Capítulo 6.
Era uma casa de esquina simples e empoeirada, que se destacava por não apresentar qualquer cheiro de podridão dentro dela — uma mudança bem-vinda. Hector nos guiou de forma que ficássemos fora da vista do pátio da escola e entramos pelo portão de carros.
Como Hector e Alex descreveram, era afastada das avenidas principais, com ruas de paralelepipedos esburacadas. Haviam algumas residências por perto mas a maior parte dos lotes tratava-se de terrenos baldios sem uso. Diferente da escola onde começamos o nosso pesadelo, aquela parecia velha e precária, seus prédios vermelho-escuro com a pintura encardida. Rodeando o pátio haviam dois edifícios: um de três andares em formato de L e um menor ao lado. Por cima deste, pude identificar o telhado de um ginásio.
Não houve suspense: no exato momento em que nos esgueiramos ao lado da janela tivemos vista perfeita para o pátio do colégio e para as pessoas que haviam nele.
Uma mulher negra de cabelos longos e cacheados estava casualmente sentada em um banco de pedra, tentando acender o cigarro com um fósforo. Um grosso pedaço de madeira estava apoiado no banco, ao seu alcance. Quando outra mulher se aproximou, de pele escura e cabelos presos em um turbante apertado, a primeira deu um sorriso educado e desistiu do fósforo, guardando o cigarro no bolso e dando espaço para ela sentar. A segunda apoiava o braço direito na barriga e estava desarmada.
Hector murmurou para que olhássemos onde os carros estavam estacionados e conseguimos ver três homens: o primeiro tinha apenas as pernas à mostra, estirado sob um carro; o segundo era um senhor velho de barba e cabelos brancos que conversava e ria com o terceiro; mais jovem, robusto e barbudo, de aparência séria.
— O motoqueiro — Tom sussurrou e entendi que ele se referia ao homem jovem e barbudo, que em sua jaqueta de couro parecia um clássico motociclista. — tem uma arma na cintura.
Às vezes, quando se movia, sob sua jaqueta era possível ver uma pistola que eu não sabia identificar. Nenhuma das pessoas no pátio parecia alerta, somente conversavam com tranquilidade.
Deixei um suspiro de surpresa escapar quando, de trás do carro, dois cães apareceram correndo em direção ao "motoqueiro": um buldogue e um vira-lata alto e esguio, ambos de aparência bem cuidada. Até então não havíamos visto qualquer cachorro que não fosse Mei — exceto, claro, aqueles mortos e comidos.
— Mei iria latir com toda a certeza — murmurei para mim mesma e Melissa virou seu rosto, mas não me respondeu.
— Tem alguém diferente de antes? — Tom perguntou para Hector, sem tirar os olhos da janela.
— O cara armado não estava do lado de fora da outra vez. Nem a mulher do turbante. A de cabelo cacheados, o velho e o cara embaixo do carro já havíamos visto. Acho que o cara é mecânico, porque também estava embaixo de outro carro naquela vez.
Antes que pudéssemos perguntar qualquer coisa, as duas garotas viraram o rosto na direção dos prédios, de onde quatro crianças surgiram correndo. Por impulso, levei a mão até meu facão, sentindo o coração acelerar, mas em questão de segundos mostrou-se desnecessário: se fugiam de algo, não era por estarem amedrontadas. Mais um cachorro, grande e preto, saltava atrás delas, seguido de um yorkshire com só três pernas.
Da porta onde eles saíram, uma idosa de aparência realmente velha sorria. Estava trajada com a batina de freira, uma enorme cruz prateada pendendo no peito. Mais um homem saiu do prédio, este de aparência mais jovem e pele escura, caminhando em direção às garotas no banco. Apoiava despreocupadamente um machado preto de cabo longo no ombro, mas seu semblante divertido contrastava com a aparência assustadora da arma.
Quando umas das garotinhas que saiu correndo soltou um grito de excitação pela brincadeira, a mulher de cabelos cacheados levantou-se e deu uma bronca grosseira nela.
