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Capítulo 7.

Apertei com força as três folhas de papel preenchidas em frente e verso entre os dedos, como se pudesse dar vazão à sensação que sufocava minha garganta. Sentada na grama há mais de uma hora desde que encontramos o corpo, mais uma vez lutava contra as lágrimas que ameaçavam cair. Se eram de pena pela alma de alguém que nunca conheci, pela família arrancada de seus braços ou por mim mesma, ainda faltava descobrir.

Respirei fundo e meu olhar se perdeu em Leonardo, que saía do celeiro segurando mais um saco grande de ração para galinhas sobre os ombros. Como os outros dois que trouxera, este também já havia sido aberto e guardava uma nova mistura de comida, pois a ração original já estaria vencida há meses. Dentro do galinheiro que voltou a ter o seu portão fechado por nós, duas galinhas o encaravam do poleiro e uma terceira ciscava o chão, alheia aos arredores. Provavelmente não tiveram a coragem das outras de sair para explorar e resolveram ficar e aguardar, sem saber que esperavam por um milagre.

Um arrepio cortou minha coluna quando percebi que, dessa vez, Leonardo também saía com a espingarda que encontramos junto ao cadáver, o que indicava que finalmente havia se aproximado dele. Gostaria de dizer que foi o cheiro insuportável da decomposição ou o estado mutilado em que o corpo se encontrava após um tiro à queima-roupa que me impediram de voltar lá, mas qualquer um de nós sabia que eu já estava suficientemente acostumada com qualquer uma daquelas coisas para usar essas desculpas.

A verdade é que desde que havia lido em voz alta pela primeira vez as palavras encontradas naquelas folhas de papel (apesar da insistência de Leonardo para que eu não o fizesse), tive um medo profundo de olhar novamente para o corpo. Medo do desespero que aquela realidade me causava, da falta de esperança que sugava minha vida como um vácuo quando pensava no final feliz que lhe fora negado por aquele mundo onde a felicidade nunca prosperava.

Desde então, não consegui esquecer nem por um segundo das suas palavras, escritas em uma caligrafia bonita e apertadas entre apenas três folhas de papel A4. Criei uma face para a Deusa Injusta na minha mente e não gostei do que vi. Pensei em quantos tempo restava antes que o inevitável ódio cego dela também caísse sobre mim.

"Que ela dê mais tempo a você do que deu a mim, fantasma."

E quanto seria isso, afinal? Dias? Meses? Até ver tudo o que me deu forças para continuar até aqui trucidado numa cena macabra que somente aquele apocalipse podia propiciar... Eu a causaria, ou simplesmente seria incapaz de impedir a catástrofe?

Funguei algumas vezes enquanto observava Leonardo, passando por onde eu estava para deixar os sacos de ração perto da casa, à mão para a hora em que partíssemos. Havia trazido algumas ferramentas em bom estado, além de mais uma pistola e um revólver. Absolutamente sem qualquer ajuda de minha parte, porque não encontrei força para sair de onde estava sentada, perto do lago. Ele estava sem camiseta, a pele úmida de suor graças ao esforço e ao sol forte que brilhava no céu sem nuvens. Depois de largar o saco de ração e as armas na entrada da casa, veio até mim.

— Como você tá? — perguntou, passando o braço pela testa para secar o suor. — Ainda tá mexida com a carta?

Mordi o lábio inferior, como sempre incomodada com a falta de rodeios com a qual ele tocava em assuntos difíceis. Limpei o rosto antes de encará-lo nos olhos.

— Um pouco...

— Você não acha que-

— Ei, Rebeca, Léo — Ouvi a voz de Guilherme atrás de mim. Ele também havia ficado abalado com a carta, mas não o impediu de trabalhar. Parou diante de nós e lançou um pêssego para Leonardo. — Peguei pra vocês. E Rebeca, toma, pra você não torrar no sol. Eu e o Léo já passamos.

Estiquei as mãos para pegar tanto o tubo de protetor solar quanto o pêssego que ele jogou no meu colo.

— Você foi até as árvores? — perguntei, embora já estivesse óbvio.

