Prólogo
De São Paulo a Pindamonhangaba, julho de 2010...
Nancy não era o que se pode dizer uma mulher bonita. Muitos diziam que nem mulher ela parecia. Outros até duvidavam que ela fosse realmente uma mulher. Todavia, a despeito do que preconceituosamente pudessem pensar ou dizer, animava-lhe um espírito masculino — e isso era algo que só a ela dizia respeito. Tendo nascido em meados de 1990, fora registrada como Nancy Ferreira. Vinte anos de idade, baixa, cabelos curtos repartidos de lado, voz de contralto, traços já pronunciadamente masculinos — que se sabia não serem fisicamente inatos, mas que já estavam incorporados à sua personalidade e aparência.
— Oi, tudo bem?
Beijou Lia no rosto.
Lia, o oposto de Nancy, traços femininos, lábios delicados, cabelos encaracolados, na altura dos ombros. Seios proeminentes, porém não avantajados e nádegas de dar inveja. Da mesma estatura de Nancy, porém um ano mais velha.
— Muito cansada, Nancy?
— E como! O dia hoje foi um inferno. Todo fim de mês já é ruim e ainda com essa história da firma estar mandando gente embora, a coisa piorou. Mais cedo ou mais tarde vai sobrar pra mim. A chefe do departamento pessoal não vai muito com a minha cara e só está esperando uma oportunidade pra me mandar embora. Mas e a lojinha? Vendeu muito hoje?
Lia suspirou, passando uma das mãos entre os cabelos. Movimentou-os levemente:
— O povo está sem dinheiro. Não sei se a dona Cândida vai conseguir manter a loja aberta. Ela precisava de um ponto melhor, perto de uma escola. Teria muito mais saída.
Nancy puxou da fruteira uma maçã. Deu uma mordida e falou, com a boca cheia:
— É difícil arrumar um ponto assim. E quando se consegue, o aluguel é muito caro.
Deu mais uma mordida:
— Ah, amanhã é dia de feira. A fruteira já está vazia. É bom fazer uma lista do que precisamos.
Lia deu-lhe um caloroso beijo, em meio a deliciosos pedaços de maçã.
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