— Caralho, são crianças mesmo — Melissa murmurou, como se de fato tivéssemos duvidado do que Hector havia falado.
— Sim, e essa freira e o velho perto do carro parecem ter mais de 60 anos fácil — ele murmurou.
— Tem o cara armado, o do machado e a cacheada no banco com um bastão perto. Os outros não estão com...
— O garoto do machado — Melissa me cortou — tem um facão, também.
Mesmo sob o sol da tarde, o agora óbvio cabo em sua cintura havia passado despercebido por mim.
— Aquela garota está fazendo guarda, e o motoqueiro também estão atentos, olhando para os lados de vez em quando. — Tom disse, e percebemos o contraste das atitudes entre as duas mulheres no banco: enquanto uma parecia animada e distraída, a garota próxima ao pedaço de madeira olhava friamente para as crianças e, de tempos em tempos, para a rua vazia. Se soubesse para onde olhar, provavelmente conseguiria nos ver. — O garoto que veio revezar.
— Têm crianças e idosos — murmurei, no momento em que nos afastamos das janelas — mas também têm outros armados. Aquelas pessoas estavam de vigia. Não estão totalmente vulneráveis.
— Como acham que estão de suprimentos? — Hector perguntou. — Acabei pensando nisso agora... Como eu e Alex tivemos folga para saquear locais próximos daqui, que pareciam bem cheios.
— As crianças estão magras, aquelas garotas jovens e o menino também — Tom pontuou — é difícil ter certeza de que já não eram assim, mas... Não parecem particularmente bem alimentados.
— Vocês acham que têm luz elétrica? — Perguntei.
— Difícil, parece ser uma escola estadual, não acho que teriam essa verba. A menos que arranjaram um gerador de outro lugar, mas novamente implicaria em sair da escola, e não acho que estão saindo atrás de comida pelas suas aparências e pelo que Hector falou. — Tom divagou.
— Quantos contamos que estavam armados? Três? Mesmo não estando completamente vulneráveis, são poucas pessoas aptas a combater — comecei o raciocínio — claro que as crianças e os idosos também não fariam linha de frente. Contando naquele pátio, talvez cinco das pessoas pudessem oferecer proteção.
— A moça de turbante não — Melissa corrigiu — ela está grávida.
Assenti para ela, dando-me conta do porquê da mão que repousava na barriga.
— Menos pessoas então. É difícil dizer, mas se houverem mais crianças ou velhos... Acho que teriam mais medo de perder uma pessoa que oferecesse segurança do que morrer de fome — concluí.
— Tom... — Melissa chamou a atenção do homem loiro — vamos continuar com o plano?
— Com certeza. Se depender de mim, claro — Ele mantinha a mesma confiança daquela manhã. — Mas precisa ser antes do anoitecer... Agora com o sol alto vamos chamar atenção de imediato, não vamos correr risco de tomar uma bala de aviso ou algo assim.
Hector abriu um sorriso maldoso para mim e Melissa, achando tudo extremamente divertido.
— Vamos nos trocar então. Antes que fique óbvio que é uma má ideia — murmurei, tirando a mochila das costas e indo até o banheiro com Melissa.
✘✘
Sem qualquer surpresa, Hector não conteve uma risada quando nos viu, abafando-a com dificuldade no braço. Tom, por sua vez, estava visivelmente constrangido.
— Desculpa de novo, garotas. Espero que não tenham achado desrespeitoso, eu só...
— Relaxa, Tom — ergui o braço, para sinalizar que parasse falar — o plano é bom. Não é como se nos pedisse para usar pouca roupa ou algo assim.
