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Capítulo 13.

Inspirei profundamente, sentindo a fumaça quente arder em meus pulmões.

— Samuel, primeiro precisamos salvar Laura e Celso! — Informei, embora meu coração retumbasse a cada segundo em que pensava no motivo para Alex não ter dado o alerta.

— Vamos rápido!

Se tivesse tempo para isso, ficaria devidamente aterrorizada vendo aquela caricatura cruel de onde foi minha casa por todos esses meses. Uma barreira de chamas se espalhava, obstruindo parcialmente minha visão da entrada principal. Incontáveis carcaças ambulantes invadiam o que antes era protegido pelo portão que agora jazia retorcido no chão. Eu havia perdido Adão de vista e até então havíamos visto apenas outro homem, que fora imediatamente atingido por Victória. Achava difícil que tivessem vindo sozinhos.

Corri até o lugar onde minha amiga fora baleada, para recuperar o machado que deixei para trás durante a fuga. Minha faca estava embainhada, mas um combate corpo-a-corpo era muito arriscado com as roupas simples que eu usava. A pistola também estava ao alcance da minha mão, mas pela quantidade de inimigos mortos (e vivos), achava necessário começar a economizar balas o quanto antes.

Samuel acompanhava meu ritmo com um pouco de dificuldade. Usava uma regata e shorts de pijama, que além de deixarem os braços e pernas expostos, tinham um tecido tão fino que bastaria uma mordida para se rasgarem.

— Samu, vamos economizar os tiros para os vivos! Tenta encontrar um pedaço de madeira para se defender — instruí, sem parar de correr em direção às chamas. Elas se espalhavam com velocidade e quase alcançaram o local em que o machado jazia abandonado, mas cheguei a tempo de recuperá-lo.

... LUNÁTICO FODIDO DE MERDA! — Uma voz masculina estridente irrompeu sobre o crepitar do fogo. Então o estouro de um tiro próximo agitou ainda mais os zumbis. Era difícil ver muita coisa com as chamas e o caminhão obstruindo minha visão, mas o barulho de motor se sobressaia aos rosnados.

Queria entender o que acontecia, tentar descobrir mais alguma informação sobre nossos inimigos, mas me vi obrigada a abandonar o que quer que se desenrolava perto do portão principal para correr em direção à casa de Celso. Samuel estava com um pedaço de madeira chamuscado em mãos. Apesar de não sair do meu lado, olhava sem parar para trás, tentando se certificar de que o pai estava bem.

Tentei evitar qualquer pensamento intrusivo sobre algo acontecendo com Tom e, consequentemente, com Mei, que ele precisou sobre os ombros em uma subida de quase três metros. Foquei nas pessoas perto de mim que precisavam ser salvas. Ou, no mínimo, terem seus corpos encontrados.

O caminhão havia colidido com a parede de frente para o portão. Nenhum dos terrenos tinha qualquer tipo de cerca, então rodeamos a casa com facilidade, alcançando rapidamente o lado contrário da explosão.

— Os quartos ficam desse lado, talvez não tenham sido pegos... Laura! — Gritei, assim que vi correndo em direção à janela, com Bruxa apertada em seu colo. Dentro do condomínio, ninguém trancava casas ou fechava venezianas, então bastou empurrar o vidro para o lado e ele abriu facilmente. — Cadê o Celso?!

Rebeca! — A garotinha gritou. Fios de lágrima marcaram suas bochechas. — Papai tá na cozinha!

Apoiei-me no batente e pulei para dentro do cômodo o mais rápido que pude. Nele havia duas camas de solteiro, além de uma bagunça de roupas e acessórios que me fazia acreditar que outrora ele pertencera à Bruna e Darlene. Não perdi tempo procurando por armas dessa vez.

— Samuel, ajuda a Laura a sair! — Não esperei sua resposta antes de correr porta afora.

