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Capítulo 45.

— Mei — chamei, e minha voz saiu entrecortada pela secura na garganta.

Eu não sabia que comando dar a ela, mas aquilo a deixou atenta a mim, ainda sem desviar os olhos (ou esconder os dentes) do homem à nossa frente. Se eu estivesse sozinha, sabia que meu primeiro impulso teria sido apertar o gatilho, mas aquilo poderia resultar em sofrimento para Samuel e Mei, então me contive.

Havíamos sido descuidados ao nos aproximar, a desidratação junto da esperança de encontrar rostos conhecidos nos cegando para o óbvio perigo. Agora, apesar das palavras, aquele homem apontava um rifle para nós.

Eu tinha flashbacks de quando eu e Hector fomos abordados da mesma maneira.

Ele era mais alto que Samuel, com prováveis 1,90m. Parecia forte por baixo da jaqueta de couro e seus cabelos compridos e negros estavam presos em um rabo-de-cavalo. Havia uma bandana azul marinho amarrada em seu bíceps direito, com o padrão de ondas idêntico à outra em seu rifle. Era difícil ler sua expressão por causa dos óculos escuros.

Eu e Samuel continuamos estáticos e ninguém se atreveu a respondê-lo — talvez, pelo medo de desencadear outro ataque de tosse.

— Estou falando sério — ele continuou —, eu sei que...

Samuel se moveu antes que ele terminasse e o latido de Mei foi abafado pelo estampido do tiro de pistola.

Por um segundo, achei que queria atacá-lo — mas segurava uma pistola na mão, e por isso não fazia sentido avançar —, então, horrorizada, percebi que ele apenas cambaleou. Seus olhos revirados sugeriam que perdia a consciência. Abri a boca para gritar qualquer coisa que pudesse salvar a vida do meu amigo, mas o homem agiu mais rápido.

Ouvi o barulho do seu rifle caindo no chão no mesmo instante em que ele amparou a queda de Samuel. Então ergueu o braço que tinha a bandana na direção do resto do grupo, fazendo um sinal. Acompanhei seu olhar e encontrei a maior parte deles agora armados, atentos a nós.

Ele abaixou o braço e abriu a mão na minha direção.

— Eu e meus homens não queremos conflito — disse, a voz surpreendentemente calma para a situação, ainda sendo abafado pelos latidos de Mei. — Temos comida, água, remédios... nós queremos ajudar vocês!

Olhei para Samuel, que se apoiava nos ombros do homem desconhecido, respirando fundo para lutar contra a tontura. O tiro havia sido disparado da sua pistola, mas não parecia ter acertado ninguém. O rifle do homem jazia abandonado no chão, mas outras pessoas armados se aproximavam.

Senti o braço ferido latejar quando abaixei minha pistola. Engoli em seco — e minha garganta ardeu —, porque a verdade era que eu não tinha qualquer escolha.

ODIN?!

Ouvi uma voz grossa e virei na direção do homem que se aproximava. Era alto, com um corpanzil e barba densa. Os dois braços grossos eram cobertos de tatuagens, e um deles tinha a mesma bandana que o homem que nos abordou usava. Também vestia a mesma jaqueta de couro, mas em uma versão com as mangas cortadas. Percebi que carregava uma espingarda serrada na mão direita.

— Tá tudo bem, Bazuca! — O homem, Odin, assegurou. — Este aqui está fraco. Ele quem atirou, mas foi durante a queda. A menina estava armada, mas abaixou a pistola.

— Opa! — Ele arquejou, assim que se aproximou demais e Mei reagiu. Minha cachorra saltou para ficar entre nós, sem parar de mostrar os dentes. Por um breve segundo, percebi sua pata ferida vacilar. — E esse guaipeca?!

— Mei! — Chamei de novo, sabendo que só restava um comando para dar a ela enquanto temia por sua vida: — Amigo.

Talvez pela aspereza em minha voz, ou pela tensão que havia no ar, minha cachorra relaxou muito pouco. Permanecia próxima a mim, olhando atentamente para cada rosto novo. Eu compartilhava de seu medo, porque meu coração acelerado doía no peito.

— Caetano! — Odin ergueu a voz, enquanto tirava a pistola das mãos de Samuel e o ajudava a ficar de pé. — Chame Marcos. — Ergueu os olhos para Mei. — E Miguel.

— Odin, eu conheço essa garota!

De imediato, estranhei aquela voz feminina, que se destacou sobre todas as outras que questionavam quem éramos ou o que estava acontecendo. Apesar de parecer familiar, eu não conseguia me lembrar de onde a conhecia. Virei o rosto para tentar identificá-la enquanto o homem que respondeu ao nome "Bazuca" se aproximou de mim e estendeu a mão para pedir minha pistola. Entreguei a arma e a surpresa sufocou momentaneamente meu medo.

A mulher era magra, uma aparência quase frágil sob a jaqueta de couro alguns números maiores que o seu. Tinha a pele bronzeada e cabelos castanhos com pontas loiras. Apesar do rosto remotamente familiar, eu não conseguia dizer quem ela era.

Até ver a garotinha de cinco ou seis anos agarrada em sua saia comprida. Seu cabelo era loiro e tinha os mesmos olhos grandes e castanhos de quem supus ser sua mãe. Ela não era particularmente mais familiar, mas vê-las em dupla me fez lembrar do nosso primeiro encontro — e a cicatriz no antebraço da menina confirmava a suspeita.

Era a mulher que se encontrou comigo, Leonardo e Guilherme na estrada próxima à fazenda onde resgatamos Canela e as galinhas. Na época, sua filha estava ferida e febril, e Leonardo indicou para ela o caminho até o Hospital. Eu lembrava o nome da criança, Helena, porque me fazia lembrar da garota que saiu comigo do colégio, no que pareciam vidas atrás. Nunca mais ouvimos falar delas desde então.

Sem qualquer rancor do dia em que apontei um fuzil para ela, a mulher que eu não lembrava o nome mandou que a filha ficasse onde estava e correu em minha direção. Repeti para Mei a palavra "amigo" e ela finalmente escondeu os dentes.

— Cuidado, Heloísa! — Um terceiro homem falou.

— Meu Deus, a cicatriz... é você mesmo — arquejou, quando se aproximou de mim. — Os garotos que estavam com você...

— Cadê o cavalinho? — Helena perguntou, alheia a qualquer caos.

— Sofremos um ataque e nos separamos — respondi, esforçando-me para ignorar a fraqueza que eu sentia. Então lembrei de como desconfiei que ela estava ligada à investida ao Hospital, antes de descobrir o verdadeiro autor: — Você... chegou ao hospital que ele indicou?

— Não. Eu estava a caminho, mas encontrei os Tormentas antes. Eles me ajudaram, e salvaram Helena.

Apesar de não termos sido atacados ou ameaçados, estar rodeados de pessoas novas me deixava apreensiva. Todos já haviam baixado suas armas, e eu não sabia mais se as palpitações no peito se deviam ao medo, ou à força do sol no meu rosto intensificando os sintomas da desidratação.

— Odin, tá tudo bem?! — Mais um homem se aproximou de nós, dessa vez baixinho, de cabelos ralos e com a pele branca queimada de sol. O pouco que correu até onde estávamos já o havia deixado sem fôlego. — O que foi esse tiro?!

— Está, Marcos. O tiro não pegou em ninguém, não se preocupe — Odin respondeu —, preciso que você veja esses dois, estão feridos e precisam de ajuda. O garoto primeiro, parece prestes a desmaiar.

Observei enquanto ele se aproximava de Samuel, que já conseguia ficar de pé. Meu amigo trocou um olhar rápido comigo, tão confuso e assustado quanto eu, mas nenhum de nós sabia como reagir.

Quando Odin se aproximou de mim, fiz menção de buscar minha pistola, mas ela já tinha sido levada.

— Helô, vocês podem conversar mais tarde? Deixe Marcos se certificar que eles estão bem antes — pediu educadamente, colocando a mão no ombro dela. A mulher assentiu e me deu mais uma boa olhada antes de voltar para onde a filha estava e levá-la de volta para o acampamento. Então, ele estendeu a mão na minha direção. — Prazer, eu sou Odin e nós somos os Tormentas da Estrada. — Apontou para a bandana azul marinho em seu braço, ainda que ela não me dissesse nada. — Marcos aqui é médico e o marido dele, Miguel, é veterinário, eles podem oferecer assistência a vocês. Temos água, comida e remédios. Se quiserem ir embora, não tem problema, mas convidamos vocês a ficar. Nós não somos inimigos, nossa intenção é apenas ajudar.


✘✘✘


Em nenhum dos minutos que se passaram fiquei menos atordoada com o tratamento que recebemos — ou parava de reagir bruscamente a qualquer movimentação abrupta de algum deles.

Antes de irmos para o acampamento, Odin pediu educadamente que déssemos nossas armas, mas garantiu que ficariam à vista. Eu e Samuel trocamos outro olhar receoso, mas estávamos cercados e sem qualquer esperança de encontrar água ou comida em horas de caminhada, então não tivemos escolha. Bazuca revistou rapidamente meu amigo e Odin chamou uma mulher, Clara, para fazer o mesmo comigo. Ela da minha estatura, ainda que mais velha, de pele escura e cabelos cacheados presos num rabo de cavalo. Pediu licença e tirou meu facão e o machado de Leonardo do coldre.

— Não se preocupe, vamos deixar ao lado do motorhome. Vai ficar à vista de vocês — informou, quando fiz menção de protestar pelo machado.

Antes que eu pudesse retrucar, tive de ceder momentaneamente de qualquer desconfiança quando nos trouxeram água e frutas frescas. Vi nos olhos de Samuel que queria resistir tanto quanto eu, ter pelo menos um pouco de cuidado, mas estávamos exaustos e desidratados, e Mei ainda estava ferida. Odin propôs nos deixar ir, mas provavelmente já estávamos condenados ao que quer que eles planejassem.

Contei cerca de uma dúzia de pessoas naquele acampamento, considerando as que não saíram de perto de nós, que foram os tais Odin e Bazuca (eu não sabia se aquele era o nome real deles); o médico Marcos e seu marido, um homem negro e de estatua média, que usava óculos de grau e não parou de sorrir desde que viu Mei; a mulher Carla; e um outro homem, alto, branco e magro, que também usava óculos de grau e não parava de conversar com Odin, sem tirar os olhos de nós. Além da filha da mulher que falou comigo, havia outra garota e um garoto que aparentavam ser mais novos que Maitê. A maioria deles usava jaquetas de couro com o mesmo símbolo bordado: uma nuvem com trovoadas em estilo old school e os dizeres "Tormentas da Estrada".

Também haviam dois gatos andando pelos arredores.

— Uhum — o médico murmurou, tirando o estetoscópio que usava para ouvir meu coração dos ouvidos. — Esse curativo, é uma mordida?

Estávamos no motorhome, usando a mesa da cozinha como uma maca improvisada. Samuel foi examinado primeiro e, apesar da queda de pressão, seus sintomas eram básicos da desidratação.

Depois de bebermos um soro caseiro preparado por Marcos (Mei inclusa), deixaram que descansássemos por alguns minutos antes que ele pedisse para ver nossos ferimentos. Segurando Mei numa coleira improvisada com uma corda — porque Odin ficou com medo que ela atacasse os gatos, depois de rosnar para eles —, eu e ele pudemos conversar, porque ninguém ficou próximo nos vigiando.

— O que você acha que está acontecendo? — sussurrei para ele, olhando para os arredores. Sempre haviam olhos sobre nós, assim como sussurros desconfiados, mas não impedia o restante do grupo de se concentrar em suas próprias atividades conforme anoitecia.

— Não sei, Rebeca... eles nos salvaram — respondeu, mas seu tom era mais contrariado do que qualquer coisa. — Provavelmente vão nos cobrar, como Jin fazia. Acha que aquele homem, Odin, estava blefando sobre nos deixar partir?

— Mesmo se deixassem, duvido que nos devolveriam as armas.

— Eu e você ficamos de guarda hoje à noite, ok? — ele perguntou, e concordei. — E se não nos deixarem ficar juntos, pedimos para ir embora.

A lembrança se desfez enquanto o médico, Marcos, continuava me encarando, esperando por uma resposta.

— Não, foi um arranhão — murmurei, distraída, e ele arregalou os olhos. Apressei-me a esclarecer: — não de zumbi! De um puma. Fomos atacados por um.

Aquela informação definitivamente não fez a expressão dele suavizar.

— O que?! Quando você falou que foram atacados, foi por um animal?! Não foi outro grupo?

Quando Odin perguntou como chegamos naquela situação, ainda desconfiada, contei que sofremos um ataque que nos deixou sem mantimentos. Na hora, não me ocorreu que "ataque" podia remeter a outra coisa.

Assenti e ele me pediu para ver o ferimento, desenrolando as gazes com cuidado quando permiti. Sua expressão não foi das melhores, mas podia ser simplesmente porque o machucado estava um pouco infeccionado.

— O garoto e a cachorra também foram atacados?!

— Ele não, só eu e ela.

— Amor — chamou o veterinário, que o esperava me liberar para que eu contivesse Mei e ele pudesse examiná-la. — Ela e a cachorra foram atacadas por um animal selvagem. — Voltou a se dirigir para mim: — Quando foi?

O tempo que passamos vagando sem água me deixou um pouco atordoada, mas me esforcei para calcular:

— Há dois dias. Limpamos e tratamos os machucados como foi possível, mas...

Ele não me esperou terminar e caminhou até o frigobar que havia no motorhome, procurando por algo. Depois de alguns segundos, estalou a língua e foi até a porta:

ODIN! Ainda temos anti-rábica?!

— Acho que não. — Foi seu marido quem respondeu, que levantou da poltrona ao lado de Samuel quando entendeu a situação. — Eles pediram em Soledade.

O médico estalou a língua de novo, ao mesmo tempo que Odin e o homem alto de óculos que sempre estava ao lado dele entravam no trailer. Mei se levantou de onde estava, aos pés de Samuel, quando viu o gato preto que Odin carregava no colo.

— As anti-rábicas foram todas — ele informou, com calma. Agora que já era noite, não usava mais os óculos escuros e eu podia ver seus olhos castanhos. O homem devia ter por volta de quarenta anos. — O que houve?

— O ataque que a menina falou não foi de outras pessoas, foi de um puma selvagem.

— Como assim?! — perguntou para mim.

Limpei a garganta e, mais uma vez, troquei outro olhar com Samuel antes de responder:

— Estávamos seguindo a pé, eu e meu amigo, e passamos uma noite ao relento há dois dias. Estávamos de vigia, mas não vimos o bicho nos espreitando. Tínhamos caçado uma paca durante o dia, e o cheiro da carne deve tê-lo atraído. Ele conseguiu me arranhar e minha cachorra se feriu tentando me defender.

Odin e o homem de óculos se encararam por alguns segundos, mas não pareciam particularmente surpresos, apenas pensativos. O segundo perguntou ao médico:

— É certeza que o bicho estava doente?

— Não, mas não tem por que arriscar uma morte tão dolorosa que vai fazê-la preferir os zumbis.

Um arrepio correu pela minha espinha e, pela primeira vez, não foi por ter quatro homens desconhecidos dentro daquele trailer comigo e Samuel.

— A cachorra também? — Odin perguntou ao veterinário e vi o movimento milimétrico que fez ao apertar um pouco mais o gatinho que descansava em seu colo. Ele confirmou. — E quanto tempo elas têm para tomar a vacina?

— Dois dias já é tempo de espera demais — respondeu o médico, impassivo.

Aquela afirmação teria me feito entrar em desespero, se a surpresa de ouvir as próximas palavras de Odin não tivesse sido muito maior.

— Certo, eu e Bazuca iríamos à cidade amanhã, mas sairemos hoje então.

— Odin... — O homem de óculos começou.

— Não, Nicolas. Sozinhos e de moto, não deve demorar mais que três horas.

Aquela declaração repentina me pegou tão desprevenida que me senti atordoada. Se Jin já nos cobrava semanas de mantimento quando precisávamos de atendimento médico, o que aquelas pessoas pediriam em troca de se arriscar em uma viagem para uma vacina?!

— Não. — Interrompi a discussão e me levantei, embora pouco adiantasse para tentar passar um pouco mais de autoridade. Eu ainda precisava olhar para cima para falar com aqueles homens. — Nós não pretendemos ficar. Não se incomodem, eu e ele podemos ir atrás de...

— Vocês podem ir embora a hora que quiserem. — O médico fez questão de reforçar. — Mas eu não recomendo. Deveriam descansar até se sentirem melhor, talvez tratar um pouco das queimaduras. Não são graves, mas se pretendem continuar seguindo à pé...

— Eu pediria para deixarem a cachorra aqui por mais um dia. — O veterinário interrompeu. Diferente do marido, não era difícil ler suas emoções, e parecia genuinamente preocupado quando olhou para Mei. — É mais difícil para reidratar os animais, talvez ela precise de fluidoterapia.

Apesar de todos estarem calmos, meus olhos não paravam de desviar para os de Samuel, que parecia igualmente desconfortável com aquilo. Senti meu coração acelerar, incerta do que queriam ao nos manter ali.

— Não! — Insisti, mais alto do que gostaria. — Obrigada por tudo o que fizeram, mas nós precisamos ir.

Odin franziu as sobrancelhas e comecei a sentir tanto medo que odiei até o gato que ele segurava no colo.

— Vocês têm certeza? Não é...

Olhei para Samuel mais uma vez, que estava atento a mim. Apesar de também ter ciência da nossa situação delicada ao ir embora, não parecia disposto a se opor. Se continuassem negando, seria a certeza de que nunca pretenderam nos deixar partir.

Aquele não era um mundo de boas intenções.

— Sim. — Engoli em seco, um pouco mais aliviada pela minha garganta não estar tão áspera. Ainda assim, só queria ir embora dali o mais rápido possível

A expressão de Odin mudou, a confusão dando lugar a uma expressão séria. Olhei ao meu redor, estimando quanto tempo demoraria para chegar até o expositor de facas de cozinha em cima do balcão. Samuel estava mais perto, mas se eu tentasse me comunicar...

— Certo. — Ele aquiesceu e abaixou para soltar o gatinho no chão, que saiu correndo porta afora. Mei ergueu as orelhas, mas não parecia disposta a latir. — Vou pedir para Isadora pegar suas coisas. Só vou adiantar que eu e Bazuca vamos acompanhá-los até o local onde nos encontramos, e lá devolvemos as armas de fogo, tudo bem? Como é de noite, tenho certeza que deixaria o resto do grupo mais tranquilo.

Àquela altura, minha respiração estava acelerada. Ver Odin saindo do motorhome não me trouxe a calma que achei que traria, e o olhar sério que eu recebia do homem que ele se referiu como "Nicolas" não me permitia afastar os pensamentos envolvendo um ataque imediato.

— Deixe eu pelo menos refazer o curativo — Marcos falou.

Samuel se levantou enquanto ele trocava minhas gazes, sem nunca deixar de olhar para mim. Meu amigo provavelmente sabia que eu só queria testá-los, acabar com toda aquela encenação e descobrir as reais intenções daquele grupo. Finalmente, seus olhos azuis também desviaram para o mesmo expositor de facas e soube que ele pensava no mesmo que eu, mas pareceu desistir junto comigo. Quando Odin voltasse, não seria de mãos vazias, e não teríamos o que fazer quando seu rifle estivesse apontado para nós.

Trocamos um olhar confuso quando quem entrou pela porta não foi ele.

— Oi, gente. Meu nome é Isadora! Odin está falando com Bazuca. — A mulher que entrou pela porta parecia ter a idade de Paulina. Sua pele tinha tom de oliva e seus cabelos cheios e ruivos iam até a metade das costas. Contrastando com a tensão dentro do motorhome, ela tinha um sorriso no rosto. — Escutem, não temos mais mochilas, tá? Desculpa. Mas tem um pouco de água e comida para vocês levarem aqui. Também enchemos os cantis.

Observei, atônita, enquanto ela entregava para Samuel um saco simples de cordão, além da mochila que nos restava. Parecia cheio. Tão cheio que o cordão mal fechava, deixando à mostra o topo do que parecia uma lata de sardinha.

A expressão de Samuel parecia refletir o meu choque quando ela também ofereceu nossas facas, e saiu do motorhome para buscar o machado de Leonardo, entregando-o sem hesitar para mim.

Nenhum dos homens presentes fez qualquer menção de impedir que eu pegasse.

Odin voltou alguns segundos depois, nos quais a expressão da mulher já tinha evoluído para uma confusão, conforme nenhum de nós se mexeu. Nicolas estava de braços cruzados, sem parar de me observar.

— Tudo certo, Bazuca está esperando para irmos.

— Odin, pode esperar mais um pouco? — Miguel deu um passo à frente, e já fiquei em alerta. — Estava esperando a garota segurar a cachorra para eu ver seus machucados... posso pelo menos garantir que não estão infeccionados?

— Claro. Vou esperar aqui fora.

— Tudo bem? — Miguel sorriu para mim, enquanto empurrava os óculos pelo nariz. — Só para garantir que ela está bem. Meu marido também precisa passar as instruções para aplicação da anti-rábica, para vocês saberem como...

O som que o machado de Leonardo fez ao cair no chão o interrompeu, arrancando um arquejo de surpresa de Isadora.

Eu não sabia por quanto tempo tinha trancado minha respiração.

Lutei contra as lágrimas, tentando controlar o turbilhão de sentimentos que me dominavam — e Samuel não parecia nem remotamente menos tenso. Se quisessem nos libertar para nos seguir, ambicionando encontrar um possível grupo para saquear, por que se preocupavam com aqueles detalhes? Eram tão confiantes que podiam nos subjugar a ponto de fingirem ser relapsos e nos devolver nossas armas? Eu e Samuel estávamos fracos e feridos, mas Adão também estava quando destruiu nossa casa.

— Odin, a garota não tá bem... — Isadora sussurrou.

Por que? — Soltei, exausta, e minha voz saiu sufocada. — Por que vocês estão fazendo isso? O que vocês querem?! Não temos nada a oferecer, nem um grupo para onde voltar...

O líder do grupo, Odin, olhou para Nicolas, que independente de qual posição ocupava, parecia ser tão importante quanto ele. Suas expressões eram sérias, mas de alguma maneira, não exatamente ameaçadoras. Assim como eu e Samuel, não pareciam precisar de palavras para se comunicar.

Quando Odin voltou a me encarar, havia algo diferente em sua expressão, e custei a acreditar no que vi ali.

Compaixão.

— Ninguém aqui julga o receio que vocês têm, afinal todos sobrevivemos a esse mesmo mundo — falou, a voz um pouco mais alta que um sussurro. — Mas não há nenhuma armadilha, apenas queremos ajudá-los. Não somos seus inimigos... a guerra que lutamos não é contra outros sobreviventes.


✘✘✘


Odin nos convenceu a ficar, e ele e Bazuca saíam em busca da vacina. Nicolas, o segundo em comando, pediu que dessem janta a mim, Samuel e Mei, assim como uma barraca para dormirmos. Miguel tratou dos ferimentos da minha cachorra e, vendo como ela não apresentava melhora da apatia, iniciou a fluidoterapia.

O líder do grupo voltou quase de madrugada, e acordou Marcos e Miguel para aplicarem a primeira dose da anti-rábica em mim e em Mei.

Eu e Samuel combinamos de não dormir durante a noite, atentos a qualquer movimentação suspeita.

Nada aconteceu.


✘✘✘


Nota da autora:

Não passou da meia-noite ainda, mas atualizei tarde porque, adivinhem::::::::

O capítulo ficou maior do que eu esperava 🤪

Não me perguntem em que capítulo vai acabar esse livro, porque eu queria que fosse no 50... mas a história parece perto de acabar pra vocês??? não??? é pq não tá!!!!!!!!!

O combustível dessa saga é caos. 


Mas falando sério, esse capítulo me quebrou.

Eu queria falar mais sobre ele, só que 1) não quero dar spoiler do próximo e 2) ainda tá muito cedo, porque restam muitas coisas a acontecer. Só saibam que essa saga inteira é extremamente especial para mim, e tem muitas coisas importantes que eu espero conseguir dizer através dela.

Então vou terminar apenas perguntando: o que acharam dos Tormenta da Estrada? 👀

Alguma suposição do que vem daqui pra frente?

E obrigada, de coração, por me acompanharem nessa jornada 🖤

Não sejam mordidos até o final dela. 

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