Era somente menos do que o habitual, mas não havia qualquer implicância sexual — e nem isso estaria fora de cogitação, se parecesse que nos daria vantagem. Ao invés dos jeans e jaquetas de couro que cobriam ao máximo nossos corpos por segurança, Melissa usava um vestido curto rodado, enquanto minha combinação de regata e saia pregueada era de uma inocência por demais caricaturada. Inicialmente Melissa quem usaria aquela roupa, mas seus seios eram muito maiores do que os meus e chamavam atenção demais, o que não era bom para nosso plano. Quando fiz esse comentario, Tom ficou tão sem graça que saiu do quarto. Hector, claro, parecia estar no melhor programa de comédia do apocalipse.
— Vocês estão ridículas — ele apontou, enquanto Melissa prendia o cabelo em um rabo-de-cavalo lateral. Suas pernas, diferentes das minhas, não estavam depiladas, mas seus pelos eram tão loiros que sequer chamavam atenção. — Parecem duas adolescentes retardadas no meio do apocalipse.
— É o plano, gênio — Melissa disse, arisca. Mas Hector já sabia. Nem por isso estava menos disposto a rir da nossa cara. — E aí, Tom. Parece que temos 15 anos?
— Olha — ele coçou a cabeça, rindo de nervoso — para mim vocês já pareciam ter 15 anos da primeira vez que nos vimos, então agora... — Ele sorriu de maneira gentil. — Realmente é um pouco engraçado ver vocês duas assim. Não combina de jeito nenhum.
De fato eu me sentia nua sem ter uma faca embainhada ao meu alcance, ou sem sapatos adequados para correr de zumbis. Ao contrário, depois de meses, eu estava de sutiã — mas este era somente para que levar o canivete-borboleta comigo. Melissa não parecia menos desconfortável. Mesmo ela que gostava de combinar uma saia ou um bandana com as roupas que usava, sabia que era uma brincadeira boba, e nada era mais importante do que manter o corpo coberto e ter fácil mobilidade.
Tom estava vestido como sempre em um jeans simples e camisa polo de mangas curtas. Ele não precisava usar qualquer roupa especial para o que pretendíamos fazer, sua aparência já cumpria fielmente o papel.
— Você vai ficar bem aqui? — Ele perguntou para Hector, que conferia a arma, sentado sob a janela. O papel dele era manter-se de vigia dentro da casa, observando-nos de longe e em segurança. A arma não teria qualquer utilidade em nosso plano, por isso também ficaria com ele. Se algo fugisse do combinado, Hector estava pronto para correr de volta para o condomínio e pedir ajuda.
— Vou, não sou bom ator, de qualquer maneira — ele riu e ajeitou os óculos. — Vou estar de olho o tempo inteiro.
— Vamos deixar nossas mochilas aqui, tem água, coisas enlatadas e barrinhas de cereal — informei-o — precisa repassar o plano?
— A minha parte é fácil. Vocês estão prontos?
Trocamos olhares incertos, mas o sol começava a se pôr e nosso tempo se acabava, deixando-nos sem escolha além de agir.
✘✘
Assim que viramos a esquina que nos colocaria à vista, Tom ergueu os braços, um sorriso político no rosto. Melissa segurava a minha mão, e ela tremia tanto que eu não sabia dizer se era real ou fingimento.
— O que é aquilo? — Uma voz feminina foi a primeira a alertar sobre nossa presença. Quando ficou claro que fomos vistos, eu e Melissa também nos adiantamos, alguns passos atrás de Tom.
— Gustavo, Leonardo! — A mulher de cabelos cacheados se colocou de pé do outro lado do pátio, estendendo o braço em frente à amiga grávida.
O homem grande e barbudo virou o rosto para nós, entrando em alerta.
— Ei, crianças, para dentro! — O garoto mais jovem que saíra ao lado da freira fez um sinal amplo, apontando para um dos prédios.
Quase que imediatamente recebemos olhares apavorados das crianças, que correram com pressa para o colégio.
Em segundos elas desapareceram, assim como a senhora de batina. O homem embaixo do carro havia sentado e nos olhava com um horror evidente, enquanto o mais velho dos três seguia o motoqueiro em nossa direção.
