CAPÍTULO V
Nem em sonho! Pensou Manuela libertando as mãos, empurrando-o com força e se refugiando atrás do sofá, sabia que aquela era uma barreira muito frágil, não a manteria em segurança por muito tempo se ele estivesse de fato determinado a fazer valer sua vontade como sua expressão determinada demonstrava, mas iria resistir o quanto pudesse.
Leon a encarou por um longo instante dividido entre a vontade de acabar com a distância que os separava ou respeitar a decisão dela. Conseguia lê-la de uma maneira que o desconcertava, cada sentimento tão exposto como uma ferida aberta, ela estava com medo, podia sentir como se o pavor dela estivesse correndo por suas veias, estava assustada por não ser capaz de controlar o que estava acontecendo, por não ter mais como fugir e se esconder, e estava assombrada por deseja-lo, sim ela o queria, mesmo negando tão veementemente, mesmo fugindo, disso não tinha dúvida, admirava sua coragem em negar-se a algo que obviamente a tentava, era necessária muita força de vontade para isso, reconheceu.
Mas o irritava de igual maneira sua teimosia, não estava acostumado com mulheres se negando a ele, recusando-o e isso atingia seu ego de uma maneira maior do que ousava admitir, despertando uma vontade intensa de força-la a reconhecer o que sentia por ele, de fazê-la admitir que todo o tempo que passaram longe fora uma tortura para ela também, sonhava em ouvi-la dizer isso e jurou a si mesmo que um dia não muito distante ela o faria.
Não agora, percebeu passando a mão pelo cabelo enquanto respirava fundo e controlava a custo seu animal interior, sua vontade era de deita-la naquele sofá e torna-la sua como já deveria ter feito, mas não a forçaria, ela havia passado por muitas coisas nas últimas horas, se fosse honesto teria que dizer que as mudanças drásticas em sua vida vinham ocorrendo há anos, sabia que elas eram uma das razões de Manuela fugir, ela não sabia lidar com tantas coisas inexplicáveis, com as evidências de que sua vida não era mais a mesma e que havia mais no mundo do que ela sabia ser real.
- Quero que me deixe ir. – Ouvi-a dizer, arrancando-o de suas conjecturas. – Que esqueça esse acordo... Se é tão importante para você o pagamento da dívida, diga quanto lhe devo e eu pago, nem que eu leve toda vida para isso. – Garantiu ainda se refugiando atrás do sofá.
Leon sorriu suavemente, o encantava sua inocência, era tão doce que pensasse que poderia demovê-lo de seus objetivos, que acreditasse que alguma moeda no mundo fosse capaz de pagar o que de fato ela lhe devia.
- Você tem razão. – Concedeu ele fitando-a diretamente nos olhos. – Você vai levar toda uma vida para me pagar, talvez mais de uma...
- Isso quer dizer...
- Que não estou aberto a acordos. – Cortou cruzando os braços diante do peito forte. – Não há mais o que negociar Manuela... É hora de honra sua dívida. – Decretou sério.
- Nunca vou pra cama com você, ouviu?! – Vociferou de seu abrigo atrás do sofá. – Nem em um milhão de anos!
- É uma escolha sua. – Concedeu tranquilo caminhando lentamente até o sofá, mantendo-se do lado oposto ao dela. – Mas deve saber que posso retirar o que foi dado a qualquer momento.
-Você não se atreveria. – Sussurrou encarando-o receosa.
- Por que não? – Indagou erguendo a sobrancelha bem feita. – Um acordo só tem validade quando as duas partes honram o compromisso. – Observou com voz gélida. – Você não cumpriu com a sua parte e como acabou de afirmar, nunca vai cumprir...
Manuela sentiu o coração disparar, o rosto uma máscara de pânico diante da ideia de que ele poderia voltar atrás, as possíveis repercussões reverberando em sua mente, não poderia permitir, sua família estava viva e bem apenas por conta desse bendito acordo, eles eram tudo para ela, eram seu mundo e havia prometido a si mesma cuidar e proteger cada um deles, acima de tudo, de qualquer coisa, inclusive de si mesma.
- Você não pode fazer isso, não tem poderes pra isso. – Duvidou com voz vacilante.
-Quer arriscar? – Desafiou. – Para mim não é um problema mostrar que está errada.
- Você não teria coragem...
- Coragem é algo que nunca me faltou! – Interrompeu com voz sombria. – Você tem duas opções Manuela, honrar sua parte no acordo e deixar que tudo continue como está ou quebrar o trato e arcar com as consequências, o que você escolhe? – Sentenciou implacável.
Manuela estremeceu atingida por suas palavras impiedosas, estava sendo pressionada da pior maneira possível, sentia-se encurralada, ele sabia que sua família era seu ponto fraco e estava usando isso descaradamente contra ela.
- O que você ganha com isso? – Tentou racionalizar. – Nunca vou ficar com você de boa vontade, sabe disso.
- Nunca é um tempo muito longo. – Comentou sorrindo suavemente. – Se bem que tempo não é um problema, como você já deve ter percebido. – Sentou-se no braço do sofá colocando displicentemente um calcanhar sobre o outro enquanto completava. – Posso fazer você mudar de ideia.
Manuela o fulminou com o olhar desejando ser forte o bastante para arrancar a socos aquele ar pretensioso de quem está no controle da situação, ele achava que a tinha nas mãos, que poderia impor sua vontade e que com seus atributos e habilidades a seduziria, tinha que reconhecer que era fraca diante de suas investidas, mas se havia algo que acabava com a sua libido era ser chantageada.
- Então é isso? – Perguntou saindo de seu refúgio e marchando decidida até parar a poucos passos dele, enfrentando-o. – Eu me torno sua amante ou você acaba com a minha família?
- Pode ser colocado nesses termos. – Concordou tranquilo como se estivessem falando de algo tão corriqueiro quanto o clima.
- E se eu mandar você se ferrar? – Sibilou raivosa.
- Eu acharia muito corajoso, mas nada sábio. – Informou inalterado. – Acredito que você seja prudente o bastante para considerar as consequências.
- Que tipo de homem é você que precisa chantagear uma mulher para leva-la pra cama? – Indagou fitando-o com desprezo.
- Do tipo que sabe o que quer e não mede esforços para conseguir. – Respondeu se erguendo e eliminando a distância entre eles, no entanto permanecendo sem toca-la. – Não pense que me envergonho por usar as armas que tenho a minha disposição, estou muito além disso.
- Você é desprezível!
- Já fui chamado de coisas piores. – Ironizou.
- Eu acredito, mas meu vocabulário não é rico o bastante para encontrar um adjetivo a altura da sua canalhice. – Atacou. – Não espere nada de mim, porque não devo nada a você além de dor e sofrimento.
Algo cintilou nos brilhantes olhos cor de avelã, um sentimento que não soube definir passou por seu rosto, mas foi rapidamente substituído pelo cinismo.
- Esse é o momento em que me comovo e perdoo a sua dívida? – Questionou irônico. – É assim que espera resolver a situação? Não perca seu tempo tentando despertar em mim o sentimento de culpa.
- Só é possível despertar algo que existe, que está vivo. – Afirmou afrontando-o. – Você teria que ter um coração para ter qualquer sentimento além de arrogância.
- Eu tenho um sentimento muito forte por você. – Confessou com voz rouca. – Esse sentimento tem me impulsionado por mais tempo do que posso me lembrar.
- Pelo amor de Deus! Você é um adolescente por acaso? – Exaltou-se. – O que você tem é tesão, tome um banho frio que passa!
Leon riu divertido, sentindo o aquecimento interno que só vivenciava quando estava com ela, um calor que aquecia partes de si que há muito tempo julgava mortas, claro que a desejava, a queria desde que a viu naquela praia e sua paixão só fez aumentar ao longo dos anos, mas havia algo mais, uma necessidade, um apelo que era maior que sua determinação, que seu orgulho, que o fazia agir em desacordo com o que acreditava, porque quando se referia a Manuela era guiado unicamente por seus instintos.
- E se eu disser que é mais que isso? – Provocou.
- Eu serei obrigada a chama-lo de mentiroso.
- Posso mostrar. – Ofereceu insinuante.
Manuela deu um passo atrás inconscientemente ao ver o sorriso felino se desenhando nos lábios masculinos, seu corpo assumindo uma postura defensiva.
- Guarde suas coisas pra você! – Mandou, seus olhos descendo involuntariamente para frente da calça dele.
- Tem certeza? – Indagou tentando conter o riso.
- Claro que tenho, eu não quero ver nada disso aí. – Fez um movimento de subir e descer com a mão que englobava todo ele.
Sabia que não estava convencendo ninguém com aquela afirmação, até para os seus ouvidos parecia uma frase vazia, quem em sã consciência iria rejeitar um oferecimento daqueles? Perguntou-se tentando organizar os pensamentos e encontrar uma solução para sua situação precária, havia fugido tanto e por tanto tempo que quase se tornara uma especialista, contudo naquele momento sem fazer um movimento, apenas estudando-a com seus olhos claros, sua expressão neutra como a de um jogador de pôquer, Leon fechava todas as suas saídas, bania suas rotas de fuga porque se dava conta finalmente que não importava onde fosse ele poderia encontra-la e se em algum momento ele se cansasse daquele estranho jogo, ele poderia arruinar ainda mais sua vida.
Ela estava considerando as opções, Leon constatou acompanhando cada pequena mudança de expressão do rosto delicado em formato de coração, podia perceber as engrenagens de seu cérebro girando enlouquecidamente buscando uma escapatória, admirava sua determinação, seria tão mais fácil para ela simplesmente ceder, aceitar o que lhe oferecia, seria bem mais simples para ele também não se ver forçado a quebra-la, gostava de seu espírito, mas já havia sido muito prejudicado por isso.
- Você deve considerar que não estou exigindo muito em troca de tudo o que recebeu. – Incitou observando satisfeito a reação imediata.
- Você tem muita coragem para me dizer isso. – Falou furiosa. – Se sou tão insignificante por que está fazendo tanta questão de me prender a você?
- Não disse que você era insignificante. – Corrigiu calmamente. – Muito pelo contrário, você é extremamente valiosa para mim, por isso fizemos um acordo tão vantajoso.
- Vantajoso para quem? - Exasperou-se.
- Para nós dois. – Argumentou seguro. – Você teve o que queria em troca de me dar o que eu quero.
- Você nunca me deu o que eu queria. – Acusou com voz rouca. – Só usou o que eu queria para me prender a você. – Apontou o dedo acusadora. – Ficou assistindo eu me debater na sua teia como um inseto, se divertindo morbidamente com o meu desespero.
- E fui generoso o bastante para deixa-la aproveitar um pouco sua liberdade. – Lembrou, ignorando a acusação feita por ela.
- Que liberdade? – Gritou colérica. – Você mandou me vigiar todo esse tempo, afastou todos os homens que se aproximavam de mim, me impediu de construir minha família.
Em um átimo Leon a agarrou pelos bíceps e a puxou de encontro ao seu peito, os olhos cor de avelã queimando com a fúria que distorcia sua expressão quando sentenciou.
- Achei que tivesse ficado claro no nosso acordo que nenhum homem toca você além de mim!
- Você não é meu dono. – Ergueu o rosto confrontando-o.
- Ah pedacinho de céu eu sou sim! – Disse feroz. – Dono de cada pequena parte sua, até da sua respiração.
- Você não é Deus! – Esbravejou puxando os braços tentando soltar-se do agarre dele.
- Eu sou o Deus da sua vida Manuela! – Bradou aumentando o aperto sobre seus braços sem perceber, puxando-a ainda mais de encontro ao seu corpo. – E o quanto antes você perceber isso melhor!
Olá queridos (as)!
Um capítulo fresquinho para vocês! Votem, comentem, essa interação entre nós é muito importante! Logo trarei mais Leon e Manuela para vocês.
Perdoem alguns possíveis erros de digitação, mas em minha defesa estou postando esse capítulo as duas da manhã do dia 21/ 03/2020. Quando estiver mais desperta faço uma nova revisão. Rsrsrsrs
Prometo não demorar tanto com o próximo capítulo, divirtam-se. Beijitos!
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