— Sim, tudo limpo lá — Guilherme parou na nossa frente e deu uma mordida no pêssego que tinha em mãos. O boné branco fazia sombra em seus olhos. — Tem o corpo de um zumbi, mas acho que bate com o que o cara contou na carta. Também passei pelas plantações, têm muita coisa boa: cenoura, repolho, batata, brócolis... Fora os pessegueiros, que estão carregados, têm mais árvores frutíferas: jabuticabeira, acero... acelore-

— Aceroleira? — Leonardo completou, deixando um riso escapar. Fui incapaz de conter um sorriso. Deixei o pêssego ao meu lado e abri o tubo de protetor solar, porque de fato já sentia minha pele quente.

— Isso, essa porra aí. Era essa fruta que a Vic disse que adorava, né? Ela vai ficar maluca quando chegarmos! — Guilherme abriu um sorriso genuíno e comeu o resto do pêssego. Então seus olhos verdes correram de Leonardo para mim. — E aí, tudo bem?

— Mais ou menos — Leonardo respondeu, dando uma mordida na fruta, sem tirar os olhos de mim.

Olhei de um para o outro enquanto passava o protetor no rosto. Estavam os dois de pé ao meu redor e fiquei incomodada com a diferença de altura, sentindo-me exposta demais por ter toda a atenção que recebia. Fiz menção de me levantar, ao menos para não erguer a cabeça enquanto falava com eles. Antes disso, Guilherme jogou o caroço do pêssego para trás e se ajoelhou atrás de mim.

— Dá aqui, deixa que eu passo nas suas costas — ofereceu, esticando a mão para pedir pelo protetor solar. Entreguei, um pouco relutante. — Você ainda tá pensando naquela carta, né? — Senti as mãos de Guilherme nos meus ombros, abaixando as alças da minha regata para tirá-las do caminho. Só percebi o quão quente estavam minhas costas quando senti o frescor do protetor, junto ao cheiro de praia que invadiu meus sentidos. — Eu confesso que também tô mal. Não paro de pensar que a gente conhece tanto da vida desse cara e, ao mesmo tempo, sequer sabe o nome dele...

Respirei fundo, relaxando enquanto sentia Guilherme espalhando o protetor. Leonardo terminou seu pêssego e levou a mão ao bolso para pegar a bandana (a que tinha um zumbi estampado, que ele só usava porque achava de mau gosto) e amarrá-la na testa, tirando o cabelo do rosto. Somente pela tranquilidade que caiu entre nós, fiquei confortável para falar:

— Eu... só não consigo parar de tentar encontrar um sentido pra tudo isso — admiti, soltando o ar. — Encontrar uma alegria que ele nunca teve e terminar do mesmo jeito que todas aquelas pessoas que encontrávamos dentro das casas em Florianópolis, ainda no começo do apocalipse... Me faz pensar que não dá pra fugir desse destino.

— Rebeca, se você ficar procurando por um sentido nesse mundo, vai ficar maluca — Leonardo me respondeu, abaixando-se para ficar da minha altura: — A vida já não tinha uma lição de moral antes, e tem menos ainda agora. Pessoas viviam na miséria ao lado de quem nunca soube o que é sofrer muito antes do apocalipse. — Ele apontou com o queixo em direção ao celeiro fechado. — Sabe como se foge desse destino? Vivendo. Fazendo o máximo que podemos com tudo o que nos resta e entendendo que é inevitável sofrer. Muito. Mas viver é isso, um cair e se erguer eternos.

— Eu... não discordo de você — falei. — Só começo a pensar que... não sei mais se compensa. Dar tudo de nós para viver nessa realidade de merda, para no final terminarmos do mesmo jeito de quem sequer tentou. — Suspirei, então percebi minhas palavras e me apressei a adicionar: — Eu não tô dizendo que também vou... fazer o que ele fez. Vou viver porque é tudo o que me resta, mas... Fica difícil pensar que vale a pena.

— Olha, eu entendo o que você tá dizendo. — Guilherme começou, a voz próxima ao meu ouvido, devido nossa proximidade. — Só que assim, se você quer ser influenciada pelas coisas que esse cara falou, também tem que pensar na parte boa. "A vida é uma arte a ser aperfeiçoada" ou algo assim, não é? — Senti as mãos de Guilherme passando pelos meus braços, limpando o excesso de protetor solar. — É o que você falou: "viver porque é tudo o que nos resta", então no mínimo podemos tentar tirar o máximo disso.

