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CAPÍTULO I


REVEILLON DE 1993

A queima de fogos poderia ser vista de toda a praia, a multidão que se aglomerava na larga faixa de areia dividiria sua atenção entre o espetáculo pirotécnico e os shows que ocorriam nos palcos ao longo da orla, pessoas das mais variadas partes do mundo se reuniam na famosa praia de Copacabana, assistindo Jorge Ben cantar e aguardando a contagem regressiva que sinalizava a chegada da meia noite e do novo ano para enfim contemplar a queima de fogos.

Parada ao lado de seus pais, seu irmão e sua cunhada, Manuela olhava para tudo com a expressão encantada, um sorriso bobo brincava em seus lábios ao pensar que finalmente estava realizando um sonho que acalentava há tantos anos, passar o réveillon no Rio de Janeiro, assistindo aquele espetáculo com o qual os cariocas saldavam a chegada do novo ano.

Para uma menina nascida no interior do estado do Maranhão a mais de três mil quilômetros da capital carioca parecia algo quase impossível de acontecer, mas três anos de muita economia e planejamento havia permitido a família Cavalcante realizar a viagem dos sonhos.

Manuela riu abraçando a mãe e beijando seu rosto, estava radiante, sentia que aquele era o primeiro de muitos dos seus sonhos que se tornariam realidade.

- Você está mais feliz que pinto no lixo. – Brincou dona Joana mãe de Manuela abraçando-a de volta. – Nunca vi um sorriso tão grande no seu rosto.

- Eu estou muito feliz mamãe. – Concordou olhando para as ondas que beijavam a areia a alguns metros à frente. – Olha só isso, é tudo tão incrível!

- Para de fazer essa cara de boba se não todos vão perceber que somos turistas. – Gracejou seu irmão Daniel passando o braço pela cintura da esposa e puxando-a para um beijo.

- Chato! – Falou mostrando a língua para ele.

- Boboca! – Rebateu Daniel também mostrando a língua.

- Parem os dois se não os levo para o Hotel e os deixo de castigo. – Ralhou o pai com ar de troça.

Todos riram, sabiam que era brincadeira do senhor Damião, ele não conseguiria fazer o que quer que fosse sem a família, era um homem muito ligado aos filhos e a mulher e havia adotado a nora como uma segunda filha, ele não conseguiria se sentir feliz sem os seus ao lado para compartilhar cada pequeno momento, eram inseparáveis o que lhes rendeu o apelido de família Buscapé, por estarem sempre juntos.

- Na próxima viremos só nós dois não é mesmo querido? – Falou dona Joana abraçando a cintura do marido e piscando para ele.

- Com certeza. – Concordou ele rindo.

- Ei! – Protestou Manuela.

- Nem pensar! – Gritou Daniel.

- Até parece que teria graça sem a gente. – Disse Alice sua cunhada brincalhona.

-Certíssima cunhada! – Gritou Manuela tentando ser ouvida acima do som da música alta que vinha do palco e da cantoria das pessoas ao redor. – Nós é que fazemos tudo ficar mais interessante. – Declarou com um ar presunçoso.

- Verdade minha bonequinha. – Concordou seu pai tocando seu queixo com carinho.

Manuela riu feliz, adorava quando seu pai a chamava de bonequinha, mesmo que já não fosse uma menininha. Voltou-se em direção ao mar, seus olhos presos no movimento das ondas, adorava o termo carinhoso, amava saber que era a menininha de seus pais e até de seu irmão que mesmo sendo o mais novo a protegiam como se fosse de louça, mas não podia esquecer que já era uma mulher adulta, na verdade até bem madura, pois ainda que sua aparência não demonstrasse muito, algumas pequenas rugas que teimavam em surgir a lembravam que já tinha trinta e seis anos.

Sem que pudesse evitar seu olhar foi capturado pela barriguinha de uma mulher grávida que passava de mãos dadas com um homem a alguns metros de distância, provavelmente seu marido, os dois conversavam e riam enquanto paravam seu percurso para ele passar a mão carinhosamente pelo ventre distendido.

Sentiu um aperto no peito, ao ver essa cena tão tocante a poucos passos de distância, esse era um dos desejos que ainda não havia realizado e ainda que não falasse em voz alta temia nunca realizar. Ser mãe era seu sonho desde que podia se lembrar, queria construir sua própria família, uma tão unida e feliz como a que seus pais haviam criado. Desejava ter tido a sorte de seus pais de encontrarem a alma gêmea, uma pessoa que parecia ser capaz de entender até aquilo que não era dito, alguém que compartilhasse os mesmos sonhos e planos, que fosse de fato sua metade, mas não havia tido essa felicidade, pensou olhando para mão esquerda, vendo a marca da aliança que usara durante três anos.

Balançou a cabeça buscando desanuviar os pensamentos, não deixaria a tristeza tirar o brilho daquele momento único, aproveitaria ao máximo sua estadia no Rio de Janeiro, comemoraria o sonho realizado e mesmo que o tique taque de seu relógio biológico a apavorasse na maior parte do tempo, como naquele instante, estava decidida a esquecer de qualquer receio ou dissabor que pudesse encobrir sua felicidade. Mas se pudesse escolher, pedir a alguém...

Ergueu o rosto para o céu e sussurrou:

- Por favor, meu anjo da guarda, por favorzinho, eu sei que você pode me ajudar, não me deixa ser uma árvore sem fruto. – Pediu vendo surpresa uma estrela cadente cruzar o céu e cair no mar.

Podia ter feito um pedido, se recriminou ao ver o brilho cintilante desaparecer na água escura, mas ficou tão surpresa que só conseguiu ficar olhando de boca aberta, seria isso um sinal de que seu anjo da guarda a ajudaria? Ele lhe concederia o milagre? Se perguntou otimista, quem sabe logo não seria ela passeando de mãos dadas com um homem maravilhoso, esperando um filho dele? Seu coração se aqueceu diante da ideia, queria tanto se sentir amada, desejada como mulher, precisava disso para se sentir viva, mas até o momento nenhum dos poucos homens que cruzaram seu caminho foram capazes disso, pensou sentindo o coração pesar, talvez não fosse interessante o suficiente ou atraente o bastante para ter o amor incondicional de um homem, para viver uma grande história de amor, sussurrou uma vozinha cruel em sua mente.

Afastou o pensamento traiçoeiro, tudo no tempo de Deus, se disse mentalmente, tinha que ter paciência, confiar, acreditar, repetiu seu mantra pessoal, tentando jogar para o fundo da mente o sentimento ruim que queria se instalar em seu coração. Sentiu um braço passar por sua cintura um instante antes de sua mãe dizer.

- Acalme esse coração querida.

- Estou ficando sem tempo mamãe. – Sussurrou para que os seus parentes a alguns metros atrás não ouvissem, sabia que sua mãe conhecia suas aflições sem que precisasse explica-las.

- Não seja boba, você ainda é uma menina. – Repreendeu com voz suave.

- Com trinta e seis anos dona Joana? – Manuela ergueu uma sobrancelha cética. – O tempo está passando mamãe. – Repetiu suspirando. – Tenho medo de não conseguir lhe dar netos. – Confessou. – Não quero ficar para titia.

Dona Joana a olhou com ternura acariciando seu rosto suavemente.

- Meu amor você é linda, a mulher mais linda que eu conheço e não só por fora, mas linda por dentro também. – Elogiou. – Você é doce, carinhosa, você é incrível filha, não se preocupe com essas bobagens, logo, logo você encontrará um bom homem e terá os filhos que deseja e eu terei meus netos para mimar. – Brincou.

- Se sou tão incrível, então por que o Silvio...

- Shhhhh! – Dona Joana colocou o indicador sobre seus lábios calando-a. – Nós não vamos estragar essa noite maravilhosa falando daquele idiota.

Manuela riu ao ouvir o insulto e recostou a cabeça no ombro de sua mãe, dona Joana não era dada a ofensas, mas não perdoava as canalhices de Silvio e desde o divórcio seu nome foi proibido na casa dos Cavalcante, sempre que se referiam ao seu ex era com termos pejorativos como aquele, não os culpava por cultivar tal rancor, eram muito unidos e mesmo tendo tentado esconder os recorrentes erros do marido, havia ficado impossível sem a colaboração dele que fazia questão de ostentar suas infidelidades e mentiras chegando ao cúmulo de levar sua amante para a casa que dividiam.

Respirou fundo olhando para o céu tentando desfazer o nó em sua garganta, mesmo depois de seis meses a imagem permanecia viva em sua mente, seu marido em sua cama com outra mulher, ainda podia ouvir os gemidos de prazer deles, as declarações obscenas, em sua memória aparecia vivida a expressão debochada dele ao vê-la na porta do quarto olhando-os em choque.

Silvio nem teve a decência de parecer surpreso ou envergonhado, pelo contrário, parecia estar esperando-a, saiu nu de cima da moça que assustada puxou o lençol sobre o corpo enquanto olhava o desenrolar do flagrante.

- Por quê? – Manuela conseguiu perguntar com lábios trêmulos segurando corajosamente o choro.

Não havia justificativas plausíveis para tal desrespeito, mas queria que ele se desculpasse, dissesse a velha frase clichê de que não era nada do que estava pensando, mesmo que não precisasse de muita imaginação para entender o que estava acontecendo. Só queria um sinal de que Silvio não era tão mau caráter a ponto de fazer a própria casa de motel e que mesmo sendo infiel ainda tinha interesse em manter o casamento, o que evidentemente não era o caso,percebeu ao ser atinginda pelas palavras ácidas de seu marido.

- Por que você acha? – Indagou debochado. – Porque você não é mulher suficiente para mim! Por que eu quero uma mulher de verdade sem essas frescuras que você inventa... – Atacou impiedoso. – Essa... – Apontou para a mulher na cama, uma linda morena que não devia ter mais que vinte anos. – Sabe trepar, sabe fazer tudo que um cara gosta na cama, não tem essas frescuras de transar no escuro, com musiquinha romântica e todos esses seus pudores ridículos!

- Você é meu marido, tem que me respeitar! – Falou com voz embargada pelo desgosto de estar sendo exposta.

- Quer meu respeito? – Perguntou avançando sobre ela agarrando-a pelo cabelo e forçando-a a encara-lo enquanto declarava cruelmente. – Então aprende a fuder querida, porque meu pau dorme só de ver essa sua carinha de santa!

- Silvio! – Exclamou a moça na cama chocada.

- Cala a boca! – Falou ele alterado voltando sua atenção para a amante. – Estou fazendo um favor pra ela e para o próximo cara que for ter a brilhante ideia de tentar comer ela, quem sabe assim o coitado não morra de tédio.

Antes que percebesse o que estava fazendo Manuela ergueu a mão e o esbofeteou com a força vinda do ódio e do desprezo que sentia naquele momento o fazendo virar o rosto com o impacto e soltar seus cabelos.

- Saia da minha casa. – Falou em voz baixa, mas impregnada de ódio, marchou até a cama e arrancou de lá a mulher que assistia a tudo ainda deitada em seus lençóis. – Saia agora e leve esse vagabundo com você! – Ordenou pegando as roupas dos dois do chão e jogando sobre o marido. – Não quero nunca mais olhar na sua cara, eu quero o divórcio!

- Não se preocupe porque esse também é o meu desejo. – Disse vestindo a calça e agarrando a moça que acabava de passar o vestido sobre a cabeça. – Vamos querida, vamos terminar isso em outro lugar.

Manuela ficou parada, olhando seu marido partir de mãos dadas com outra mulher, os dois meio despidos, descalços, cabelos desgrenhados, evidenciando despudoradamente o que estavam fazendo, o barulho da porta se fechando ecoou como um tiro na casa silenciosa. Manuela sentiu o corpo todo tremer incontrolavelmente,  a sensação de que tinha levado um soco no estômago. Havia descoberto depois do casamento o quanto seu marido era imaturo e mimado, mas nunca imaginara o quanto ele poderia ser cruel, sentou-se na cama sentindo o peso do mundo comprimindo seu peito, seus olhos ardiam e as lágrimas que havia represado até então irromperam em uma cascata de choro convulsivo, a dor, a decepção, a vergonha, o sofrimento abraçando-a e engolindo-a, se sentiu ser partida em milhões de pedaços, se desfazendo diante da realidade do que havia acabado de ver, a mais completa humilhação do homem que havia lhe jurado amor eterno, que havia lhe prometido fidelidade e que acabava de esmaga-la e aos seus sonhos românticos como a um inseto.

Sentindo uma lágrima traiçoeira deslizar por sua bochecha Manuela despertou de sua dolorosa lembrança, queria apagar aquele dia de sua memória para sempre, esquecer a crueldade a que fora submetida, a degradação, a dor, tanta dor, limpou disfarçadamente a lágrima de seu rosto para que sua mãe não percebesse. Queria destruir aquele sentimento de inferioridade que Silvio lhe deixou, as palavras dele ecoavam em sua mente nos momentos mais inesperados a fazendo se sentir um fracasso como mulher, como agora, constatou aborrecida.

Precisava destruir essas lembranças como destruiu todo e qualquer sentimento de amor pelo ex-marido, tinha que seguir em frente constatou erguendo a cabeça de maneira altiva, não daria a ele o prazer de continuar atrapalhando sua vida, Silvio era passado, e era lá que o iria deixar, decidiu arrumando o vestido branco de algodão com detalhes em renda que vestia.

Sua mãe tinha razão, logo encontraria um cara bacana para construir sua família, pensou otimista, um homem com os mesmos sonhos, objetivos, um companheiro de verdade, alguém com quem pudesse contar, em que  pudesse confiar e se não aparecesse esse homem, tudo bem, buscaria ter seu filho sozinha, era uma mulher adulta, independente, só precisaria de alguém para engravida-la, o que não deveria ser algo tão difícil de conseguir.

Respirou fundo pensando na dificuldade que seria ficar nua na frente de um homem que não fosse seu marido ou por quem não tivesse um apego romântico, não sabia se seria capaz, pensou sentindo o desânimo envolve-la novamente.

- Deixa disso Manuela. – Repreendeu a si mesma, chamando a atenção de sua mãe.

- O que? – Indagou dona Joana curiosa.

- Eu disse que vou dar uma volta. – Mentiu.

- Não acho que seja uma boa ideia Manu. – Falou olhando desconfiada ao redor. – Melhor ficar perto de nós, aqui tem muita gente, você pode se perder. – Aconselhou.

- Mamãe pelo amor de Deus. – Reclamou. – Não sou mais criança!

- Você vai ser sempre meu bebê. – Olhou reprovadora para Manu. – Não importa a idade que tenha.

Manuela sorriu e beijou a testa de sua mãe, não era nenhuma novidade ouvir tal declaração, mas sempre que dona Joana dizia sentia um calorzinho gostoso se espalhar por seu peito.

- E se eu prometer não me perder posso dar uma volta? – Pediu com um sorriso doce que sabia que ela não poderia resistir. – Não vou muito longe. – Garantiu para tranquiliza-la.

Dona Joana a olhou por alguns segundos com o cenho franzido, olhou para o marido que acompanhava a conversa de longe e então voltou a encarar Manuela.

- Certo. – Concedeu. – Mas não demore, daqui a pouco será a queima de fogos e quero que estejamos todos juntos para ver.

Manuela balançou a cabeça em concordância e começou a se afastar, mas parou ao ouvir a mãe dizer.

- Lembre-se que estamos perto dessa barraca de água de coco. – Apontou para a barraca movimentada ao fundo que se diferenciava das outras pela bandeira do Brasil no topo. – Não vamos sair daqui. – Garantiu.

Manuela sorriu e fez um sinal de positivo com o polegar, continuou seu caminho com passos lentos se misturando a multidão de pessoas que lotavam a praia, descalça sentiu os pés afundando na areia, os grãos deslizando por entre seus dedos. Após desviar do terceiro cara meio bêbedo que tentou passar a mão em sua bunda, resolveu caminhar mais próximo da água, pulando assustada quando a primeira onda lambeu seus pés.

Riu divertida, ergueu a barra do vestido e voltou-se de frente para o mar admirando sua imensidão misteriosa e escura, a lua naquele dia era apenas um filete no céu, mal iluminando as águas do oceano, sentiu outra onda  tocar seus pés e sem que percebesse começou a pula-las, lembrou-se que alguém, não recordava quem, havia dito que se quisesse realizar um desejo, deveria pular sete ondas e fazer um pedido a cada onda que pulasse. Não acreditava muito nisso, mas não viu mal nenhum em arriscar.

Ergueu mais o vestido, até a altura dos joelhos e começou o ritual. Pulou a primeira onda e pediu baixinho.

- Saúde e prosperidade para mim e minha família.

Pulou a segunda onda e continuou.

- Tempo para viver tudo aquilo que sonho.

Pulou a terceira onda.

- Juventude eterna. – Pediu com um sorriso brincalhão, não custava nada aproveitar a oportunidade.

Pulou a quarta onda.

- Que eu consiga ter filhos, formar minha família e que sejamos muito felizes.

Pulou a quinta onda.

- Que eu encontre um homem incrível, lindo, carinhoso, um herói. – Olhou para o céu antes de completar. – Porque eu preciso de um herói para ser salva dos homens idiotas desse mundo.

Pulou a sexta onda.

- Gentil, generoso, apaixonado...

Pulou a sétima onda.

- Que faça tudo por mim e por nós. – E completou ofegante ao sentir o impacto do pé com a areia. – E que me ame como nunca amou ninguém, que seja a minha metade. - Concluiu.

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