— Fica parado, nem mais um passo. — A mulher cacheada nos encarou, acompanhando com o canto dos olhos a amiga que corria para dentro dos prédios. Ela já estava com seu pedaço de madeira à mão.
— Pai, para! — Melissa ganiu, apertando minha mão. Seus olhos estavam marejados, mas eu via como se dirigiam friamente de uma pessoa para outra.
— Calma, amor — o sorriso de Tom não vacilou e seus braços continuaram erguidos para cima da cabeça. — Por favor, eu não estou armado. Viemos pedir ajuda.
Quando o motoqueiro chegou mais perto de nós, deu uma olhada rápida ao seu redor, certificando-se de algo antes de levar a mão à pistola, deixando-a à mostra sob o casaco. O garoto mais novo caminhava ao seu lado com o machado apoiado no ombro, lançando-nos um olhar ameaçador.
Agindo conforme o combinado, deixei um gemido de pavor que não me era habitual escapar.
— Mande elas mostrarem as mãos. — O mais velho ordenou. Olhando ao redor, percebi que os cachorros que brincavam com as crianças haviam seguido-as para dentro, enquanto o vira-lata alto e o bulldogue aproximavam-se, desconfiados. — Chacina, Massacre, não! — Ao som de sua voz, ambos congelaram no lugar, e precisei suprir um sorriso diante da disciplina.
— Por favor, não atira! — Melissa fechou os olhos e ergueu as mãos rápido, e fez as pessoas que nos cercavam levarem as mãos às armas e bainhas, assustadas com o movimento repentino.
— Amiga, calma! — Murmurei para ela alto o suficiente para ouvirem — Eu também não estou armada! — Ergui as mãos, com mais calma que Melissa.
Estávamos de frente para as costas de Tom, há quatro passos de distância. A garota cacheada o olhava de frente, e agora era evidente sua baixa estatura, diante dos quase 1,90 de Tom. Seu rosto era sério e a armação dos óculos redondos brilhava contra o sol.
O garoto mais jovem também havia levado a mão ao facão embainhado. Sua pele era escura, criando um contraste com os olhos verdes claros. Ele estava imóvel, atento para qualquer movimento que fizéssemos, com cara de poucos amigos. Olhando para o seu cabelo com dreadlocks curtos arrumados em um moicano e o risco que tinha na sobrancelha, era difícil imaginar que ele pudesse ser muito mais velho que eu e Melissa, mesmo sendo mais alto e com uma barba no queixo.
O motoqueiro e o senhor estavam à nossa esquerda. O primeiro era o único que tinha a altura próxima de Tom, porém com um corpo robusto e musculoso. Seus olhos pequenos estavam esmagados em uma expressão séria, e ele estava com o corpo na frente do homem mais velho. O cara do carro permanecia sentado no chão, mas parecia a ponto de fazer xixi nas calças.
— Quem são vocês? Por que estão aqui? — O motoqueiro falou, a voz grossa como um trovão.
— Meu nome é Tomas. — Com uma lentidão cirurgia, Tom moveu a mão direita para sinalizar em direção ao seu peito. — Eu era um advogado. Estou aqui com minha filha e a amiga dela. Estamos nas ruas há dias e chegamos nessa cidade, nem acreditamos que ainda haviam outras pessoas vivas! — Enquanto Tom falava, meus olhos passeavam atentos. Sabia que não poderia fazer muito com um canivete no sutiã, mas também tinha ciência de que Hector estava atento a tudo o que acontecia. Um tiro de alerta poderia nos dar vantagem. — Acontece que não comemos há quase dois dias, e quando vimos vocês, pensamos em pedir ajuda.
— Boa tarde, Tomas. — Dessa vez quem falou era o senhor mais velho, saindo de trás do armário que era seu companheiro. Tinha rugas acentuadas no rosto e algumas manchas de pele, mas não parecia maltratado pelo tempo. Tinha um sorriso tão político quanto o de Tom. — Meu nome é Valentino, sejam bem-vindos. Vocês vêm de onde?
