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Capítulo 27.

  Naquela mesma noite descobri que, apesar de ficarem juntos nas duas casas pela maior parte do tempo (havia camas para todos, além de fazerem lá as refeições e atendimento aos feridos), era de conhecimento geral que as outras residências daquele bairro também estavam seguras. Então, após uma janta escassa de feijão, arroz, e uma unidade de tomate cereja para cada, eu e Leonardo pudemos ter um pouco de privacidade depois de nos esgueiramos para uma casa vizinha.

Nunca deixava de ser estranho sentir algo além de medo ou infelicidade no apocalipse, mas nem por isso as coisas boas que incendiavam nosso sangue de tempos em tempos paravam de existir. Nesses momentos, tentávamos aproveitar cada gota de vida que aplacava uma sede eterna por qualquer resquício de alegria.

Apesar de ter diversas perguntas na ponta da língua, de sentir o coração apertado por tanto medo e receio, aproveitei meu reencontro com Leonardo. Nos beijamos assim que nos vimos sozinhos e não paramos até que nossas roupas estivessem no chão e nossos corpos cobertos de suor sobre a cama. Falamos sobre o quanto nos amávamos mais vezes do que eu podia contar, como se aquilo pudesse compensar todo o tempo em que esteve na ponta de nossas línguas e escolhemos guardar. Como muitas vezes naquela vida pós-apocalíptica, meus sentimentos eram uma mistura estranha de receio, alívio, esperança, e medo de perder tudo novamente.

Mesmo depois que acabamos, permanecemos em silêncio por vários minutos, abraçados como se cada centímetro entre nós pudesse se transformar em quilômetros a qualquer momento. A noite era sem estrelas e não havia energia elétrica na casa (mas, nas residências que eles chamavam de "Base", usavam geradores portáteis), por isso a nossa única companhia era uma escuridão tão densa que sufocava. Tanto quanto o medo do inevitável momento em que o conforto daquele reencontro seria rompido por informações que eu nem sabia se estava pronta para ouvir.

Mas também não tinha escolha.

— Leo, eu-

— Rebeca — Ele me interrompeu e virou o rosto na minha direção. — Me desculpa pela Mei. De verdade, eu nem sei como me justificar... Depois que Guilherme, Victória e Melissa foram embora, ela parou de comer, beber água, não queria nem levantar. Eu não sabia o que fazer, fiquei com medo que ela morresse de desidratação! Então tentei procurar por você outra vez e a trouxe junto. Sei que ela não é minha amiga como era do Gui, mas sempre me obedeceu até então.

Leonardo era apenas uma sombra que minha visão lutava para distinguir no quarto escuro, mas vi o contorno do seu peito subir e descer numa inspiração profunda. No canto do quarto, outra sombra (esta peluda) respirava calmamente.

— Estávamos entre o caminho de Blumenau e o condomínio e... não sei direito o que aconteceu. Acho que ela sentiu um cheiro, ou se assustou. Só sei que começou a correr e não atendeu a nenhum chamado. Eu e a Paulina voltamos para o carro e tentamos ir atrás dela, mas era impossível acompanhá-la por entre as ruas, com os acidentes na estrada... Rebeca, eu procurei ela por dias, mas nunca achei que ela caminharia quilômetros até o condomínio!

Leonardo fez meu coração disparar quando me puxou mais para perto, como se eu pudesse ir embora a qualquer instante.

— Eu sei o quanto ela é importante pra você... Eu te amo tanto, eu também amo a Mei, não queria que nada acontecesse com ela. Durante todos esses dias, fiquei com medo de te reencontrar e... Eu não saberia o que dizer. Eu tinha medo que você não estivesse morta, mas também fosse embora.

Virei para ele e envolvi seus ombros trêmulos com os braços, absorvendo as palavras. Ardia minha alma saber que Mei fugiu, pensar na dor e no medo que ela sentiu sozinha, mas qualquer raiva se desfazia (ou apenas amenizada) ouvindo o pânico na voz de Leonardo.

— Eu sinto muito mesmo, Rebeca.

— Eu... Leo, ela está bem. É isso que importa — murmurei, segurando seu rosto nas mãos. Senti a aspereza da barba por fazer nos dedos e me aproximei para descansar os lábios sobre os dele por alguns momentos. — Mas Leo, por favor, me explica: por que eu também iria embora? O que houve? Por que vocês se separaram, se todos estão bem?

O silêncio se estendeu após a minha pergunta e senti o coração acelerar, o som retumbando em meus ouvidos. Leonardo passou a mão pelos dreads, puxando-os para trás e respirando pesadamente:

— Muita coisa, Rebeca. — Durante toda aquela conversa, a voz dele estava instável, quase como se estivesse lutando para segurar as lágrimas. — Desculpa não te contar antes, mas não é algo que dá para explicar em cinco minutos. — Leonardo ainda me apertava contra seu corpo em um abraço forte, como se eu lhe oferecesse alguma segurança. — Foram muitas coisas, desentendimentos...

"Quando todos que sobreviveram se reencontraram, o clima já não era dos melhores. Elisa tinha morrido, Victória estava ferida, estávamos com uma bebê recém nascida e praticamente sem abrigo. Os sobreviventes do hospital também não estavam nas melhores condições, tiveram muito mais baixas que nós, todos estavam abalados... Acabamos nos juntando, porque precisávamos de atendimento, e eles, de gente para buscar comida."

"Só que as coisas não ficaram melhores depois que a gente se estabeleceu aqui. Vocês nunca tiveram um grupo maior do que éramos no condomínio, né? É muito diferente quando têm mais pessoas para alimentar e cuidar do que para reunir mantimentos. É estressante, não existe descanso, todo mundo se sente culpado e insuficiente. E a situação foi um gatilho para mim e para Paulina. Nos lembrou das primeiras semanas na escola, quando estava cheio de crianças, pais, avós... morria uma pessoa por dia, não dávamos conta de alimentar as crianças, não sabíamos nos proteger dos zumbis, alguns tentavam ir embora apenas para morrer a alguns passos dali..."

— Leo, eu... Sinto muito. — Ele já havia me contado aquela história em outra circunstância, mas nunca em um estado emocional tão abalado. — Deve ter sido um pesadelo. Não me admira que tenha marcado tanto vocês.

Aos poucos eu me acostumava com a escuridão e os traços do rosto de Leonardo se tornavam mais visíveis. Seus olhos verdes pareciam negros, e estavam presos nos meus.

— Foi mesmo um pesadelo. Por isso, ou aprendíamos a lidar com ele, ou teríamos enlouquecido e nos matado na primeira semana. Alguns fizeram isso. — Aquelas palavras, naquele tom mórbido, me causaram um arrepio. Ouvi Leonardo fungar algumas vezes, antes de continuar: — Rebeca, em nenhum segundo eu deixei de te amar, mas... Depois de três semanas sem notícias, eu não podia continuar acreditando que você estava viva. Eu precisava focar no que estava acontecendo ao meu redor, no trabalho que precisava ser feito...

"Eu espero que você não me ache um babaca. Eu teria feito isso com qualquer um... eu fiz com a minha mãe, mesmo que fosse uma situação um pouco diferente. Eu aprendi isso a minha vida toda, Rebeca... todo mundo sofre, mas a gente tem que aprender a continuar mesmo sofrendo. Eu não culpo ninguém do seu grupo. Eu entendo a situação da Carol! Ela tinha perdido o marido e não podia aceitar que perdeu o filho também... Só que Guilherme, Melissa e Victória queriam continuar fazendo buscas atrás de vocês, se meteram no meio de Florianópolis um dia, Melissa voltou toda machucada... Simplesmente não podíamos lidar com isso no momento. Já não tínhamos comida o suficiente, era difícil tratar todos os feridos... Quem estava bem não podia se dar ao luxo de ser egoísta."

— Você brigou com o Guilherme por causa disso? — perguntei.

— Várias vezes — ele admitiu. — Rebeca eu sei que vocês também passaram pelo inferno e eu sei que às vezes eu posso soar condescendente, mas acredita em mim: por tudo o que vocês já me contaram, eu não acho que vocês saibam o que é passar fome. Não passar fome como qualquer um passa no apocalipse, mas precisar escolher quem não vai comer, ver crianças literalmente morrendo de inanição. Estar perto disso de novo me deixou tão nervoso...

Meu coração apertou quando a voz de Leonardo vacilou, dando lugar a um choro sufocado. A única vez que eu tinha o visto chorar foi quando perdeu a mãe.

— Eu fui um babaca com ele... Discutimos várias vezes, falei que ele precisava esquecer você e enxergar as coisas que aconteciam bem ao nosso redor, mas ele insistia que teria esperança até encontrarem um corpo. Eu podia ter sido mais compreensivo... — murmurou e me apertou de novo. Ele ficou em silêncio por mais alguns segundos, como se buscasse as palavras certas: — Essa questão, de continuarem buscando por vocês, não foi o único problema. O Jin é um babaca, a essa altura você já sabe. Antes, ele cuidava mais da logística e estratégia, e Anderson quem falava, formava alianças, porque era mais acessível e educado.

"Jin não é assim. Ele já não era um homem fácil de lidar antes, e ter perdido a segurança do Hospital e assumido o comando daqui sozinho não ajudou em nada. Eu não o odeio, mas sei como pode ser babaca, exigente e a palavra dele precisa ser a última. A questão é: ele faz as coisas funcionarem. Está tudo uma merda, mas estávamos conseguindo vencer a fome. Eu não sei se foi o meu tempo no exército, mas me acostumei o suficiente com comandantes idiotas. Desde que as coisas funcionem, eu consigo relevar o resto."

Leonardo interrompeu, deixando um riso seco escapar.

— Eu e o Guilherme estávamos juntos, como você pode imaginar... Um dia, Jin viu nós dois nos beijando. Na hora ele não falou nada, mas em outro momento chegou em mim e falou que "aguentava essa 'viadagem' porque éramos importante para a sobrevivência do grupo, mas não era para fazermos isso em público".

Deixei um suspiro de surpresa escapar, colocando a mão na boca por reflexo.

— E você achou isso tudo bem?!

— Óbvio que não! Eu queria acertar um soco na boca dele, mas aí pensei de novo naquelas primeiras semanas na escola... O avô de Alicia tinha acabado de morrer e estava todo mundo muito abalado, e ela era uma das poucas que estava inteira e podia buscar mantimentos. A questão é que eu já estava acostumado com esse tipo de fala antes. Já te disse que andei com um pessoal errado, e ninguém agia muito diferente. A questão é que o Gui também ouviu. Eu sei que Jin veio falar para mim porque até então éramos relativamente próximos, mas... Bom, eu consigo entender como gatilhou a insegurança do Guilherme: ele é mais novo, acabou de se descobrir e ainda têm toda a questão do braço ferido. Sim, eu fiquei puto ouvindo aquilo, mas, pelo grupo, pela situação em que estávamos, preferi não deixar me afetar... E falei pro Guilherme fazer a mesma coisa, mas era óbvio que seria diferente para ele.

"Acho que Paulina estava tão traumatizada quanto eu, porque ela concordou comigo quando contei o meu lado da história. Aliás, ela e Melissa tiveram seus próprios problemas... Sua amiga fez dezoito anos, mas Paulina não estava no melhor estado emocional, assim como eu, e não soube corresponder..."

Por apenas um segundo, quis rir, como se aquilo pudesse aplacar a tristeza que apertava meu coração. Melissa havia feito aniversário e provavelmente sequer pode (ou teve clima para) comemorar. Que mundo de merda.

— Bom, de qualquer maneira... Eu e Paulina tivemos menos dificuldade em relevar os problemas com Jin. Ele é um merda, mas as pessoas daqui o respeitam e ele consegue manter o bem estar, e é muito mais do que podíamos pedir. E Celso obviamente não arriscaria ser expulso, com Laura e a cachorrinha. — Depois que mudou o assunto e parou de falar sobre Guilherme, Leonardo conseguia conter as lágrimas. — O pessoal do seu grupo foi bem mais irredutível. Carol era bem vocal quando discordava de Jin; Victória parece você, é teimosa como uma mula; e apesar de Melissa e Guilherme não se envolverem tanto nas discussões, a expulsão do pessoal que estava com Klaus mudou completamente o clima."

— Ninguém me explicou sobre isso — falei, sem conseguir conter minha ansiedade.

— Acho que porque ninguém sabe o que falar. Jin é... Razoável em suas decisões, mas muito precavido. Você sabe disso. — Não foi uma pergunta, mas assenti mesmo assim. — Maurício confirmou que reconheceu alguns rostos dentre os homens que nos atacaram e provavelmente Adão teve reforço do outro grupo de Blumenau. Ou seja, restam inimigos vivos e isso deixou Jin paranóico. Independente das tentativas de Bruna e Darlene de defendê-lo, de dizer que Klaus e o resto do grupo eram muito diferentes dele, o líder não queria Antônio aqui. Por causa do envolvimento anterior com Klaus e Adão. — Leonardo deixou um riso sem graça escapar pelo nariz. — Eu conheci melhor o cara depois de tudo, mas sinceramente? Não vai ser por isso que vou considerar o Jin. Se por conveniência ou qualquer outra merda, o cara fechou com nazistas em algum momento.

"Mas vou ser sincero, Rebeca... Eu acho que Jin queria matar o Antônio, mas alguém o convenceu ao contrário. Ele foi irredutível no dia que o expulsou. Bruna estava com a perna machucada, você lembra? Ela ainda não estava cem por cento, mas ela, Antônio e Darlene acabaram formando um grupo nesses últimos meses... Tentaram defendê-lo, mas não havia jeito. Então decidiram ir embora com ele. Eu digo que acho que ele queria matá-los porque mesmo assim Jin não parecia satisfeito. E faz sentido, né? Se fossem traidores, ele os libertou vivos. É claro que matá-los seria chocante demais para o resto do grupo, mas às vezes eu penso o quão perto Jin está de não ligar mais para isso."

"Então... se as coisas já não estavam boas, isso colocou ainda mais lenha na fogueira. Durante todo esse tempo, seus amigos e Carol não pararam as buscas, iam cada vez mais para longe, havia intriga quando estavam aqui..."

Mais uma vez, percebi a forma como a voz de Leonardo quebrou. Ele se desvencilhou de mim para se erguer na cama e apoiar as costas na cabeceira e imitei o movimento, meu coração acelerado como se aquilo tornasse tudo mais sério.

— Foi Guilherme quem sugeriu ir para o oeste. Ele falou que... era como um quebra-cabeça onde faltava uma peça. Se vocês estivessem mortos, queriam achar os corpos, mas se estivessem vivos... Por que não tinham aparecido até então? — Leonardo suspirou e sua mão subiu até meu cabelo, mais crescido do que na última vez que nos vimos. Brincou com uma mecha entre seus dedos. — Eles acreditam muito em você. O Guilherme principalmente. Espero que você não fique chateada por eu...

— Não, Leo. — Interrompi-o. — Apesar de eu ter mantido as esperanças durante esse tempo também, eu entendo seus motivos. Eu não sei como eu reagiria nessa situação.

— Com certeza de um jeito menos insensível que eu — ele suspirou. — Eu já estava estressado com tudo, mal conseguia descansar direito e passava noites em claro por causa de pesadelos, além disso sentia que precisava tentar amenizar a situação entre Jin e o pessoal do seu grupo... Quando Guilherme veio me falar de fazer a viagem para o oeste, eu explodi. Falei que ele precisava se concentrar nas pessoas que estavam vivas ao invés de continuar perseguindo um fantasma. Sabe... eu nem achava que você estava mesmo morta. Eu tentava não pensar no assunto, porque só contribuiria para dificultar tudo, mas... Eu tinha medo que eles fossem. Não saber o seu paradeiro é uma coisa; ver pessoas vivas, bem na minha frente, indo embora, é muito diferente. Eu sentia que estaria deixando-os caminhar para a própria morte.

Mais uma vez a voz de Leonardo se perdeu em um choro, e mais uma vez tentei confortá-lo de alguma maneira. Eu era a última pessoa do mundo que poderia julgá-lo por ter falado coisas dolorosas sem pensar. Além do mais, eu e Guilherme podíamos ser bons nisso... mas até então, Leonardo se mostrava muito mais cuidadoso e racional nesses momentos. Isso só me servia para mostrar sob quanto estresse ele estava

— Ele nem me xingou depois, só ficou... magoado. Foi pior.

— Leo, olha a situação em que vocês estavam. Nenhum de vocês estava pensando no mal do outro, apesar de tudo.

— É, mas agora eles foram embora. Eu poderia ter tentado impedi-los de outra forma, mas fui impulsivo como uma criança. — Seu peito subiu e desceu rapidamente com a série de inspirações aceleradas, de quem tenta controlar o choro. — Enfim, isso só descarrilhou para o último conflito... Que foi entre Carol e Paulina.

Franzi o cenho, precisando afastar o meu rosto do peito dele para encará-lo nos olhos, mesmo que a escuridão não me permitisse enxergar nada.

— Como assim? O que elas duas teriam para...

Então me atingiu, ao mesmo tempo que Leonardo explicou:

— As duas eram amigas de Elisa. Paulina desde a escola, depois Carol e ela se tornaram inseparáveis. Carol assumiu a guarda de Lilian quase naturalmente, assim como a de Caio, que também tinha Elisa como uma figura materna... mas isso, claro, quando nenhum dos dois estava correndo risco, né? Se Paulina encarou tão bem quanto eu a notícia de que eles queriam ir para o oeste, pode imaginar o estado que ela ficou quando descobriu que levariam as crianças. Claro, Jin nunca aceitaria que fossem e deixassem elas, mas...

— Meu Deus, que situação horrível — murmurei.

— É, e não ficou melhor quando mais pessoas se meteram... Sabe Deus o que se passa pela cabeça de alguém que perdeu o marido e, supostamente na época, o filho... Carol está bem diferente da mulher calma e educada que eu conheci. — Leonardo falou, mas segundos depois se corrigiu: — Claro que eu não estou em posição de julgar ela, eu fui um completo imbecil também, Paulina também falou coisas que com certeza se arrepende... Bom, no fim, ela levou as crianças. E o ódio eterno de Paulina. Quer dizer, era a única opção, afinal ela não aceitaria ficar e não poderíamos perder mais quatro adultos saudáveis enquanto ficariam pessoas para alimentar. Nossa... Como é horrível falar assim! Eu amo Caio e com certeza quero proteger Lilian de tudo, por tudo que Elisa já fez por nós, mas é isso que eu digo: atualmente minha mente só funciona assim. Penso nas pessoas que precisam comer, na necessidade de sair todo o dia e ir cada vez mais longe atrás de alimentos menos nutritivos. Rebeca, eu sinto que perdi tu...

Quase por impulso, querendo calá-lo, puxei-o mais para perto, até que apoiasse sua cabeça no meu peito. Senti as lágrimas quentes descendo pelo meu rosto, mas não sabia exatamente quando comecei a vertê-las. Era difícil sequer processar meus próprios sentimentos: alívio por ter Leonardo ao meu lado, por termos aquela noite inteira apenas para nós dois, longe até da perturbação das estrelas; um medo sufocante por todas as coisas que ele falou, pelos pesadelos que vivenciou e me descreveu, que eu só queria manter o mais distante possível daquelas pessoas com quem eu me importava; até sentimentos ruins, que me apressava em afastá-los, afinal eu sabia que independente do que tivesse acontecido desde que eu partira, todos nós vivenciamos situações que nos desgastaram até o limite, anuviaram nossos sentimentos e descontrolar nossas emoções.

Acima de tudo, ver Leonardo tão desesperado me causava dor. Pela primeira vez, ele não era a pessoa que me confortava com sua calma e maturidade, mas alguém tão profundamente assustado quanto eu estivera nas últimas semanas.

— Leonardo, eu estou aqui agora. Você não perdeu tudo.

— Nós tínhamos tudo... nós três. — Ele respirava com dificuldade, como se tentasse colocar todos os pensamentos em palavras ao mesmo tempo. — Se eu tivesse sido só um pouco mais compreensivo, a gente podia... Eu sinto que afastei Guilherme para sempre. Que te afastei pra sempre.

— Como você me afastou, se eu estou bem aqui? Se eu fiz de tudo para conseguir voltar? — sussurrei, mas sabia que minhas palavras não serviam de nada. Àquela altura, era apenas uma forma de desabafar todos os seus medos. — Eu prometo para você que vamos nos reencontrar. Que vamos viver aquela tarde sob o sol pelo resto das nossas vidas.

Leonardo tentou evitar, mas acabou chorando de novo. Lamentando sobre coisas que estavam e coisas que não estavam sob seu controle, e eu o acompanhei. Sempre odiei chorar na frente dos outros, mas havia algo diferente em ver alguém que eu admirava tanto não ter receio de fazê-lo.

Desejei que as feridas em seu coração cicatrizassem, para então combinarem com as minhas.

— Eu sei como dói, Leo, mas não esquece o que você nos falou: é justamente por te fazer sentir tão intensamente que algo te fez tão bem.

Claro que aquilo só o fez chorar mais, provavelmente por lembrar as circunstâncias em que me falou aquelas exatas palavras. Também doía em mim pensar em qualquer momento da minha vida há apenas alguns meses atrás, quando ao acordar todos os dias, apesar dos pesadelos e cicatrizes que nunca deixaríamos de carregar, cada dia também parecia repleto de esperança.

Quando finalmente um silêncio desconfortável se impôs sobre a noite escura, fiz algo que há vários anos não tinha me atrevido a repetir. Aquilo que a minha avó fazia quando queria me confortar.

Também percebi que o motivo de nunca tê-lo feito, era porque me considerava ruim demais em confortar os outros, mas também porque nunca parecia existir oportunidade para algo tão banal. Ou até perigoso, dependendo da circunstância.

Pela primeira vez em anos, murmurei baixinho uma canção que sempre ouvia minha avó entoar pela casa, e que enchia o meu mundo de vida. Eram apenas algumas estrofes curtas e sem qualquer relação com aquele momento, mas que me lembraram de tempos mais fáceis.

— Nossa... eu não fazia ideia que você sabia cantar. — Leonardo falou, sua voz grossa parecendo ainda mais imponente em comparação com meu canto, que eu tentei afinar na esperança de soar como minha avó. — E bem.

— Eu não canto bem, mas obrigada. — Sorri para ele, mesmo sabendo que era escuro demais para que pudesse me ver. — Eu só... essa música me lembra uma época boa. Queria tentar entregá-la para você de alguma forma.

Eu senti o sorriso de Leonardo contra meu pescoço, junto com o molhado das lágrimas que marcaram suas bochechas.

— Vamos tentar descansar agora — pedi. — Hoje é um dia bom, porque estamos juntos depois de tanto tempo... vamos aproveitar sem culpa, mesmo que seja impossível. — Não sabia se dizia isso para ele ou para mim. — O dia de voltar a lutar vai ser só amanhã.

Nosso beijo de boa noite foi doce como a primavera, e não como o inverno que nunca deixava de se aproximar.


✘✘✘


Nota da autora:

Caras, então....... Já passou de meia noite 😳

Eu não sei o que aconteceu, mas essa última cena se escreveu completamente sozinha, ao mesmo tempo em que foi muito difícil e fiquei quase duas horas nela. Por isso eu me atrasei... mas eu estou tão apaixonada que acho que valeu a pena. Espero que concordem.

COM MUITA VERGONHA, vou revelar aqui o motivo de eu ter adiado a atualização para hoje:

Eu comi que nem uma ursa se preparando para hibernar durante a Páscoa. Como se não fosse humilhante o suficiente, passei a segunda-feira inteira com muita dor de cabeça e dor de estômago (isso eu não contei nos stories)......... caras, eu tentei escrever, mas não teve como.

Nem peço desculpas, porque a dor e a humilhação que eu passei já foram punição o suficiente 😔

De qualquer maneira, espero que tenham gostado desse capítulo. Eu fiquei SEMANAS com medo do momento em que ele chegaria, porque seria muito difícil de escrever....... e foi 🙏

Mas estou satisfeita!!!

Eu amo escrever Em Fúria, amo ter a honra de ter tantos leitores incríveis me acompanhando nessa saga e amo cada um de vocês!

Então até segunda-feira que vem, porque vocês tornam todas as minhas especiais.

Não sejam mordidos ☠

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