CAPÍTULO XXXIV
As ruas estavam movimentadas naquele começo de noite, pessoas passando apressadas nas calçadas voltando do trabalho ansiosas para chegarem em casa, partindo para o happy hour, para aproveitar a noite na metrópole do entretenimento, os faróis e lanternas dos carros iluminavam o caminho como luzes de natal, através da janela de vidro fumê do imponente SUV preto Manuela acompanhava a movimentação de Nova Iorque, uma cidade tão viva e vibrante que encantava qualquer um que a visse.
Seus olhos atentos contemplavam sedentos as pessoas e locais pelos quais passava, parecia uma turista deslumbrada, pensou escondendo uma sorriso condescendente, era a primeira vez que via a Big Apple como uma pessoa normal e não como alguém sendo levado para o seu cativeiro, sabia agora os motivos de Leon para ter tomado medidas tão extremas e já não sentia rancor por ele ter lhe tirado a opção de escolha de ir ou não ao seu encontro, mas ao ver os carros que faziam sua escolta um a frente e outro atrás do veículo que ocupava se perguntou mentalmente se seria sempre assim, cada vez que fosse sair teria que movimentar aquela quantidade de homens armados para fazer sua segurança? Isso era mesmo necessário ou apenas exagero de seu Eterno super protetor?
Ele havia dito que outras pessoas estavam atrás dela, o que duvidara na ocasião já que considerava mentira tudo o que ele dizia, mas agora ao deixar a cobertura após trinta dias em que parecia estar vivendo em um mundo a parte começou a se preocupar com esse perseguidor sem rosto de quem Leon tivera que resgata-la, a ameaça havia sido eliminada ou ainda era desconhecida? Quem queria machucá-la a ponto de que medidas tão drásticas se tornassem necessária?
Desde que saiu mais cedo para a tal reunião Leon não entrara em contato, nenhum telefonema ou mesmo uma mensagem, o que lhe causara estranheza, mas mesmo assim estava pronta na hora combinada e foi ao encontro do rapaz que a aguardava na sala, era o mesmo que entrara sem aviso no quarto de Leon, ele se apresentou como Lucca Motta e a levou até o carro que os aguardava na garagem, apenas Manuela e Lucca ocupavam o SUV que seguia no meio, os outros guarda costas foram distribuídos nos carros da escolta. O silêncio dentro do veículo a incomodava e aumentava a estranha apreensão que apertava seu peito desde que começou a se arrumar para esse passeio, sentia em seu coração uma angustia que não a deixava desde que deixou o apartamento para ir ao encontro de Leon. Algo estava errado, não sabia o que era, mas o alerta ecoava com insistência gritante em sua mente, sentada no banco de trás do confortável automóvel apertava nas mãos a pequena bolsa que tinha no colo e que completava o look escolhido por seu marido buscando se acalmar.
Vez ou outra sentia sobre si o olhar de Lucca que parecia vigiá-la pelo retrovisor interno do utilitário, seus olhos cor de Whisky acompanhando cada pequeno movimento que fazia com tanta insistência que por vezes a deixava desconfortável. Ele era um homem muito bonito, alto, de cabelos escuros e físico atlético, aparentava ter no máximo trinta anos, sua postura deixava claro que se tratava de um homem que não deveria ser desafiado, um guarda costas como ele deixaria qualquer um sentindo-se protegido, seguro, mas sua expressão fechada, quase sisuda lhe dava calafrios e a fazia desejar ardentemente estar na presença de Leon, pois com ele se sentia segura, havia algo em Lucca que a deixava cautelosa, não sabia se era a constante vigilância ou se era algo mais pessoal, mas uma voz interna a mandava não confiar nele, tarde de mais, constatou ao lembrar que estava sozinha com ele no carro.
