Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 6.

"Existem muitas formas de viver. Também inúmeras de morrer.

A primeira parte era minha mãe, de otimismo inigualável, que sempre me dizia. A segunda era o que eu lhe respondia mentalmente. Hoje em dia, concordo mais com ela do que concordava na época. Infelizmente, também mais comigo. Dessa forma, talvez a existência dessas duas constatações óbvias pertença apenas em seu conjunto.

Não... Esse começo ficou uma merda.

O único motivo para não rasgar esta folha, como fiz com todas as outras, é que meu papel já está no fim. Quem pensaria em reunir papel no fim do mundo?

Preciso rir. Lógico que Manoela. De mais de uma maneira, é somente graças a ela que esse relato talvez chegue nas mãos de outra pessoa.

Minha esposa sempre disse que escrever ajudava a lidar com a dor. Em morte (é assim que eu chamo aquela pseudovida em que estava preso), debochei inúmeras vezes da mania de transformar suas experiências em fábulas nas redes sociais. 'Desesperada por atenção' foi uma das muitas grosserias que lhe dirigi.

Quer dizer, nunca deixei de achar brega — ainda assim, estou agora escrevendo uma carta de suicídio... —, mas hoje, vejo onde está o sentido. É no paradoxo que se encontra a epifania: você coloca palavras para fora na esperança que um dia serão lidas; porém, apenas pela incerteza desse acontecimento, você consegue ser verdadeiramente sincero.

A verdade, infelizmente, é muito simples, quase sem graça: não resta mais nada para mim nesse mundo. O que valia a pena ser vivido, eu já vivi. Não, perdão... Isso contradiz toda a frase do começo.

Definitivamente existem mais vidas para serem vividas, sou eu que não as quero. Nenhuma é perfeita, mas eu estava satisfeito com a que tive o prazer de experienciar no último ano. A verdade é que eu não tenho qualquer desejo de superar, fortalecer-me ou encontrar novos motivos para sorrir. Eu nunca fui bom nisso. Na verdade, esse foi o motivo para tudo ter sido tão difícil com Manoela antigamente.

Querido fantasma para o qual revelo meus segredos: durante toda a minha vida, eu fui um homem ruim. Não intrinsecamente cruel, mas uma pessoa cuja toxicidade era capaz de sugar qualquer resquício de vida do ambiente. Alguém que somente uma mãe poderia suportar (não por nenhuma razão, ela era a única familiar que ainda mantinha contato comigo).

Até um ano atrás, tinha certeza que o mundo havia me escolhido para saco de pancadas. Nasci pobre como um cachorro de rua e tão abandonado pelo meu pai quanto um. Antes mesmo que a minha vida começasse, estava sendo desperdiçada num emprego deprimente que por pouco me salvava da fome.

Nunca fui bom em esconder a raiva que tinha dessas circunstâncias. Quando não afastava as pessoas pelo meu comportamento irritadiço, era o discurso pessimista que desgastava qualquer laço. Mesmo o conhecimento que busquei adquirir só servia para dar vazão ao meu desgosto pela vida que eu tinha.

Se você me perguntar como, ou por obra de qual maldição, Manoela se apaixonou por mim ainda no colégio, sequer eu saberei te dizer. As mulheres se contentam com muito pouco.

Sensatos foram seus pais em tentar nos afastar. Funcionou no ensino médio (e eu, mesquinho e frustrado como era, descontei nela minha raiva, atribuindo-lhe ofensas das quais eu sequer entendia a origem), mas não impediu que eu a engravidasse nos primeiros meses após retomarmos o antigo namoro na vida adulta.

Só mesmo no fim do mundo para esse amor inexplicável funcionar. Manoela sempre foi meio fútil (para mim, um defeito imperdoável na época), mas uma boa pessoa. Tinha sonhos simples para a sua realidade e um otimismo inocente que me irritava. Eu era frustrado e fodido desde que me entendia por gente. Nunca gostei de nada que fosse mais feliz que eu e mesmo assim continuava a me afundar num pessimismo tedioso, insistindo que todos os outros estavam errados, presos numa Matrix da qual só eu me libertara.

