Capítulo 55.
Logo descobri que os dias na cidade eram bem tediosos.
Quis voltar logo para o condomínio e tomar uma xícara de café quente, mas olhei para o relógio de pulso e vi que ainda faltavam quarenta minutos para o fim do meu turno. Suspirei, tomei um gole do cantil de água e espiei pela ampla janela da torre de vigia, quase ansiando por um zumbi, um problema, ou qualquer coisa que me servisse de motivo para descer.
Ao invés disso, vi apenas as ruas que se estendiam até o horizonte vazias, até que as casas lentamente começavam a ser substituídas pela vegetação. Se eu olhasse para o outro lado, em direção ao centro da cidade — não da cidade de Chapecó de antes, mas da de agora —, pelo menos veria pessoas caminhando, com sorte até crianças correndo pela rua, mas o meu trabalho não era vigiar aquele lado. Isso me foi deixado bem claro.
Naquela semana, o grupo de Ana, ao qual eu havia sido designada, estava encarregado da segurança da cidade. Era a espécie de revezamento que havia por lá: haviam dois grupos de soldados principais, que alternavam entre se expor fora da cidade em buscas por mantimentos e proteger as ruas e a população. Na semana passada nós fizemos duas viagens, primeiro limpando caminho até os locais de interesse e depois dando cobertura enquanto carregavam os carros e carretas com mantimentos; naquela, fomos separados entre pessoas que protegiam os limites da cidade de possíveis zumbis que se aproximassem, e os encarregados de vagar pelas ruas fazendo vistorias.
Não demorei a perceber que também havia muita encenação envolvida.
Todas as casas daquela cidade (e ressalto novamente que me refiro somente ao que Chapecó se tornou, ou seja, não mais do que alguns bairros habitados) haviam sido exaustivamente revistadas. Não haviam muros, exceto uma pequena extensão que não chegava nem a um quadrante do território total, que começou a ser construída, mas nunca foi finalizada. Ou seja, o verdadeiro risco era que zumbis viessem de fora. Os soldados que, como eu, foram designados para proteger as fronteiras da cidade e limpar possíveis grupos de zumbis que se aproximassem realmente tinham trabalho, mas aqueles poucos que vistoriavam as ruas, tecnicamente não.
Ou seja, provavelmente estavam lá porque isso passava segurança aos moradores. Pelas poucas conversas que tive, descobri que alguns realmente foram soldados de verdade ou agentes da lei, mas a grande maioria ainda eram jovens que nem eu: designados para esse trabalho apenas porque tinham a coragem suficiente de pegar em armas e acertar a cabeça de zumbis. Quase ninguém era realmente treinado para resolver conflitos civis, atender suas necessidades ou manter a ordem num geral, e ainda assim acabam assumindo aquele posto. Talvez as pessoas que queriam tentar voltar a viver uma vida normal sentiam a necessidade de ver figuras de autoridade ao seu redor.
Parando para pensar, era um pouco surpreendente até para mim a facilidade com a qual eu entrei naquela rotina, como se a minha vida inteira tivesse sido participando daquele grupo. A primeira semana havia sido difícil, com os olhares de julgamentos e a pouca simpatia, além do rancor pela questão de Mei ainda bem presente em meu coração... mas aos poucos, eu começava a me sentir parte de tudo aquilo. Gorete, a mulher responsável pela organização dos soldados, até começou a me dar bom dia, como fazia com todos; Ana parou com as ordens gratuitas de me deixar sem jantar; e as conversas com Toni, o garoto que se aproximou de mim no domingo, me faziam sentir menos solitária.
Ter um trabalho para desempenhar, mesmo excessivamente exaustivo (no caso das buscas) ou absurdamente tedioso (como a vigia) fazia os dias passarem tão rápido que eu rapidamente perdi a conta deles novamente. Não era exatamente ruim, porque pelo menos sufocava aquele estado de medo que eu estive desde o ataque ao antigo condomínio, mas eu me sentia quase dissociada enquanto estava naquela cidade. A impotência de não conseguir sair daquela situação me incomodava, mas ainda era um pouco melhor do que o constante risco de ser morta ou torturada, então eu tentava suportá-la como possível.
