CAPÍTULO VI
Os dois se enfrentaram por um longo tempo, os olhares furiosos presos um ao outro, as respirações se misturando, enquanto uma guerra silenciosa era travada sem previsão de fim, Manuela mais do que disposta a lutar por sua liberdade, Leon determinado a fazer valer sua vontade.
A raiva, paixão e frustração se mesclando em uma mistura perigosa, sentindo que seu temperamento estava por um fio Leon a soltou dando-lhe as costas, caminhou até a grande janela de vidro escuro que os isolava do resto do mundo, contemplando sem ver a paisagem lá fora ao mesmo tempo em que buscava encontrar o equilíbrio e serenidade pela qual era conhecido.
Estava fazendo uma força sobre humana para não descontar nela sua frustração, o desejo reprimido transbordando por seus poros e lhe enrijecendo os músculos, seria tão fácil acabar com tudo, deixa-la ir, dar a ela o que ela achava que queria, mas ela estava em sua mente, em cada fibra do seu ser como a droga mais poderosa na qual era viciado, maldita fosse por deixa-lo dependente com apenas alguns beijos inocentes! Maldita por fazê-lo deseja-la com tal desespero enquanto ela podia simplesmente lhe dar as costas e seguir em frente, o que teria acontecido se tivesse permitido, pensou desgostoso.
Manuela havia tocado em uma ferida dolorosa ao acusa-lo de afasta-la de outros homens, de impedi-la de constituir família com outro, era culpado desse crime logicamente e de muitos outros, porém não sobrava uma única gota de altruísmo e empatia quando o assunto era imagina-la nos braços de outro, não seria capaz de permitir algo assim, só de pensar, de imaginar... Apertou as mãos até as juntas dos dedos ficarem brancas.
Nunca permitiria, daria a ela qualquer coisa que quisesse, não importava o que tivesse que fazer, lhe daria tudo, menos isso, ela era sua, mesmo que negasse, que brigasse e dificultasse a sua vida como agora, ela era o seu pedacinho de céu, não abriria mão dela nunca e jamais em hipótese alguma outro homem tocaria no que lhe pertencia.
Uma parte sua, o troglodita em seu DNA gritava que deveria joga-la sobre os ombros e terminar aquela discussão ridícula na cama, que mostrasse a ela que contra fatos não há argumentos, que estavam perdendo um tempo que poderia ser melhor aproveitado em atividades infinitamente mais prazerosas, mas ali estava ela, seu reflexo desafiando-o na vidraça da janela panorâmica, seu queixo petulante erguido, enquanto ela fitava suas costas totalmente pronta para briga.
Não era tolo, diante de suas limitações, a discussão que estavam tendo era a mais nova estratégia de fuga adotada por ela, sua postura mostrava que ela estava com as garras afiadas, pronta para combatê-lo. Poderia vencê-la naquele momento? Com certeza, era mais forte que ela em todos os aspectos, mas não queria essa Manuela combativa, queria a Manuela que conheceu em Copacabana há vinte e sete anos atrás, naquele fatídico réveillon de mil novecentos e noventa e três, desejava a doce e inocente mulher que estava pulando as ondas do mar como uma menina, totalmente indiferente ao mundo e aos homens que a cobiçavam.
Suspirou, dependia dele reverter a situação, pressiona-la certamente não fora sua melhor tática, principalmente levando em consideração a antipatia que sabia ela vinha nutrindo por ele, aquele era o momento de recuar e reagrupar constatou, o segredo do sucesso era saber traçar um plano e colocá-lo em prática e acima disso tudo reescreve-lo quando necessário, era o princípio que lhe garantia êxito em toda as suas empreitadas.
- Você poderia pelo menos jantar comigo? - Pediu suavemente ainda de costas para ela, monitorando suas reações pelo reflexo no vidro. - Prometo não tocar nesse assunto.
- Para sempre? - Inquiriu olhando desconfiada para as costas largas.
- Por hoje. - Esclareceu, se virando e caminhando até ela, tomando a precaução de manter as mãos no bolso para evitar toca-la, permanecendo a um braço de distância. - Não prometo o que não posso cumprir, tenho muitos defeitos, mas não sou mentiroso.
- Se eu jantar com você, me deixará ir embora? - Especulou, estreitando os olhos desconfiada.
- Você precisa comer, não é? - Indagou ele sorrindo diante da tentativa dela de barganhar. - Eu também.
- Leon...
- Shhhh! - Colocou o indicador sobre os lábios rosados impedindo que continuasse a falar. - Só me dê o prazer da sua companhia, apenas duas pessoas compartilhando uma refeição, conversando amenidades. - Pediu humildemente.
- Por que faz isso? - Perguntou com voz cansada.
- Isso o que? - Questionou acariciando-lhe a bochecha com a ponta dos dedos.
- Por que não desiste? - Fechou os olhos dando um suspiro fraco. - Disse a você no primeiro dia que não queremos a mesma coisa...
- Nós queremos sim, você apenas não admite. - Replicou afetuoso. - Mas eu prometi que não tocaria mais nesse assunto por hoje. - Segurou a mão dela entrelaçando seus dedos e continuou. - Só para esclarecer...Eu jamais desisto do que eu quero.
- Não estou com fome. - Falou puxando a mão e se afastando dele.
Uma sombra passou pelo rosto de Leon enquanto ele tentava esconder o desgosto de ser rejeitado novamente, Manuela estava se saindo melhor do que a encomenda em sua decisão de mantê-lo a distância, estava se cercando de uma barreira invisível de aversão a ele, não seria fácil conquista-la percebeu, notando-a passar a mão delicada sobre o rosto em uma expressão cansada.
- Manuela. - Chamou suavemente dando um passo em sua direção. - Isso não precisa ser algo penoso, você não precisa lutar e resistir a cada passo do caminho para provar seu ponto. - Deu mais um passo para perto dela, mas ela deu um passo atrás se afastando. - Me permita cuidar de você...
- Quer fazer algo por mim? - Indagou desafiadora cruzando o espaço que os separava e parando a poucos centímetros dele. - Então me deixe em paz, esqueça esse maldito acordo e me deixe ir embora.
- Se fizesse isso não poderia cuidar de você. - Sorriu, tocando-lhe o rosto carinhosamente.
- Não preciso que você cuide mim! - Interrompeu zangada, afastando a mão grande de seu rosto com um safanão. - Posso me cuidar sozinha, não preciso de você, nem de nada que venha de você! Não percebe que já fez demais?
Virou-se marchando furiosamente até as grandes janelas de vidro escuro diante das quais ele se postara antes, da altura que estavam tudo parecia muito minúsculo, da mesma forma como se sentia, mas não perdeu tempo na contemplação da paisagem, nem sequer prestou atenção, estava concentrada de mais em controlar o tumulto de sentimentos que a acometiam naquele momento e o maior deles era a raiva, apertou os punhos com força buscando se conter, a frustração fazendo suas entranhas se contorcerem como se estivessem mergulhadas em ácido.
Estremeceu quando sentiu os braços fortes circundarem sua cintura enquanto Leon descansava o queixo no alto de sua cabeça e confessava baixinho.
- Então cuide de mim. - Pediu apertando-a em seus braços fortes. - Porque eu preciso de você.
- Que prazer você sente em debochar de mim! - Reclamou cansada. - Acabe logo com isso então, faça o que tem que fazer. - Mandou derrotada. - Você não pode tirar de mim mais do que já tirou.
Leon a virou de frente para ele acariciou-lhe o rosto com delicadeza, seus dedos percorrendo as bochechas coradas dela e redesenhando lentamente os lábios rosados, lábios que cobiçava a mais tempo do que era capaz de se lembrar.
-Não quero tirar nada de você. - Garantiu sincero. - Se prestasse atenção já teria entendido que tudo o que eu quero é lhe dar...
Seus lábios desceram sobre os dela suavemente, apenas um roçar, sentindo, experimentando carinhosamente seu sabor, sua doçura, a língua masculina traçou os lábios dela, sondando, pedindo, em um beijo delicado para o qual ela não estava preparada, esperava que ele fosse se impor, fazendo valer a própria vontade como era típico dele, mas naquele momento ele a tocava como se fosse um cristal preste a quebrar, suspirou de encontro aos lábios dele quando o sentiu colar seu ventre a pélvis masculina, uma mão em sua cintura e a outra enterrada em seus cabelos segurando sua nuca.
Como se seu suspiro fosse um sinal, o toque carinhoso e quase reverente foi substituído pela pegada apaixonada de um homem dominado pelo desejo, a língua masculina invadiu sua boca enroscando-se na sua, exigindo retribuição, os lábios de Leon devoravam os seus com uma fome descomunal, a mão em sua cintura desceu para suas nádegas e encheu-se com sua carne tenra apertando-a despudoradamente.
- Só quero te dar prazer. - Gemeu ele em sua boca.
Sem entender como, Manuela se viu deitada no grande e confortável sofá com Leon sobre ela, beijando sua boca, pescoço, clavícula...Ele abriu os botões na frente de seu vestido, depositando um beijo delicado entre seus seios.
- Só quero dar carinho a você. - Deslizou a alça do vestido por seus ombros depositando um beijo suave na pele exposta. - Fazer você feliz...
- Você quer me usar. - Acusou com voz embargada, sentindo que estava prestes a romper em lágrimas, divida entre o rancor e o desejo que o toque dele lhe despertava.
- Não diga isso. - Pediu erguendo o rosto e a fitando demoradamente. - A única coisa que quero é cuidar de você, protege-la, ajuda-la...
- Você quer me dominar... - Sussurrou, o desgosto impregnando suas palavras. - Você roubou minha vida, me tirou o direito de escolha.
Leon fechou os olhos sentindo-se atingido por suas palavras, uma expressão de desalento atravessando seu rosto, se afastou dela e sentou-se no sofá, o olhar distante.
- Por que você deveria ter escolha, se eu não tive? - Murmurou com voz grave, o olhar perdido no vazio.
- O que quer dizer? - Inquiriu confusa, ainda deitada no sofá do mesmo jeito que ele a deixou.
- Você nem se dá conta. - Respondeu enigmático.
Leon se ergueu e sem que ela esperasse a pegou no colo carregando-a nos braços pela cobertura, fazendo-a se debater, tentando escapar de seu agarre.
- Para onde está me levando? - Indagou assustada ao vê-lo cruzar todo o apartamento.
Ele não respondeu, continuou a leva-la em seus braços fortes como se não pesasse nada, subiu as escadas que levavam ao piso superior só parando depois de atravessar uma porta de madeira escura fechando-a com o pé, a visão da grande cama King size coberta pelo lençóis de algodão egípcio branco com detalhes dourados, fizeram Manuela se debater com tal ímpeto que ele quase a derrubou.
- Não! - Gritou apavorada.
A visão do móvel, o fato de estar presa nos braços dele e suas óbvias intenções fizeram o coração de Manuela disparar, uma sensação claustrofóbica ameaçando engolfa-la, sua respiração acelerada enquanto o pânico a dominava diante das implicações do que estava prestes a acontecer.
- Me largue! Você prometeu...Você disse que não ia... Eu não quero!
- Shhhh! Se acalme. - Pediu apertando-a nos braços e eliminando o resto do caminho até a cama onde a depositou com todo cuidado.
Ao se ver livre do domínio dele, Manuela rastejou até a cabeceira da cama o fitando de olhos arregalados, o pânico distorcendo suas feições. Leon se ajoelhou diante da cama a encarando sério, a expressão preocupada.
- Respire. - Falou ele. - Vamos Manuela, respire. - Mandou suavemente, ao vê-la puxar o ar para seus pulmões continuou. - Isso, muito bem, não há razão para pânico.
- Por que me trouxe para cá? - Perguntou se arrastando um pouco mais para o outro lado da cama.
- Esse é o seu quarto.
-Já disse que não vou...
- Esse é o seu quarto. - Proferiu interrompendo-a. - Sei que a visão que tem de mim não é das melhores, mas jamais forcei uma mulher a me aceitar fisicamente e não vou começar com você, não sou um estuprador. - Completou obviamente ofendido. - Desejo você e isso não é um segredo...
- Você me trouxe para cá contra minha vontade, está me obrigando a ficar aqui. - Retrucou com voz trêmula lembrando-o de algumas de suas transgressões.
- Como se você tivesse me dado outra escolha. - Reclamou impaciente. - Tudo o que faço é para o seu bem.
- Isso é o que todo psicopata fala. - Rebateu exaltada. - Em nenhum momento você me perguntou o que eu queria ou levou isso em consideração, porque a verdade é que a única coisa que importa aqui é o que você quer, é o seu bem!
Manuela o fitava com os olhos carregados de raiva, os lábios trêmulos afrontada pela ousadia dele, o medo sendo esquecido em função da ira pela presunção de Leon de que sabia o que era melhor para ela e que isso lhe dava o direito de interferir em sua vida.
- Se é interessante para você que eu seja o monstro da sua história, eu posso fazer sua vontade Manuela. - Leon se ergueu contemplando-a do alto de toda sua envergadura, sua expressão completamente fria. - Só não me culpe por não gostar do desfecho.
- Nada do que você fizer pode ser pior do que já me fez. - Decretou ressentida.
- Se já tivesse vivido tanto quanto eu não diria isso. - Sorriu sem humor, sua expressão vazia. - Você subestima minhas habilidades porque as desconhece e só por isso vou ignorar seu total desrespeito.
Com os olhos apertados Manuela o encarou mantendo-se calada, mas sua postura atrevida estava lá, presente, afrontando-o, Leon suspirou reunindo toda paciência e civilidade que aprendera ao longo dos anos, precisava lidar com ela com cuidado, não queria alimentar ainda mais o ódio que ela cultivava há tanto tempo.
Tinha que lembrar que ela ainda era muito jovem, e como tal imprudente, imatura, podia ver que estava assustada e o ataque fora a forma que encontrara para mascarar o medo que sentia por ter que enfim assumir as consequências das próprias ações.
- Por que eu? - Perguntou ela a queima roupa. - Por que me escolheu?
Um sorriso sensual cruzou os lábios de Leon ao contempla-la, desanuviando sua expressão antes carregada, os bonitos olhos esverdeados cintilando maliciosamente ao dizer:
- Você me escolheu... Você me chamou Manuela. - Passou as mãos pelos cabelos com um ar desconcertado. - Não me culpe por não resistir.
Antes que pudesse perguntar algo mais, ele abriu a porta e partiu, deixando-a imersa no mais completo caos emocional, tendo como única certeza as dúvidas que bombardeavam sua mente cansada.
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