Capítulo 56.
Revirei os olhos, sentindo o calor quando envolvi os dedos em volta do seu braço e o virei até deixar a que eu queria à mostra (o que eu podia apenas ter pedido, mas estava interessada em sentí-lo). Coloquei a ponta do dedo sobre a maior, um navio veleiro também em old school que ocupava toda a parte externa do seu braço, com ondas quebrando contra a proa, que se misturavam às nuvens de fundo.
— Você mencionou que esse tinha a ver com seu pai.
Ele dobrou o antebraço e aproximou mais a parte da tatuagem em questão em mim, mas tive certeza que o fez apenas para flexionar mais seus músculos. Como se fosse necessário.
— Quando minha avó era viva, minha mãe passou uma temporada em Balneário Camboriú — uma cidade próxima à Florianópolis, também no litoral — para cuidar dela. Foi nessa época que conheceu meu pai, um marinheiro. Se apaixonaram perdidamente e em três meses ele pediu ela em casamento, prometeu que voltariam juntos para Botuverá, tudo maravilhoso. — Leonardo deu um riso melancólico, pegando a garrafa de vinho para tomar outro gole — Duas semanas depois de noivarem, ele morreu afogado em um treinamento e mais ou menos nessa época ela descobriu que estava grávida de mim.
Arfei com a surpresa, levando as mãos à boca e Leonardo colocou a palma sobre a minha coxa, como se dissesse que estava tudo bem.
— A história é meio triste, mas a mãe sempre teve bastante apoio do resto da família, então conseguiu me criar e tudo... Ela nunca deixou se abalar, sabe? Quando eu tinha uns 4, 5 anos e comecei a questionar sobre meu pai, ela achou a história muito pesada e preferiu me contar que o pai era um "homem do mar", que veio à terra só pra me entregar pra ela. Ela nunca falou mais do que isso, mas eu sempre imaginava que um dia meu pai ia voltar em um veleiro enorme trazido pelas ondas, como se ele controlasse elas e tal... Eu sempre gostei dessa história e mesmo depois de adulto eu preferia fingir que era verdade.
— Nossa — murmurei, levando as pontas dos dedos até as linhas grossas da arte — eu sinto muito. Não sabia que era algo tão... Profundo.
— Achou que eu era um inconsequente que só fazia tatuagem porque achava massa? — abriu aquele sorriso pra mim.
— Pra ser sincera, sim — confessei, pegando a garrafa de vinho para não precisar encará-lo.
Leonardo deixou um riso escapar e apoiou um tornozelo sobre o outro joelho. Ergueu a barra do jeans, expondo uma tatuagem que se assemelhava a um arame farpado envolvendo toda a sua panturrilha.
— É que você começou com a melhor história. Essa aqui eu fiz porque vi em outro cara e achei badass. Eu tinha uns... 17 anos, foi antes de entrar pro quartel.
Não contive a gargalhada, quase cuspindo um pouco do vinho com a diferença entre as histórias.
— Agora sim é mais condizente com o que eu imaginei — provoquei, percebendo que após mostrar a tatuagem da perna, Leonardo colocou a mão de volta na minha coxa — e qual é a do punhal?
— Putz, essa é a minha vergonha. Uma das — ele virou o braço, mostrando a tatuagem — Eu fui todo problemático na adolescência. Minha mãe ficava o dia inteiro fora a trabalho e comecei a andar com uma galera meio errada, aí queria impressioná-los, mostrar que eu era perigoso. Foi a minha primeira tatuagem, com 16 anos. Sei lá que merda eu tinha na cabeça.
Não consegui conter um sorriso. Enquanto Léo contava as histórias, eu passava distraidamente os dedos sobre o desenho, incapaz de tirar os olhos das veias saltadas que subiam pelo seu braço.
— Pelo menos ela é bonita.
— Tô vendo, você não tira o olho — ele provocou e quando dei um soquinho no seu braço, deixou uma gargalhada escapar.
Virei seu braço para ver o lobo de traços grossos que mostrava os dentes em um rosnado na parte externa do antebraço. Sobre a pelagem espessa no pescoço, havia um colar militar.