O veículo parou em frente a um prédio imponente na 11 Madison Avenue, no Flatiron District de Manhattan, a fachada discreta pintada em tom pastel não entregava em primeiro momento de que se tratava o local, era um prédio alto com muitas janelas, mas não lhe dava nenhuma ideia do que funcionava ali, os carros entraram na garagem subterrânea parando a poucos passos dos elevadores, desceu sendo acompanhada de perto pelo segurança/ motorista, os outros guarda costas permaneceram na garagem enquanto apenas Lucca a acompanhava ao elevador, assim que as portas de metal se fecharam sentiu novamente sobre si os olhos dele.
- Por que você me olha tanto? - Questionou incomodada com exame constante. - Não precisa mais se preocupar porque não vou fugir. - Assegurou acreditando ser essa a razão da vigilância incessante.
- Sei que não. - Respondeu ele tranquilamente.
- Então? - O fitou confusa ao vê-lo encará-la com admiração.
- Você é única, a primeira e talvez a última... É muito especial. - Sua voz tinha um quê de reverência quando inesperadamente ele esticou a mão em direção ao seu rosto, mas deteve o movimento ao vê-la franzir a testa e dar um passo atrás. - Desculpe. - Baixou a cabeça repetindo o movimento feito por ela e aumentando a distância entre os dois.
- Sabe que não sou apenas uma hóspede do Senhor Roberts, não é? - Indagou vendo-o assentir com um movimento de cabeça. - Tem conhecimento que sou a mulher do seu patrão?
- Sim. - Respondeu em voz baixa, mas clara.
- Você trabalha para ele há quanto tempo? - Inquiriu vendo-o erguer a cabeça e fita-la confuso.
- Há seis anos.
- Sabe que se me tocar estará encrencado?
- Sei. - Respondeu sem titubear.
- Então não se arrisque por algo que não pode ter.
Ele a olhou por um longo instante como se travasse uma luta interna, apertou os lábios em uma linha fina e pediu em voz baixa.
- Desculpe senhora, isso não acontecerá novamente. - Afirmou.
Manuela se sentiu mal ao ver a vergonha colorir o rosto do jovem homem, mas sabia que se não fizesse isso Leon delimitaria as coisas de uma forma bem menos gentil, quando o elevador parou e as portas se abriram sentiu-se extremamente aliviada por sair do confinamento do local apertado e da presença constrangedora do segurança.
Seu primeiro passo ecoou no silêncio do elegante e sofisticado restaurante, a beleza do lugar a fazendo estancar logo que saiu do elevador, o salão com pé direito alto com grandes janelas recebia a luz do crepúsculo, banhando o espaço com um difuso tom dourado que se misturava a iluminação do local, as mesas cobertas por requintadas toalhas de linho branco eram ladeadas por cadeiras de madeira estofadas com couro escuro, delicadas orquídeas adornavam o centro das mesas e davam o toque final de glamour ao ambiente, a admiração pela beleza do restaurante deu lugar à estranheza ao constatar que este estava vazio.
O maître surgiu ao seu lado e solícito se aproximou para guiá-la para a mesa que iria ocupar naquela noite, ficava localizada em frente a uma das grandes janelas com vista para o lindo North of Madison Square Park, agradeceu a ele pela gentileza de acompanhá-la e por ter lhe puxado a cadeira para sentar, porém permaneceu de pé observando a vista enquanto aguardava a chegada de Leon, acreditava que o encontraria quando chegasse e imaginava que ele não fosse demorar, apesar de estranhar o seu atraso.
Ele teria terminado a tal reunião que o fez sair de casa mesmo contra vontade? Questionou-se mentalmente, deveria ser algo realmente importante, pois obviamente a última coisa que ele queria fazer naquele dia era se deixa-la sozinha. Sentiu uma presença a suas costas e virou-se achando que era seu Eterno, mas parado a poucos passos de distância estava um homem desconhecido.
Ele era alto, tanto quanto Leon, cabelos castanho escuros fartos que lhe chegavam até um pouco acima do colarinho da camisa social branca que vestia, aparentava estar na casa dos trinta anos, seus olhos eram de um verde escuro misteriosos e um pouco sinistros, seus lábios lhe sorriram quando percebeu que estava sendo observado por ela.
- Desculpe, estou ocupando sua mesa? - Questionou sem entender porque ele estava a sua frente encarando-a tão abertamente.
- Se estivesse não seria um problema. - Sorriu amistosamente e lhe esticou a mão em um cumprimento. - Theodoro Ricci. - Apresentou-se quando ela hesitante apertou a mão que ele lhe oferecia. - Você pode ocupar qualquer lugar que queira em minha vida.
Manuela piscou confusa.
- Não sei se entendi...
- Você é Manuela Cavalcante. - Sorriu como se isso explicasse tudo e completou de forma perturbadora. - É a mulher feita para mim.
Manuela o encarou muda por alguns instantes sem entender se aquilo era uma cantada ou uma brincadeira.
- Isso é algum tipo de pegadinha?
-De modo algum. - Asseverou.
Manuela o analisou detidamente deste a camisa branca de grife, passando pelas calças de linho grafite até o sapato de couro legitimo preto que fazia conjunto com o cinto, não se lembrava dele e certamente aquele não era um homem que seria facilmente esquecido, então do que se tratava aquela estranha conversa?
- Estou certa de que nunca nos vimos antes, como pode saber quem eu sou? - Questionou desconfiada. - E que história é essa de mulher feita para você?
- Por que não se senta. - Apontou para a cadeira que o maître havia puxado antes. - Assim poderemos conversar melhor.
- Não obrigada. - Respondeu fria. - Estou aguardando uma pessoa.
- Leon, imagino.
- Imaginou certo. - Respondeu com certa rudeza. - Se sabe sobre mim deve saber também qual é a natureza da minha relação com ele.
- Sim, é de conhecimento público. - Concordou tranquilo colocando as mãos nos bolsos da calça.
- O que isso significa? - Apertou os olhos o fitando com suspeita.
- Que todo o mundo sobrenatural já sabe do ritual, do casamento...
Aquelas palavras lhe causaram um aperto no peito e uma sensação de náusea ao considerar as implicações e possibilidades diante dos possíveis detentores desse conhecimento.
- Todo o mundo sobrenatural? - Repetiu em dúvida. - O conselho também?
- Principalmente eles. - Afirmou acompanhando atentamente suas reações. - Já devem estar entrando em ação agora inclusive.
- O que quer dizer com isso? - Sua voz saiu baixa enquanto o fitava prendendo a respiração.
- Que a punição dele já deve estar a caminho. - Disse indiferente.
- Como sabe disso? - Indagou agitada, sua mente trazendo a lembrança de Leon sendo torturado apenas por ajuda-la, estariam fazendo algo semelhante com ele agora? Questionou-se apavorada ante a ideia de que o machucassem novamente por sua causa. - Quem é você?
- Transgressões estão atreladas a punições ele deve ter lhe dito isso. - Contou impassível. - Me apresentei ainda a pouco, não lembra? Sou Theodoro Ricci, mas pode me chamar de Théo. - Concedeu com um sorriso insinuante. - Olhando para você agora, não posso culpa-lo por ter arriscado tanto. - Retirou uma das mãos do bolso e lhe tocou suavemente os cabelos.
- Senhor Ricci, não sei de onde conhece meu marido, nem como sabe tanto sobre essas questões sobrenaturais. - Falou com voz grave e um olhar severo. - Mas gostaria de pedir que se afaste Leon já deve estar chegando...
O som da risada baixa a interrompeu lhe causando um calafrio que gelou a alma e lhe causou um mau pressentimento.
-Tenho a impressão de que ele vai se atrasar. - Murmurou irônico. - Ele pode estar um pouco enrolado agora.
Manuela sentiu o coração disparar, havia algo muito errado acontecendo, por mais que quisesse se convencer do contrário os sinais eram evidentes de mais para ser ignorados, Leon já deveria ter chegado e até o momento não havia dado notícias, Chris também havia desaparecido o que lhe aumentava a desconfiança, pois na sua falta Leon sempre atribuía ao secretário o dever de fazer sua vigilância, o que não havia ocorrido naquele dia ficando a cargo do até então desconhecido Lucca fazer sua escolta e levá-la a um encontro no qual Leon ainda não havia aparecido.