— Sabe, antes de... tudo isso — Leonardo deu de ombros e abriu os braços, sinalizando para os arredores. — Eu lia bastante sobre crimes reais, tragédias e essas coisas. O problema é que quando você foca muito nas coisas ruins, é normal ficar mal e achar que o mundo se resume a isso. Só que você está simplesmente ignorando toda a beleza que resta no mundo, a arte, as pessoas... Era isso que eu pensava, na época, e o que sempre me ajudava era justamente tirar a cabeça desse buraco escuro. Dar uma volta, sentir o sol na pele, a grama sob os pés... Ver que o mundo ainda gira, entende?

— É tipo o luto, né? — Guilherme disse, sentando-se ao meu lado e sem olhar para nenhum de nós. — Que enquanto estamos passando por ele, pensamos que a dor nunca vai passar ou que é impossível ser feliz, mas... O tempo continua correndo e você aos poucos se recupera. Acho só que é importante não se deixar vencer pelos momentos ruins.

— No fim, o vento vai continuar soprando. Temos que ficar vivos para sentir a brisa. — Leonardo concluiu e se ergueu, esticando os braços ao se espreguiçar.

— Eu... acho que precisava ouvir isso — murmurei, ainda que meus pensamentos continuassem bagunçados. Eu concordava com tudo o que eles diziam e sabia que, em outra situação, poderia enxergar com mais clareza, mesmo que no momento meu coração estivesse nublado. — Obrigada, meninos.

— Mas sério, Rebeca, você devia tirar um tempo para descansar. — Guilherme disse — descansar a cabeça, dormir, ler alguma coisa e se divertir... Não fazer algo pensando no quanto isso vai ser útil pro grupo.

— No fim, também tem bastante coisa útil para levar daqui, principalmente comida. — Leonardo comentou, olhando para a plantação de pêssegos. — A gente tinha falado em ir e voltar no mesmo dia, mas acho que é negócio passar a noite aqui e levar o máximo possível amanhã. Incluindo a égua.

Guilherme abriu um sorriso:

— A Canela é muito querida, aliás. Eu quero tentar montar nela mais tarde.

— Beleza, mas se você cair e quebrar a cabeça, vou te deixar aqui pra ser comido pelo primeiro zumbi que aparecer — Leonardo avisou e arrancou uma risada de Guilherme. — Aliás, você falou em jogar bola, né? Tem uma de vôlei dentro da casa. Busca lá pra gente jogar um pouco.

Enquanto Guilherme se levantava num pulo como um cachorrinho contente, senti meu estômago roncar e lembrei do pêssego abandonado ao meu lado. Dei uma mordida na fruta e fechei os olhos, apreciando o sabor doce, o cheiro de praia e o toque do sol na pele. As palavras dos meninos voltaram à minha mente, o que não me permitia relaxar totalmente, mas pelo menos também não dava espaço aos pensamentos intrusivos envolvendo aquela carta.

Quando abri os olhos, deparei-me com os de Leonardo fixos aos meus, um sorriso estampando seu rosto bonito. Ele me estendeu a mão.

— Desculpa se parece que eu pego no seu pé. Sei que você deve estar enfrentando o inferno na sua cabeça, mas é por isso mesmo que eu me preocupo. — falou, enquanto eu alcançava sua mão e aceitava a ajuda para levantar. — Agora, vem aqui, quero te mostrar uma coisa bonita.

— Não se preocupa, eu que fico feliz por vocês se importarem.

Sem soltar nosso aperto, Leonardo me guiou até a borda do lago, que por se tratar de uma construção artificial, tinha menos de 1,2m de profundidade. Com cuidado, ele afastou uma mecha de cabelo que caía sobre meus olhos.

— Eu sei que esse mundo quase sempre é uma merda. Eu sei que você tem medo que tudo acabe amanhã. Acredite, eu também tenho. Não faz nem sete meses que perdi minha mãe, que tive que escolher não levar ela pro hospital porque já não tinha esperança, mas se eu fosse junto com vocês, conseguiríamos salvar mais gente. — Leonardo soltou um suspiro cansado. Eu sabia que ele e Guilherme já tinham falado sobre aquele assunto até a exaustão, porque Gui sempre me contava, impressionado, sobre a maturidade que o mais velho tinha. — Eu só quero que você lembre que também tem coisa boa. O apocalipse me tirou tudo, mas nele eu também já fui capaz de me sentir mais feliz do que eu era no mundo de antes. Você é um dos motivos, acho que nunca me dei tão bem com outra pessoa.