Provavelmente Manoela não gostava de mim, mas dos poucos momentos em que sua presença me distraía da constante desilusão e eu me permitia sorrir. Já eu, era um poeta inspirado por uma musa eventualmente capaz de penetrar mesmo na minha teimosia. Como a maioria dos casamentos, o nosso também começou como um conto de fadas, mas é sempre uma questão de tempo até o pó mágico se dissolver e você se deparar com a ríspida realidade.

Apesar de sequer termos condições para comprar o remédio para a infecção de ouvido que nossa filha teve aos 4 anos, o problema ia além do dinheiro. Quando você vive para trabalhar para sobreviver, não resta nada de bom. Não éramos capazes de trocar cinco palavras sem atacar um ao outro, descontar as frustrações da vida de merda que compartilhávamos, como se algum de nós tivesse escolhido aquilo. Nem nossa pobre filha (que de fato chorava demais para a idade) escapava da nossa antipatia... Talvez fosse por crescer em meio a gritos que fosse tão triste.

Com 5 anos de casados, talvez nós dois tivéssemos o mesmo medo de encarar a verdade e perceber que desperdiçamos nossa vida naquela união fracassada. Egoístas e cegos como éramos, pensamos até que um segundo filho seria capaz de tornar aquele circo minimamente justificável. Na época, eu sequer gostava de crianças.

O divórcio foi iminente e, com ele, ainda mais rancor. Se era um mau marido, definitivamente fui um pai ainda pior. O único motivo de manter contato com minhas filhas foi a obrigação legal e a necessidade de me provar melhor do que o meu próprio pai, mas incapaz de enxergar que éramos os mesmos covardes. Nunca criei laços mais fortes que mera formalidade com Alice ou Mara, porque nem a bondade infantil tinha tempo para alguém tão amargo.

Foi nessa época que tive tantos diálogos como o que eu escolhi para iniciar essa história com minha mãe. A velha senhora, tão experiente quanto eu com a desilusão, insistia que eu ainda podia encontrar uma vida pela qual valesse a pena viver. Também nessa época, eu só conseguia pensar que estive morto por toda a minha existência. Existem muitas formas de morrer, e viver apenas pelo ódio, antecipando a próxima decepção, era uma delas.

Uma coisa que nem eu ou você podemos negar, fantasma, é que um apocalipse torna tudo muito claro. Com as cenas de violência animalesca que apenas cadáveres reanimados são capazes de nos proporcionar, você subitamente entende quem proteger. Por quem vale a pena arriscar seus prováveis últimos minutos.

Colocados em uma balança, os curtos momentos de felicidade que vivi com Manoela e minhas duas meninas não seriam nada comparados aos anos de brigas e desentendimentos. Ainda assim, foi neles onde me agarrei enquanto atravessava uma cidade devastada para reencontrar as últimas coisas pelas quais considerava lutar, após minha mãe sucumbir à doença (e tentar me comer).

Algumas uniões só recebem a benção do fim do mundo. Que chance teria um casamento fadado ao fracasso, um homem forjado na desilusão e duas crianças traumatizadas, de encontrar qualquer felicidade num mundo tomado pela desgraça?

Sinceramente, ver tudo o que você entende por realidade sucumbir te dá um lapso do quão sublime é a existência. A vida segue independente das circunstâncias. Quando um mundo capitalista de infelicidade sistemática deixa de existir, após suas origens, posses e experiências anteriores se tornarem insignificantes e um segundo de felicidade realmente conseguir dar sentido à dor constante... O que resta para odiar?

A injustiça, talvez. Mas hoje ela é grande como uma Deusa sobre os humanos e de nada afetamos sua existência. Para mim, por ironia, quando seu tamanho saiu de controle que finalmente pude considerá-la insignificante.

Mesmo os meses iniciais de contágio, enquanto a incerteza e o medo eram tão grandes quanto a fome, foram melhores que o resto de nossas vidas. Brigar logo se tornou irrelevante, pois no momento em que algum de nós colocava o pé para fora do barraco em que nos abrigamos, qualquer rancor se dissolvia em preces como as quais nenhum de nós havia feito antes para que o outro retornasse a salvo. O medo era como um frio que nunca descongelava em meus ossos e, pela primeira vez, entendi como Alice se sentia quando chorava tanto.