— Idiota. E essa aqui?
— Essa é quando eu já estava me ajeitando na vida. Antes eu estava nessa época complicada, envolvido com uma galera ruim, sendo um bosta com a minha mãe e quase começando a traficar por influência de uns amigos quando fui chamado para o exercíto... Foi a porra do inferno, passei por coisas que nunca imaginei que aguentaria, mas moldou um pouco melhor o meu caráter. — ele suspirou — Essa é pra eu lembrar que sou forte pra caralho... Mas também que quase perdi muito por estar me comportando que nem um bicho irracional.
Olhei para os olhos vazios do lobo, que não tinham uma íris. A maioria das tatuagens de Leo tinham cores vivas e traços simples, mas essa era de um acabamento realista.
— É incrível a história que elas contam... — murmurei, perdida em pensamentos.
Leonardo pegou minha mão e guiou os dedos até um arranjo de rosas abaixo do navio.
— Meu sargento às vezes parecia um maluco do caralho, mas era o cara mais cabeça que já conheci... Ele sempre falava que família tem que ser a nossa prioridade. Sei que não conserta a dor de cabeça que dei pra ela, mas desde então sempre que eu pisava fora de casa, trazia uma flor pra minha mãe. A gente tatuou junto a preferida dela, que eram as rosas.
Peguei-me sorrindo e quando ergui a cabeça para olhar Leonardo nos olhos, vi o brilho de lágrimas se formando. Ele não parecia à beira de uma torrente de lágrimas, mas certamente estava emocionado. Sentindo um misto de gratidão por ele estar dividindo aquilo comigo com empatia, larguei a garrafa na mesa para poder envolvê-lo em um abraço.
— Tenho certeza que você foi o maior orgulho da vida dela — murmurei, sentindo um pouco mais de leveza para lidar com aquele momento graças ao álcool.
Ouvi um leve fungar, mas percebi que ele estava sorrindo contra o meu pescoço. Era difícil dizer quem havia iniciado o movimento, mas eventualmente me puxou para junto de si e terminei sentada casualmente em seu colo.
— Pra ser sincero eu tava bem — ele comentou, abrindo os braços e apoiando os cotovelos no encosto do sofá enquanto se reclinava para trás, os olhos fixos em mim — mas agora estou melhor.
Fingindo indignação, movi-me como se fosse sair dali e a mão de Leonardo que agarrou minha cintura foi uma mera atuação — não era como se eu realmente fosse me afastar. Eu poderia mentir para mim mesma o quanto fosse que estava ali porque nossa proximidade ajudava a aplacar o frio, mas eu sabia que era porque... Leonardo me ajudava a sentir coisas diferentes da dor e do medo.
— Ridículo — revirei os olhos e quando ele fez menção de se aproximar, escorreguei as mãos sobre sua camiseta até a omoplata direita, fingindo que estava muito mais interessada naquilo — e a lápide? Eu vi quando estávamos no carro.
Ele deu outro riso, como se estivesse se divertindo profundamente com aquela minha tentativa patética de provocação. Em resposta, guiou minha cintura um pouco para trás, de forma que eu ficasse sentada sobre seus joelhos, e aproveitou a "distância" para puxar a camiseta pela parte de trás da gola. Sem tirar os olhos dos meus, ele virou a cabeça, expondo seu pescoço.
Não era como se eu tivesse vontade de desviar os olhos do abdômen definido, mas respirei fundo, seguindo com os dedos a linha do trapézio rígido até onde eu sabia que estava a lápide em estilo old school. Não conseguia ver perfeitamente, mas sabia que nela estavam inscrições que imitavam opções de videogame "Try Again? Yes No".
— Pra lembrar que não estou num jogo. Depois que eu morrer, não vou ter mais chances, então tenho que viver uma vida que eu não me arrependa — respondeu, e apesar de parecer interessado em me contar a história, sua mão pousada na minha cintura se movia, desviando da minha blusa para encostar na pele.
— Caramba — murmurei, sentindo uma vontade insuportável de aproximar mais nossos corpos — parece que eu já sei tudo sobre você só pelas tatuagens. Me sinto honrada que tenha falado só pra mim.