Acompanhei seu olhar, sentindo seu tom acalmar meu coração. O dia estava tão claro que o sol machucava os olhos, mas a superfície do lago brilhava como se refletisse milhares de estrelas. Aquilo talvez fosse o que mais sintetizava aquele mundo para mim: apesar de estar diante de um horizonte perfeito, bastava alguns passos para eu chegar ao celeiro que abrigava meu último pesadelo. Ainda assim, pelo menos naquele momento, eu podia escolher para onde olhar.

— Ei! — Mais uma vez ouvi a voz de Guilherme atrás de nós e, pega de surpresa, senti meu coração disparar ao perceber que ainda segurava a mão de Leonardo. Por alguns segundos, pensei que ele iria se referir àquilo, mas ele apenas se aproximou, ao nosso lado: — Vocês acham que dá pra nadar nisso aí? Tá um calor do caralho.

— Cara, não sei. — Leonardo falou e eu percebi o brilho mal-intencionado nos seus olhos quando ele levou as mãos às costas do amigo. — Descobre aí pra nós!

No segundo seguinte, Guilherme caiu na água de roupa e tudo, respingando a água gelada para todos os lados.

— Leonardo! — Repreendi, indignada com a criancice.

Mas ele já estava descalçando os coturnos e meias. Antes mesmo que Guilherme reaparecesse na superfície, Leonardo já tinha abaixado a calça jeans e pulado para dentro do lago, apenas de cueca — e fazendo água respingar em mim mais uma vez.

— Puta que pariu! — Guilherme esbravejou, sacudindo a cabeça para afastar os cabelos compridos e molhados do rosto. — Eu tô de tênis, inferno!

No segundo em que viu o moreno sorrindo com deboche ao seu lado, pulou para cima dele, a fim de puxá-lo para baixo d'água. Tentativa frustrada com facilidade pela movimentação de Leonardo e terminando com Guilherme no fundo do lago. De novo.

Cobri a boca com as mãos, incapaz de conseguir conter a gargalhada, enquanto eles brigavam como dois moleques. Demorou quase dois minutos inteiro de água sendo jogada na cara um do outro, para finalmente pararem, com as respirações pesadas.

— A água tá boa? — Perguntei, ainda rindo. Pensei no quanto Mei teria odiado aquela água respingando, se estivesse ali conosco.

— Tá fria pra caralho! — Guilherme respondeu.

— Tá uma delícia, entra pra você ver.

— De jeito nenhum! — gritei.

O que definitivamente não foi a coisa certa a se dizer. Na verdade, ficou claro pelo olhar cúmplice que trocaram que havia sido exatamente a pior combinação de palavras possíveis.

— Não, não! Eu tô falando sério! — Tentei, afastando-me passo a passo enquanto os dois se apressaram para sair da água. Queria parecer séria, mas provavelmente ostentava um sorriso que não queria sair do meu rosto.

Completamente encharcado, Guilherme começou a descalçar os tênis com uma mão enquanto erguia três dedos da outra.

— Três segundos. Tira toda a roupa que você não quiser molhar.

— Eu não quero, por favor! — Implorei, mas bastou olhar de um para o outro para entender que eu não tinha escolha.

Tive apenas tempo de descalçar os coturnos e tirar a calça jeans antes de ser agarrada por baixo dos braços e tornozelos. O toque frio de suas peles já denunciava a temperatura da água e não importou o quanto eu os ameaçasse ou me debatesse, fui embalada como uma criança uma, duas vezes, antes de ser lançada como um saco de farinha para dentro do lago.

Tranquei a respiração e afundei numa água fria como o inverno, sem vontade de sair dali. Ouvi os sons de mergulho abafado que indicavam que os garotos também haviam voltado e, quando retornei à superfície, inspirei profundamente o ar morno do verão, apesar de todo o meu corpo estar enrijecido.

— Eu vou matar vocês dois! — Gritei, sem qualquer traço de seriedade na voz, enquanto tentava me recolocar em pé.

— Beleza, mas espera acabar o jogo de vôlei. — Leonardo avisou.

Quando abri a boca para retrucar, jogou água no meu rosto com o braço, no que Guilherme aproveitou a chance para finalmente conseguir puxá-lo desprevenido para baixo d'água.