Mas o renascimento veio de fato com a ideia de nos afastarmos da cidade. Ainda que sem qualquer certeza de sucesso, a quantidade de mortos e a progressiva falta de alimento nos motivou a buscar esperança em outro lugar.

O dono dessa chácara era o tio-avô de Manoela, com quem não falava há anos. Viemos na esperança de que os animais e campos verdes de plantio nos oferecessem maiores chances. Chegamos dois meses depois do estouro da doença, ainda a tempo de encontrar o velho vivendo com dificuldade e sem acesso aos seus remédios.

Infelizmente, dentro de alguns meses, a depressão e os problemas no coração tiveram a melhor, ainda que tivéssemos passado as últimas semanas vasculhando todas as farmácias próximas para reunir seus remédios. Eu, que mal havia tocado em terra fresca na minha vida, recebi o mesmo conhecimento básico para manter a chácara funcionando que Manoela já tinha. Além de tudo, nossas filhas puderam ter um avô presente pela primeira vez na vida, ainda que por pouco tempo.

Não vou dizer que foi fácil me acostumar com a nova vida de trabalho braçal, mas em nenhuma hipótese eu poderia sugerir que não foi a melhor mudança que já tive. Receber ajuda das minhas filhas era gratificante, assim como ver o talento da minha esposa com os animais. Juntos, estudamos sobre plantações, descobrimos coisas na prática e matamos um número considerável de mudas e tudo era motivo para rir. Pela primeira vez, ouvir Manoela sonhar não me causava desconforto, porque eu era capaz de fechar os olhos e pensar em coisas boas também.

As tempestades ou semanas em que errantes passavam em quantidade pela estrada e não nos deixavam com coragem nem para sair de casa, faziam-nos temer pela vida e deixavam as meninas inquietas, mas encontrávamos forças um no outro. Sem as obrigações da nossa antiga vida, Manoela se dedicou ao amor pela escrita com as folhas de papel que sempre fazia questão de trazer quando buscávamos por mantimentos. Eu lia suas histórias para nossas filhas durante as noites mais difíceis.

Aqui, neste pedaço de terra preso no fim do mundo, encontramos a vida com a qual sempre sonhamos. Trabalhávamos até mais do que antes, mas não mais para nos enquadrarmos numa sociedade consumista que nunca pararia de nos sugar. Buscar remédios, mantimentos e comida era muito mais difícil do que uma simples ida ao supermercado, mas minha esposa mostrou-se uma parceira competente no combate contra os mortos.

Tínhamos tudo, mas principalmente tempo e disposição para finalmente conhecermos as pessoas que viviam atrás de nossas antigas carapuças desiludidas. Descobri que eu gostava de arte, de filosofia e de longas conversas sobre coisas que não importam mais com minha esposa. Aprendi a lidar com minhas filhas e seus sorrisos quando brincávamos no lago eram minha motivação para não permitir mais que meus impulsos grosseiros tomassem o controle.

Entendi que eu nunca odiei viver, apenas odiava sobreviver e aquilo era tudo que a minha condição permitia na época. Nunca teria imaginado, em outras circunstâncias, afastar-me da cidade ou largar o emprego e viver com a família no campo. Família que, na época, minha impossibilidade de enxergar um mundo bom sequer me permitia conhecer e amá-los de verdade.

Por quase um ano, vivemos essa vida de conto de fadas com a qual fomos abençoados. Beijei minha esposa com uma vontade que não tive em muitos anos, mas, acima disso, ouvi seus sonhos e conheci seu coração como nunca. Brinquei com as minhas meninas, fui seu melhor amigo e conselheiro nas noites difíceis. Até com os animais criei laços! Cuidei das galinhas que o tio-avô de Manoela criava, das duas cabras (que infelizmente conseguiram fugir quando estávamos reforçando a cerca e foram mordidas pelas criaturas reanimadas) e aprendi a andar a cavalo. A fêmea, que no momento em que escrevo essa carta pasta tranquilamente do lado de fora, chama-se Canela e o nome do meu antigo companheiro era Tremor. Em seus últimos dias de vida, Alice estava aprendendo a cavalgar nele.