Deixei escapar sem pensar, fazendo uma referência ao dia em que Leonardo havia falado para mim e Guilherme que nos contaria sobre os significados das artes em seu corpo. Quis socar a minha própria cara por me lembrar daquilo nesse momento, mas não era a pontada de culpa que me faria recuar... Guilherme e eu já havíamos esclarecido-
Leonardo apenas riu.
— Desculpa princesa, mas já contei todas essas histórias para o Guilherme.
Era sempre uma sensação estranha ouvir o nome dele sair dos lábios de Leonardo e eu não sabia como me sentir. Apesar de não exatamente incomodada pela brincadeira, quis debochar do pouco caso que ele pareceu fazer:
— Hm, legal — fingi indiferença — Também deixou ele ficar passando a mão nelas?
Dessa vez, ele ladrou uma gargalhada, abrindo ainda mais aquele sorriso maravilhoso:
— Se eu dissesse que sim, você ficaria com ciúmes ou vontade?
Aquilo me pegou de surpresa e acho que ficou evidente em meu olhar (ou em como tive certeza que meu rosto ficou vermelho só de pensar naquilo), porque fez Leonardo se divertir ainda mais. Alguns segundos se passaram enquanto eu buscava alguma resposta, mas me vi obrigada a admitir:
— Certo, não tenho resposta. Eu não esperava essa.
Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo assistir ao show mais divertido do mundo na confusão em minha face:
— Achou que eu ia ficar ofendido?
— Pra ser sincera... Talvez.
— Então agora você sabe outra coisa sobre mim: eu sou pan.
— Ah — deixei escapar e finalmente aquelas três pequenas linhas nas cores rosa, amarelo e azul no meio dos desenhos de seu braço fizeram sentido. Eu as reconhecia de algum lugar, mas não as liguei imediatamente à bandeira pansexual — desculpa pela brincadeira. Espero que não tenha-
Ele riu, ainda satisfeito em continuar passando a mão pela minha cintura:
— Relaxa, não ofendeu. A sua cara de choque fez valer a pena.
Era um pouco idiota admitir que as minhas bochechas estavam doendo por causa daquele sorriso constante que não abandonava meu rosto. Conversar com Leonardo, mesmo sobre os assuntos pessoais e profundos, era sempre tão leve que transformava o apocalipse numa ideia distante.
Na ânsia de desviar os olhos do seu rosto, voltei a encarar seu torço e finalmente percebi linhas mais finas do lado esquerdo de suas costelas. Desci a mão até ali, fazendo uma leve curva para a qual não tinha qualquer desculpa: eu só queria passar a mão pelo seu abdômen duro.
Aproveitei a leve pausa no clima de flerte para questionar:
— Essa é linda — sussurrei, sentindo os relevos das linhas que preenchiam o lado esquerdo do seu tórax no desenho perfeito de um coração anatômico. Parecia recente.
Senti seu peito se inflar quando Leonardo respirou fundo e percebi que meu toque o havia afetado. A esta altura, estava passeando livremente a ponta dos dedos pelo seu corpo, em um carinho provocativo.
— Continua passando a mão que talvez eu te conte o significado — ele brincou, mas percebi como os pelos de seu braço estavam arrepiados, o que foi capaz de me arrancar um sorriso. Leonardo estava com a cabeça casualmente apoiada no encosto do sofá com os olhos fechados. Minha outra mão estava sentindo os músculos do seu braço e, depois de alguns segundos, ele finalmente falou: — essa foi mais pela estética mesmo, mas a maioria das pessoas tatua corações que não são realistas, então achei legal tatuar nesse local algo que está dentro de mim, que não é idealizado... Sempre que olho para essa, lembro que a vida real é crua.
Àquela altura o vinho que bebemos já fizera efeito e a cada segundo era mais iminente o que aquele flerte virava, enquanto Leonardo apertava minha cintura e eu continuava sem conseguir tirar as mãos de seu corpo.
— A vida real é crua — repeti suas palavras, fascinada, e meus sentimentos comprovaram a verdade cruel: a realidade não é bonita ou romântica. As histórias dão tempo ao seus personagens para processar e superar o luto, a tristeza crônica... Eu não tinha esse luxo.
