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Capítulo 55.

Empurrei a porta com a sola do coturno, apontando minha lanterna para a escuridão desconhecida. Ouvi o suave impacto da madeira contra a parede, que não era nem de longe o suficiente para ser preocupante, mas acordaria qualquer criatura naquele quarto.

Paulina odiava minha técnica de vistoriar casas, que constituía em não ter cuidado com o barulho, mas usá-lo como aliado. Logo após me certificar que os muros me manteriam protegida e o quintal estava vazio, passava pela entrada principal fazendo barulho para chamar atenção. Não era refinado ou cuidadoso, mas me poupava de intermináveis minutos de ansiedade, varrendo cada canto escuro com uma lanterna enquanto tentava fazer o mínimo som. Quando se entrava fazendo barulho, as criaturas vinham até você e quando não podiam se mexer por algum motivo, denunciavam sua presença com rosnados.

Leonardo me explicou que enquanto estavam limpando os corredores do colégio, logo no começo do apocalipse, Paulina viu alguns colegas morrerem graças a essa falta de cuidado e por isso fazia questão de encontrar os zumbis antes que eles a vissem. Não era tão absurdo, para ser sincera, já que a maioria das casas eram pequenas e tinham corredores curtos, com poucos pontos-cegos. Normalmente uma varredura silenciosa com a lanterna realmente resolvia o problema.

É só que eu ficava com medo fazendo dessa maneira. Pronto, confessei.

— Limpo — anunciei, virando-me na direção do curto corredor pelo qual eu vim.

— Aqui também.

Paulina respondeu, saindo do outro quarto e último cômodo a ser vistoriado. Leonardo estava erguendo o zumbi morto que enrolamos em um cobertor e o jogou pela janela aberta, fechando o vidro com um baque. Era um trabalho extra ter que tirar seus corpos de dentro das casas, mas àquela altura o fedor já era insuportável demais para ignorar.

Finalmente tirei a mochila das costas e atirei-me no sofá velho, a poeira voando ao meu redor (a rinite de Guilherme provavelmente atacaria se ele estivesse ali). Era uma casinha de dois quartos pequena e aconchegante, com uma lareira central na sala estreita. Apesar da poeira e teias de aranha, não estava particularmente fedorenta como a maioria das casas que invadíamos (mas também ainda não havíamos aberto a geladeira...)

— São 19h52 — murmurei, depois de checar o horário no relógio. A iluminação da sala escura ficava por conta das nossas três lanternas — podemos esquentar as sopas de saquinho para a janta.

Apesar da escuridão do lado de fora, sei que Paulina preferia ter dirigido até o condomínio, mas não o fez porque imaginava que nossa última tarefa havia me desgastado. E sinceramente, talvez pela primeira vez eu pensava que podia merecer um descanso. Apenas lembrar dos três sacos de cadáver na traseira da van que nos trouxera até aqui fazia meu estômago embrulhar... Apesar de ansiosa para voltar ao condomínio e rever Mei, Melissa e todos, apenas desejava comida e uma noite de sono para um futuro próximo.

A planta aberta da casa permitia que eu visse Paulina de onde estava, que conferia dentro de cada prateleira da cozinha. Depois de algum tempo, Leonardo também se sentou no outro sofá.

— Ganhamos na loteria hoje — identifiquei o sorriso apenas pela voz da mulher mais velha — tem um pacote fechado de charque, deve estar dentro da validade.

— O que é isso? — perguntei.

— Um tipo de carne seca. — a mulher caminhou até onde eu e Leonardo estávamos sentados — Vocês ficaram com a parte difícil, deixem que eu preparo a janta. Vou fazer uma sopa de verdade.

Se você fosse otimista, o apocalipse tinha seu lado positivo: não havia outro lugar capaz de te deixasse radiante com coisas tão banais. Um pacote de carne seca quase fazia tudo valer a pena..

Virei o rosto para Leonardo, que apesar de estirado no sofá, estava de olhos abertos. Ele captou meu olhar mesmo sob a iluminação fraca das lanternas, lançando-me um sorriso.

Sorri de volta, porque mesmo com o coração ainda pesado pela experiência desgastante de uma hora atrás, aqueles segundos de paz me faziam bem.

— Acho que vou tentar tomar um banho — murmurei.

— Nesse frio? — Paulina questionou.

— Tava pensando nisso também — Leonardo respondeu, levantando-se do sofá e seguindo até a cozinha — vou colocar a água para ferver. Quer ir primeiro, princesa?

Mesmo não estando tão suja, eu realmente sentia que precisava esfregar meu corpo com água quente, como se de alguma maneira pudesse afastar o peso daquele dia.