Fui feliz como nunca havia sido na vida e como nunca mereci ser. Então, como alguém que só aprendeu a viver quando teve tudo tirado de si, sequer me senti no direito de odiar a Deusa Injusta quando ela decidiu que era hora de tirar aquele presente de mim.

Foi com a calma de quem logo compreende que o direito à alegria está sendo reivindicado que vi ao longe minha mulher correndo pelo amplo terreno com nossa filha mais nova nos braços. Alice acompanhava seu passo com a roupa suja de sangue e a mesma expressão de desespero da mãe.

A ordem era que nenhuma deveria se afastar demais da propriedade, mas que ordem tem força num mundo em ruínas? Bastou um segundo de descuido entre os pessegueiros, enquanto Manoela os colhia para a geleia que queria fazer, para um monstro solitário agarrar Mara. Mesmo que a irmã tentasse afastá-lo numa luta desarmada, bastou um segundo para a criatura faminta cravar seus dentes na carne vulnerável na minha filha mais nova.

Foi uma mordida profunda que levou menos de 48h para levá-la a óbito, perda apenas aprofundada no peito de Manoela pela constatação de que o pequeno arranhão no braço de Alice também havia aberto caminho para o vírus. Cuidamos de sua saúde que se deteriorou constantemente por seis dias, mas foi inevitável cavar uma segunda cova.

Mesmo depois de tanta tragédia, os dias finais com Manoela em nada se assemelhavam aos anos de ódio e frustração que dividimos. Apertei sua figura pequena contra a minha durante seu pranto e recebi promessas vazias de que encontraríamos força para passar por aquilo.

Mesmo nesse período, não amaldiçoei nada além de mim mesmo por ter negado aquela vida por tanto tempo. Tinha a consciência plena de que a benção que eu não merecia estava sendo tirada de mim e nem mesmo quando Manoela inventou uma busca por mantimentos de última hora, achei justo impedi-la.

Para ser sincero, nem achei que voltaria. Que surpresa foi poder recebê-la quando retornou, anunciando em um pranto fingido e sem mantimentos que justificassem a demora, que foi mordida enquanto se defendia de um grupo.

Quando chorei, foi apenas pela gratidão de poder ter ficado ao seu lado até o fim. Manoela partiu numa noite de febre insuportável e, assim como foi com nossas filhas, com um tiro encerrei a meia-vida que ela não merecia.

Como se tudo aquilo não fosse um sinal claro o suficiente da Deusa Injusta, na semana seguinte meu companheiro Tremor quebrou a pata e teve de ser sacrificado.

Pensando agora, se eu estou sofrendo, espero que Canela e as galinhas tenham a sorte de encontrar alguém (que também seria considerado sortudo) que cuide delas. Deixarei seus portões abertos e toda a ração disponível na esperança que dure tempo o suficiente. Felizmente, animais chamam bastante atenção num mundo como esse e eu não iria me opor se este lugar seguro salvasse ainda mais pessoas. Pela primeira vez, fantasma, gostaria que você fosse real para que pelo menos o destino dos animais não fosse tão injusto quanto o meu. Manoela realmente gostaria disso.

Não partirei com qualquer rancor (já gastei tudo o que eu tinha para sentir no decorrer dos anos em que me considero 'morto'), pois tive a sorte de viver algo bom mesmo por pouco tempo. Quantos podem dizer o mesmo?

Espero que essa carta não traga demasiado pesar, já que seu único propósito é me ocupar algumas horas enquanto busco pela epifania que tanto encantava minha esposa. A vida é uma arte a ser aperfeiçoada em seus muitos formatos e arranjos, mas você pode estar morto muito antes do tiro fatal. Infelizmente, o ódio cego da Deusa Injusta assola esse mundo desde muito antes do domínio da morte.

Que ela dê mais tempo a você do que deu a mim, fantasma.

Manoela, Alice e Mara, obrigado por me ensinarem a viver e amar."

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro