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Capítulo 21.

No instante em que recobrei a consciência, arregalei os olhos e puxei o ar numa lufada, como se estivesse lutando contra o afogamento.

Com o coração acelerado, tentei forçar os olhos a se acostumarem com a escuridão para descobrir onde eu estava. Não tive nem alguns segundos antes da tosse provocada pela respiração profunda me acometer violentamente.

Senti o ar faltar conforme as tossidas não pareciam ter fim, cada uma causando uma pontada mais violenta do que a anterior. Levei uma mão à boca, e não demorou para cobrí-la com sangue.

Minha respiração não parecia dar conta e eu sentia o coração prestes a explodir de medo. Não reconhecia o lugar onde havia acordado, a escuridão impedia qualquer identificação e... eu não fazia a menor ideia se estava sozinha. Nem se queria estar.

Antes que eu conseguisse colocar meus pensamentos em ordem, senti um par de braços rodeando meu corpo. Meu coração acelerou, até a grossa voz familiar chegar até mim:

— Rebeca, calma. Calma. — Samuel pediu, segurando meus ombros delicadamente. — Sou eu, Samuel. Eu voltei. Está tudo bem.

Tentei chamar seu nome, mas só fez arranhar ainda mais a minha garganta. Demorei quase um minuto inteiro para regular a respiração e, consequentemente, diminuir o ataque de tosse. A dor que ficou na lateral do meu corpo era tão intensa que eu me sentia tonta.

— Estamos em um dos quartos da casa em que eu te deixei. Está tudo barricado e trancado, estamos protegidos dos zumbis. — Ele explicou, sem sequer erguer o tom de voz. — Não precisa ter medo.

Percebi que eu tremia, mas não sabia se era de medo, dor, ou febre. Ouvir a voz de Samuel tão próxima era um alívio, mas nem ela parecia ser o suficiente para acalmar meu coração que retumbava. Cada batida era uma pontada que me arrancava gemidos de dor.

— Você não está mais sozinha. — Então, mesmo com a mente ainda anuviada de pavor, senti que ele encostava a borda de um copo de vidro na minha boca. — Toma, é água fresca. Os remédios estão começando a baixar a sua febre.

Engoli a água, tentando ignorar a dor que somente aquilo já causava. Só então percebi que estava com o punho cerrado, segurando a camiseta de Samuel.

A princípio não entendi porque, no fundo da minha mente, a imagem da minha avó transformada em zumbi parecia ser a responsável pelo disparo do meu coração. Até compreender que eu provavelmente havia despertado de um pesadelo.

— Sa... — Murmurei, mas percebi que se tentasse produzir mais um som, provavelmente acabaria tendo outro ataque de tosse.

— Eu já cuidei dos seus machucados e estou dormindo na cama ao lado. Você não está mais sozinha. Estamos seguros e a sua febre está começando a baixar. É melhor você tentar dormir mais um pouco.

Tentei protestar, expressar as infinitas dúvidas que eu tinha, mas o apoio dos braços de Samuel me ajudou a colocar a cabeça em algo macio. Percebi que não sentia mais a aspereza do tapete da sala contra o meu corpo, tampouco a poeira incomodando meu nariz.

Samuel não me obrigou a desvencilhar meu aperto da sua camiseta, apenas permanecendo sentado ao meu lado. Ao meu alcance.

Permaneci imóvel por alguns segundos, tentando ignorar a dor na costela. Ainda sentia falta de ar, mas ela não estava forte como se eu estivesse prestes a desmaiar. Então, sob uma cama confortável e lençóis macios, meu corpo dolorido começou a relaxar.

Samuel falou mais um pouco. Contou que tinha água na mesinha de cabeceira e assim que acordássemos, ele prepararia comida. Falou que também tínhamos remédios agora. Mas a única coisa com a qual eu me importei, foi quando ele disse que não sairia do meu lado.

Estava confusa quando o peso das minhas pálpebras começou a ficar insuportável, mas não vi motivos para continuar lutando contra o cansaço.