✘✘


A observação de Paulina não estava errada: fazia frio pra caramba. Era por volta de julho e provavelmente estava 12 graus na rua. Como nem sempre podíamos contar com geradores como no hospital ou condomínio, se não quiséssemos congelar, precisávamos de uma bacia de água quente para tomar pelo menos um banho de esponja. O que também não era agradável no inverno, nem de extrema necessidade na maioria das vezes.

Uma metade de mim sentia que precisava limpar meu corpo depois de manusear cadáveres de pessoas que foram especiais para mim... Mas uma pequena parte só queria parecer menos repulsiva passando a noite junto de Leonardo, mesmo que não estivesse exatamente no humor para... Nada de mais. Talvez ele pensasse o mesmo, visto que também escolheu se submeter àquele banho de gato horrível.

Que besteira pensei, quando já estava pronta e me secava em frente ao espelho do banheiro. A parte queimada do meu rosto chegava até o couro cabeludo, criando uma entrada difícil de disfarçar e enquanto vestia a muda de roupa limpas, perdia-me pensando em como ajeitar aquele horror.

Era possível se acostumar com a dor, mas jamais seria tão fácil aceitar aquele sentimento estranho de se permitir sentir outras coisas além dela, principalmente coisas tão banais quanto insegurança pela minha aparência.

— Pronta, princesa? — fuzilei Paulina com os olhos, que me provocava usando o apelido de Leonardo quando saí do banheiro — A sopa está quase. Chama o Léo?

A casa era tão apertada que bastava virar à esquerda no pequeno corredor para vê-lo por entre a porta entreaberta do quarto. No fim, ele quem tomou banho primeiro e estava diante de um espelho enquanto manuseava uma máquina de cortar cabelo.

— Onde achou isso? — Chamei sua atenção, apoiando-me no batente da porta. Apertei os braços em volta do corpo, porque mesmo vestida, estava congelando.

Leonardo demorou alguns segundos para me responder, concentrado na risca que fazia na lateral da cabeça. Seus dreads eram curtos e alinhados como moicano na parte de cima da cabeça, com as laterais raspadas. Esteve com a barba sempre por fazer nas últimas semanas, mas agora retornara ao cavanhaque habitual no queixo. Era impossível ignorar como era bonito, os olhos tão verdes que se destacavam na pele escura.

— Achei na cômoda — finalmente virou o rosto na minha direção, quando se deu por satisfeito com as duas riscas do lado direito do cabelo — E aí, o que achou?

Deixei um sorriso escapar.

— Ficou massa — agradeci pela baixa luz da casa provavelmente disfarçar como o fiquei encarando — acha que consegue dar um jeito nessa desgraça? — apontei para meu próprio cabelo, atraindo sua atenção — Nada de mais, só pelo menos deixar a parte queimada um pouco mais alinhada.

Mas sua expressão fazia parecer que o convidei para ir pra Disney.

— Caralho, claro, mas vamos fazer algo foda! — ele ergueu a voz — Ô Paulina, corre aqui, preciso de ajuda!

— O que houve? — sua resposta veio em tom de alerta.

Socorro! É urgente!

Foi assim que terminei com um sidecut.

Paulina, que a princípio chegou bufando pelo susto, ficou bastante satisfeita ajudando a dividir adequadamente meu cabelo para que Leonardo raspasse a lateral perto da queimadura, como uma criança feliz por fazer arte. No fim, olhando para meu rosto marcado por cicatrizes e emoldurado pelos cabelos negros que chegavam aos ombros de apenas um lado agora, sentia que havia combinado perfeitamente comigo.

— Quase disfarça que é uma pirralha, com o cabelo foda e essas cicatrizes — Leonardo brincou, erguendo os olhos das cartas em sua mão.

— Rebeca — Paulina cortou, antes que eu pudesse responder — me dá seus quinhentos reais. Você perdeu.

Estava com a resposta para Leonardo na ponta da língua, mas o balde de água fria atraiu minha atenção. Olhei para os bolos de notas de cem dela e de Leonardo, sem saber quando exatamente haviam sido feitos.

— Caralho, que bom que você sabe matar zumbi. Se o apocalipse fosse de jogadores de pôquer, você tava ferrada — Leonardo provocou, enquanto, relutante, estendia minhas últimas notas para Paulina.

Concordamos que ele era um idiota no dia que teve a ideia de voltar para o supermercado que havíamos praticamente esvaziado nos últimos dias, apenas para voltar com os bolsos cheios de dinheiro. Desde o começo do apocalipse nos acostumamos a ignorar aquela coisa agora inútil, mas Leonardo, orgulhoso, afirmou que era uma ótima ideia ter o que apostar (para relembrar quando o mundo era um pouco mais normal). Agora, na última quase hora em que comemos a sopa deliciosa com carne seca que Paulina preparou e jogamos cartas, ela parecia bastante animada em revelar que era uma ótima jogadora — enquanto sugava todo o meu dinheiro.

— Ridículos — joguei o restante das cartas que tinha sobre a mesa, emburrada — esse jogo é um lixo.

Os dois riram e nem eu pude segurar meu sorriso. Mesmo com o constante peso das lembranças apertando meu coração, aquela pequena noite descontraída estava me ajudando a enfrentar toda a situação. Era sempre difícil se atrever a rir ou sentir algo além de tristeza após tantas perdas, mas... Naquela sala apertada, agora mais quente e iluminada pelo fogo da lareira, eu conseguia me sentir tranquila.

— Bom, agora que sou rica, vou dormir — Paulina levantou, esticando-se para estalar as costas — podem deixar que eu pego o último turno da vigia antes do amanhecer. — então agarrou a manta na qual esteve enrolada na última hora e caminhou em direção a um dos quartos — Leonardo, você é o adulto responsável, não se esqueça. Façam silêncio e durmam logo.

Senti as bochechas esquentarem um pouco, sem entender ao certo se ela estava insinuando algo ou só convencida de que jogaríamos mais um pouco. Observei seus cabelos cheios de compridos, enquanto ela entrava em um dos quartos e fechava a porta atrás de si.

Leonardo olhou para mim e abriu um sorriso:

— A Paulina nunca aprende.

— O que? — questionei.

Observei-o se levantar do sofá e caminhar até a cozinha, de onde vieram barulhos de armários sendo abertos. Leonardo retornou segundos depois, segurando uma garrafa de vinho tinto em uma das mãos e um saca-rolhas na outra.

— Que eu não sou um adulto responsável.

Reuni o baralho de cartas e as notas, abrindo espaço na mesinha de centro.

— Você esperou ela ir embora?

— Ela iria encrencar e eu achei que você estava precisando — ergui uma sobrancelha — relaxa, não pra encher a cara. Só uma tacinha para conseguirmos dormir melhor.

— É para eu dormir logo, então? — chequei o relógio de pulso, mas só porque não conseguia sustentar o olhar de Leonardo sem sentir o corpo esquentar. Eram 22h.

— Você é uma pirralha, mas eu não mando em você — ele respondeu, enquanto puxava a rolha com um sonoro pop — pode deitar a hora que quiser... Mas aí não vai poder passar a noite comigo — piscou, fazendo menção de levar a garrafa aos lábios, mas parou na metade do caminho, olhando para mim — você se importa? Não achei as taças.

Fiz que não com a cabeça e ele tomou um longo gole direto do gargalo. Era engraçado como seu tom não estava minimamente sugestivo, mas parecia que cada palavra que trocávamos percorria meu corpo como uma carga elétrica.

— Já trocamos salivas de formas piores — brinquei, reclinando preguiçosamente no apoio do sofá. Acompanhei com os olhos como agora ele se dirigia para o meu lado e não para o sofá oposto.

Piores? — ergueu a sobrancelha, mas seu semblante nunca deixou de ser divertido. Sentou-se perto de mim, nossas pernas se tocando.

Leonardo me estendeu a garrafa e aproveitei a oportunidade para não responder, lançando-lhe apenas um sorriso brincalhão. Eu nunca gostei de vinho, mas precisava concordar que pelo menos era uma bebida que ainda ficava tragável quando quente. Apesar de o fazer vez ou outra, eu não era exatamente adepta de afundar meus sentimentos com bebida. Naquela noite fria, porém, era como se eu precisasse sentir alguma outra coisa além de um aperto no peito.

Quando devolvi a garrafa, meus olhos acompanharam nossas mãos e percebi que o punho levemente erguido de sua jaqueta de couro deixava a mostra um pouco da tatuagem na parte interna do antebraço. Eu sabia que era uma adaga em estilo old school com três gotas caindo da lâmina.

— Ei — chamei — quando estávamos indo para a oficina, você disse que se saíssemos vivo, contaria o significado das suas tatuagens. Tem vários neonazistas mortos, mas ainda não sei sobre nenhuma.

Leonardo tomou mais um gole de vinho e colocou a garrafa sobre a mesa de centro, escorregando a jaqueta de couro até deixar os braços fortes à mostra. Mordi o lábio inferior quando ele esticou o direito, que era coberto de tatuagens, em minha direção.

— Para de me secar — tinha a expressão de deboche no rosto — e escolhe uma que eu conto a história.


✘✘


Nota da autora:

TÁ MARINA, QUAL A NOTÍCIA BOA QUE VOCÊ PROMETEU?

A notícia boa é que eu cortei esse capítulo no meio porque ele ficou com quase 20 páginas. Aqui foram apenas 6.

Agora, a notícia ÓTIMA é que 

O próximo capítulo vai ser postado daqui a pouco 🤭

Não sejam mordidos, pois volto logo.

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