Tinha a sensação de que os eventos daquela noite estavam sendo orquestrados de modo a por em prática algum ardiloso plano com o objetivo de prejudica-la e a Leon.
Torcia mentalmente para estar enganada, mas pela expressão satisfeita no rosto de Theodoro Ricci algo terrível estava acontecendo com seu Eterno.
- O que você sabe? Diga-me! - Exigiu inquieta.
- Provavelmente mais que você. - Inclinou-se em direção a ela sussurrando em seu ouvido. - Ele nunca falou sobre mim?
- Haveria o que falar? - Questionou petulante dando um passo atrás e colocando alguma distância entre os dois. - Provavelmente o senhor não seja tão importante quanto pensa.
O homem riu divertido, seus dentes brancos aparecendo entre os lábios rosados ao encara-la com um olhar complacente.
- Esse Leon, sempre omitindo informações! - A encarou prendendo-a com seu olhar zombeteiro ao continuar. - Sabem-se lá quantas coisas ele não lhe contou. - Insinuou se aproximando novamente dela. - Pelo menos disse a você o que é?
- Não interessa a você o que nós falamos! - Rebateu raivosa voltando a dar um passo atrás para manter a distância. - O que ele disse ou deixou de me dizer só diz respeito a nós dois.
- Mas, interessa a você não ficar no escuro, ou estou enganado? - Sugeriu olhando-a de forma apreciativa. - Você é tão bonita. - Comentou inesperadamente. - Tão... Apetitosa.
- O que está falando? - O fitou horrorizada com sua ousadia. - Não diga essas coisas para mim!
- Oh querida você vai ter que se acostumar a ouvir, porque eu não sou o único a pensar assim! - Lambeu os lábios fitando-a com lascívia. - Tenho certeza que ele não disse o que você se tornou depois do ritual.
Manuela manteve-se calada, olhou por cima do ombro dele desejando ardentemente que Leon surgisse naquele momento e colocasse aquele homem inconveniente em seu lugar.
- Ele não vai chegar querida. - Disse percebendo a direção de seu olhar.
- Como pode ter tanta certeza? - Inquiriu agitada. - O que você fez com ele?!
- Oh pequenina, eu não precisei fazer nada. - Murmurou olhando-a de cima baixo daquele jeito que a deixava desconcertada. - Regras são uma droga não é verdade? Elas fazem o jogo fluir sem tanta trapaça dando a ilusão de que há algum controle, de que o bem e o mal estão devidamente separados em campos opostos. - Agarrou-lhe o pulso puxando-a de encontro a si. - Mas a verdade é que elas beneficiam aqueles mais espertos.
- Me solte! - Gritou tentando afastá-lo.
- Você é minha. - Segurou-a pela nuca fazendo-a encará-lo. - Eu a reivindiquei primeiro e se existe alguém entre os eternos que merece esse prêmio, sou eu!
Boa noite queridos(as)!
Esses foram os nossos dois capítulos de hoje, espero que tenham gostado. Peço desculpas por eventuais erros de digitação ou mesmo de gramática, pois não estou corrigindo os capítulos antes de postá-los em razão de estar havendo demora entre uma postagem e outra.
Para não deixa-los esperando muito mais estou adotando a tática de postar um capítulo logo que termino de escrevê-lo, espero que me desculpem e aproveitem a história.
Aproveito essa nossa conversa para perdir que leiam, comentem e votem, pois assim tenho a real noção de como vocês estão recebendo essa narrativa, se não for abuso, peço também que me sigam e adicionem esse livro as suas bibliotecas para que sejam avisados sempre que houver uma atualização. Se você está gostando dessa história, divulgue, compartilhe o link com uma amiga ou amigo que possa se interessar por esse universo, quero ter o prazer de ver Em suas mãos na boca do povo!
Deixo aqui o meu muito obrigada!
Beijitos!!!
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