Não era sobre o que é certo ou errado, mas apenas sobre o álcool ajudar a sufocar momentaneamente a agonia. Era sobre sentir alguma coisa, afogando todas as mágoas em um contato físico impossivelmente quente, que parecia dar um choque de vida ao meu corpo a cada contato. As consequências viriam depois — essas, independente de na vida real ou nos livros, sempre estavam presentes —, mas aquele era um assunto menos interessante para pensar.
Mas é claro que os devaneios se desfizeram em uma sensação arrebatadora de prazer quando os toques de Leonardo se tornaram mais intensos.
— Queria que você também tivesse algumas tatuagens para me mostrar.
Ele murmurou e não foi sugestivo quando desceu os olhos casualmente pelo meu colo, ainda aproveitando para continuar sentindo as laterais do meu corpo com a mão na cintura. O flerte me arrancou outro riso, mas não era exatamente graça que eu sentia, sentada no colo daquele homem.
— Posso te mostrar alguns lugares que eu queria tatuar — me vi sussurrando antes que eu pudesse encontrar controle sobre minha língua. Enquanto uma das minhas mãos permanecia pousada em seu ombro direito, levei a outra até o aperto em minha cintura, incentivando-o a explorar mais adentro da minha roupa — ou você me mostra onde acha que ficaria legal.
Por um segundo, como se a estática insuportável tivesse congelado nossos movimentos, meus olhos se mantiveram fixos nos dele. Eu podia dizer que estava com o rosto um pouco quente, mas a verdade é que todo o meu corpo parecia em chamas, ansiosa por sentir mais daquele calor, daquela... Vida.
— Princesa... — sua voz estava mais rouca, num quase sussurro, e era difícil dizer se era um aviso ou uma súplica — Você vai acabar comigo.
Foram suas últimas palavras e foi impossível dizer quem se movimentou primeiro, mas sem mais controle para continuar com aquele joguinho, perdemos nosso fôlego em um beijo sedento.
Mas apesar de indiscutivelmente ébrio, ficava impossível não perceber como Leonardo era quase meticuloso em seus toques, seus movimentos. Fazendo com que eu me derretesse da maneira mais arrogantemente precisa ao assumir o controle daquele amasso e praticamente conter meus movimentos para poder me torturar, passando com calma a língua pela minha boca, parando para morder meu lábio ou abandonando-os sem qualquer pudor para beijar meu pescoço.
— Léo — gemi, mas nem fui capaz de sentir vergonha pelo desespero evidente. E por aquela ridícula expressão presunçosa, ele tinha noção que eu sequer sabia o que estava pedindo, como se tivesse prazer em acabar comigo apenas com a sua experiência.
Voltei a atacar sua boca, porque nada que dissesse seria melhor do a sensação quente e macia. Mas enquanto ele não precisava de qualquer esforço para me transformar em uma completa confusão, seus toques estavam irritantemente púdicos, como se não se atrevesse a subir as mãos da minha cintura (mesmo que da última vez ele parecesse ansioso para explorar todo o meu corpo...)
Pressionei-me contra o dele, sentindo sua ereção sob a calça. Dessa vez ele interrompeu o beijo, arfando pesadamente, mas o aperto na minha cintura me impediu de repetir o movimento.
— Rebeca, não vamos continuar — apesar da certeza nas palavras, sua voz parecia quase um lamento.
Se não tivéssemos passado a última quase hora praticamente nos comendo com palavras, eu podia ter me sentido insegura.
— Por que? Você não quer? — questionei, mesmo não sendo o que parecia.
Leonardo riu, deixando um suspiro pesado escapar enquanto apoiava a cabeça no encosto do sofá, como se estivesse exausto
— Parece que eu não quero? Mas não vou comer você assim — o jeito sem pudor que Leonardo falava normalmente me deixava constrangida, mas naquela hora apenas me deu mais vontade. Não me atrevi a pensar em outra pessoa que tinha esse mesmo efeito.
— Assim? — questionei, impaciente. Para quem não queria me comer, ainda parecia extremamente relutante em tirar as mãos de mim.
— Você bebeu, Rebeca...
— Nós bebemos, Leonardo — corrigi — não é como se você estivesse tirando proveito-
— É óbvio que eu não estou tirando proveito — ele interrompeu, abrindo mais o sorriso enquanto, com um movimento de cintura, pressionava subitamente a ereção contra mim e me arrancava um gemido — a questão é que não quero te complicar. Deixar sua relação com o resto do seu grupo mais confusa.
Por "com o resto do meu grupo" ele queria dizer Guilherme. Lembrei de nossa última conversa, da constante incerteza que sempre pairou qualquer ideia de um relacionamento. Nem Guilherme nem eu nos atrevíamos a tentar colocar um nome no que quer que fosse aquilo, porque também sequer conseguimos resolver nossas discórdias com uma conversa civilizada... Fosse como fosse, deixamos bem claro que não havia um compromisso. Talvez a manhã seguinte pudesse me dar enxaqueca (e não por causa do vinho), mas aquilo era problema da manhã seguinte.
— Vou te explicar uma coisa, Leonardo — sussurrei, aproximando-me de seu ouvido, sentindo como o havia feito se arrepiar — eu te deixo me chamar de pirralha, mas não sou uma criança — ergui-me do seu colo, pegando-o de surpresa, mas não me afastei — deixa eu te mostrar o quanto posso tomar minhas próprias decisões.
Sem nem saber de onde vinha aquela onda de confiança, mantive meus olhos presos a sua expressão boquiaberta enquanto me ajoelhava entre suas pernas, prendendo o cabelo em um coque frouxo.
— Rebeca — arfou, enroscando uma das mãos em meus fios de cabelo quando comecei a deslizar o zíper de sua calça. Leonardo abriu ainda mais as pernas, sem qualquer resistência.
— Você mudou rápido de idéia — provoquei, mas qualquer tentativa de tentar me responder à altura foi silenciada quando coloquei-o na boca, sentindo o aperto no meu cabelo se intensificar até quase doer. Quase.
Meu coração disparou, enchendo meu corpo de algo além do calor sufocante quando sentia sua ereção rígida e quente na minha boca: adrenalina. Observei como mordia a boca, sofrendo para não deixar nenhum som escapar, talvez pela primeira vez consciente que fazíamos aquilo logo na sala, com Paulina dormindo no quarto ao lado.
— Rebeca — depois de alguns minutos tendo dificuldade para conter os sons, ouvi a voz de Leonardo, tão rouca quanto possível: — pelo amor, vamos para o quarto. Tenho camisinha lá.
Ergui o olhar para ele. Se eu mesma não estivesse tão excitada, desejando mais do que tudo continuar aquilo, sabia que podia acabar com ele se continuasse ali. Diferente de mim, talvez ele não tivesse tido tantas opções para esquentar a cama desde o começo do apocalipse.
— Bom que você entende rápido — brinquei, porque àquela altura não havia a possibilidade de ser algo além daquela junção de excitação e provocações.
Leonardo revirou os olhos, mas riu, ajeitando-se como podia e me ajudando a levantar. O fogo da lareira já estava reduzido à brasas fracas e começava a ficar frio naquela sala. Agora o crepitar não escondia mais eventuais grunhidos, bem ao fundo.
Mas não tive tempo para pensar naquilo, pois com um movimento rápido eu já estava em seu colo, sendo carregada para dentro do quarto mais frio ainda. Mesmo a parede gelada contra a qual Leonardo me apertou não representava qualquer problema para meu corpo em chamas, ainda mais quando ele pressionou-se contra mim, tateando a mochila sobre a cômoda até encontrar o que procurava.
Se antes Leonardo havia sido metódico, agora era quase cômica (se não fosse completamente arrebatadora) a ansiedade com a qual me ajudava a tirar as roupas. Claro que logo a vontade de ser arrogante se fez presente quando parou para me estimular com os dedos até me obrigar a implorar.