— Senhor Val, por favor espere. — O homem armado falou novamente, deixando claro que segurava na pistola. — Leonardo, reviste o homem.
O garoto que parecia ter a nossa idade se moveu e olhou Tom de cima abaixo por um segundo. Sua expressão feia suavizou-se em um pequeno sorriso educado.
— Vocês viram que temos crianças e idosos aqui, precisamos tomar cuidado.
— Claro que entendemos, faríamos o mesmo no seu lugar. — Tom respondeu, simpático. — Aproveito para pedir desculpas pela abordagem, mas estávamos começando a ficar desesperados. Não vimos outros sobreviventes há muito tempo. Garoto, tenho um canivete no bolso esquerdo e uma faca de cozinha na minha bota. Se você olhar para onde viemos, deixei uma barra de metal ali atrás. — Ele apontou com o queixo para a esquina por onde passamos.
Cuidadosamente o garoto chamado Leonardo tateou Tom, retirando as exatas armas descritas.
— Está limpo, Gustavo — ele respondeu, trocando um olhar respeitoso com Tomas, antes fitar curiosamente a mim e Melissa.
— As garotas — a mulher mal encarada começou a andar em nossa direção, rodeando Tom.
Ela dificilmente era mais alta que eu, embora fosse mais velha. Ainda assim, dificilmente deveria ter mais de 25 anos. Seu cabelo era longo e armado, com um brilho dourado sob o céu de fim de tarde. Já o olhar era frio e letal.
— Qual de vocês é filha dele? Quantos anos têm? — Ouvi sua voz atrás de mim enquanto suas mãos seguraram minha cintura. Sua revista foi rápida e tirou as mãos de nós rapidamente, afinal nossas próprios roupas já deixavam claro que não tínhamos nada a esconder. Como não passou as mãos pelos meus seios, não encontrou o canivete.
— E-eu... — Melissa fungou, tremendo como um cachorrinho. — Sou filha dele. A R-rebeca é minha amiga. — Os gaguejos dela prejudicavam o entendimento da frase.
— Temos quinze anos! — Falei, mantendo os olhos no chão, como que evitando olhar para a mulher que nos revistara.
— Estão limpas. — Ela vociferou na direção do homem armado, Gustavo.
— Peço desculpas pela cautela deles. — O senhor voltou a se aproximar, esticando a mão na direção de Tom, que devolveu o aperto. — Não podemos ter certeza de mais nada nesses dias, principalmente com crianças aqui.
— Sequer aceito que peça desculpas pelo cuidado, senhor Valentino. — Tom virou para Melissa, lançando-lhe um olhar caloroso e esticando o braço em um convite. Minha amiga correu até ele, segurando com força em sua camiseta. — Pronto, querida, está tudo bem. Ninguém vai te machucar. Esta é Melissa, minha filha, e sua melhor amiga, Rebeca. Estavam juntas no colégio quando o caos começou... Graças a Deus consegui chegar a tempo.
Enquanto a seguia para segurar a outra mão de Tom, percebi os olhos cirúrgicos da mulher cacheada sobre mim.
Finalmente o motoqueiro baixou o braço, voltando a cobrir a arma com a jaqueta e soltando um longo suspiro.
— Paulina, quer entrar e avisar para todos que está tudo bem? É só um homem com duas meninas. Não quero que Elisa fique nervosa, pode prejudicar o bebê.
— Estavam completamente sozinhos lá fora? — A mulher não se moveu, cruzando os braços e mantendo as pernas afastadas. Ela tinha uma postura quase militar, apesar da pouca altura. — Parece arriscado sair sozinho com duas jovens.
— Pode deixar, Gus, eu vou. — O jovem Leonardo se propôs, dando um aceno com a cabeça para o homem barbudo.
— No momento... Sim. — Tom suspirou, virando um pouco o corpo para sustentar o olhar desconfiado. — Estávamos com outro colega da minha filha, mas infelizmente o lugar onde nos escondíamos foi infestado pelas criaturas, e demoramos muito para ter coragem de... Ele foi pego e mordido logo que saímos de casa, conseguimos tirá-lo do meio da confusão, mas ele não aguentou, como vocês podem imaginar.
— Quanto tempo ficou vivo? Qual era seu nome?
— Depois da mordida... Dez, onze horas, e então a febre ficou fora de controle. Sabíamos o que viria em seguida, por isso tive que...
Um som estrangulado saiu da garganta de Melissa, que apertou mais forte a camiseta de Tom.
— Faber — ela grunhiu, e senti um arrepio terrível cortar minha espinha. Jamais imaginaria que Melissa usaria esse nome — era o meu namorado.
Por sorte tínhamos informação de sobra para corroborar a história de Tom, graças aos primeiros dias onde Alana tentou salvar um casal que fora atacado.
— Fique calma, Paulina. — Valentino sorriu para ela, que finalmente pareceu relaxar um pouco os músculos. Olhando em volta para se certificar de que a amiga não estava lá, tirou o cigarro do bolso e acendeu com outro fósforo. — Sinto muito, querida — ele pousou a mão no ombro de Melissa, apertando-o com carinho.
— Obrigada, senhor — ela fungou, antes de erguer o rosto do peito de Tom. Para a minha surpresa, estava vermelha como um pimentão e as lágrimas que desciam por suas bochechas não pareciam falsas. Por um curto segundo, vi como seus olhos acompanharam imediatamente o barulho da porta de metal do colégio se abrindo.
A mulher de pele escura e aparência magra sob a batina de freira saiu da porta, acompanhada de Leonardo, que oferecia o braço para ela se apoiar. Em passos lentos, aproximaram-se de nós.
— Irmã Graça, por favor — Gustavo, o homem barbudo, ergueu os braços pedindo para que ela voltasse — está tudo sob controle por aqui, estamos só conversando.
— Leonardo falou que é uma família com fome — sua voz era surpreendentemente forte para sua aparência física, e ela ignorou o pedido de Gustavo. Suas rugas eram mais marcadas do que as de Valentino. — Por favor, deixe que passem a noite e comam conosco.
— Claro que sim irmã, não se preocupe — ele lhe deu um sorriso respeitoso — apenas nos assustamos com sua chegada repentina, mas Tomas e suas filhas já nos explicaram o que aconteceu. Estava pronto para estender o convite para o jantar.
— Irmã, muito prazer, meu nome é Tomas — Tom largou de Melissa para esticar a mão para a freira, curvando-se respeitosamente. Seus dedos pareciam saudáveis e fortes cobrindo a mão ossuda.
— Sou a Irmã Graça, Tomas. Dona Ivete está preparando nossa janta: uma sopa de tomate, frescos de nossa horta. Temos o suficiente para todos e a presença de vocês seria abençoada.
— Que Deus abençoe e retribua sua hospitalidade, irmã — Tom assentiu, olhando para as outras pessoas no pátio em seguida. — Se não for um problema para ninguém, aceitaríamos de muito bom grado, porque nós três estamos famintos.
Enquanto os seguíamos para dentro, a mulher chamada Paulina mantinha os olhos atentos sobre mim e Melissa.
✘✘
Nota da autora:
Oi amigos, como estão? 💕
Sei que vocês quiseram me matar na semana passada pela forma como o capítulo terminou e peço desculpas! Como esse já tinha 11 páginas não tinha como eu juntá-los sem ficar uma coisa gigante, então achei melhor assim.
Ficou claro agora porque o Tom fazia aquelas perguntas sobre as roupas delas? Hahah Na vida eu sou o Hector só rindo no meio do caos.
O que acharam da ideia do Tom?
Opiniões sobre esse novo grupo?
Quero teorias para responder só com 👀
Um beijo para vocês, até semana que vem
e não sejam mordidos até lá!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro