para que eu me aproxime.

− Ítalo – disparo, na tentativa fazê-lo se comover para encerrarmos este mal-estar de uma vez. – Desculpe-me pelo que aconteceu ontem, eu realmente não deveria ter dito...

Ele ergue uma das mãos, interrompendo-me e franze o cenho, como se eu tivesse dito alguma coisa errada.

− Não fale – solta. – Cozinhe.

Sinto uma pontada de vergonha atingindo-me bem no peito, tão intensa que sequer tenho cabeça para processar de onde diabos vem aquele sotaque. Nunca, em toda minha vida, alguém havia conseguido me intimidar desta maneira antes. Ítalo é firme, confiante, e parece pouco se importar com a forma como o tratei ou com quaisquer que fossem as razões que tive para fazê-lo e menos ainda com a justificativa que tento dar agora. Então apenas me calo, como ele sugeriu, e o acompanho até o balcão. Com os dentes cerrados, ele me passa um caderno de receitas e aponta para os ingredientes de devo buscar. Voilà: o primeiro deles é alecrim.

Ítalo vai repetir a receita, já que a original foi arruinada pela decisão do destino de nos pregar uma peça. Não ouso contrariá-lo. Resolvo que vou decidir o que fazer mais tarde, no aconchego do meu lar, quando puder analisar o quão terrível esse dia se tornará na escala de primeiros-dias-de-trabalho-desastrosos.

Pergunto-me por que ele tem esse caderno aberto, quando sequer se dá ao trabalho de consultá-lo. Está mais do que claro para mim que o Chef conhece essa receita de cabeça. Eu o observo, concentrado. Seus movimentos naturais, leves, são típicos de quem sente prazer em fazer o que faz. E eu preciso lutar comigo mesma para não me esquecer de toda a sua grosseria e acabar admirando-o enquanto trabalha.

E a luta é ferrenha. Ítalo não é o mais feio dos homens, e eu particularmente sempre considerei atraente a presença de um homem na cozinha. O agravante é que de fato nada, absolutamente nada, se compara a um homem que sabe o que está fazendo.

Mas não demora muito até que ele se torne intensamente irritante outra vez. Estamos há cerca de vinte minutos trabalhando e o silêncio abre um abismo cada vez menos estreito entre nós. Ele não me consulta, não pede minha ajuda. Muito menos se dá ao trabalho de dirigir para mim o mais insignificante olhar de desprezo.

A indiferença é angustiante, mas começo a pensar na probabilidade de que o homem esteja esperando alguma inciativa da minha parte, para avaliar minha capacidade de liderança ou alguma coisa desse tipo. Estou consciente de que devia estar causando uma melhor impressão aqui, e ainda assim não tenho coragem de me inclinar sobre ele para alcançar o caderno que está do outro lado da bancada. Tudo que faço é encará-lo feito uma boba, enquanto faz seu trabalho.

Talvez eu esteja exagerando, e de repente devesse fitá-lo menos e agir mais.

É o que penso quando Ítalo solta sua travessa de forma brusca e apoia suas mãos sobre o balcão. Meu coração dá um salto diante do rompante e encaro, pasma, suas sobrancelhas erguidas interrogativamente. Engulo em seco e, tonta como sou, não consigo pensar em nada para dizer.

Ítalo parece desistir de me encarar quando desvia os olhos e aponta, sério, para algo além do meu corpo. Viro-me e percebo que se trata de um vidro de azeite. Eu o entrego e seu interesse por mim desaparece imediatamente.

O problema é que ele faz disso um hábito, apontando para os ingredientes repetidas vezes. Calado, mudo, exatamente da mesma forma que estou agindo em consequência.

Meu peito pesa de ansiedade, numa mal contida frustração por receber o tratamento de um cão adestrado: ele mira o dedo no pote de pimenta preta, eu o pego e passo para suas mãos. Nem sequer um por favor. Nem sequer um obrigado.

Aponta para o alecrim que eu já havia separado, e antes mesmo que o entregue, ele indica a mostarda. Transfiro-a rispidamente para as mãos dele, com talvez mais rispidez do que eu havia calculado e Ítalo me encara, surpreso.

Desvio o olhar para seus dedos que agora simplesmente apagam totalmente o fogo que aquece sua panela. Não sei o que pretende com isso, interrompendo o trabalho no qual estava tão concentrado, mas não duvido que ele seria capaz de se virar para mim agora e me dar o sermão que vem reprimindo por todo esse tempo.

E eu, a essa altura, estou abalada, em uma mistura de revolta, e desespero, que deixo a coisa toda fugir do controle. Minhas mãos, trêmulas, alcançam a bochecha para limpar a lágrima que deixo escapar, e o olhar surpreso de Ítalo não me passa despercebido. Nada perto da reação que eu esperava receber nessa situação humilhante.

Ele estende uma mão na direção do meu rosto, e eu tenho o reflexo imediato de empurrá-la com força, o que só o deixa ainda mais espantado.

− Está assustado? – pergunto em descrédito. – E qual é o motivo? Eu me sentir ofendida por ter sido ignorada durante quase uma hora?

Minhas palavras saem em um atropelo tão grande que ele franze o cenho como se fosse incapaz de compreendê-las.

Deve mesmo ser estrangeiro, esse infeliz. Então desacelero, especialmente porque estou pronta para fazê-lo se arrepender de ter nascido e realmente quero que entenda cada palavra.

– Que tipo de pessoa trata seus subordinados assim? Eu sei que não fui gentil com você, mas não por falta de motivo!

Estou só começando, mas Ítalo não parece interessado. Ele apenas simula uma expressão de tédio, e sinto meu peito agitar quando noto que está prestes a tirar os olhos de mim.

− Já entendi que não me quer aqui – digo, enquanto ainda tenho sua atenção.

Ele volta a fixar o olhar no meu rosto, muito atento, mas inexpressivo. Resolvo mudar de estratégia, se ofendê-lo não vai surtir efeito, preciso fazê-lo enxergar que não sou a fracassada por quem me tem tomado. Que existe alguma determinação na pessoa inerte com quem ele dividiu a cozinha na última hora.

– Acontece que eu preciso deste emprego. Mudei toda a minha vida por ele e não vou desistir. Então é bom que se conforme.

Os cantos de sua boca contorcem-se para baixo, e o lábio inferior salta para fora, fazendo uma espécie de biquinho, enquanto ele consente com a cabeça.

Isso é o quê? Algum tipo de deboche?

Não posso entender por que esse homem não me trata de um modo justo. Por que simplesmente não esclarece o que se passa na sua cabeça. Sinto o rosto esquentar, mas não quero dar a ele a satisfação de me deixar irritada. Então me contenho em soltar os ombros em uma expressão de declarada exaustão.

– Isto é ridículo – sussurro com os olhos semicerrados. − Ao menos poderia usar a boca. Você é mudo, por acaso? ‒ Ítalo cerra os dentes e um dos cantos dos lábios eleva-se, em um deboche letal, antes de sua resposta:

− Não.

Ele me encara por um tempo com aquele brilho irritado nos olhos, todos os músculos do rosto retesados. Então ergue os dedos na direção de um armário e, de uma forma caricatamente articulada, solta em alto e bom som:

− Sal.

Inacreditável.

Quando me viro de costas para ele, sinto vontade de render-me ao choro que seguro na garganta, mas tudo o que faço é fechar os olhos e respirar fundo, retomando o controle do meu ritmo cardíaco agitado.

Na ponta nos pés, alcanço o pequeno saleiro, quando um ranger na porta anuncia a chegada de alguém.

Um jovem garoto sorridente adentra o local e anda até Ítalo, que se vira para encontrá-lo antes mesmo que o alcance, como se tivesse uma premonição de sua presença.

Os dois se cumprimentam com um aperto de mão e um tapinha nas costas, quando acontece. Primeiro, o Chef afaga o rosto dele com carinho, e o jovem desvia os olhos envergonhado, quando percebe minha presença. Ele aponta para mim com a cabeça e, com as mãos, comunica-se por sinais. Ítalo responde, também na língua de sinais, provavelmente explicando ao jovem quem sou.

Sous chef – solta em meio aos gestos, e posso notar que ele revira os olhos.

O menino abre um sorriso largo enquanto meneia a cabeça e limpa a mão na roupa, caminhando até mim para estendê-la em cumprimento.

Minha preocupação está concentrada em que ele note o suor na minha mão nervosa. Não sei como agir ou como me comunicar. Apenas respondo ao seu aperto de mão com um sorriso amarelo, secretamente envergonhada por não saber como lidar com ele.

− Eu sou Amós – fala com perfeição, deixando-me completamente confusa. −Muito prazer.

Minha mente tenta trabalhar no que acabou de acontecer.

− Ni - Niven – gaguejo, incerta.

O sorriso do garoto volta a se espalhar no rosto enquanto me lança uma piscadela descontraída.

– Não liga para o tio, ele não é muito chegado a mudanças, mas é um cara excelente.

Então ele se vira para o homem, que nos observa com um indisfarçado degrado, e faz um movimento circular com a mão, na frente do rosto, ao qual finaliza com um ligeiro joinha.

Ítalo meneia a cabeça diagonalmente e pressiona os lábios, concordando com seja lá o que ele tiver dito e meu peito é atingido por um aperto repentino, assim que começo a entender.

Não é o garoto quem não pode me ouvir.

Ele se despede educadamente de mim. Para o tio, mais sinais antes de sair pela porta e nos deixar sozinhos outra vez.

Entreabro a boca, controlando a respiração. Desacreditada. Não consigo encará-lo.

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