Quando quase ameacei arranjar um problema para nós dois conforme sentia-o me penetrar, sua mão grande cobriu minha boca. Se durante toda a noite apenas passeei delicadamente meus dedos sobre seu corpo, agora não tinha mais o pudor de não lhe cravar as unhas — o que não parecia do seu desagrado.
Era quente e elétrico ao mesmo tempo, sobrecarregando meu corpo como se estivéssemos à beira da explosão. Leonardo era forte, mantendo-me erguida sem esforço enquanto também ditava o ritmo de maneira exigente e quando tirou a mão da minha boca, foi apenas para poder colocar sua língua também dentro de mim.
Mas o susto quase me enfartou quando, com um braço sustentando meu peso contra a parede e o outro apoiado na cômoda ao nosso lado, Leonardo derrubou o abajur, o estouro ecoando pela casa vazia e congelando meu corpo.
— Meu Deus, Paulina vai me matar — ele arfou, recuperando o fôlego quando paramos por alguns segundos.
— Se os zumbis que você atraiu não nos matarem! — respondi, mas não conseguia nem manter a seriedade enquanto segurava o riso, mesmo que o susto houvesse obrigado a nos desvencilhar. O barulho parecia alto pelo silêncio em que a casa se encontrava, mas dificilmente seria ouvido do lado de fora... Agora o fato de Paulina não ter arrombado a porta para se certificar de que tudo estava bem, isso sim era um indicativo que ela já não esperava nada de nós dois.
— Vai ter valido a pena — ele desviou dos cacos de vidro, apenas para me colocar na cama dessa vez, e de novo precisei morder com força o lábio para não denunciar ainda mais o que fazíamos quando o senti entrar de novo — da próxima tem que ser em um lugar em que eu possa te ouvir.
Não foi sutil, implicando que aquilo se repetiria, mas nem eu me atreveria a ser. O que eu e Leonardo fazíamos juntos era enlouquecedoramente lascivo, alguns minutos sendo o que bastou para ficar evidente que nenhum de nós gostava de qualquer delicadeza. Meus seios estavam tão marcados pela sua boca que a sensibilidade quase me enlouquecia, e quando, apesar de intensa, nossa explosão se extinguiu de uma maneira rápida e exaustiva — porque sejamos sinceros, nenhum de nós estava exatamente "em forma" nesse âmbito, graças ao fim do mundo — sufoquei meus sons com uma mordida nem remotamente discreta na base de seu pescoço.
Terminamos exaustos, com os corpos cobertos de suor lado a lado na cama, onde o frio se tornava conveniente àquela altura. A respiração de Leonardo era alta e demorou até se acalmar, mas a minha não estava muito mais contida.
— Quando você falar sobre o resto das tatuagens — comecei, precisando parar para recuperar o fôlego — vamos poder fazer de novo?
Leonardo riu, estirado ao meu lado de barriga pra cima:
— Você faz o apocalipse valer a pena.
Sorri e depois de mais alguns segundos de descanso, finalmente nos movemos, mas apenas para arrumar de qualquer maneira a cama, livrando-nos do cobre-leito empoeirado para podermos deitar juntos sob os cobertores.
— Não podemos dormir — sussurrei, porque a hora de Paulina acordar e assumir a guarda ainda não havia chegado. Agora estava deitada de lado, a cabeça pousada sobre o braço de Leonardo, observando seu olhar, com as pálpebras um pouco pesadas.
— Que bom, porque quando dormimos, essa noite acaba. — ele murmurou e senti meu coração esquentar. Moveu a mão para pousar as pontas dos dedos sobre meu braço, em um carinho lento — Eu te contei tudo de interessante sobre mim, mas ainda parece que te conheço pouco.
— Posso te contar o que quiser — respondi. Nossas vozes estavam tão baixas que até o assobio do vento chegava até nós.
Quando as cobertas não eram mais o suficiente para me proteger do frio, aproximei-me do corpo de Leonardo.
— Como você conseguiu a Mei?
— Minha avó me deu ela quando eu tinha 14 anos — sorri, lembrando de quando ela era apenas uma bolinha de pêlos preta e laranja — era filhote de um ex-cachorro polícial de um amigo da família.
— Antes do apocalipse, o que você curtia ouvir?
Mordi o lábio inferior.
