CAPÍTULO IV
O avião taxiou no aeroporto internacional John F. Kennedy no começo da noite, as luzes do aeroporto se confundiam com as luzes da cidade. Sentada no banco de couro cor de creme Manuela olhava pela janela o movimento nas pistas enquanto esperava a aeronave parar. Acomodado na poltrona à sua frente Chris permanecia olhando para o computador na mesinha sobre seu colo, lia algo e em seguida digitava rapidamente completamente indiferente a sua presença, uma postura que adotou desde o momento que deixaram a mansão na região serrana do Rio de Janeiro, descobriu que estavam em Nova Friburgo apenas quando o *SUV preto passou pela placa com o nome da cidade.
Nunca havia ido até lá, mas havia ficado encantada com a beleza que conseguiu contemplar pela janela de vidro fumê do carro no momento em que atravessavam a cidade em direção ao aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, não fez nenhuma tentativa de escapar, de nada adiantaria, havia um carro cheio de seguranças na frente e outro atrás do veículo que ocupava, além de mais três homens mal encarados no carro que dividia com Christopher, todos muito concentrados em tudo que fazia, chegou a se sentir perigosa com todo aquele excesso, riu zombeteira ao lembrar chamando a atenção de Chris que a olhou especulativo.
- Parece feliz. - Comentou fechando o computador e encarando-a. – Ansiosa para encontrar Leon?
- Muito, estou tentando conter minha euforia, não deu para perceber? – Debochou.
Um arremedo de sorriso ergue-lhe o canto da boca, a porta do jatinho abrindo interrompeu qualquer possível resposta que ele fosse lhe dar, Chris se ergueu e lhe estendeu a mão galantemente, Manuela o ignorou e seguiu sozinha para saída, ouviu a risada dele enquanto descia as escadas, a brisa fria de Nova York a recebeu sorrateira se infiltrando por entre a suas pernas parcamente protegidas pelo tecido fino do vestido, estremeceu, era julho, não deveria estar mais quente? Perguntou-se abraçando o próprio corpo.
Sentiu um tecido quente lhe envolver os ombros e se voltou a tempo de ver Christopher arrumando um longo casaco preto ao seu redor.
- Você vem de um lugar bem quente, dezessete graus ainda é frio para alguém acostumado a um calor de quarenta graus. - Comentou.
Manuela não disse nada, apenas o encarou desconcertada com a preocupação inesperada, um pequeno sorriso se desenhou nos lábios masculinos ao ver sua confusão.
- De nada. - Ele falou guiando-a até o utilitário que os aguardava e a ajudando a entrar para em seguida tomar seu lugar ao lado dela.
O veículo entrou em movimento e em poucos segundos o aeroporto JFK era apenas um borrão se perdendo na distância, a cada quilômetro percorrido sentia o aperto em seu estômago aumentar, olhar pela janela já não estava ajudando, só a deixava mais consciente de que estava chegando o momento de encontrar Leon. Suspirou agarrando o casaco com força até as juntas dos dedos ficarem brancas, um toque em seus dedos tensos a fez se sobressaltar, olhando assustada para Christopher.
- Não vai ser tão ruim. – Disse ele dando palmadinhas confortadoras em sua mão.
- Se está tentando me tranquilizar, sinto dizer que não está conseguindo. – Respondeu mal humorada afastando-se ao máximo dele e voltando seu olhar para a paisagem sem realmente vê-la.
- Leon não é o que você pensa. – Falou com voz suave, fitando-a.
- Você não sabe o que eu penso. - Resmungou.
- Você não faz muito esforço para esconder. – Apontou. – Ele só quer o seu bem, só quer cuidar de você.
- O que ele ou qualquer outro sabe sobre o que é melhor para mim? – Perguntou exaltada encarando-o furiosa. – Não preciso que ele cuide de mim, sei me cuidar sozinha!
- Tenho que discordar, tendo em vista o lugar onde a encontramos.
- Vocês não me encontraram, vocês me sequestraram, me doparam e me sequestraram! – Falou indignada. – Me abduziram!
- Abduzimos? – Ele sorriu do termo usado por ela. – Não somos alienígenas Manuela.
- Bem poderiam ser que não faria a menor diferença, eu estava muito bem obrigada, antes de vocês voltarem a me caçar!
Christopher suspirou e não disse nada, ficou olhando pela janela por alguns instantes em silêncio, perdido em pensamentos, provavelmente não tinha argumentos pensou mal humorada, a verdade é que estava com medo e a falta de opções a deixava com os nervos a flor da pele.
- Para onde estamos indo? – Indagou encarando-o emburrada.
- Manhattan. – Respondeu ainda olhando pela janela.
- É claro. – Resmungou revirando os olhos. – No prédio mais elegante, talvez na torre mais alta, ele tem o seu próprio King Kong também?
Chris deu uma risadinha, mas não respondeu, seus olhos estavam fixos na janela, olhando a cidade com o olhar vazio de quem estava perdido em seus próprios pensamentos, parecia aborrecido, preocupado talvez, ponderou estudando-o. Era estranho vê-lo tão quieto, sem o sorriso que parecia ser sua marca registrada, sua expressão vazia lhe causou um aperto no peito, estaria ele pensando sobre o que Leon iria fazer com ela? Um arrepio de pavor à fez se encolher ainda mais dentro do casaco. Antes que percebesse estavam entrando na garagem de um luxuoso arranha céu, desceram do carro e foram para o elevador apenas Manuela e Chris, após alguns minutos em um silêncio opressor o elevador se abriu diretamente na cobertura.
- Meus serviços terminam aqui cara Manuela. – Declarou Chris pegando delicadamente sua mão e depositando um suave beijo em seu dorso. – Espero que Leon se divirta com seus arroubos assim como eu. – Soltou-lhe a mão e a empurrou delicadamente para o grande Hall de entrada.
- Não, espere! – Pediu assustada ao ver que ele permanecia no elevador. - Eu não quero ficar sozinha aqui. – Disse olhando por sobre o ombro assustada, enquanto apertava o casaco em volta do corpo, estava tremendo e não era de frio.
- Você não vai ficar. – Afirmou suavemente, apertando um botão no painel do elevador, a porta se fechando diante dele com um suave clique.
Manuela ficou parada diante da porta do elevador alguns minutos, o coração saltando no peito como se tivesse corrido uma maratona, sem coragem de se voltar para o imenso apartamento, temendo o que encontraria, depois de algum tempo que não soube precisar quanto, tendo como única companhia o silêncio, aprumou os ombros, respirou fundo e virou-se disposta a encarar o que se escondia ali.
Não havia ninguém, nem uma viva alma no enorme hall de entrada, o que a fez respirar aliviada, deixou o casaco escorregar dos ombros e o depositou em um grande sofá de tecido escuro em formato de L que estava a alguns metros da porta de entrada, seus passos foram abafados pelo fofo tapete de cor creme que decorava o espaço entre o sofá e um móvel longo de cor marfim onde repousavam dois vasos de cristais com lindas rosas de um delicado tom rosado e uma linda estatueta de uma moça de longos cabelos inclinada para trás em um movimento que lembrava uma dança.
O objeto chamou sua atenção pela perfeição dos detalhes, as mãos pequeninas da estátua seguravam o que parecia ser um lenço que estava agitado por seu movimento, seu rosto erguido, os seios empinados cobertos por um delicado vestido tomara que caia que lhe chegava até a altura das coxas bem torneadas, seus pés estavam descalços, parecia envolvida em um mundo particular, onde só existia ela e sua dança.
Estava tão fascinada na contemplação da estatueta que não percebeu o homem em pé parado ao alguns passos de distância, mãos nos bolsos, recostado a parede Leon a observou pegar a delicada peça nas mãos admirando-a cono se fosse uma jóia. Sentindo o material pesado de que era feita, Manuela percorreu a peça delicadamente com os dedos como se a acariciasse, parecia bronze, mas achou incrível os detalhes, o capricho com que foi feita, parecia tão real. Os pelos de sua nuca se eriçando a fizeram erguer a cabeça em um átimo, sentiu uma presença a suas costas, virou-se bruscamente, deixando a estátua escapar de suas mãos e cair com um som abafado no macio tapete, quase atingindo seu pé.
- Cuidado. – Falou ele suavemente ainda recostado na parede, os olhos fixos nela. – Não queremos começar a noite com um acidente, temos muitas coisas interessantes para fazer. – Sorriu insinuante.
Manuela permaneceu muda, seus lábios entreabertos enquanto o encarava em choque, ele estava exatamente como se lembrava, lindo como o pecado, parecia que nem um dia havia se passado desde seu último encontro, ele vestia-se da maneira elegante que parecia ser de sua natureza, uma camisa social cinza escuro de mangas longas que estavam dobradas até a altura do cotovelo relevando o antebraço musculoso e uma calça de linho preta, o cinto de couro também preto circundava lhe a cintura e fazia conjunto com os sapatos italianos da mesma cor, seus traços estavam como no primeiro dia em que o viu, os mesmos cabelos castanhos dourados cheios no alto e mais baixo dos lados de aparência tão macia, os olhos cor de avelã, misteriosos, enigmáticos, o nariz bem desenhado, altivo e a boca de lábios carnudos, cheios que se curvaram em um sorriso sensual ao perceber seu exame minucioso, ela corou envergonhada ao ser pega encarando-o.
- Não me lembro de ter combinado nada com você. – Rebateu com voz trêmula, tentando inutilmente esconder seu nervosismo.
- Então vou ter que refrescar sua mente e lembra-la do nosso acordo. – Disse se afastando da parede e caminhando lentamente até ela.
Manuela dava um passo atrás a cada passo que ele dava, odiava a sensação de pânico que esmagava suas entranhas, não suportava se sentir tão indefesa, a mercê dele, a cada passo das longas pernas, uma voz gritava em sua cabeça, fuja! Corra! Agora! Antes que se desse conta estava fazendo exatamente isso, correndo para o elevador tão rápido quanto os saltos altos permitiam, quando sua mão tocou o painel a dele cobriu a sua, o corpo forte esmagou o seu de encontro as frias portas de aço alguns segundos antes de gira-la deixando-a de frente para ele.
- Sempre fugindo. – Murmurou baixando o rosto e deixando-o apenas alguns centímetros do dela. – Você nunca facilita, não é? – Deslizou o nariz por sua bochecha fazendo-a virar o rosto.
- Não para você. – Respondeu com voz embargada.
Leon deslizou os lábios por seu pescoço enquanto erguia seus braços acima da cabeça com uma das mãos.
- Isso vai ser interessante. – Sussurrou usando a mão livre para segurar o rosto de Manuela e força-la a encara-lo. – Me fez esperar muito tempo Manuela. – Deslizou o polegar por seus lábios deliciando-se com sua tenra maciez. – Não foi sábio da sua parte, só aumentou sua dívida comigo. – Avisou baixando o rosto ainda mais e deslizando a língua por seus lábios entreabertos.
- Não devo nada a você. – Negou tentando livrar o rosto do seu contato.
A respiração dele, seu hálito de menta, o calor do seu corpo a estavam deixando com uma sensação estranha, a mesma que ele havia despertado tantos anos atrás, algo que se negava a nomear como desejo, mesmo que uma vozinha em sua mente dissesse que o tremor do seu corpo não vinha do medo. Não deseja-lo era uma tarefa impossível pensou sentindo-o mordiscar seus lábios de um jeito que a deixou de pernas bambas.
- Você me deve muitas noites mal dormidas. – Beijou-lhe o queixo.
- Não tenho culpa da sua insônia. – Protestou ofegante.
- Você é a minha insônia. – Beijou-lhe o maxilar, a bochecha, o canto de sua boca. – Tão doce. – Murmurou beijando-lhe suavemente os lábios.
- Pare. – Sussurrou sem fôlego pela proximidade dele.
Leon tinha um cheiro tão másculo, o calor que vinha de seu corpo forte a deixava tonta, a sensação de estar em seus braços a inebriava e assustava ao mesmo tempo, deixando-a confusa, a fazia lembrar daquele réveillon na praia e de tudo que mudou depois dele.
- Ainda não tive o suficiente de você. – Declarou ele um pouco antes de baixar seus lábios sobre os dela em um beijo que só poderia ser descrito como devorador, era um homem dominando um território, exigindo, conquistando, investia em seus lábios devorando-a com a perícia do homem experiente que era, seduzindo-a, não havia como não corresponder quando a língua dele varreu cada canto da boca rosada, o corpo feminino sendo pressionado pelo dele de encontro à porta do elevador, indefesa contra seu ataque sensual, suas respirações se misturando, enquanto seus corpos se enroscavam na mais antiga dança da história.
Manuela gemeu dividida entre o desejo e o medo ao sentir a potente ereção de encontro a sua barriga, afastou os lábios dos dele tentando respirar, querendo ordenar os pensamentos que naquele momento eram uma massa confusa, assim como seu corpo era uma massa de sensações deliciosas.
- Me solte. – Pediu baixinho, ao ouvi-lo rir próximo a sua orelha, falou mais alto procurando impor firmeza em sua voz. – Agora!
Como ele não obedeceu, pôs-se a se debater em seus braços exigindo.
- Me largue Leon, não disse a você que poderia me tocar! – Bradou furiosa com o olhar presunçoso que ele lhe dirigiu.
- Não precisou dizer. – Percorreu seu pescoço com a ponta do nariz e sussurrou. – Você tem o cheiro tão bom meu pedacinho de céu. – Murmurou fazendo-a lembrar de como a chamou naquele primeiro dia
- Me largue droga, me largue agora! Não vou dormir com você! – Vociferou.
- Não tenho planos de dormir. – Sorriu malicioso dando leves mordidas no queixo delicado. – Na verdade... Dormir é a última coisa em que penso agora.
- Se você acha que vou cair nos seus braços, está redondamente enganado. – Garantiu fitando-o desafiadoramente.
- Você já está nos meus braços. – Apontou distraidamente deslizando os dedos por seus cabelos.
- Contra minha vontade. – Atacou. – Como tudo que você fez desde que entrou em minha vida!
- Tão apaixonada, até mesmo em sua fúria. – Apreciou com um sorriso predatório. – Quero sentir sua paixão, esse fogo...
-Se é fogo o que quer, volte para o inferno que é o lugar de onde nunca deveria ter saído. – Mandou furiosa.
A expressão sorridente de Leon se desfez rapidamente, transformando-se em uma careta assustadora, se não estivesse presa em seus braços naquele momento certamente teria fugido diante do brilho perigoso de seus olhos, a pressão da mão forte sobre seus pulsos aumentou apenas o suficiente para evidenciar a força masculina e sua fragilidade, demonstrando o controle que ele tinha diante da situação.
- Essa sua língua afiada ainda vai coloca-la em maus lençóis. – Avisou sombrio. – Por muito menos que isso, homens com o dobro do seu tamanho não viveram o suficiente para lamentar o uso dessa palavra.
- Que palavra? – Perguntou ousada. – Inferno?
Engoliu em seco quando sentiu a mão grande se emaranhar nos cabelos de sua nuca e puxar sua cabeça de modo que o encarasse. Havia fogo nos olhos de Leon, um brilho tenebroso, cruel, mas mesmo evidentemente furioso ele dosava sua força para não machuca-la.
- Em respeito a sua ignorância, vou relevar sua provocação, mas não abuse da minha boa vontade. – Advertiu soturno.
- Por que não posso falar a palavra inferno? – Insistiu atrevida. – Faz você sentir saudades de casa? – Debochou.
- Não me provoque Manuela. – Sussurrou ameaçador.
- Ou o que? – Desafiou petulante.
- Ou vou cobrar o que você me deve de um jeito bem doloroso. – Advertiu.
- Não devo nada a você. – Teimou.
Leon apertou os lábios, sua expressão ficando ainda mais carregada, um músculo saltou em seu maxilar enquanto ele tentava a custo conter o mau gênio que estava prestes a se manifestar, não era um homem dado ao destempero, mas quem tinha conhecimento das poucas ocasiões em que perdera o controle, fazia de tudo para tal situação não se repetir.
Respirou fundo fechando os olhos por um segundo, fazendo força para lembrar que ela desconhecia sua história, suas origens e principalmente do que era capaz, se Manuela já o considerava monstruoso apenas por traze-la ao seu convívio e protege-la, certamente o temeria para sempre se visse apenas uma pequena parte que fosse do estrago que sua fúria era capaz de fazer.
O cheiro dela entrando por suas narinas, estava aos poucos diluindo sua raiva, enquanto a paixão que só ela era capaz de despertar se erguia sorrateira por seus membros, se alastrando por suas veias como uma droga perigosa, Manuela tinha esse efeito desconcertante sobre ele, o acendia sem esforço algum, o descontrolava, justo ele um homem conhecido por seu controle absoluto.
Inclinou-se sobre ela, mergulhando seu rosto na curva do pescoço irresistível, completamente esquecido de sua indignação.
- Não gosto de discordar de uma dama, mas terei que contradize-la. – Murmurou beijando-lhe o lóbulo da orelha e o prendendo entre os dentes. – Temos um acordo, eu cumpri minha parte. – Fitou-a diretamente nos olhos ao completar. – Agora terá que cumprir a sua.
Manuela arregalou os olhos, umedeceu os lábios subitamente ressequidos, buscando desesperadamente uma solução em sua mente que não envolvesse se perder de vez nos braços daquele homem pecaminosamente sedutor.
* SUV - (Veículo utilitário esportivo - conhecido como SUV, do inglês: "Sport Utility Vehicle")
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