✘✘✘


Com a respiração errática, lutei para recobrar o fôlego enquanto me deitava na grama quente e macia, ao lado de Guilherme.

Mesmo acostumada com a academia e o eventual embate contra zumbis, depois de quase uma hora inteira jogando vôlei dentro do lago, todo o meu corpo doía de exaustão. Guilherme havia saído alguns minutos antes, porque a água fria e o esforço fizeram seu braço começar a doer, então eu e Leonardo seguimos por mais algum tempo com a tarefa de tocar a bola um para o outro sem deixá-la cair.

Atirei-me na grama, sentindo o cheiro do verão, das flores doces dos pessegueiros e aproveitando o sol do meio dia que aquecia meu corpo. Minha barriga roncava de fome, os braços protestavam pelo esforço contínuo e eu percebi que não me sentia feliz assim há muito tempo.

Quando abri os olhos, vi Leonardo ainda dentro do lago, apertando cuidadosamente os dreads encharcados para secá-los. Como era o mais alto, a água batia na altura do seu abdômen, enquanto quase passava do meu peito.

Observei sem pressa seu maxilar quadrado, delineado por um cavanhaque alinhado e os olhos verde-claros que contrastavam com a pele marrom, agora parcialmente encobertos pelos dreads molhados. Assim como as tatuagens, gotículas brilhantes de água cobriam todo seu corpo forte, os músculos definidos evidentes depois do exercício que fizemos. Pensei no quanto gostava de tocá-lo, e do fervor com o qual ele me retribuía. Suspirava pela forma como me sentia segura ao seu lado, em como era sério e maduro na mesma medida que me fazia rir como uma criança. Eu sabia que podia contar com ele pra tudo.

Quando virei a cabeça na grama, deparei-me com os olhos verde-escuros de Guilherme, que expressavam curiosidade.

Então observei seu peito subindo e descendo, evidenciando o mesmo cansaço que eu sentia. A pele tinha um bronzeado dourado que criava contraste com o loiro dos cabelos compridos. Ele era um pouco mais alto que eu e, apesar de não ter tantos músculos, eu gostava de como seu corpo era definido. Passei a mão por um fio de cabelo úmido grudado na altura de sua clavícula e senti seu coração acelerado — e percebi que o meu também estava. Guilherme era intenso em tudo o que sentia. Amava da mesma maneira todos os assuntos com os quais frequentemente perdíamos horas discutindo. Pensei no quanto gostava da casualidade com a qual ele me tocava, como se conhecesse meu corpo tão bem quanto eu.

Quando uma brisa leve nos atravessou, senti um frio que não condizia com a estação. Uma necessidade tão visceral de um toque que só naqueles dois eu encontrava. Tão claro quanto o sol que machucava meus olhos, percebi que os amava. Que não queria que aquele dia acabasse. Percebi o quanto eu desejava que ambos soubessem o quanto me enchiam de vida, e o quanto esperava que pudesse fazer o mesmo para eles.

Sentindo as gotas que indicavam que Leonardo saiu do lago, encostei minha mão no rosto de Guilherme e percebi a aspereza da barba recém feita. Seus olhos estavam fixos nos meus e suas sobrancelhas franziram levemente. Ainda assim, quando me aproximei para tomar seus lábios, ele respondeu de imediato.

Embora certamente soubessem que eu ainda ficava com ambos, nunca fazíamos nada nem remotamente íntimo quando estávamos os três juntos. Ou sequer tocávamos no assunto — exceto por duas provocações de Leonardo em ocasiões diferentes, que me deixaram igualmente mortificada.

Beijei Guilherme apesar de qualquer dúvida, sentindo o calor da sua boca na minha enquanto compensava sua incerteza puxando-o para perto. Levei uma mão até seus cabelos, como gostei de fazer na única vez em que fomos para a cama desde que nosso grupo se uniu com os sobreviventes da escola, e senti sua respiração descompassada contra a minha.

Afastei-me com um expirar pesado, recobrando o fôlego enquanto sorria para a expressão assustada de Guilherme. Senti o sangue bombear por todo o corpo numa adrenalina que eu só sentia quando minha vida corria risco. Quando busquei Leonardo com os olhos, encontrei em sua face uma curiosidade tentadora, próximo o suficiente para que bastasse eu me sentar para alcançar seu pescoço e buscar seus lábios com a mesma vontade que beijei Guilherme.

Diferente dele, Leonardo reagiu de imediato, envolvendo meu corpo com o braço para me pressionar contra ele. Assumiu o controle daquele beijo com uma facilidade que me deixava sem ar e me obrigava a segurar no seu bíceps como se eu precisasse me salvar do afogamento. Exatamente da maneira que ele gostava.

Quando nos separamos, joguei a cabeça para trás e meus cabelos molhados chicoteando nas costas. Sentia o rosto queimando com um calor que sequer condizia com o sol do meio dia. Meus lábios formigavam e só abri os olhos depois de vários segundos, sem saber se estava pronta para lidar com o que quer que tivesse feito. E, mesmo assim, as palavras escaparam com naturalidade:

— Eu amo vocês dois. Obrigada.

Soltei a respiração que eu não sabia que prendia, com o coração acelerado como nunca achei que gostaria de sentir. Guilherme se sentou, o rosto estampado com uma surpresa que me dava vontade de rir. Enquanto Leonardo retribuía meu olhar com um sorriso que deixava os dentes brancos à mostra.

Quando ele desviou suas íris, demorei a perceber que nenhum deles olhava mais para mim. Era para um Guilherme claramente corado que Leonardo dirigia o sorriso.

— Anda, vem cá — chamou, com uma voz arrastada e a respiração pesada.

Senti um arrepio percorrendo meu corpo quando entendi o que ele pretendia ao esticar o braço para alcançar a nuca de Guilherme, da mesma forma que fez comigo. Observei, surpresa, quando o garoto mais novo seguiu seu movimento e se aproximou dele.

A única coisa que me surpreendeu ainda mais foi o quanto gostei de ver quando os dois também se beijaram. 


✘✘✘


Nota da autora:

Se vocês acham que sofrem, saibam que eu estou há mais de UM ANO ESPERANDO POR ESSE MOMENTO!!!!!!!

É 23:37 e eu nem sei o que escrever porque acho que nada vai expressar o que eu quero dizer de verdade!!! Foi ainda no meio de Em Desespero que eu canonizei esses três na minha cabeça e me esforcei MUITO para guardar comigo até a mais oficial das confirmações porque eu não queria estragar a experiência de ninguém 🥺

Vejam bem, eu nunca quis surpreender ninguém (mas se surpreendi, me falem!!). Na verdade, sempre fiquei muito feliz vendo que a maioria torcia por isso, porque no fim isso significa que eu consegui passar como essa relação tinha muita coisa não dita desde o começo.

Acho que esse foi um dos capítulos mais difíceis de escrever da minha vida ATÉ HOJE (o próximo então...), na questão técnica mesmo sabe kkk Eu tinha tanta expectativa e sei que vocês também tinham, então sentia que não podia apresentar nada menos do que o meu máximo. 

Eu amei esse capítulo e espero que vocês também amem 🖤

Aliás, fun fact: uma das minhas inspirações para esse final foi a cena de Elite que mora em um triplex na minha cabeça até hoje, quando a Carla beija o Polo e depois o Christian. Espero ter explodido vocês da mesma forma que eu explodi quando assisti 🤯

Eu tô muito feliz!!! 

Aliás, o capítulo demorou porque eu, bem... Precisei escrever ele inteiro hoje pois estava completamente disfuncional de alcoolizada ontem, se é que me entendem 😎🚩⭐ 

(eles estavam certos, é o fim da família tradicional!!!!!!)

Por favor, mais do que tudo: peço perdão por ainda não ter conseguido responder todos os capítulos anteriores!! Quem acompanha minhas histórias há mais tempo sabe que eu leio e respondo praticamente tudo, mas vou falar para vocês que essa postagem dupla de livros tá realmente me exigindo MUITO. Confiem em mim como já pedi para confiarem outras vezes que eu vou colocar tudo em dia!!!

Mas por favor, não deixem de comentar!! Estarei acordada de madrugada atualizando esse capítulo para acompanhar cada surtinho!!!! É a minha maior alegria poder viver essa história junto com vocês 🖤

Lembrem-se também: nunca deixem de fazer máximo que podem com tudo o que vos resta 

Meus amores, o maior beijo que posso desejar hoje!!! 🥰🥰

Não sejam mordidos, porque eu amo estar aqui com vocês.  

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