Dormi, incapaz de distinguir se aquela era apenas uma alucinação.


✘✘✘


— Como você tá se sentindo hoje? — Samuel perguntou, oferecendo-me uma xícara de chá, que aceitei, apesar do calor infernal que fazia.

Mas era bom sentir algo diferente do frio. Ou da dor. Passei a mão nos meus cabelos, que deveriam estar oleosos e com uma péssima aparência, e Samuel tirou um amarrador do pulso para me oferecer.

Sorri pra ele, que também estava com os fios loiros mais compridos que o habitual, assim como a barba que começava a se encher. Samuel nunca gostou de nenhum dos dois, mas não estávamos tendo muitas escolhas sobre nossas aparências recentemente. Eu mesma conseguiria citar umas 3 cicatrizes que não me faziam a menor falta.

Senti vontade de rir, incrédula e animada por estar conseguindo pensar em uma gracinha naquela hora. Era bom sentir algo além do desespero, também.

— Um pouco... estranha. — Esforcei-me para falar, quase sem voz. — Mas... melhor.

Samuel assentiu e esfregou o rosto com uma das mãos. Vi uma atadura nova no seu braço, coberta até então. Tentei abrir a boca para perguntar, mas desisti pelo esforço que seria necessário para falar, então apenas apontei para o ferimento.

— Rasguei o braço nos cacos de vidro de uma janela quebrada enquanto fugia, mas foi só um arranhão.

Percebendo o suspiro de surpresa que dei, Samuel ergueu um pouco o tecido da camiseta para expor a bandagem que subia até um pouco antes do ombro. Parecia recém trocada, uma única linha avermelhada maculando a gaze.

Então olhei para suas cicatrizes de queimadura. Uma ocupava uma área larga de uma das panturrilhas, enquanto a outra começava logo acima do pulso. Estavam melhores, e não pareciam terem sido tão severas quanto as do meu rosto e braço. Samuel também já estava caminhando melhor, a torção no tornozelo já tendo melhorado completamente.

Eu, apesar de mal conseguir me levantar ainda (ou simplesmente apenas preferir ficar na cama e evitar a dor), também começava a apresentar sinais de melhora. Não era capaz de me lembrar de muito dos três dias desde que Samuel havia voltado, os quais praticamente passei desacordada, com meu colega me trazendo comida, água e remédios. A febre já havia quase desaparecido e a dor intensa, quase debilitante, dos primeiros dias começava a se tornar mais suportável. A cicatriz infeccionada de quase quinze centímetros que começava na frente da minha coxa e descia até a lateral da perna ainda não estava com uma aparência muito boa e certamente deixaria uma marca permanente, mas agora era tratada diariamente por Samuel e os antibióticos começavam a fazer efeito.

Com um bom humor melancólico, pensei que, se continuasse assim, eu estaria bem feia até o final do apocalipse. Então me consolei pensando que ele provavelmente não teria fim.

— Você nã... — Tentei e fechei os olhos de frustração quando a dor na garganta me impediu de continuar. Samuel fez menção de se mover na minha direção, mas ergui a mão, tentando sinalizar que estava bem. Ele esperou, pacientemente, até que eu consegui dizer: — você ainda não me... contou como foi. Quantos dias você ficou fora?

Já havíamos almoçado e, como a maioria das últimas tardes, esta eu também passaria de cama, com pouco a fazer além de ler um dos livros que Samuel gentilmente trouxera para mim. Eram cópias densas de clássicos literários e, apesar de estar bem acostumada com a leitura, estes se mostravam um pouco desafiadores. Por sorte Samuel achou um dicionário abandonado naquela casa.

Mas os livros não eram a única coisa que ele havia reunido; longe disso. Duas mochilas carregadas de remédios e alimentos voltaram com ele. Junto às clássicas opções não perecíveis, ele também tinha arranjado pêras e pêssegos frescos que até agora não havia me contado a procedência. Quando me ofereceu um pêssego, quase chorei lembrando das plantações cor-de-rosa da casa onde eu, Leonardo e Guilherme ficamos pela primeira vez. Os três.

Samuel também havia trazido itens de higiene e mudas de roupa (porque fugimos do condomínio com pouco mais do que as peças do corpo). Era bom me sentir um pouco mais humana com roupas limpas e podendo escovar os dentes. Também encontrou duas pistolas e facões.

Ele tomou um gole da própria xícara de chá e se sentou na cama ao lado da minha. Aquele parecia ter sido um quarto dividido por dois adolescentes, pelas duas camas de solteiro e pôsteres de jogos cobrindo todas as paredes. Guilherme provavelmente reconheceria todos.

— Foram cinco dias e meio. Eu voltei de madrugada. — Ele começou, deixando a xícara em cima da mesinha de cabeceira entre as camas. — No dia que eu saí, todos os zumbis ainda estavam tentando entrar na casa do lado, então foi tranquilo. A volta foi mais complicada, mas...

— V-você... de noite? — murmurei, esperando que Samuel entendesse. Somente aquele pensamento já fazia meu estômago revirar. Andar de noite era mais seguro por um lado, porque com a baixa iluminação era fácil passar despercebido pelos zumbis, mas também tínhamos dificuldade em encontrá-los. Bastava uma distração e...

— Sim. Eu aprendi um pouco sobre os zumbis nesses dias. Existem maneiras de passar por eles sem ser notado, mas... Deixa eu contar do começo.

"Estamos agora na entrada da cidade. Apesar de encontrar poucos zumbis, e a maioria estar concentrada na casa do lado, demorei um pouco para sair dos bairros residenciais naquele primeiro dia. É uma cidade pequena, e o "centro" não é muito maior do que cinco ou seis avenidas. Todas cheias de zumbis, naturalmente."

"Tinha dois mercados relativamente seguros, e uma loja de camping num centro comercial, mas só parei para tentar encontrar armas. Eu queria achar os seus remédios o mais rápido possível e voltar, mas as farmácias estavam mais cercadas. Acho que com um grupo talvez desse para enfrentar os zumbis, mas eu não conseguiria sozinho. Precisei atrair eles para outro local, ativei os alarmes de alguns carros... mas você sabe como esse tipo de barulho já não é mais tão efetivo. Alguns se afastaram, mas ainda demorei um dia inteiro para entrar na primeira farmácia. E não tinha nada do que precisávamos — já estava saqueada."

"No segundo dia, quando consegui chegar à segunda farmácia, foi quando comecei a ficar realmente preocupado. Você me passou alguns nomes, e eu só encontrei um. Li a bula, mas não parecia indicado para o que você precisava. Foi então que eu comecei a fazer a associação que me mostrou o que eu tinha que procurar. Meu pai já quebrou a costela uma vez. Não foi nada sério, mas comecei a lembrar das indicações do médico: não chegou a tanto, mas ele alertou sobre alguns cuidados para não desenvolver uma pneumonia. Eu confesso que não entendo muito sobre, mas pensando no que você estava apresentando..."

— Pneumonia? — Interrompi-o, precisando conter um acesso de tosse. Minhas sobrancelhas franzidas provavelmente evidenciavam minha confusão.

— Sim. Sua perna já estava infeccionada, mas a tosse e falta de ar... Pneumonia é uma possível complicação de uma costela quebrada. É raro, mas, considerando o quão mal você já estava, fazia sentido que esse ferimento não tivesse melhorado também.

Assenti, absorvendo as palavras. Nunca tinha tido nada parecido ou conhecido alguém que tivera, então era difícil comparar. Mas tornava a tosse e a falta de ar mais justificáveis.

— De qualquer maneira, comecei a ficar preocupado por estar apenas perdendo tempo. — Samuel continuou. — Comecei a pensar que talvez devesse tentar voltar para o condomínio, ou seguir até o hospital... mas eu não conheço tão bem as estradas, e provavelmente toda a área do condomínio deve estar infestada de zumbis. Se eu arriscasse continuar até o hospital e não encontrasse ninguém, ou, pior, acontecesse alguma coisa comigo... achei que você não teria tanto tempo assim. Há uma semana atrás, eu mal conseguia andar direito ainda.

Aquela última frase me pegou como uma facada. Samuel ainda mancava no dia em que saiu, e as queimaduras não estavam inteiramente curadas. Bastava um zumbi corredor alcançá-lo e ele teria de lutar pela vida. Mesmo que ele estivesse na minha frente, imagens dele morrendo me trouxeram um calafrio.

— Então pensei em outro lugar onde eu poderia encontrar remédios. Tinha um posto de gasolina do lado da farmácia, e encontrei um mapa lá. Descobri que tinha um hospital no centro da cidade, e resolvi arriscar... mas deu tudo errado.

"Eu usei muito os muros das casas e telhados para me aproximar. Descia e corria apenas quando era necessário. Estava evitando chamar muita atenção de zumbis, mas quando cheguei perto do hospital, já estava anoitecendo e... acho que julguei mal a distância e o número dele. Fui caminhando, mas comecei a ficar cercado e tive que correr. Eu consegui fugir deles, mas não conhecia nada da cidade e comecei a me sentir encurralado, nervoso e... Comecei a ter uma crise de pânico. Estava escuro e eu não sei por quanto tempo mantive o passo, correndo e caminhando para me afastar dos zumbis. Então cheguei no campus de uma faculdade."

"Tinha uma janela quebrada, e foi por onde eu passei. O local estava completamente escuro e eu me escondi em uma sala de aula. Passei a madrugada ali, tinha um pouco de comida e uma lanterna... Foi uma noite de merda. Demorou até conseguir me acalmar, mas no dia seguinte pensei direito e... percebi que eu não precisava do hospital. Podia tentar encontrar os remédios no laboratório da faculdade."

"Pelo menos, foi o que eu pretendia fazer, mas a noite anterior tinha me desgastado completamente. Eu estava com muito medo. O campus da faculdade era grande, também tinha muitos zumbis... Comecei a achar que eu não ia conseguir sair dali nunca. Eu pensava no meu pai e me sentia tonto, depois pensava que você podia morrer no tempo em que eu ficasse preso ali... Foi muito difícil me regular. Eu fiquei prestando atenção nos mortos pela janela da sala nesse tempo, tentando ver uma oportunidade, um caminho para atravessar o campus até encontrar o prédio que eu precisava..."

"Então, um deles pareceu ter me percebido. A janela da sala era grande, ele deve ter visto uma movimentação... Eu vi ele se aproximando, mas ainda estava nervoso, tentando me acalmar, então só fiquei imóvel. Se ele tentasse bater na janela, eu seria obrigado a correr, mas ele só chegou perto e... ficou me olhando. Fez aquele som estranho que eles fazem e ficamos nós dois lá, em pé. Então um deles esbarrou em um carro estacionado e ele virou e seguiu naquela direção. Só que, de novo, não como se estivesse "caçando". Parecia que ele só estava querendo ver o que aconteceu. Vendo se valia a pena."

A história começava a me deixar apreensiva, mas não desviei os olhos de Samuel.

"Eu comecei a pensar nisso. A gente sabe muito pouco deles... Sabemos que eles foram pessoas, e as limitações são as mesmas que as nossas. Eles não ouvem melhor, não farejam melhor. Se nós somos capazes de escutar um barulho, eles também são, mas se não... Quando a gente está andando nas cidades, tentamos fazer pouco barulho para não atrair a atenção deles e na maioria das vezes funciona. Quem não está perto, não percebe, e a gente anda rápido para nos afastarmos rápido daqueles que começam a vir atrás. Então eu pensei... e se for isso que alerta eles?"

"Porque se pararmos para pensar... Como eles sabem quem é humano e quem não é? Você obviamente sabe como eles estão diferentes agora em comparação às primeiras semanas. Naquela época, eles estavam em constante frenesi, mas também tinham pessoas correndo e gritando por todo o canto. Só que agora a maioria fica vagando, cambaleando por aí, até algo chamar a atenção. Algo precisa chamar a atenção. Eles não despertam desse transe sozinhos. E, hoje em dia, sons de alarmes de carro ou outros zumbis esbarrando não necessariamente deixam eles em "modo de caça". Atraem alguns, mas até a movimentação é diferente. Rebeca, eles vão ver o que é. Nós somos humanos, nosso principal sentido é a visão. Então alguma coisa na gente faz eles nos reconhecerem como presas. Claro, de perto pode ser o som da nossa respiração, ou mesmo o cheiro de algo diferente, sabonete talvez... mas e de longe? Eles precisam nos ver como presas."

— Samuel, o que você... — Comecei, assustada com o caminho que a história seguia.

— Eu saí pela porta da frente, Rebeca. Pela primeira vez, eu só caminhei.

— Nem fodendo.

— A gente nunca anda sozinho perto deles. Sempre em duplas, trios... Mesmo que a gente não converse em voz alta, nos comunicamos por sinais, estamos sempre olhando uns para os outros. Nenhum deles faz isso. Quando vemos um zumbi, imediatamente mudamos de rota ou andamos na direção deles para derrubá-los.

— Eu não consigo acreditar que você se meteu no meio de zumbis. — Falei, indiferente à ironia daquela frase sair de mim.

Ele deixou uma risada seca escapar.

— Óbvio que não. Quer dizer, não de um jeito tão simplista. Eu fiquei muito tempo apenas observando. Muito tempo mesmo, horas... Um grupo se afastou por causa do alarme, um que estava atravessando o pátio finalmente parou. Quando começou a chover, praticamente todos esboçaram reação, caminharam um pouco, mas nada anormal. Eu esperei começar a anoitecer. Só o suficiente para o sol se pôr e ficar mais escuro... e saí. Bem devagar. Eu estava cambaleando um pouco, mas sinceramente a maioria deles também. Comecei a andar na direção de outro prédio.

— E nenhum deles percebeu?!

— Perceberam, mas esse é meu ponto. Acho que a chuva confundiu eles a princípio e me ajudou, mas eventualmente eles perceberam algo diferente em mim... Então começaram a me seguir, mas não como perseguem uma presa, entende? Eles estavam atentos a mim, mas não... Como caça. Não ainda. Eles estavam observando.

— Samuel, como você teve coragem? — Perguntei, minha voz não mais do que um sussurro.

— Eu me preparei para fazer isso. Ficou mais fácil porque eu tinha um objetivo, um ponto para chegar: a porta do prédio no outro lado do pátio. Eu só me concentrei naquele ponto e na minha respiração. Quer dizer, não consegui disfarçar pra sempre... Meu coração estava batendo forte, eu provavelmente comecei a acelerar o passo inconscientemente e eles perceberam algo de errado. Eu acho, pelo menos. Começaram a fazer mais sons, sons que não estavam fazendo até então. Você sabe, têm os grunhidos que eles fazem o tempo todo... mas às vezes são diferentes. Às vezes são rosnados, parecem sons de alerta. E talvez sejam. Enfim, quando eu comecei a correr e realmente despertei eles, já estava perto o suficiente. Entrei pela porta da frente, causei uma comoção e... saí pela parte de trás do prédio. E fiz a mesma coisa depois.

— Samuel, você é completamente maluco. — Falar sempre me causava dor, mas eu não podia evitar. Aquela história era completamente maluca.

— Eu só não tinha escolha. Não ia aguentar correr pra sempre, ou derrubar tantos quanto você. — Ele falou. — Não funciona sempre também. Depende muito da quantidade deles, da distância, e é loucura, mas você precisa manter a calma. O problema é quando eles te vêem como presa, mas se você consegue enganá-los por tempo o suficiente para ganhar vantagem... Por isso precisa ficar muito tempo observando. Tem que perceber se tem algum padrão, onde exatamente estão todos. E não pode ficar olhando ao redor o tempo inteiro enquanto anda, porque eles também não fazem isso. Você tem que fazer sua melhor imitação de morto-vivo.

"E, bom, naquela noite eu me escondi em outro prédio de aulas, mas no dia seguinte encontrei a ala da saúde. Precisei derrubar os zumbis que já estavam lá dentro, mas achei os antibióticos. Quando eu conto, parece mais fácil, mas eu precisava reunir muita coragem cada vez que parava. Demorei para me convencer que estava conseguindo, e que agora só restava voltar."

"No quinto dia, ficou nublado e escuro o tempo inteiro. Ia tempestuar, e se uma chuvinha me ajudou a passar despercebido, uma tempestade seria a melhor oportunidade para voltar. E foi o que eu fiz. Eu aproveitei para reunir o resto das coisas enquanto voltava: evitei o centro, mas encontrei um mercadinho e passei por uma casa com pomares. Também aproveitei para pegar as roupas. Claro que eu não vim até aqui num passo de zumbi, mas quando tinha vários reunidos, praticamente passava despercebido quando a tempestade começou."

Samuel deixou um risinho sem graça escapar.

— Minha mãe ficaria louca se soubesse que eu esperei escurecer completamente para passar pelos zumbis nessa rua. À essa altura, eu já tinha encontrado uma jaqueta, então pelo menos tinha espaço para errar. Cheguei a esbarrar em um deles, mas no escuro e com a tempestade, a maioria nem percebeu quando eu pulei o muro. Então cheguei, e te encontrei enrolada no tapete.

Eu não estava esperando por aquilo, e deixei uma risada sincera escapar.

— Eu posso explic...

Então outro acesso de tosse me acometeu, e fiquei mais zangada do que nunca por não conseguir continuar aquela conversa. Apesar de já termos conversado várias vezes, Samuel raramente falava tanto. Ele devia ter esperado muito para me contar sobre aquele plano suicida.

— Você me explica quando melhorar. — Ele disse. — Vai demorar, mas você não precisa se preocupar com isso agora. Temos comida para alguns dias e remédios. Só que você precisa descansar... A gente tem muita coisa para fazer ainda.

Franzi a sobrancelha e, sem querer tentar falar de novo e tossir mais, apenas ergui as palmas das mãos para cima como quem faz uma pergunta.

— Temos que sair dessa cidade, Rebeca. Encontrar aqueles que sobreviveram. 


✘✘✘


Nota da autora:

Sabem, amigos, escrever uma história de zumbis é bem desafiador. Quer dizer, os zumbis deixam de ser surpreendentes depois do primeiro livro e é o tipo de história que já foi contada milhares de vezes, em milhares de mídias. Então a cada livro, você se pergunta: será que eu ainda tenho história para contar?

Esse capítulo foi a virada de chave que me deu segurança para iniciar Em Fúria. Eu tinha todo o plot: a Rebeca ferida, o Samuel como único aliado, uma oportunidade de desenvolver os dois personagens... mas o que o Samuel faria de diferente? O que um personagem com menos preparo físico, menos experiência lá fora, e cujas principais habilidades são paciência e raciocínio, faria num apocalipse zumbi? O que a Rebeca nunca pensou em fazer?

Não lutar, óbvio. 

Sério, eu e meu irmãos passamos horas conversando sobre isso. Debatendo como funcionavam meus zumbis, aprofundando um pouco mais detalhes que nem eu tinha pensado, elaborando estratégias. 

Melhor ainda, eu sinto que é uma ideia em que só o Samuel poderia ter chegado. Talvez só o Samuel depois de passar por tudo o que ele passou, o que me deixa ainda mais satisfeita. 

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer e tento manter enquanto escrevo esse livro, é não transformar todos os personagens em ✨máquinas de matar zumbi✨ cada um têm as suas forças e desvantagens, e o crescimento deles nesse mundo ocorre de acordo.

Eu espero que vocês tenham gostado esse capítulo ❤

Um bom carnaval a todos amigos, e até segunda-feira que vem! 

Não sejam mordidos (quer dizer, não por zumbis 👀).

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