Mesmo aquele lado da casa estando afastado da explosão, a fumaça escura já chegava até ali, então usei a gola da blusa para cobrir minha boca e nariz.

Do corredor principal, enxerguei a sala de estar, uma das paredes completamente destruídas pela frente do caminhão que atravessava metade do cômodo. O fogo devorava os móveis, majoritariamente de madeira devido à aparência rústica da casa. A parte comprometida da parede deixava um espaço aberto para os zumbis que se aproximavam, lentos, mas incansáveis. Não perdi mais tempo que o necessário e corri para a cozinha.

Encontrei Celso antes mesmo de chegar nela, entre o arco que a unia ao corredor. Meu coração disparou ao vê-lo de olhos fechados, o corpo estirado no chão ladrilhado, sob um enorme pedaço de madeira que parecia ter despencado do teto em decorrência da explosão. Havia um pouco de sangue no chão e me preparei para o pior quando me ajoelhei ao seu lado. Soltei o machado e levei os dedos ao seu pescoço, tentando encontrar o pulso. Eu era uma merda nisso, e a dormência nas mãos devido à força com a qual eu segurava o cabo do machado não ajudava em nada.

Quis gritar de alívio quando senti sua respiração no meu braço, mas a esperança logo se dissolveu com um rosnado próximo demais. Eu não teria força para arrastar Celso para fora, e ficar ali enquanto todo aquele apocalipse acontecia ao nosso redor colocava nós dois em risco.

Busquei ao meu redor, tentando conter a respiração que insistia em se acelerar. Precisava evitar de inspirar a fumaça que se acumulava no teto par anão acabar desmaiando. Se ao menos o tecido da minha blusa estivesse molhado...

Água! Era longe de ser a melhor solução, mas eu precisava tirar Celso dali o mais rápido o possível. Corri até a geladeira. A maior parte da explosão afetara a sala de estar, mas a cozinha também se encontrava parcialmente comprometida. Aproveitei a porta solta para alcançar uma garrafa de um litro cheia de água fresca.

Sem tempo para delicadeza, despejei parte do conteúdo sobre Celso que, para meu alívio, inspirou um pouco antes de ter uma crise de tosse e abrir os olhos. Àquela altura, minha garganta e olhos ardiam graças ao calor e à fumaça, então joguei a garrafa fora e agarrei seu braço com força, puxando-o antes mesmo que conseguisse recuperar completamente a consciência.

LEVANTA, CELSO! TEMOS QUE SAIR DAQUI!

— Cadê a Laura?! — perguntou, entre tossidas. Fiz mais força e ele finalmente obedeceu ao meu movimento e começou a se levantar.

— Já tá lá fora, vamos!

O primeiro rosnado ressoou pelas paredes que restavam, indicando que as criaturas já começavam a invadir a casa. Com os braços tremendo, praticamente arrastei Celso de onde estávamos até que ele conseguir se colocar de pé e cambalear comigo. Estava completamente atordoado, mas tentava me seguir.

— Merda! — Grunhi, pois assim que chegamos ao corredor e entramos na linha de visão do primeiro zumbi, ele disparou em nossa direção. — Vai, Celso! Sai pelo quarto das meninas!

Praticamente o empurrei para frente, empunhando o machado a tempo de interceptar a corrida com um golpe na criatura que reverberou até meus ossos. Leonardo fazia parecer mais fácil do que era.

Mesmo tendo enterrado metade da lâmina acima de sua orelha, precisei forçá-la ainda mais, usando o cabo como alavanca até cessar de vez suas tentativas de me agarrar. Por pouco não caí no chão quando o zumbi desmoronou como um peso morto, e tive de forçar meu coturno da cabeça desfigurada para conseguir arrancar a arma do seu crânio.

Outros dois zumbis já se esgueiravam pela abertura criada pelo caminhão, mas aproveitei os metros de vantagem para dar as costas a eles e correr atrás de Celso. Assim que passamos pela porta, fechei-a com um baque atrás de mim.

— Papai! — Laura gritou, olhando-nos pela janela.

Senti o primeiro golpe de uma criatura contra a madeira e pedi para nos apressarmos. Conhecendo-as, o súbito interesse de alguns em entrar na casa acabaria atraindo outros para o mesmo trajeto, ao invés do caminho racional de contornar o terreno e nos alcançar com facilidade pelo exterior. O fogo e os detritos espalhados os atrasariam ainda mais.

Mas mesmo isso não impedia alguns errantes de atravessarem as chamas, tornando-os ainda mais perigosos: os pedaços de trapos que vestiam se incineravam rapidamente, criando criaturas amorfas com a pele derretida que avançavam em nossa direção. Junto à mordida fatal, agora tínhamos o risco extra de sermos queimados.

Samuel se afastou para cuidar de um deles com um golpe limpo enquanto eu ajudava Celso a sair. Pelo menos, o fogo também acabaria enfraquecendo seus corpos, eventualmente.

Enquanto pulava a janela, uma súbita onda de desespero me desequilibrou quando vi uma segunda criatura emergir das chamas e avançar, rápida como um tigre, sobre Samuel. O garoto foi ao chão com o peso, mas teve tempo de amparar o bote, colocando as mãos no ombro para segurá-la longe e afastar a mandíbula de seu rosto. Laura deixou um grito escapar e Celso a agarrou segurou que começasse a correr, cega pelo pânico.

Mesmo depois do estampido e do sangue voando da cabeça do zumbi, meu ainda tremia tanto que o alívio foi ínfimo. Tom guardou a pistola no coldre e correu até o filho para ajudá-lo a afastar o corpo parcialmente incinerado. Samuel conseguiu se erguer e, apesar da careta e de prováveis queimaduras nos braços e pernas, estava inteiro.

Tentei recuperar o fôlego, sugando o ar fresco da noite, mas minha garganta e narinas pareciam queimadas e só consegui ter mais um ataque de tosse. Celso perguntou se eu estava bem, mas também não parecia muito estável enquanto pressionava o machucado na altura da cabeça, provavelmente causado quando o pedaço de madeira despencou sobre ele.

— Tom, a M... — Tentei perguntar, entre tossidas que doíam a garganta. Não ligava para o quão egoísta eu parecia ao perguntar sobre a minha cachorra no meio daquele caos.

— A Mei está bem, Rebeca! Conseguimos atravessar ela e também as galinhas, mas temos que ir, Victória precisa de-

Cuidado! — Interrompi Tom com um grito assim que vi algo se movendo em sua direção.

Felizmente, confiou em mim o suficiente e nem olhou para trás enquanto agarrava o filho e corria antes dos dois zumbis os alcançarem. Golpeei um com o meu machado e, enquanto tinha dificuldade novamente para desencravar a lâmina, Celso afastou o outro com um chute no estômago. Ofereci minha faca para que ele pudesse finalizá-lo e não estivesse completamente desprotegido.

Sequer tivemos tempo de nos recuperarmos do ataque, quando um novo estampido irrompeu na noite e arrancou um grito de Celso, seguido pelo berro estridente de Laura. Atordoada, vi os olhos de Tom se arregalando para algo atrás de mim e me admirei com a velocidade com a qual ele sacou a pistola e respondeu o tiro com outro.

Tentei alcançar a minha, mas senti um agarrão no meu braço e fui puxada por Samuel antes de conseguir ter qualquer reação. Tom disparou outras duas vezes e manteve o autor do ataque escondido por tempo o suficiente para que Celso e Laura conseguissem nos seguir, buscando cobertura na lateral da casa.

— Vocês foram atingidos?! — perguntei, suportando Celso enquanto ele cambaleava.

O buraco de bala fazia sangue jorrar de seu bíceps. Laura parecia apavorada, mesmo que só houvesse algumas gotas de sangue em seu rosto. Provavelmente foram a razão do grito, quando viu seu pari se ferir.

