Capítulo 66.
Não muito tempo depois que Valentina saiu do quarto, comecei a ouvir vozes em frente à porta. Deduzi que o resto deles estivesse se recolhendo para dormir, considerando que ela ficava em frente à escada.
Duas garotas sussurravam entre risinhos sob a voz mais alta de Lorenzo. Pareciam trocar provocações ou se divertir às custas de algo e tive vontade de revirar os olhos. Não conseguia entender o que exatamente falavam, até que ele interrompeu as meninas:
— Anda, subam logo. Eu já estou indo, só vou deixar o Domi de guarda. — Seguido de mais risadinhas e um barulho estalado que me pegou de surpresa, mas supus que ele apenas tinha batido na bunda de alguma das garotas, pelo gritinho que seguiu. As vozes delas se distanciaram junto com seus passos, então Lorenzo limpou a garganta e chamou: — Dominic!
— Que foi? — A voz dele estava mais distante, mas logo ouvi seus passos indicando que havia se aproximado.
— Você vai ficar aqui embaixo de guarda com a menina.
— O que?! Mas todo mundo já subiu!
— Exatamente. Ainda estamos com uma refém e alguém precisa garantir que ela não vai tentar nada — Lorenzo respondeu, em tom complacente.
— Mas eu achei que... Eu e a Andie...
— Não se preocupa, a Andie vai dormir lá no quarto comigo e com a Lou. Não vamos deixar ela sozinha.
Eu prestava atenção como se estivesse assistindo a uma novela. Dominic pensava que iria ficar com a garota, mas na verdade ela dormiria com Lorenzo e Louise. E, pelos sussurros e gracinhas, não parecia que eles pretendiam, de fato, dormir.
— Ah, Lorenzo! Não é justo, eu e ela estávamos...
— Cara, você realmente achou que a Andressa estava interessada em você? — Lorenzo deixou uma risada carregada de sarcasmo escapar. — Nem você é tão burro assim, Dominic. — De divertido, seu tom se tornou ameaçador em segundos: — Agora vê se cala essa boca e obedece a ordem que acabou de receber! Eu estou subindo agora, então não se atreva a me chamar, entendeu?
Alguns segundos de silêncio carregados de tensão.
— Eu entendi, Lorenzo — Dominic falou, sequer sendo capaz de esconder o desprezo na voz.
Se Lorenzo notou, não falou mais nada e ouvi seus passos enquanto subia a escada, seguidos de murmúrios furiosos do outro homem. Eu estava concentrada tentando entender o que dizia, quando fui pega de surpresa com a porta do quarto sendo aberta repentinamente.
Dominic entrou sem falar nada, mas a tensão em seus movimentos era evidente. Isso, e o quão bêbado estava. Fechou a porta com um baque que fez Mei latir do lado de fora e meu coração acelerou, porque só então havia pensado na possibilidade de um zumbi aparecer e encontrá-la amarrada e vulnerável. Comecei a sentir dificuldade para respirar, então tentei me agarrar às palavras de Valentina de que o grupo de Esperança tinha interesse em cães, e por isso não faria sentido deixá-la exposta se achassem que havia qualquer risco de um morto-vivo aparecer.
Quando consegui me acalmar minimamente, percebi que Dominic já havia deitado na cama onde eu estava amarrada. Pelo reflexo do espelho na parede, podia vê-lo segurando um revólver na mão e brincando com o tambor. Meu cérebro meio bêbado pensou em oferecer uma proposta implícita de paz, comentando que sentia muito por estragar a noite dele, mas quando ergui os olhos para o seu rosto, percebi que ele já estava olhando para mim pelo espelho.
Ajeitei a coluna, incomodada pela forma como ele podia me observar e me sentindo ainda mais consciente do fato de estar amarrada. A iluminação da sala entrava pela porta entreaberta e clareava suas feições, também tornando impossível que eu tentasse cortar a corda sem que ele percebesse.
Suas pálpebras estavam pesadas, deixando seu olhar ainda mais intenso e desconfortável. Quando o desviava do meu rosto, eu sabia que estava passando pelo meu corpo. Conscientemente ou não, ele tirou uma das mãos do revólver e pousou na própria coxa, e foi nesse momento que não consegui me segurar:
— Eu preciso ir ao banheiro.
Minha voz pareceu ter quebrado alguma linha tênue que o trouxe de volta ao mundo real e ele limpou a garganta, ajeitando-se na cama.
— Como é? — perguntou, então coçou os olhos com a mão. Sua voz estava áspera e pesada, provavelmente antecedendo uma ressaca.
— Por favor, eu preciso muito ir ao banheiro — pedi, com a mesma voz baixa que usei com Lorenzo. — Valentina me trouxe água e... agora eu preciso muito ir.
A pior parte era que, depois de tocar naquele assunto, era impossível negar a vontade real que estava sentindo.
— Sinto muito, garota. Você vai ter que segurar ou fazer aí mesmo. — Ele deu de ombros. — Não posso te soltar.
— O que?! Eu não posso! Por favor... você me solta, eu vou, e depois me prende de novo. Ninguém precisa saber e não é como se eu fosse conseguir fazer qualquer coisa — tentei argumentar, mas a expressão quase entediada mostrava que não parecia nem disposto a cogitar. Então, pensei em como poderia atrair sua atenção e quis morder minha própria língua com o nojo que senti quando falei: — Você pode me revistar. O quanto quiser.
Minhas palavras de fato atraíram a atenção dele, que me encarou pelo reflexo no espelho. Então, vi um sorriso cafajeste se desenhando em seu rosto:
— Tá me parecendo que você quer que eu te reviste.
Aproveitei a vontade genuína de desviar o olhar daquela cara nojenta e fingi timidez enquanto sussurrava:
— Por favor. Eu preciso muito ir...
Ele continuou parado apenas me olhando por mais alguns segundos e eu já estava perdendo a esperança quando finalmente se levantou da cama. Com um susto, aproveitei os curtos segundos em que não podia me ver pelo reflexo para ajustar o canivete dentro da minha calça, torcendo para que a linha do jeans o disfarçasse na revista.
— Olha, tá bom — falou e apesar da voz dura, sua expressão parecia ansiosa. — Mas você precisa ser rápida, entendeu? E ficar quieta.
— Prometo não causar problemas para você.
A minha intenção não era soar mais do que apenas uma garota indefesa, mas ele devia ter entendido como um flerte pela forma como abriu um sorriso. Tranquei o ar quando senti seu corpo se aproximando do meu, talvez até mais do que o necessário para simplesmente erguer a perna da cama que me prendia. Senti o cheiro forte de álcool em seu hálito e, quando sua mão roçou no meu peito, quase instantaneamente todo o meu nojo se transformou em medo.
Eu não tinha qualquer plano. Havia sido apenas uma tentativa desesperada de sair daquela situação, mas talvez eu só tivesse piorado tudo. Peguei-me pensando no que aconteceria se ele tentasse alguma coisa e eu gritasse por socorro. Se Lorenzo ou algum outro homem realmente se importasse em aparecer, qual de nós estaria ferrado?
Senti um arrepio correr meu corpo quando ele segurou meu braço, mas felizmente (ou não, pela força do aperto) foi apenas para me levantar. Dominic era bons centímetros mais alto do que eu e claramente muito mais forte, e aquela constatação não me trazia qualquer tranquilidade. Eu já tinha sentido medo de coisas parecidas antes, mas nunca antes toda a situação parecia tão... real.
Ele abriu a porta e me arrastou pela sala de estar, onde a lanterna-lampião ainda estava aberta e ligada, gastando as pilhas. Diversos copos e taças estavam espalhados pela mobília, assim como garrafas meio vazias e latas de cerveja. Explicava bem porque todos pareciam tão bêbados.
Dominic me levou até a frente de uma porta e a abriu, revelando um banheiro pequeno. Meus braços ainda estavam amarrados atrás das costas, por isso apenas aguardei, olhando para ele por cima do ombro e esperando que minha expressão impaciente sugerisse o que faltava.
Precisei engolir um grito quando senti suas mãos passando pela minha cintura.
— Primeiro eu vou te revistar, como você pediu — falou, a voz propositalmente arrastada tão próxima ao meu ouvido que me deu vontade de vomitar toda a bebida que Lorenzo me obrigou a beber.
Diferente de quando Miguel teve de me revistar por ordem do líder, ele não tinha qualquer pressa e me apalpava sem pudor. Apertei os dentes e me forcei a respirar fundo, tentando me distrair com qualquer coisa. Observei pelo que pareceram horas uma aranha passear por sua teia no canto da parede, sentindo suas mãos descerem pelo meu corpo. E, por pior que aquilo fosse, Dominic estava tão focado em apalpar meus peitos e bunda que não passou nem perto do canivete na lateral da calça.
Por mais que o tempo tivesse parecido se arrastar, felizmente aquele inferno terminou quando suas mãos se afastaram de mim para desfazer o nó apertado nos meus pulsos. Foi quase doloroso sentir meu sangue voltar a circular.
— Você tem dois minutos, entendeu? — ele sussurrou, segurando mais uma vez o meu braço para aproximar meu rosto da sua boca. Era impossível ignorar o cheiro forte de álcool. — Vou te esperar aqui fora.
Assenti, sem confiar na minha capacidade de pronunciar mesmo um "sim".
Assim que entrei no banheiro e fechei a porta atrás de mim, precisei engolir a vontade avassaladora de chorar. Sentia-me imunda por permitir que ele me apalpasse daquela forma e, ainda pior, forçar uma atitude que não o fizesse desconfiar do meu nojo.
Mesmo apertada, a primeira coisa que escolhi fazer foi lavar o rosto e tomar vários goles da água da pia, na esperança de que aquilo afastasse o resquício de álcool que ainda prejudicava um pouco meus sentidos. Só então fiz xixi, e torci para que ele não tentasse me revistar de novo enquanto deixava o canivete melhor posicionado dentro da calça, de forma que ficasse ao meu alcance.
Encarei meu reflexo no espelho e mesmo no escuro percebi que meus cabelos estiveram soltos desde que me encontraram. Decidi prendê-los em um nó, para o caso de precisar lutar.
— Seu tempo tá acabando.
Ouvi a voz dele ao mesmo tempo que eu esticava a mão em direção à maçaneta e tive de engolir a vontade de me trancar ali como um comprimido sem água. Eu não sabia o que ele pretendia fazer e não era muito animador pensar que o melhor cenário seria que voltássemos para o quarto e ele me prendesse da mesma maneira, para que continuasse me olhando da cama.
Abri a porta e nem tive tempo de me preparar antes de ser puxada pelo braço outra vez, enquanto ele murmurava um "anda logo" impaciente e me arrastava até o quarto. Estava evidente o quanto tinha medo de ser pego no flagra desobedecendo uma ordem de Lorenzo.
Para o alívio dele (e o meu desespero), chegamos sem qualquer interrupção e ele fechou a porta atrás de si. Mesmo que tivesse tentado ser discreto, não me passou despercebido quando passou a tranca. Instintivamente movi a mão mais próxima do canivete, mas me obriguei a ficar parada. O quarto estava escuro, mas meus olhos já estavam acostumados com a baixa iluminação. Identifiquei abandonado no chão o pedaço de corda que Lorenzo usou para me prender, mas Dominic não fez menção de pegá-lo de volta. Ao invés disso, se aproximou de mim:
— Como eu fiz um favor para você, você podia quebrar um galho para mim... — Sua mão deslizou pelo meu braço até envolver a minha. Então, ele a levou até sua ereção.
Dessa vez, não consegui reagir com qualquer frieza e me afastei do seu toque, fazendo força para me soltar do aperto.
— Não toca em mim! — Pedi, o medo evidente no tom elevado da minha voz. — Eu vou gritar, estou avisando!
— Grita então, eu quero ver você tentar — ele rosnou. Antes que eu tivesse qualquer reação, colocou uma mão sobre a minha boca com tanta força que até me desequilibrei.
Tentei me debater, mas ele envolveu meu corpo com o braço e, como já tinha cogitado antes, era praticamente inútil diante do tamanho dele. Sua mão era tão grande que apertava também meu nariz, tornando difícil respirar e fazendo o pânico correr ainda mais forte por todo o meu corpo.
— Eu mandei você ficar quieta! — Avisou, o rosto perto do meu. Gotículas de saliva voaram da sua boca. — Acho bom você começar a me dar motivos para eu não usar o revólver!
Mas o súbito pânico não me permitiu responder de nenhuma maneira além de continuar me debatendo enquanto ele intensificava o aperto, até que pareceu se cansar do meu comportamento e me jogou na cama. Sua mão nunca deixou o meu rosto e ele subiu em cima de mim, restringindo-me com o próprio corpo, muito maior que o meu.
Ao invés de me causar ainda mais pânico, aquela posição que me deixava completamente vulnerável na verdade trouxe-me alívio, porque lembrei de todas as vezes que já estive nela, mas com Melissa, Paulina ou Leonardo em cima de mim.
O alívio logo se desfez quando ele levou uma das mãos até o meio das minhas pernas, tentando abrir o zíper da calça. Por um único segundo o medo me congelou quando imaginei o que aconteceria se eu falhasse, mas engoli em seco, sabendo que o canivete estava ao meu alcance. Continuei me debatendo sob seu corpo, mas dessa vez a minha intenção foi abrir as pernas. Ele não perdeu tempo antes de se posicionar entre elas. Quase parecia que eu queria facilitar seu trabalho.
— Viu, não é mais fácil quando você só colabora?!
Ele falou, com aquela voz nojenta, e mesmo sua mão no meu rosto não me impediu de sentir enjoo com o cheiro de álcool. Esforcei-me para ignorar enquanto dobrava a perna até conseguir apoiar o coturno no seu quadril.
Um gemido de surpresa escapou dos seus lábios quando peguei impulso e joguei minha outra perna por cima do seu pescoço. Ao invés de se afastar, Dominic tentou me segurar, mas não entendeu o que eu estava fazendo e por isso consegui fechar a chave de pescoço. Paulina havia nos ensinado aquele golpe no que pareciam ser anos atrás, quando ainda eram um grupo separado vivendo na escola.
Não hesitei nem mesmo um segundo antes de começar a apertar e Dominic deixou um grunhido de dor escapar, fazendo força para se soltar. Antes que ele fosse capaz de abrir a boca para gritar por ajuda, alcancei um dos travesseiros e usei os braços livres para pressioná-lo contra seu rosto.
Eu sabia que era questão de tempo até apagá-lo, mas ele não tornou nenhum segundo mais fácil conforme se debatia. Fiz tanta força com as pernas que comecei a suar e minha cabeça latejava sem parar, mas não cedi nem na chave, nem na pressão do travesseiro. Quando ele usou o braço livre para tatear na cama em busca do revólver, empurrei-o para o chão com uma cotovelada.
Já estava perdendo o fôlego na altura que seus movimentos começaram a ficar mais erráticos e, para o meu desespero, Dominic fez ainda mais esforço para escapar naquele último jato de adrenalina que parecia jorrar por seu corpo. Ainda que o esforço estivesse fazendo todo o meu corpo doer, estava convencida de que conseguiria aguentar.
Até que ele se moveu repentinamente e senti uma pontada na altura do meu pescoço. Por reflexo, levei a mão até onde veio a dor e não entendi quando senti algo sólido. Dominic começava a se desvencilhar da minha chave ao mesmo tempo que eu sentia um calor se espalhar pelo meu colo, ainda incapaz de identificar exatamente o que havia acontecido.
Virei na direção do espelho, provavelmente o mesmo ângulo que aquele homem usou para me observar minutos antes, e vi que havia algo cravado na lateral do meu pescoço. Levei a mão até lá de novo e a dor que lavou meu corpo deu a Dominic a chance final para escapar. Percebendo o sangue que escorria pelo meu peito, finalmente me dei conta de que ele havia cravado um canivete em mim.
Fiquei completamente imóvel por alguns segundos, encarando o sangue nas pontas dos meus dedos, sem acreditar naquilo. Até mesmo respirar doía. Não havia a menor possibilidade de eu sobreviver se aquilo houvesse perfurado a minha jugular — e, pela quantidade de sangue que eu perdia, não seria loucura acreditar que ele havia conseguido.
Por um segundo que seria hilário se não fosse tão desesperador, eu e Dominic nos encaramos; eu completamente em choque pelo ferimento grave, e ele tentando recuperar o fôlego depois de ser estrangulado. Nenhum dos dois parecia conseguir acreditar no que o outro havia feito. Mesmo entre toda a incredulidade, encontrei o mínimo de calma para pensar que precisava agir antes que ele se recuperasse, ou ele finalizaria o trabalho. Meus movimentos pareciam tão erráticos quanto se eu estivesse sonhando, mas foi brutalmente real quando alcancei o canivete escondido na minha calça e o usei para rasgar o seu pescoço.
Diferente do meu sangue que escorria pelo peito em uma torrente, o ferimento dele esguichou como um efeito especial fajuto de filme. Dominic abriu a boca, talvez para gritar, talvez para implorar por ajuda, mas absolutamente nenhum som além de um barulho agonizante de afogamento saiu dela. Seus olhos claros e arregalados me encaravam com uma mistura de incredulidade e ódio, mas logo desapareceram na escuridão quando seu corpo desabou na cama, bem na minha frente.
Se não era mais o álcool anuviando meus sentidos, ainda assim estava completamente atordoada. Coloquei a mão em volta do ferimento, pressionando meu pescoço numa tentativa desesperada de estancar o ferimento. O sangue continuava a escorrer e eu sabia que a minha única chance, se é que ela ainda existia, era não mover no canivete.
Levantei-me da cama e quase tropecei ao pisar em cima do revólver caído. No fundo da minha mente a morte já era uma certeza, mas me esforcei para sufocar aqueles pensamentos e tentar agir racionalmente. Eu precisava pelo menos soltar Mei. Sentindo o sangue escorrer pelos meus dedos, olhei ao redor do quarto e comecei a procurar pelas gavetas. Como desconfiei, haviam coisas dentro delas que sugeriam que aquela casa era usada, como mudas de roupas e cartelas de remédio. Na segunda, encontrei um rolo de gaze fechado e, depois de duas tentativas frustradas pelos meus dedos escorregadios de tanto sangue, consegui abrir o pacote.
Com cuidado para não mover o canivete, envolvi meu pescoço com a gaze como foi possível, pressionando um pouco, mas não o suficiente para cortar minha respiração. Quis gritar de ódio por aquela injustiça, por morrer de maneira tão patética, mas não podia gastar nem um mísero segundo me martirizando. Se a minha jugular tivesse mesmo sido cortada, reestava-me pouco tempo e eu precisava pelo menos salvar Mei.
Continuei pressionando a ferida com uma das mãos e não parei de andar pelo quarto. Recolhi o revólver e encarei o corpo de Dominique caído na cama, sobre lençois que começavam a ficar encharcados com seu sangue. Eu já não ouvia mais o barulho de engasgo e sabia que não havia necessidade de colocar os dedos no seu pescoço para constatar a morte após ter aberto sua garganta. Peguei o meu canivete, abandonado ao lado do seu cadáver, e o guardei no bolso.
Meus passos estavam cambaleantes, mas era difícil dizer se já era pela perda de sangue ou apenas pelo ataque de pânico que ameaçava se instaurar. De qualquer maneira, não me atrevi a olhar meu reflexo no espelho, com medo de ver a real extensão do ferimento. Precisava chegar até Mei...
Tentei abrir a porta duas vezes até perceber que ela estava trancada, então, com a mão livre que tremia, girei a chave e finalmente puxei a maçaneta. A luz da lanterna chegou até mim, delineando a figura humana que já me esperava do lado de fora.
✘✘✘
Nota da autora:
Boa noite, amigos.
Vou ser sincera agora, acho que esse foi um dos capítulos mais desconfortáveis e difíceis que já tive de escrever. Sempre odeio usar o elemento de abuso sexual em um livro, mas a verdade é que em um mundo tão carente de moral e punição como o de um apocalipse zumbi, eu sabia que era questão de tempo.
E sim, essa cena foi planejada desde a vez em que Paulina ensinou o golpe para a Rebeca, lá no Em Desespero... Acertou quem identificou a arma de Chekhov lá atrás 🤭 (para quem não conhece o termo, é uma "regra" do storytelling onde sempre que um elemento for apresentado, ele será relevante para a narrativa uma hora ou outra).
Só deixo uma questão para vocês: o que vai ser da Rebeca agora? 👀
E, para quem não viu, fiz um jogo de "1 verdade e 2 mentiras" sobre o final do Em Fúria lá no meu instagram (@autoramarinabasso). Será que vocês já me conhecem o suficiente para adivinhar o que eu preparei?
Semana que vem voltamos com mais duas atualizações, mas já deixo de sobreaviso que o meu final de semana vai ser bem corrido, então fiquem prontos para a possibilidade de eu só atualizar na terça 🙏
O fim da história está se aproximando e eu estou extremamente empolgada.
Não sejam mordidos...
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