O que também me dava tempo de sobra para observar aquele lugar. Entender seu funcionamento e ver o que era, de fato, um grupo se reerguendo no apocalipse.
Por exemplo, eles realmente estavam com escassez de comida.
Eu não percebi no começo, porque os soldados tinham prioridade na distribuição de provisões. Por exemplo, comíamos carne ou ovos pelo menos três vezes na semana, enquanto era muito mais raro que os "civis" tivessem acesso a esses alimentos — e somente indo aos refeitórios.
Em Chapecó, funcionava da seguinte maneira: as provisões trazidas pela equipe de busca eram divididas entre os soldados e o que seria distribuído ao resto da população (e, até onde eu havia visto, a divisão era feita de maneira justa). Produtos de higiene, itens de necessidade básica e até livros e revistas tendiam a não faltar, e alimentos industrializados (que sobraram aos montes nas prateleiras dos supermercados) também eram distribuídos. Porém, as refeições oficiais eram servidas três vezes ao dia no refeitório do colégio estadual, e era para lá que iam as comidas frescas das plantações e o pouco cultivo animal que havia. Dessa maneira, tudo era controlado e o racionamento ficava possível.
Havia alguns motivos para a escassez de comida, um deles sendo o fato de que já estávamos há quase um ano e meio no apocalipse; os alimentos começavam a passar da validade, e precisávamos disputar com os ratos aqueles não perecíveis; mas o principal havia sido uma série de baixas recentes que o grupo sofreu.
A cidade atualmente tinha um pouco menos de 300 sobreviventes, mas já contou com mais de 400. Nos primeiros dias daquele ano, enquanto ainda estávamos em segurança no nosso condomínio, eles sofreram uma série de ataques do grupo que eventualmente se intitulou Esperança — a cidade a oeste, onde eu desconfiava que Guilherme, Melissa e Victória estavam. Aparentemente, a intenção deles era de tomar a cidade e usufruir do seu estoque de mantimentos, mas Chapecó resistiu, ao custo de quase 50 soldados. Nas semanas seguintes, vieram os zumbis, atraídos pelos constantes tiroteios que demarcaram aquela área. Hordas precisaram ser exterminadas e diversos se infiltraram pela cidade, aumentando o número de baixas.
Fazia exatos um mês que o número de mortes estava zerado no dia em que eu e Samuel matamos aquelas pessoas.
Por isso a necessidade de retaliação e por isso a decisão de me manter viva trabalhando para eles.
— Rebeca?! Você ainda tá aí? — A voz de Toni me deu um susto, mas também me trouxe de volta à realidade. Ela chegou baixa até mim, porque ele berrava debaixo da torre de vigia.
Chequei o relógio de pulso novamente, percebendo que quase cinquenta minutos haviam se passado enquanto eu estava ali divagando. O sol começava a se pôr no horizonte e vi a silhueta de Danilo, um homem alto e com o dobro da minha idade que assumiria a vigia, aproximando-se.
— Estou descendo! — avisei.
Quando Toni me convidou para ir ao seu apartamento no domingo anterior, achei melhor não aceitar o convite, porque não queria que ele criasse expectativas que eu não tinha interesse em retribuir. Mesmo com a minha recusa, ele continuou sendo educado e se aproximando sem segundas intenções nos dias seguintes, então acabamos virando amigos. Eventualmente, contei sobre Leonardo e Guilherme, e também soube que a namorada dele havia morrido alguns meses após o começo do apocalipse. Era uma amizade estranha, porque não tínhamos praticamente nada em comum, mas era legal ter com quem conversar.
Além disso, ele me ajudou a ter contato com Samuel. Meu amigo não estava preso, como eu tecnicamente estava, sem autorização para sair do condomínio residencial dos soldados (a torre de vigia onde eu estava era a apenas três quadras de distância), mas seu acesso lá dentro era proibido e Pantera fez questão de lhe dar trabalho de sobra, impossibilitando que sequer nos víssemos. Toni foi duas vezes ao escritório da líder, e nas duas entregou notícias minhas a Samuel e vice-versa. Apesar de não conseguir vê-lo por enquanto, era reconfortante pelo menos saber que ele estava bem.
Cumprimentei Danilo quando desci, que retribuiu com um aceno de cabeça. Então ajeitei as alças da mochila nas costas e acompanhei Toni de volta para o condomínio. Era fim de tarde e poucas pessoas nos cumprimentavam, enquanto algumas apenas se esforçavam para não cruzarem olhares com o meu.
"... Pantera que mudou de ideia na última hora, se não ela teria que matar um deles." Ouvi certa vez uma dupla de mulheres conversando, que faziam parte do grupo de soldados de Igor. "Provavelmente a Carol se meteu para proteger o filho."
As palavras me causaram estranhamento, então Toni fez o favor de me explicar que os moradores sabiam do que se desenrolou no escritório da líder no dia em que eu e Samuel fomos trazidos. O problema é que era uma versão um pouco diferente do fatos.
Eu não sabia quem havia repassado a história daquela maneira, mas todos achavam que eu realmente tive de escolher entre a vida de Samuel e de Mei, e não que a arma nunca esteve carregada. Aparentemente, pensavam que Carol a tinha impedido, em prantos, de continuar com aquilo, ao invés de saber que a líder só estava querendo me testar.
Pantera era alguém temida na mesma proporção que era respeitada, e acho que isso era exatamente o que ela queria, pela forma como deixou aquela história distorcida se espalhar. Justamente por isso, não me dei ao trabalho de corrigir ninguém — não queria arranjar mais problemas para mim e Mei.
Eu ouvia sobre alguns conflitos entre civis do grupo, que estavam estressados e ansiosos com a pouca comida, mas eles raramente escalavam para um problema de maiores proporções, justamente pelo medo da represália de Pantera. Também por isso, Ana se esforçava para cultivar a própria imagem de inclemente, talvez para subir no conceito da líder e cravar seu local como braço direito dela.
Além disso, eu desconfiava que havia ferido significativamente o seu orgulho aplicando-lhe um golpe logo na frente de Pantera. Devia ter um gosto especial para ela me torturar.
— O seu antigo grupo tinha quantas pessoas mesmo? — Toni perguntou, tentando puxar assunto. — Não era grande tipo esse, né?
Virei para ele, que andava despreocupadamente com as mãos no bolso. Era relativamente novo ali, tendo chegado há uns três ou quatro meses, e não tinha tido muito sucesso em fazer amizades. Talvez por isso gostasse da minha companhia, outra novata — e ainda mais estranha do que ele, aos olhos do resto do grupo.
— Não, nem perto — murmurei. — Éramos em 20, se contar os cachorros.
— É, o meu também tinha menos gente. Éramos em oito, só. — Ele já tinha me contado que era do Paraná, e na viagem até Chapecó atrás dos boatos de que a cidade havia se reerguido, um dos membros do seu grupo fora picado por uma cobra venenosa. No desespero de invadir um hospital em busca de antiofídico, foram cercados por uma horda de quase cem zumbis. Somente ele e outro homem conseguiram escapar, mas seu parceiro se feriu gravemente no processo. Nos dias seguintes, tanto ele quanto o garoto que foi picado pela cobra acabaram morrendo. Toni quase se matou, mas resolveu terminar a viagem, em honra aos amigos perdidos. Ali, encontrou o que estava tentando fazer virar sua nova casa. — A gente nunca tinha visto um grupo grande assim, sabe?
A gargalhada estridente de uma criança chamou a minha atenção e virei o rosto para encontrar uma garotinha brincando em um parquinho infantil do outro lado da rua. Sua mãe fumava um cigarro a alguns metros de distância, os olhos de gavião sobre ela. A grama da pracinha estava tão crescida que mais parecia uma matagal e o escorregador fora derrubado, talvez graças à falta de manutenção e uma tempestade particularmente forte, mas a menina ainda se divertia no balanço.
As crianças daquele grupo ficavam na escola em período integral, que já contava com professores voluntários que ensinavam tanto as matérias que eles deveriam aprender na escola, como o básico de sobrevivência e a importância de respeitar as ordens em um mundo como o nosso. Sempre me deixava meio melancólica pensar em uma geração crescendo nos escombros do mundo em que vivi... então eu pensava que, como elas não conheceram aquele mundo, não tinham do que sentir saudades.
— Eu sei que no Rio Grande do Sul existe outro. Outros, até — comentei, distraída com a visão da garotinha. Não que eu não confiasse em Toni, apenas era estranho para mim compartilhar informações com tanta facilidade, mas lembrei que Odin não tentou ser discreto quanto aquilo em nenhum momento. — Encontramos um grupo de motoqueiros no caminho que nos ajudou, se chamam Tormentas da Estrada. Fazem uma espécie de trabalho voluntário, ajudando outros grupos e construindo alianças. Já estão bem estabelecidos.
— Sério?! Que foda. Talvez você devesse contar isso para a Pantera.
Deixei um riso sem graça escapar.
— Se eu conseguir ver ela algum dia. — Dei de ombros, mas não quis acabar com a conversa. — Eles estavam aqui, em Santa Catarina, buscando aliados, mas dois membros da equipe deles desapareceram recentemente por aqui. Será que foram mortos pelo pessoal desse lugar... Esperança?
— Ah, se vieram nessa direção, com certeza. — Toni respondeu, sem hesitar, então sua expressão mudou e ele tentou se corrigir: — Olha, também não estou querendo defender cegamente o pessoal daqui! A gente já se envolveu em conflitos e tal, só tô dizendo que... sabe, eu pelo menos não soube de nada. — Ele limpou a garganta para continuar: — E, bom, sempre podem só ter só... se ferrado de outro jeito. Um destacamento do nosso grupo ficou preso em um shopping aqui perto. Sabemos que eles estão vivos, apenas não conseguimos resgatá-los porque...
— Ah, merda.
Deixei o lamento escapar, distraindo-me da conversa ao ver um rosto conhecido, mas desaparecido há alguns dias. Toni franziu o cenho, mas acompanhou o meu olhar até Igor, o homem que eu havia agredido e que ficou uma semana afastado de sua função graças ao nariz quebrado. Que eu quebrei.
Ele estava na frente do portão de uma casa simples, a alguns metros de distância de nós. Era um homem alto e logo meus olhos encontraram a cicatriz de mordida no pescoço que me trouxe tanta inquietação quando o vi pela primeira vez. Ainda estava com um curativo no nariz, mas parecia melhor enquanto conversava com uma mulher. Ela era jovem e bonita, tinha a mesma pele escura que ele e os cabelos crespos estavam amarrados com uma faixa de poá. Pela forma que conversavam e os toques que não poupavam, deduzi que fossem um casal.
— Ah, é o Igor. Que bom, ele parece bem. — Toni comentou. — Não esquenta, tenho certeza que ele não levou pro pessoal o negócio do nariz... Você e Samuel estavam numa situação difícil, é normal reagir.
A informação de que eu havia quebrado o nariz de Igor havia sido repassada, mas não o detalhe que já estávamos na sala de Pantera, e que a minha investida significava que eu estava disposta a lutar até a morte com eles. Quer dizer, eu realmente estava acuada e era aquilo ou morrer, mas... bom, Ana tinha levado para o pessoal.
Os olhos de Igor varreram a rua e caíram em nós dois. Ele pareceu surpresa por alguns instantes, mas continuou a conversa com a mulher. Então, levou uma das mãos até a barriga dela e percebi como estava protuberante. O olhar carinhoso dele não deixou dúvidas de que esperavam um bebê. Como quem lembra que está atrasado, ele tirou a mochila que usava nas costas e rapidamente puxou uma sacola lá de dentro, com o que pareciam vários tupperwares dentro, e entregou para ela. Deu-lhe um beijo nos lábios e, com um aceno de cabeça, virou para ir embora.
Ao mesmo tempo que passávamos em frente à casa e Toni parava para cumprimentá-lo.
— E aí, Igor. Tá melhor? — Olhou para a mulher dele e acenou com a cabeça. — Boa tarde, Lúcia.
Ela respondeu com um sorrisinho e Igor não pareceu particularmente animado, mas acenou com a cabeça antes de parar diante de nós.
— Estou sim, Toni. Obrigado pela preocupação. Volto ao trabalho amanhã. — Para a minha surpresa, seus olhos escuros caíram em mim. Prendi o ar. — Boa tarde.
Não encontrei ódio em sua expressão, apenas descaso. Como se eu não passasse de uma lembrança irritante.
— Boa tarde. Hm, desculpe pelo... — Senti meu rosto esquentar, um pouco sem graça. — Pelo seu nariz. Eu...
Imediatamente me arrependi de ter sido o primeiro assunto que trouxe à tona.
— Não se preocupe, consigo entender a situação em que você estava. — Ele me tranquilizou e deu de ombros, realmente não parecendo incomodado. Depois, ergueu o pulso e olhou para seu relógio. — Bom, preciso ir. Pantera quer falar comigo. Eu encontro vocês no jantar.
Toni e eu demos espaço na calçada e ele seguiu na direção contrária do condomínio, como se estivesse atrasado para o trabalho. Nenhum de nós falou nada e eventualmente voltamos a caminhar, porque também não queríamos chegar atrasados. Por apenas um segundo, meus olhos caíram novamente na tal Lúcia, que antes olhava com ternura para o marido, mas a expressão assumiu um ar de preocupação enquanto encarava a sacola que recebeu e depois erguia os olhos para olhar ao redor, a tempo de encontrar os meus.
Desviei o rosto e limpei a garganta, buscando retomar o assunto de antes, mas Toni foi mais rápido:
— Eu disse que ele não ia se importar. Igor é um homem legal... — A minha resposta foi assentir e acabamos ficando em silêncio pelo resto do trajeto, até atravessarmos a guarita do condomínio de prédios. Finalmente, um pouco sem jeito, Toni sussurrou: — Ei, hm... Não fala pra ninguém sobre o que você viu ele fazendo.
Franzi as sobrancelhas.
— Como assim?
— A sacola que ele entregou pra Lúcia — Toni explicou, mas aquilo não desfez minha expressão confusa, então ele continuou: — Ele estava levando comida pra ela. Comida daqui. Isso é proibido. — Observei-o molhar lentamente os lábios com a língua, como se pensasse nas próximas palavras. — Tá meio foda fora daqui... Você não conversa muito com o pessoal, então talvez não saiba, mas a comida tá apertada. Acho que semana que vem, nenhum grupo vai fazer vigia e todos nós vamos em busca de alimentos.
— Ah... não se preocupa. Eu não vou contar para ninguém.
Garanti e esperava que meus olhos demonstrassem a sinceridade daquelas palavras. Toni me encarou por alguns segundos, mas enfim assentiu.
— Deve ser foda, né? Ter que se preocupar com isso... Que a mãe do seu filho nem está comendo direito — falou e, pela mudança de tom, vi que estava apenas divagando. — Ana e o resto do pessoal estavam combinando de montar um enxoval de presente para ele, mas não sei se com o nível de racionamento atual, Pantera vai permitir que isso seja uma prioridade...
Murmurei em concordância, pensando em como tinha sentido medo daquele homem da primeira vez que o vi, mas agora começava a sentir empatia pela sua situação. Então, finalmente lembrei de algo:
— Nossa, Toni... e a cicatriz dele? — perguntei, sem perceber que estava mudando de assunto. — Eu reparei da primeira vez que o vi... É que parece uma mordida.
Os olhos claros dele encontraram os meus e sua expressão ficou subitamente sombria.
— Você não soube? Foi um zumbi. — falou. — Aparentemente, existem pessoas imunes ao contágio e ele é uma delas.
— O que?!
Deixei escapar, alarmada, chamando a atenção de outras pessoas que estavam no pátio do condomínio. Um grupo que carregava caixas me olhou como se eu fosse doida.
Toni deixou uma risada escapar.
— Não, eu tô só te tirando. — Ele abriu um sorriso, mas nem aquilo fez meu coração desacelerar. — Foi o Lobo, o cachorro da Pantera. Não sei mais detalhes da história, mas aparentemente ele questionou ela em público uma vez, de uma maneira meio desrespeitosa... Só sei que foi a primeira e última vez.
Encarei-o, completamente incrédula, enquanto ele ria de mim. Então, aos poucos meu coração foi se acalmando e fui obrigada a soltar um riso também.
— Puta merda, você é um idiota — reclamei, acertando-lhe um soco no braço. Apesar do bom humor, ainda senti um calafrio ao imaginar um ataque do Pastor Belga de Pantera.
— Desculpa, eu não resisti... mas a sua cara fez valer a pena. — Ele riu mais um pouco, então fez um gesto em direção aos prédios, indicando para que continuássemos. — Ai... mas seria uma boa, né? Se alguém fosse mesmo imune, talvez desse para fazer uma cura.
— É, mas ninguém é. Acho perda de tempo ficar pensando sobre isso.
Sentia meus ombros duros pelo dia longo e pelas quase cinco horas que fiquei em pé na torre de vigia, atenta a qualquer movimentação estranha (não houve nenhuma). Estava ansiosa sabendo sobre a escassez de comida (que provavelmente também nos afetaria em breve) e a situação da mulher de Igor tinha tudo para se tornar uma pulga atrás da minha orelha e me impedir de dormir naquela noite. Assim como a história do ataque de Lobo, que me fazia lembrar de Mei.
Eu realmente não dormi praticamente nada naquela noite, mas foi graças à visita que recebi de Samuel.
✘✘✘
Nota da autora:
Olá amigos! Espero que estejam tendo um bom final de semana 🖤 Meio doido nos encontrarmos hoje, né?
Quero agradecer a todos pela paciência dessas últimas semanas de atualizações caóticas. Eu estive de férias na praia e voltei só essa semana, mas tive alguns contratempos que me impediram de finalizar o capítulo (um deles foi o fato dessa porcaria ficar maior do que eu antecipei... pra variar 🙏).
Mas acredito que essa segunda nosso cronograma já voltará ao normal (o normal = eu atualizar na terça *rindo de nervoso*)
Eu comentei no Instagram que quero começar uma maratona para finalizar esse livro e pretendo me organizar essa semana para colocar em prática ✨ estou muito ansiosa para o final dele e para as novidades que estão por vir...
Aliás, estavam com saudades de um capítulo desses, da Rebeca passando a maior parte dele divagando sobre o mundo pós-apocalíptico? kkkk Acho que desde Em Decomposição não tínhamos tanto assim. Confesso que imagino que não deve ser tão legal para vocês em comparação a um de ação, mas eu me divirto HORRORES escrevendo.
Ai ai, o que será que vai render essa visita do Samuel? Será que esse livro vai terminar num cliffhanger? 👀
Falando nessa palavra que me dá tanto gatilho, terminar, vocês me perguntaram no Instagram a previsão de término... e eu gostaria de dizer que faltam dez capítulos, mas a cada dia começo a duvidar mais desse planejamento.
Vocês lembram que em algum momento eu disse que seria o menor livro da saga, com provavelmente apenas 50 capítulos?
🤡 marina previsões 🤡
O que eu posso dizer é:::::: vai terminar. Um dia. Sabe Deus quando kkkkkkkk
(brincadeira, mas eu preciso de mais algum tempo para saber quantos capítulos de fato vou precisar para fazer tudo o que eu quero acontecer... e ainda têm coisa.)
ENFIM, aaaaaaah que saudades de escrever uma notinha gigante para um capítulo gigante. No fim, tudo o que eu mais quero dizer é: espero que estejam se divertindo com a história 🖤🧡
Um beijo a todos e (com sorte) até segunda-feira!
Não sejam mordidos.
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