CAPÍTULO XXXV
Manuela assistiu horrorizada o rosto de Theodoro vindo em sua direção, percebendo as intenções explícitas do seu perseguidor tentou virar a cabeça, mas ele a mantinha segura pela nuca com uma das mãos impossibilitando que se afastasse, seus braços estavam presos entre seu peito e o dele tornando qualquer tentativa de reação praticamente impossível.
Sentiu o corpo se retesar de asco quando os lábios masculinos desceram sobre os seus forçando um beijo, empurrando a língua, apertando o abraço enquanto ela se debatia indefesa.
Resmungou um não abafado e tentou se soltar do aperto firme implorando mentalmente que o segurança viesse em seu auxílio, mas parecia que ele havia sumido, estava ficando sem fôlego e nauseada pelo contato forçado enquanto Theodoro persistia beijando-a despudoradamente.
Movida pelo desespero, ergueu o joelho o acertando na virilha fazendo-o soltá-la ao se curvar de dor, aproveitando-se de sua liberdade momentânea Manuela correu para saída do restaurante encontrando assustada Lucca caído inconsciente na frente do elevador.
-Você quer tornar as coisas mais interessantes? - Resmungou Theodoro ainda curvado encarando-a sob as sobrancelhas franzidas em uma expressão assustadora. - Então vamos brincar coelhinha!
Ignorando o elevador, Manuela correu para a porta onde estava escrito saída de emergência, sem pensar duas vezes pôs-se a descer os degraus de dois em dois torcendo para não se atrapalhar com os saltos e cair de cara no chão.
Podia ouvir os passos dele em sincronia com o som dos seus saltos de encontro ao concreto dos degraus, chutou os sapatos para longe enquanto continuava sua descida descalça buscando agilidade para colocar distância entre eles.
Desejou do fundo de seu coração que ao menos um dos muitos homens encarregados de sua segurança aparecesse para livrá-la daquele sujeito e se perguntou mentalmente se ele havia dado sumiço nos guarda-costas mandados por Leon, era a única explicação lógica para que nenhum deles viesse em seu socorro.
Nunca uma escada lhe pareceu tão longa, nem um inimigo tão perto, olhou para cima notando que apenas um lance de escada a separava de seu perseguidor, seu coração parecia prestes a sair pela boca a qualquer momento, os músculos protestando pelo exercício forçado.
Nem por um momento imaginara que aquela noite que era para ser romântica terminaria assim com um maluco perseguindo-a pelas entranhas de um prédio desconhecido, sentia medo por si, pois imaginava quais eram as intenções do lunático em seu encalço, mas temia ainda mais por Leon cujo destino desconhecia.
Quanto mais corria, mais tinha a sensação de que não estava saindo do lugar, forçou seu corpo ainda mais e quando já estava perdendo as esperanças viu o último lance de escadas e uma porta no final que provavelmente levava para rua.
Pulou os três últimos degraus e agarrou a porta puxando com força, mas antes que conseguisse abri-la uma pesada mão bateu sobre ela, mantendo-a fechada e encurralando Manuela enquanto a outra a virava de frente para o homem que a perseguia.
- Me deixe em paz! - Pediu ofegante.
- Paz? - Theodoro riu de um jeito que lhe deu calafrios. - Como posso dar a você uma coisa que desconheço?
- Você não pode me tocar, está ouvindo? - Falou apavorada ao senti-lo prensando-a de encontro à porta. - Eu sou a esposa do Leon Roberts se encostar em mim...
- O quê? - Provocou. - O bicho papão vai vir me pegar? - Debochou Pressionando-a ainda mais com seu corpo. - Leon é passado, eu sou o futuro.
- Você é um homem morto se continuar com isso. - Falou com voz trêmula.
Theodoro jogou a cabeça para trás dando uma gargalhada estrondosa que aumentou o receio que lhe apertava o estômago.
- Tão bonitinha tentando me ameaçar. - Zombou. - O que você pode fazer contra alguém como eu? Já deve ter percebido que dei um jeitinho nos seus seguranças. - Contou confirmando suas suspeitas. - Está por sua conta querida. - Deu-lhe um sorriso predador ao questionar. - Vai usar as suas unhas em mim? Garanto que vou gostar.
- O Leon vai acabar com você. - Declarou com firmeza.
- Onde ele está não poderá acabar com ninguém. - Replicou satisfeito.
A resposta funesta a fez estremecer e a deixou muda por alguns instantes.
- O que fizeram com ele? - Perguntou sem fôlego.
- Nada que ele não merecesse. - Afirmou dando-lhe um sorriso impiedoso. - Sabe qual é o problema em não conhecer todos os detalhes antes de tomar uma decisão? De não ler as letras miúdas como dizem os humanos? É que você só descobre que está ferrado quando é tarde demais.
- Do que está falando? - Inquiriu tentando empurrá-lo empregando toda sua força, no entanto não conseguiu movê-lo um centímetro sequer.
Ele escorregou uma das mãos por suas coxas segurando-a pelo joelho erguendo-a até a altura de sua cintura, se encaixando entre as coxas firmes contra a vontade de Manuela.
- Pare! - Gritou apavorada ao sentir a excitação masculina pressionando-lhe o ventre. - Você não pode...
- Aí é que está. - A fitou com um sorriso enviesado. - Eu posso. - Passou a língua pela lateral do pescoço dela fazendo-a encolher-se. - Todos nós podemos, porque ao tentar criar uma companheira para si, Leon criou um par para qualquer um de nós.
Manuela arregalou os olhos e engoliu em seco tentando forçar o cérebro a lembrar do que Leon havia dito sobre a relação entre humanos e eternos.
- Eu tenho a marca dele. - Sussurrou assustada. - Eu tenho a marca de Leon!
Isso deveria protegê-la, garantir que nenhum outro a perseguisse e muito menos a tocasse como aquele homem estava fazendo.
- Isso já não importa. - Tentou beija-la, mas ela virou o rosto fugindo de seu toque. - Estamos em uma corrida do ouro, agora o que interessa é chegar primeiro, isso é o que garante o tesouro.
- Que tesouro? - Perguntou confusa e angustiada.
Tudo aquilo era um pesadelo insano, pensou aflita nada do que aquele homem dizia estava de acordo com o que Leon lhe contara, como algo que deveria protegê-la agora não lhe garantia nada?
- Você é o tesouro. - Respondeu tranquilo. - A primeira eterna criada, aquela que é compatível com todos nós, um par para aqueles que foram feitos para serem sozinhos, nem mesmo os celestiais tiveram algo assim, você é única. - Acariciou-lhe a bochecha sentindo-a esquivar-se o quanto podia na curta distância que os separava. - Eu quero você!
- Eu não quero você! - Debateu-se nos braços dele tentando escapar.
- Será que não? - Duvidou se esfregando nela. - Você nem sabe o que quer criança, como poderia se desconhece as opções e tão pouco faz ideia do valor que tem? - Segurou-lhe o rosto com uma das mãos forçando-a a encará-lo. - Tem noção do que é para seres como nós que nunca tivemos nada, que fomos criados sem par, despojados de tudo depois de termos feito até o impossível em busca de aprovação de repente termos alguém que possa ser a nossa metade? Em toda a nossa existência nos disseram que não havia alguém como você, que era uma lenda, não era possível, fomos convencidos de que estávamos condenados a vagar pela Terra sozinhos. - Confidenciou olhando-a com uma expressão vidrada que a deixou ainda mais apavorada.
- Mesmo que eu seja a metade de todos vocês como diz, eu ainda tenho direito de escolha ou não? - Perguntou com voz incerta tentando organizar seus pensamentos o suficiente para fugir daquela situação.
- Nós não temos escolha, mas você sim. - Confirmou hesitante, encarando-a em expectativa.
- Eu não o escolhi. - Murmurou pigarreando em seguida para clarear a voz. - Não quero você. - Esclareceu torcendo para que a sinceridade pudesse ajudá-la. - Não quero ninguém além do Leon.
Theodoro a fitou com uma expressão confusa como se suas palavras não fizessem o menor sentido, soltou-lhe a perna e afastou-se alguns passos a fazendo respirar aliviada, passou as mãos pelos cabelos parecendo perdido.
- Como pode preferi-lo a mim? - Questionou entre atônito e indignado.
- Eu o prefiro acima de qualquer outro. - Asseverou incisiva. - Nem você nem ninguém pode mudar isso, não me interessa que eu seja a possível esposa do céu inteiro, Leon é o meu marido e é o único que eu quero.
Theodoro a fitou estupefato como se estivesse diante de uma pessoa demente, os lábios entreabertos, os olhos arregalados em uma expressão chocada, analisou-a por alguns instantes antes de disparar.
- Como pode escolhe-lo depois de tudo o que ele fez? - Indagou perplexo. - Ele só causa caos e destruição por onde passa. - Declarou revoltado, ao não obter resposta continuou. - Você também não o escolheu, não é? Provavelmente nem sabia o que foi feito com você. - Especulou avaliando-a. - Se soubesse a razão que o fez cair jamais o escolheria.
Manuela empertigou-se o mirando colérica.
- Não fale de um homem que não está aqui para se defender!
- E que não vai voltar. - Comentou sinistro.
- Isso é o que você pensa. - Replicou altiva. - Leon jamais me deixaria.
Theodoro a fitou por alguns instantes virou a cabeça para o lado como se avaliasse suas palavras à medida que a estudava.
- Concordo com você. - Sorriu indulgente. - Se coubesse a ele essa decisão provavelmente você estaria certa. - Se aproximou lentamente parando a apenas alguns centímetros de distância fazendo-a se encolher de encontro à porta. - Nenhum de nós escolheria deixá-la. - Murmurou contemplando-a encantado. - Talvez não faça grande diferença o que vou lhe dizer agora porque no fundo você já sabe. - Não esperou pela resposta e continuou. - As sete hierarquias e o Conselho dos Sete jamais permitirão que fiquem juntos. - Acariciou-lhe o rosto com a ponta dos dedos ao dizer admirado. - Você é valiosa de mais para ficar sob os cuidados de alguém como Leon e quando ele for julgado por essa transgressão duvido que permitam que ele habite o mesmo planeta que você.