— Vocês estão bem?! — Tom perguntou, também buscando cobertura atrás da parede. Seus olhos passaram rapidamente por cada um de nós, para se certificar de que todos estavam bem (na medida do possível). — Consegui acertar ele, mas não se foi fatal. Era um moleque, não devia ter mais que vinte anos... Quem são essas pessoas?!

Só então percebi que, apesar de provavelmente ter compreendido que estávamos sendo atacados, Celso não fazia ideia de que Adão estava ali.

— Eu não sei, não lembro o rosto de nenhum deles... Celso, é Adão quem está por trás do ataque, mas tem outras pessoas com ele, um grupo de homens! — expliquei.

Vi as sobrancelhas do homem se franzindo, numa confusão sincera. Ele tossiu mais algumas vezes, então murmurou, tão rouco que era difícil compreender:

— Não... Adão não estava...?! — murmurou. — Não sobrou mais ninguém, todo o grupo de Klaus estava lá no dia do ataque.

Os rosnados estavam cada vez mais altos, mas uma série de tiros se fez presentes, soterrando nossa conversa: dois, seguidos de uma rajada de fuzil atrás de nós e gritos femininos na direção onde estava o resto do grupo; e uma segunda rajada próxima, que fez lascas da construção que usávamos de abrigo voarem ao nosso redor.

Tive mais um ataque de tosse, completamente atordoada com a velocidade dos acontecimentos. Mais mortos atravessaram as chamas, provavelmente atraídos pelos tiros, enquanto Tom se esgueirava para dar mais dois tiros para impedir a aproximação de quem quer que estivesse atirando em nós com submetralhadoras.

— Aconteceu alguma coisa! — Tom gritou, mas sua voz era quase inaudível sob os rosnados e o berreiro que Laura abriu, desnorteada com tudo. — Precisamos ir!

Enquanto eu me recuperava, os olhos lacrimejando e a barriga doendo de tanto tossir, Samuel nos defendeu de dois zumbis. Celso tirou a blusa branca e tentou conter o sangramento, pressionando-a contra o machucado sem conseguir esconder a expressão de dor.

— Tom, preciso chegar até a guarita! O Alex pode estar machucado! — Apesar de tudo, o pedido de Samuel latejava em minha cabeça, em conjunto à enxaqueca causada pelo tiroteio. Àquela altura, ele poderia muito bem já estar morto, mas não seria justo deixá-lo para trás sem pelo menos tentar oferecer ajuda. Imaginei-me numa situação parecida, esquecida para morrer entre brasas e zumbis, e um arrepio cortou minha espinha. — Escolta o Celso e a Laura e saíam daqui, eu consigo me virar! Da guarita, pulo o muro e, qualquer coisa, nos encontramos no hospital.

— Rebeca... — Tom começou, mas provavelmente sequer tinha vontade de contra argumentar. Ele também não queria deixar ninguém para trás. — Tá bom! Celso, consegue andar? Tenho mais algumas balas, consigo dar cobertura para vocês.

Nós e nossos atacantes estávamos em lados opostos da casa onde Celso morava com a filha, Antônio, Bruna e Darlene, cuja parte da frente fora totalmente destruída pelo caminhão. As chamas geradas pela explosão se espalhavam e, pela forma como persistiam mesmo sobre o asfalto, tive minha confirmação de que também havia álcool no caminhão. O caminho até a parte da frente não estava completamente obstruído para mim, mas eu seria obrigada a contornar o fogo, diferente dos zumbis, cambaleando reto em nossa direção. Só podia rezar para que pelo menos a visão deles também fosse prejudicada.

— Tom, peguem cobertura pelo depósito, eles não sabem por onde fugimos! Samuel, toma. — Tirei minha pistola do coldre e ofereci para ele. Quando fez menção de recusar, empurrei-a para sua mão. — Eu não atiro tão bem e eles não sabem que vou voltar. Dá cobertura para o seu pai!

Não fosse a adrenalina sendo bombeada em minhas veias, eu provavelmente estaria dominada pelo medo. Ambas as nossas movimentações eram arriscadas, pois sequer tínhamos certeza de que armas eles possuíam do outro lado.

Pensei no primeiro tiro, provavelmente de pistola ou revólver, que acertou Celso. Adão e o homem baleado por Victória tinham semiautomáticas e não hesitaram em usá-las, o que me levava a pensar que quem havia dado aquele tiro, provavelmente não tinha uma. A rajada seguinte só nos alcançou quando já estávamos protegidos. Era uma aposta alta, mas um armamento pesado como aquele era difícil de encontrar e havíamos queimado completamente a oficina, inutilizando tudo o que estivesse lá dentro. Talvez aquelas fossem as únicas armas de repetição que tivessem: a do homem morto e devorado por zumbis; e a de Adão.

Eles deveriam supor que nossa provável resposta seria correr para longe do fogo e da infinidade de zumbis que adentrava, por isso arrisquei que ninguém desconfiaria da minha movimentação. A guarita, onde Alex deveria estar, ficava bem ao lado do portão principal. Era arriscado, mas eu era a única pessoa rápida o bastante entre os que restaram para fazer aquilo. E provavelmente a única maluca o suficiente.

Comecei a correr e, quando ouvi o estouro da arma de Tom, soube que eles também iniciaram a fuga. A estratégia era a única possível: atirar enquanto se expunham, para desincentivar que quem estivesse do outro lado a tentar revidar. O depósito (onde também ficava nossa academia improvisada) serviria de cobertura para alcançarem a escada e fugir.

Com o coração apertado, lembrei do outro tiroteio que ouvi à distância e esperava que, o que quer que tivesse acontecido com o resto do grupo, eles tenham conseguido tomar a dianteira. Sem Victória dando cobertura, seria difícil que terminassem a travessia a salvo.

Mesmo assim, avancei sem olhar para trás. A casa de Celso ficava bem no meio do condomínio, por isso o fogo não havia se espalhado completamente até chegar nos muros, então ainda era possível contorná-lo.

Esforcei-me para ignorar quaisquer barulhos de tiro, rosnados ou demais sons do apocalipse ao meu redor, porque me distrair por um segundo bastaria para ser agarrada por uma das criaturas emergidas do inferno. Em nenhum momento usei a lâmina do machado, temendo que ela acabasse presa e pudesse me atrasar. Ao invés disso, os poucos golpes que me dignei a dar foram porradas com o cabo, enquanto me limitava a desviar das tentativas de agarrão.

Corri o necessário para contornar o fogo e me dirigi para a guarita, limitando-me a dar uma rápida olhada ao redor em busca de Adão ou outra pessoa viva, mas era difícil ter certeza de qualquer coisa. Por todos os lados, zumbis grunhiam, esbarravam-se ou se juntavam em grupos desordenados. O fogo e os incessantes tiros certamente os confundira e, pelo menos, consegui passar despercebida da maioria sem precisar diminuir o passo.

"Guarita" provavelmente era antiga função daquela construção, uma estrutura pequena de dois andares ao lado do portão de entrada, onde antigamente ficavam quartos para os funcionários e uma sala de controles geral. Desde que chegamos, Celso, Tomas e Antônio construíram um terceiro andar (um pouco precário, mas relativamente estável) que ficava acima da linha de visão dos muros e nos permitia um ângulo bom para fazer vigias.

Costumávamos ser mais cuidadosos nos meses após o combate com Klaus, mas conforme o tempo passava e a paz permanecia imperturbável, nossos turnos de guarda foram se tornando cada vez mais escassos dentro dos muros.

Não tardei a alcançar a escada exterior de madeira, construída para subirmos direto para a torre de vigia. Não perdi nenhum segundo, aproveitando que a maioria dos zumbis estavam distraídos, cambaleando em direção ao fogo.

Alex, você tá aí?! — falei, tão alto quanto possível para não alertar toda a horda de zumbi abaixo de mim. Continuei escalando com pressa, sentindo o meu coração ecoar nos ouvidos e sufocar todos os sons ao meu redor.

Por um instante, convenci-me de que encontraria o local vazio. Teria sido infinitamente melhor do que ver o corpo de Alex caído, as costas apoiadas na parede e toda a frente de sua camiseta suja de um sangue que escorria desde o pescoço.

Não! — pedi, sem me dar conta do volume da minha voz. Esforcei-me ainda mais para subir o resto da escada e corri até ele, ajoelhando-me do seu lado. — Não, não não... Alex!

Não precisei colocar os dedos em seu pescoço machucado, pois ele abriu os olhos ao meu chamado. Suas íris escuras mal apareciam de tão pesadas que estavam as pálpebras. Ele inclinou o pescoço apenas o suficiente para encarar meu rosto e seus olhos se fecharam de novo.

— Desc... Eles...

— Não! — Envolvi seu corpo como pude, evitando o machucado. Mais próxima, conseguia identificar no pescoço ensanguentado, o ferimento de bala. Discretamente, procurei por um possível buraco de saída, mas não havia nada em sua nuca. — Todos estão vivos, conseguimos escapar. — Assegurei, temendo que gastasse seus últimos segundos se desculpando por ser atacado.

Alexandre mal conseguia manter os olhos abertos, a cabeça pendendo de fraqueza, então a apoiei com delicadeza em meu peito. Ele ergueu um braço e apontou para baixo, em direção ao muro do condomínio. Com dificuldade, apontou depois para o próprio pescoço.

— Eu sinto muito... — pedi, controlando-me para não apertá-lo contra mim e causar mais dor. Mesmo com o corpo queimando de adrenalina, senti quando as lágrimas começaram a escapar. — Obrigada por nos proteger, Alex. Matamos todos os invasores, todos estamos vivos e seguros!

Contei a mentira sem qualquer remorso, tentando encontrar uma maneira de confortá-lo. Quase como se quisesse me denunciar, a calamidade do lado exterior parecia apenas aumentar de intensidade. Quis gritar para extravasar a dor da injustiça que açoitava meu coração, mas provavelmente aquela Deusa não dava a mínima para mim.

Eu sabia que ele não resistiria. Mesmo se, por algum milagre, tivesse força para se mover, não estava em condições de descer a escada de madeira naquele estado. Ainda mais para precisar fugir imediatamente de uma centena de zumbis. Ele tentou responder às minhas palavras, mas só uma tosse carregada de sangue saiu de seus lábios.

Não tive coragem de abandoná-lo para morrer sozinho e perdi a noção do tempo enquanto murmurava lembranças dos dias que passamos juntos na casa de Tom. Misturei agradecimentos por nos proteger naquela noite à lembranças de quando me ensinou a dirigir e o quanto o admirei por nunca sentir medo de empunhar uma arma para proteger o grupo. Falei que Hector também o admirava. Com a visão embargada por lágrimas, aquela foi a minha oração.

Ele provavelmente não ouviu quase nada, mas eu fingiria que sim. Seu corpo jazia inerte muito tempo antes de eu concluir e mordi o lábio com tanta força para evitar que um grito arrebentasse meus pulmões que senti o gosto de ferro.

REBECA?!

Para o meu mais completo horror, ouvi a voz de Samuel do lado de fora, muito mais próxima do que deveria estar. Só então fui capaz de me desvencilhar do corpo de Alex, pousando sua cabeça com cuidado no chão e fechando seus olhos entreabertos e desprovidos de vida.

Coloquei a cabeça para fora, mas nada se tornou mais claro mesmo quando vi Samuel correr em minha direção, refazendo o caminho que fiz anteriormente para contornar a parede de brasa. Pela primeira vez prestando atenção do alto, conseguia enxergar o estrado da explosão do caminhão, com alguns botijões de gás intactos rolando ao seu redor como granadas prontas para explodir. Haviam muitos zumbis do lado de dentro, mas uma multidão ainda maior nos esperava fora dos muros. Para onde quer que eu olhasse, a tragédia parecia iminente.

Meu plano era aproveitar a altitude da guarita para pular o muro (mesmo que a queda de quase três metros pudesse me machucar), mas não vi outra escolha a não ser descer pelo mesmo caminho que subi, apenas para garantir que Samuel me ouvisse:

Samuel, sai daqui!

Minha voz não foi alta o suficiente para vencer outra explosão de gás, que criou uma bola de fogo momentânea entre mim e Samuel. Como se não pudesse piorar, meus olhos encontraram Tom, que corria em direção ao filho.

Enchi os pulmões para mandá-los ir embora, pensando que não demoraria mais de alguns segundos para que eu os alcançasse. Aquilo mudava tudo, e talvez precisaríamos combater os homens diretamente para conseguir-

O estampido da rajada de balas pareceu ter chegado a mim eras antes dos pedaços de madeira voarem para todos os lados. A princípio, sequer senti dor conforme observava com uma serenidade completamente desconexa enquanto minha mão explodia em sangue. Como se o tempo tivesse desacelerado, pensei até ter conseguido vislumbrar o que parecia um pedaço de osso exposto.

Quando senti o mundo vacilar, também demorei a perceber que não era uma tontura nauseante que atacava meus sentidos, apenas a escada improvisada desmoronando. A ordem do meu cérebro parecia clara para que eu movesse os músculos, mas nenhum deles respondeu. Ao invés disso, meu agarrão progressivamente mais fraco se soltou de vez.

A dor veio depois. Primeiro, todo o ar escapou dos meus pulmões em uma lufada agoniante quando a lateral do meu corpo encontrou o chão. Minha cabeça foi a segunda coisa a colidir contra a calçada dura e, antes da pontada lancinante, minha visão escureceu quase completamente.

O mundo ao meu redor parecia uma pintura abstrata do inferno, fogo espalhando-se por todos os lados enquanto figuras horríveis caminhavam até mim. Mais uma vez, meus músculos ignoraram qualquer ordem de se mover. Então tentei forçar os olhos, mas imediatamente desejei não ter me dado àquele trabalho.

Porque a única figura que conseguir distinguir entre o oceano de corpos pútridos foi Adão apontando o fuzil em minha direção. 


✘✘✘


Nota da autora:

Caras, eu juro!!! Tem uma teoria da conspiração me impedindo de postar cedo!!!!!!

Hoje estava tudo encaminhado: escrevi metade das seis páginas previstas ontem, faltava só concluir a ação. Obviamente, me descontrolei e escrevi quase o dobro, MAS ATÉ AÍ TUDO BEM. 

ÀS 19H COMEÇO A SENTIR SINTOMAS DE GRIPE E DESCUBRO QUE POSSO ESTAR COM COVID KKKK

Enfim, tomei um remédio pra gripe e dei uma leve apagada, mas acordei para concluir o capítulo e postar. Que ódio, eu ia atualizar às 20h e dizer "AHÁ, POR ESSA VOCÊS NÃO ESPERAVAM" 😭😭😭

Só de raiva, tomem esse cliffhanger. Se eu não posso ser feliz, ninguém mais pode 😎

Aliás, eu falei para algumas pessoas que esse capítulo seria o fim da fuga/combate... eu não menti, tá? Esse realmente era meu planejamento, mas aí perdi o controle 🤪 então tecnicamente a mensagem do capítulo anterior não serviu ainda!!!

Pelo menos vocês têm agora 10 páginas de caos. De nada!!

É ISSO, vou apertar "publicar" e desmaiar instantaneamente. 

Boa noite a todos e não sejam mordidos!! 

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