— Se eu disser Metallica, você me permite parar aqui, na resposta cool, ou vai me obrigar a confessar Avril Lavigne? — brinquei.
— Nem por um minuto eu esperei algo diferente de Avril Lavigne aí no meio — provocou, rindo — você faz o estilo. Tenho certeza que também já quis raspar a lateral da cabeça.
— Nunca pensei nisso — menti, mas a risada que não consegui conter me denunciou.
— Você ficou gostosa demais assim — comentou, como quem elogia meus olhos e mudou de assunto: — Já quis fazer tatuagem?
Enquanto eu listava algumas ideias que ano passado me pareciam geniais, mas agora eu já sentia vergonha somente em falar, Leonardo e eu nos perdíamos em risadas que mal podiam ser contidas e histórias sobre nossas vidas antes do apocalipse, amigos que tivemos ou hobbies que sentíamos saudades.
A noite de julho era fria, mas a minha única preocupação era a iminência do amanhecer, que chegaria sem ser convidado e me obrigaria a largar aquele pedaço de paz.
✘✘
Nota da autora:
Alexa, toca Careless Whisper 🔥
Sim, sim, queridos leitores, em minha gigantesca graça e eterna bondade, perdoarei a todos que disseram que eu apenas sou capaz de escrever palavras de dor e desgraça 🙏
(menos quem é team Gui, pra vocês deve ter continuado dor e desgraça mesmo)
MEU DEUS TODA ESSA CENA ERA PARA TER APENAS UM CAPÍTULO, MAS A MEI (ela é minha ghost writer) SIMPLESMENTE NÃO PARAVA DE ESCREVER. Espero que essas quase vinte páginas tenham trazido um alívio aos seus corações doloridos (certamente trouxe pra Beca).
Algumas pessoas me questionaram se vai ter uma "maratona" dos capítulos finais, como teve em e ED e a resposta é NÃO SEI. Como estou escrevendo dois livros e com muito menos tempo do que há dois anos, fica difícil dar uma confirmação. Eu também não pretendia escrever 20 páginas em dois dias mas aqui estou eu. Então vou precisar ver como vai ficar até lá, mas no pior dos casos, espero que essa atualização dupla que com certeza seria o cliffhanger mais dolorido da história compense.
Rapidão, vocês consideram esse tchaca tchaca na butchaca como hot? 🤔 Pra mim hot sempre é uma rinha de galo com descrições minuciosas tipo meu trim na sua glub e eu me desdobro toda para conseguir detalhas as coisas sem quebrar o tom mais sério da Rebeca. Não sei se é certo dizer que é ~ hot ~. Me respondam essa dúvida.
SEJA COMO FOR ESPERO QUE TENHAM GOSTADO DESSA 🐀 esmagação de rata 🐀. Rebeca tá sendo tão comida que não vai sobrar nada pros zum- DESCULPA KKKKKKK
Quem se surpreendeu com o Leonardo pan?
Aliás, deixa eu contar para vocês: na época que decidi colocar tatuagens no Leonardo, eu nunca realmente tinha parado para pensar em cada uma individualmente (só no barcão mesmo). Eu lembro de uma leitora comentando "nossa estou louca para descobrir o significado por trás das tatuagens 🥰" e eu quase quis responder "eu também" kkkkkk espero que tenham saciado a curiosidade. Infelizmente não tivemos o tratamento cinco estrelas da Rebeca, mas a vida não é justa.
Eu amo esse capítulo com todas as minhas forças e espero que vocês tenham amado também 💕🙏
"Marina isso então oficializa com quem a Rebeca vai ficar????" haha, no sonho de vocês. This is a secret I'll never tell (mentira só não vai ser agora mesmo).
Eu pareço animada? Eu sempre acho muito óbvio pelas minhas notinhas quando estou PULANDO DE ANSIEDADE para ver as reações de vocês. Aqui estou eu de novo.
É isso, amo vocês!!!! Por favor, não esqueçam de deixar a estrelinha, dessa vez eu acho que mereço.
Até segunda-feira
Não sejam mordidos
(mas a Rebeca foi. De novo.)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro