CAPÍTULO XVIII
- Do que ela se queixa? – Quis saber Chris arrancando-o de suas reflexões.
- Do que ela não se queixa?! – Proferiu amargo. – Não consigo falar com ela dois minutos sem que comece a me acusar de ter lhe roubado a vida. – Suspirou enfadado. – Ela não percebe que não há para o que voltar, não se dá conta que já não se encaixa naquele mundinho em que vivia, que os amigos dos quais ela sente falta e até mesmo sua própria família vão trata-la como uma aberração por estar mais jovem que antes enquanto todos envelheceram, por nunca ficar doente ao passo que todos eles adoecem e morrem, não vê que vai enterrar todos eles e quando até as sepulturas deles se tornarem apenas um pedaço de chão qualquer ela ainda estará caminhando sobre a Terra.
- Você deveria explicar isso a ela. – Propôs amigável.
- Tente explicar qualquer coisa a uma mulher determinada a não ouvir. – Sugeriu ácido. – Garanto que vai perceber a completa perda de tempo que é, aprendi nesses últimos trinta dias a ficar calado e fora do caminho para evitar uma guerra dentro da minha própria casa. – Lastimou-se. – São tantas as coisas que ela precisa saber, Manuela está transitando em dois mundos e não está preparada para nenhum deles.
- Não seria o caso então de mudar a paisagem? – Ao receber um olhar confuso do amigo, explicou. – Ir para outro lugar, leva-la não sei... Para uma das suas fazendas, para conhecer uma praia paradisíaca? As possibilidades são infinitas, mas permanecer aqui não me parece uma boa ideia.
- O que há de errado com esse lugar? – Questionou sem entender. – Esse é um dos melhores e mais luxuosos endereços de Manhattan, o metro quadrado aqui custa milhões.
- Esse é o investidor falando. – Declarou com um sorriso amigável. – Mas, eu peço licença ao homem de negócios e solicito a presença do estrategista. – Brincou passando o braço pelo ombro do amigo e levando-o até os confortáveis e bonitos sofás de vime do outro lado da fonte, após sentarem-se continuou. – Como você mesmo disse nada do que você fez até aqui funcionou, isso provavelmente se deve ao fato de ela ver esse lugar como uma prisão, uma espécie de cativeiro de luxo.
- E eu o carcereiro. – Completou Leon agastado.
- Provavelmente. – Concordou. – Ela está aqui há trinta dias e não deixou por um minuto que seja essa cobertura.
- Aqui é o local mais seguro para ela, pelo menos até que eu saiba com certeza quem são as pessoas que estão atrás dela. – Defendeu-se. – Por falar nisso, o que descobriu sobre esse ultimo incidente? Quem eram os homens atrás dela na favela? – Inquiriu.
- Ainda estamos investigando. – Informou sério. – Com tantas opções fica difícil, não me surpreenderia se fosse a Aliança Celeste, mas você sabe que o Conselho dos Sete e claro o nosso bom e velho amigo Theodoro encabeçam essa lista.
Leon ficou em alerta ao ouvir o nome de seu arque inimigo, passou a mão pelo queixo liso enquanto analisava a informação, Theodoro era uma pedra em seu sapato a mais tempo do que podia se lembrar, sempre que ele aparecia seu sossego acabava, parecia que era sua missão de vida destruir tudo aquilo com que Leon se importava, mas duvidava que ele soubesse da existência de Manuela, não teria sido tão irresponsável de deixa-la por conta própria no Brasil se houvesse a mínima chance de Theodoro chegar a ela, até o próprio conselho não tinha plena certeza de que o ritual havia sido feito, uma vez que ele só seria plenamente detectável quando concluído.
- Não creio que Theodoro ou mesmo o conselho sejam responsáveis por isso, eles são do tipo que fariam questão que eu soubesse que estão atrás dela, Theodoro adora se vangloriar e o conselho é muito correto, me intimariam primeiro antes de ir atrás dela.
-Então nos restam os fanáticos. – Concluiu Chris sisudo. – As denominações religiosas se juntaram para combater o mal encarnado. – Encarou o amigo deixando claro que se referia a ele. – Existem membros da Aliança Celeste infiltrados nas mais diversas igrejas, eles se misturam aos fieis normais e usando aquele velho argumento de que estão atuando para glória de Deus sobre o maligno recrutam aqueles mais suscetíveis para os seus trabalhinhos.
- Imbecis! – Praguejou.
- Vou mandar mais homens atrás de informações. – Se prontificou. – Mas não será fácil encontra-los, eles são muito bons em se camuflar, os que conseguimos pegar quando resgatamos Manuela se negaram a falar, mesmo tendo usado de bastante persuasão, eles realmente acreditam que estão salvando o mundo. – Comentou incrédulo. – Não sei se fico com raiva ou com pena.
- Eu não tenho essa dúvida. – Assegurou sombrio. – Quero que você descubra quem é o líder dessa tal Aliança Celeste e traga ele pra mim.
- O que você pensa em fazer? – Especulou desconfiado.
- Nada. – Sorriu maldoso. – Apenas mostrar a ele meus dons ocultos.
- Você sabe que se quebrar as regras do Conselho eles virão atrás de você com tudo. – Avisou soturno.
- Mesmo adorando quebrar as regras, sou capaz de resolver esse problema sem atrair a atenção do Conselho. – Sorriu convencido.
-Eles querem apenas um deslize seu para te mandar para você sabe onde.
- Lamento por eles, vão ter que procurar outra coisa para preencher a monotonia de seus dias. – Ironizou.
- E quanto a Manuela? – Chris voltou ao assunto. – Pretende tira-la daqui como sugeri?
Leon se manteve calado por alguns instantes enquanto analisava a sugestão do amigo, manter Manuela confinada em sua cobertura lhe parecera uma boa ideia a principio, afinal ali poderia controlar facilmente o acesso das pessoas, assim como as saídas de sua convidada, porém, agora depois de um mês vivendo sob o mesmo teto que ela percebia que mesmo com tanto espaço e conforto, ela se sentia aprisionada e a cada dia que passava suas defesas contra ele se tornavam mais forte.
Christopher tinha razão, um novo ambiente, com mais contato com a natureza, quem sabe outras pessoas além deles dois poderia ser um boa ideia para diminuir a tensão entre eles.
- Sim meu amigo. – Sorriu satisfeito, algumas ideias começando a tomar forma rapidamente em sua cabeça. – Mas vou precisar da sua ajuda. – Declarou em tom conspiratório.
- Para que? – Questionou Chris desconfiado.
- Nada de mais. – Sentou-se novamente ao lado do amigo e continuou. – Apenas que vá me fazer uma visita quando eu estiver fora daqui. – Esclareceu. – Ainda estou decidindo se vamos para o rancho no Texas ou para a ilha nas Bahamas, mas assim que decidir lhe aviso.
- Bons roteiros de viagem. – Elogiou. – Porque você quer que eu vá te visitar? – Estranhou. – Isso deveria ser uma espécie de lua de mel ou pelo menos um período de adaptação entre vocês, uma terceira pessoa só vai atrapalhar.
- Na verdade será uma terceira e uma quarta pessoa. – Comentou como quem não quer nada.
- Como assim? – Chris estava realmente confuso.
- Quero que você vá ao nosso encontro e leve a Catarina com você. – Informou.
- Para que? – Sua expressão deixava claro que estava inclinado a recusar o convite.
- Vocês estão juntos há muito tempo, Catarina sabe como é viver com um de nós. – Falou explicando sua linha de raciocínio. – É extrovertida, comunicativa e é brasileira assim como Manuela, talvez com alguém de sua terra ela se sinta mais a vontade e baixe a guarda a ponto de perceber que podemos viver juntos, que posso fazê-la feliz.
- Viver comigo é bem mais fácil do que viver com você. – Gracejou. – Sou infinitamente mais gentil e sociável, além de amável é claro.
- E bem mais idiota com certeza. – Leon Caçoou. – Não quero que Catarina faça um comparativo entre nós, nem que banque a advogada do Diabo, desejo apenas que elas se conheçam e conversem como duas mulheres normais, trocando experiências, socializando.
- E o que espera ganhar com isso?
- Uma brecha para me apresentar para Manuela como sou. – Confessou. – Nossos encontros nunca foram algo que possa ser chamado de normal, eu a trouxe aqui em circunstancias ambíguas, ela não confia em mim, preciso que veja a interação entre vocês e entenda que podemos ser um casal como qualquer outro, com alguns benefícios é verdade, mas apenas um casal.
- Acho que você está colocando muitas fichas em uma conversa de mulheres. – Chris o fitou com ar de dúvida.
- Não espero que elas troquem confidencias, só quero que Manuela baixe a guarda o suficiente para que eu possa me aproximar. – Apoiou os cotovelos sobre os joelhos e descansou o queixo sobre as mãos unidas ao continuar. – Não sei quanto tempo mais posso continuar assim sem fazer uma besteira.
- Assim como? – Encarou Leon por alguns segundos antes de murmurar compadecido. – Excitado?
- Não falamos sobre esse tipo de coisa! – Objetou corando como um adolescente.
Christopher manteve a expressão neutra e foi sensato o bastante para segurar o riso, Leon sempre fora um grande conquistador, extremamente mulherengo, afinal mulheres não lhe faltavam, sua beleza e carisma sempre lhe facilitou a conquista, dormir sozinho era algo raro de acontecer, em geral elas suplicavam por sua companhia, pois sua fama como grande conhecedor das técnicas de alcova atraiam as mais variadas mulheres, curiosas sobre seu domínio nas artes do prazer, agora estava preso de maneira irreversível a uma só mulher, justo a que não o queria.
- Você passou todos esses anos sem...
- Isso não é da sua conta! – Cortou Leon antes que ele concluísse a pergunta.
- Nem mesmo um cinco contra um? – Insistiu.
- Christopher! – Resmungou em tom de aviso.
- Não pode me culpar por estar curioso. – Defendeu-se. – Você sempre foi um homem muito ativo nessas práticas, e nunca foi o mais discreto sobre esse assunto, não se esqueça de que eu como seu assistente muitas vezes tive que me livrar das suas amigas mais empolgadas, não consigo acreditar que tenha passado os últimos vinte e sete anos em total celibato.
- Acredite no que quiser. – Levantou-se irritadiço caminhado para o outro lado do terraço, não queria discutir sua intimidade com ninguém, nem mesmo com seu amigo de longa data.
- Agora sei por que anda sempre tão irritado. – Comentou com um ar de quem fez a maior de todas as descobertas. – Isso não é saudável meu amigo, deixa muita... Energia acumulada.
- É melhor parar por ai! - Leon o fitou com um olhar fulminante.
- Vê o que eu digo? – Falou triunfante. – É muito estresse, deveria procurar alguém enquanto não se resolve com a Manuela. – Recomendou.
- Acha que eu não tentei?! – Enfureceu-se. – Eu tive morenas, loiras, ruivas, negras, asiáticas, altas, baixas... Não deu certo. – O pesar era evidente em sua voz.
- Não deu certo... – Repetiu em voz baixa olhando assombrado para Leon. – Você quer dizer que não funcionou, que você... – Se calou tentando encontrar uma palavra que não fosse ofensiva, mas nada lhe ocorreu, e na falta de um termo melhor disse: - Você brochou?
- É claro que não! – Exclamou horrorizado.
- Então o que? – Perguntou confuso.
- Não que isso seja da sua conta. – Começou colérico. – Nem que eu lhe deva algum tipo de explicação, mas quando disse que não consegui, não estava me referindo à impotência, fisiologicamente está tudo funcionando perfeitamente bem comigo.
- Estava falando de que afinal?
Leon apertou os lábios considerando por um minuto encerrar aquela conversa constrangedora, não se sentia a vontade expondo sua intimidade, mesmo que conhecesse Chris desde sempre e fossem muito amigos, ainda assim achou por bem esclarecer o que lhe ocorria antes que a mente fértil de seu assistente criasse possibilidades ainda mais absurdas.
- Não sinto prazer. – Disparou constrangido.
Chris o fitou de cenho franzido, mantendo-se calado, obviamente sem entender.
- Isso quer dizer que você não consegue gozar?
- Vá se foder Chris! – Gritou enfurecido. – Quer que eu diga tim tim por tim tim dessa merda?
- Eu não quero nada. – Declarou tranquilo, nenhum pouco impressionado com a explosão do chefe. – Você é que está fazendo rodeios, seja direto.
- Eu fico excitado, tenho ereção, consigo desempenhar minhas funções durante o ato, ejaculo. – Enumerou rapidamente sentindo o rosto queimar de vergonha. – Apesar de seguir o roteiro normal não sinto prazer algum, é como qualquer outra função fisiológica, me alivia, mas não me satisfaz.
- Oh merda! – Sussurrou Chris perdendo a linha.
- Isso ai. – Concordou Leon sentindo a tensão deixar o corpo após o desabafo. – E sabe qual a merda maior?
- O que?
- Eu fiquei com todas essas mulheres, com cada uma delas tentando apagar Manuela da minha cabeça. – Admitiu derrotado. – Mas só conseguia ficar excitado quando imaginava que era com ela que eu estava.
- De todas as punições...
- Não sei se é uma punição. – Contradisse. – Quando terminamos o ritual você me disse que eu já era dela...
- Eu não fazia ideia de que as coisas seriam assim. – Admitiu. - Pensei em algo como um celibato forçado, uma espécie de hibernação sexual, mas isso que está me contando nem me passou pela cabeça.
- Acha que seria melhor de outra forma? - Questionou frustrado - Que o celibato comum seria mais fácil?
- Abstinência nunca é fácil. - Reconheceu compadecido.
- Ela me acusa de só querê-la para sexo. – Contou aborrecido. – Eu a quero todo o tempo, é verdade mesmo que quisesse não poderia negar isso, Manuela é a única que eu quero, não consigo esconder como ela me deixa, mas não é só desejo, eu... – Parou por um segundo procurando as palavras certas. – Eu preciso dela Chris, do cheiro dela, do toque, do contato, só quando estou com ela me sinto vivo, mesmo ela me odiando e me fazendo sentir um pária.
- Se a sedução não está funcionando e seus planos de conquista falharem, você sabe que existem outras formas de acabar com a sua agonia. – Sugeriu sério.
- Você está falando de usar os meus poderes? – Questionou chocado.
- É uma solução. – Replicou calmo.
- Ficou louco? Eu jamais faria algo assim! – Indignou-se. – Seria desonesto, um abuso!
- Ela estaria plenamente consciente do que estava fazendo e sentiria imenso prazer. – Ponderou imperturbável.
- Mas não seria real, eu estaria induzindo-a isso! – A simples ideia lhe dava repulsa.
- E por acaso sedução não é a mesma coisa? – Retrucou.
- Vou fazer de conta que não ouvi tamanho absurdo!
- Não estou sugerindo um estupro! – Aborreceu-se.
- É como se estivesse! – Disparou acalorado. – Não vou usar meus poderes para dominar a vontade dela, que tipo de homem eu seria se fizesse algo tão asqueroso? Como pode me sugerir algo assim? Por acaso teria coragem de fazer isso com Catarina?
- Se estivesse na sua situação... Talvez, mas nunca precisei, então não posso dizer com certeza qual seria minha postura. – Reconheceu.
- Também não vou precisar! – Garantiu orgulhoso.
- Você só tem dois anos e trezentos e trinta e cinco dias. – Falou em tom de contagem regressiva. - Isso se o ritual não nos trouxer mais algumas surpresinhas.
- Vai ser mais do que suficiente! - Afirmou convicto. - O tempo sempre esteve ao meu lado, agora não será diferente.
- Pelo bem de todos, inclusive da própria Manuela, eu espero que você esteja certo . – Finalizou dando um tapinha nas costas de Leon e saiu deixando o chefe mais uma vez perdido em seus próprios pensamentos.
Oi queridos (as)!
O que acharam dessas pequenas intimidades que Leon foi obrigado a compartilhar com nosso amigo Chris?
A cada capítulo descobrimos um pouco mais desse Eterno e de sua personalidade.
Desejo uma ótima leitura e peço que continuem votando e comentando.
Beijitos!
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