Manuela o fitou em choque, seu corpo tremendo em resposta ao medo que apertou seu coração, isso significava que realmente iriam condenar seu Eterno à morte? Questionou-se atormentada pela ideia de que algo tão terrível pudesse acontecer.
- Eles não podem... - Sussurrou trêmula.
Theodoro gargalhou interrompendo-a.
- Acha mesmo que não? - Segurou-lhe o queixo entre o polegar e o indicador balançando-o delicadamente ao murmurar. - Tão inocente, vou me divertir ensinando a você a malícia necessária para viver nesse mundo do qual faz parte agora. - Deslizou o polegar pelos lábios femininos completando com voz rouca. - Vai ser ainda mais prazeroso te ensinar a me agradar.
Manuela repeliu seu toque com um safanão.
- Não tente se impor a mim. - Preveniu sentindo-se dominar pela fúria. - Se acha que pode me recolher como se eu fosse algum tipo de troféu está redondamente enganado, não aceito você, nem nenhum outro além do homem com quem eu me casei, se tentar me forçar farei da sua vida um inferno!
- Não tenho nenhum problema com isso. - Riu sarcástico. - O inferno é até bem interessante, um pouco quente é verdade, meio lotado. - Caçoou. - Essa é a única parte chata, além da vista que é um tanto deprimente, mas por você... - A olhou de cima a baixo. - Vivo tranquilamente no inferno enquanto te levo ao céu.
- Não se atreva! - Gritou ao vê-lo baixar o rosto em sua direção com a óbvia intenção de beija-la.
Cobriu os lábios com as mãos para evitar que a boca dele encostasse na sua, quando o rosto masculino estava a centímetros do seu o viu se empertigar e olhar para trás furioso, não esperou para ver o que o havia interrompido apenas aproveitou a boa sorte e apressadamente abriu uma pequena fresta da porta, apenas o suficiente para passar espremida e saiu para rua correndo para o parque que ficava do outro lado, seus pés descalços raspando no asfalto enquanto um vento frio a recebia atravessando suas roupas finas, mais adequadas para um ambiente mais ameno.
Olhava para todos os lados assustada, passando pelas pessoas como um furacão, se desculpava rapidamente com aquelas em quem esbarrava ao mesmo tempo em que buscava um lugar onde se esconder, o Madison Square Park estava bastante movimentado àquela hora da noite, uma infinidade de luzes espalhadas por toda sua extensão iluminava os caminhos pavimentados, apenas uma sombra ou outra das árvores escureciam os gramados, mas não eram extensas o bastante para servirem de camuflagem.
As pessoas por quem passava a fitavam com estranheza ao vê-la com a exígua roupa de grife, pés descalços e expressão abalada, mas ninguém se aproximou para perguntar a razão de estar olhando por sobre os ombros com tanta frequência, nem o que buscava ou mesmo de quem fugia.
Encontrou um arbusto que parecia grande o suficiente para escondê-la pelo menos de quem passasse pela alameda de cortava o parque próximo de um banco de madeira, sem pensar duas vezes sentou-se na grama atrás dele usando-o como uma espécie de muro, abraçou os joelhos tentando acalmar a respiração e pensar em uma saída.
Seu corpo tremia, o coração palpitava enquanto a realidade de sua situação se descortinava em sua frente de maneira assustadora, estava sozinha em uma cidade estranha em um país estrangeiro, sem dinheiro, documentos, sem nenhum meio de comunicação e o mais importante, sem o homem que havia prometido sempre protegê-la.
Isso era o que de fato a assombrava naquele momento, tudo indicava que algo terrível estava se aproximando, algo de proporções inimagináveis que os atingiria como um tsunami e tornaria um caos as suas existências, sentiu o pânico apertar suas entranhas com mãos de ferro ao pensar no que poderiam estar fazendo com Leon naquele momento, seu eterno tão possessivo e cuidadoso jamais a deixaria sozinha à mercê daquele maluco, nada o impediria de vir ao seu encontro tinha certeza disso o que só corroborava a ideia de que algo nefasto havia lhe acontecido.
Sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto ao ter desfilando por sua mente as horríveis possibilidades de castigos que poderiam estar sendo aplicados em Leon naquele momento, as imagens surgindo como em um macabro filme de terror onde o mostro venceria no final, apertou os lábios para conter a vontade de gritar de aflição.
Não podia ficar sem ele, pensou abraçando ainda mais os joelhos se balançando para gente e para trás tentando pensar em um modo de salvá-los, O que poderia fazer que alguém tão poderoso como Leon já não houvesse tentado? Como poderia enfrentar um ser capaz de parar alguém tão forte quanto seu marido?
Havia fugido dele por tanto tempo temendo o que ele faria, assustada com seus dons e naquele momento a única coisa que queria era sentir outra vez o calor dos seus braços e ouvir sua voz grave dizendo que tudo ficaria bem.
- Por favor, Leon volte para mim. - Disse baixinho sentindo o corpo sacudir pelos soluços contidos do choro que tentava se impedir de derramar. - Eu preciso tanto de você.
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