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Capítulo 29.

— Tu não é o fodão, porra?

Os golpes não eram em mim, mas assistir cada vez que o coturno de Enrico acertava o rosto de Hector e arrancava sangue rasgava meu coração. Já era o segundo ou terceiro chute e o olhar de Hector se tornava perdido, zonzo pela perda de sangue e pelos choques abruptos. Sangue escorria também de seus lábios machucados, este graças ao buraco de bala na barriga. Se sua camiseta não fosse preta, estaria completamente manchada de vermelho.

Gritei mais uma vez, tentando me desvencilhar, mas o aperto de Klaus era implacável e estar de joelhos tornava tudo mais difícil. Senti um estalo no meu ombro, mas não foi ele o motivo da dor que me consumia:

— Para! A culpa é minha, eu que armei a fuga! — implorei, quando o último chute fez o corpo de Hector desabar no chão. Seus olhos estavam desfocados e eu não sabia dizer se ainda estava consciente. Uma poça de sangue começava a se formar sob ele.

— Calma, boneca, não precisa gritar, logo é a sua vez — ouvi a voz baixa de Klaus atrás de mim. Não era maliciosa ou debochada como a de Enrico, somente gélida, sem se abalar diante da brutalidade — Enrico, chega!

Como um cachorro treinado, ele obedeceu, não sem antes cuspir no garoto caído.

— Seu merda! — berrei, sentindo minha garganta arranhar com a intensidade. Klaus era um homem magro comparado a Adão ou outros de seu grupo, mas sequer era um desafio me manter presa — Eu vou te matar!

Minha ameaça não era nada além de vazia, e a malícia em sua expressão demonstrava como ele sabia. Queria arrancar aqueles olhos escuros que riam de mim.

— Segura ela, Adão — ouvi a ordem e a mão de Klaus foi substituída por um aperto férreo que unia meus pulsos. Se antes a minha resistência era insignificante, agora tornara-se totalmente inútil.

O homem ruivo atravessou a oficina em direção à lareira, onde o fogo já estava quase morto, mas o carvão incandescente indicava que restava calor. A adrenalina abandonou meu corpo como se um banho gélido a levasse embora, junto com a capacidade do meu coração de bombear sangue. Da última vez, uma emergência nos salvara do que Klaus planejava, mas eu tinha certeza que não poderia contar com aquela sorte mais uma vez.

Ele pegou o atiçador e o enfiou pelas brasas que restavam, sua expressão tão calma que parecia não pensar em nada enquanto pegava a garrafa de álcool abandonada ao lado da lareira e jogava um pouco lá dentro para aumentar o fogo. Vi como havia sangue sob suas botas, deixando pegadas avermelhadas por todo o lugar, sangue das três mulheres mortas ainda largadas em frente à oficina. As que sobreviveram ao tiroteio, Mariana, Bruna, Joana e Darlene, estavam enfileiradas, um dos homens que eu nunca vira segurando um fuzil nas costas da última.

O silêncio era aterrorizante e a tensão da sala praticamente palpável. Alguns homens receberam ordens e não estavam presentes, mas ainda restavam sete deles em volta de nós. Alguns estavam tranquilos, como se aquela roda de tortura fizesse parte de seu dia-a-dia, mas havia horror na expressão de outros, dentre eles Celso, cujos olhos horrorizados estavam fixos nos meus, como quem perguntava "o que vocês fizeram?".

E eu não sabia responder.

— Antes de começarmos — o ruivo falou, depois de longos segundos, e tirou o atiçador que exalava fumaça do fogo. Apontou com ele, como se fosse uma piteira inofensiva, para as mulheres mantidas em pé sob a mira das armas. Passou tão perto do rosto de Bruna, que ela se encolheu em reflexo — Todas essas infelizes são traidoras, mas uma em específico soltou vocês, mesmo com ordens contrárias, é isso, Enrico?

— Sim, Klaus — confirmou.

— E isso — continuou o ruivo — infelizmente é inaceitável. Então, Rebeca, eu quero que você me fale qual delas foi.

Segurando com a mão esquerda o atiçador escaldante, ele pegou uma pistola guardada em seu coldre, liberando a trava de segurança com o dedo. Senti um arrepio sacudir minha espinha, o suor que cobria meu corpo fazendo o vento que entrava pela janela parecer polar. Dar um nome seria condenar uma delas à morte.

Mesmo assim, meus olhos não contiveram uma olhada rápida para Joana. O bronzeado com olhos arregalados e finas gotas de suor que não escondiam seu desespero. Tentei prometer silenciosamente que a manteria segura.

— E eu quero que você vá tomar no seu cu — respondi, esforçando-me para que a minha voz não vacilasse.

Por incrível que pudesse parecer, naquele momento pensei em minha avó. Também em meu pai, que eu sequer soubera como foram suas horas finais, e na noite em que Melissa precisou matar Carlos. Nas minhas amigas do antigo colégio e nos tempos que eu mal lembrava, quando minha mãe faleceu. Quando Guilherme levou um tiro e quando Helena, Ana e Faber morreram. Todos os pensamentos que me traziam dor, os momentos nos quais eu precisei ser forte para não desistir de tudo, principalmente no pós-apocalipse, onde minha fraqueza também colocava os outros em risco. Eu estava acostumada com a dor, de certa forma.

Sentia medo daquele atiçador de brasa que exalava fumaça e sabia que no momento que aquilo encostasse em mim, talvez me fizesse repensar tudo o que eu acreditava, mas eu não falaria uma palavra, porque aquela dor seria apenas outra que eu precisaria enfrentar.

A única dor capaz de me quebrar era ver Hector e temer pelo seu futuro.

A expressão de Klaus permaneceu vazia, mas depois de alguns segundos ele deixou um riso seco escapar.

— Vou te ajudar a lembrar. Segura o braço dela, Adão.

Tentei respirar fundo, lutar, mas fui manipulada com facilidade pelo brutamontes, libertando-me do aperto apenas para arrancar minha jaqueta e esticar meu braço esquerdo diante do corpo.

Por um instante, pensei que a ameaça era vazia. Por um milésimo de segundo, encarando os olhos perturbadoramente azuis de Klaus, pensei ter visto alguma coisa. Um lapso de receio que eu não estava amedrontada, uma simples hesitação de machucar daquela forma alguém com quase metade da sua idade.

Mas esse instante desapareceu em uma explosão vermelha que me cegou. Senti o ferro quente ser enterrado abaixo da dobra do cotovelo, uma sensação que a princípio pareceu gelada e me deu a falsa esperança de tudo não passar de uma brincadeira, até se tornar intensa a ponto de me arrancar um grito de agonia. O sibilar que o contato entre a minha pele e o ferro quente fazia era enlouquecedor.

O cheiro de carne queimada chegou até minhas narinas enquanto a dor lancinante persistia. Tentei arrancar meu braço do aperto, mas sequer consegui movê-lo qualquer centímetro, ansiando me afastar daquilo que corroía meu braço. Só entre a tremedeira que me afingliu, percebi que eu gritava.

Eu já não tinha qualquer ar em meus pulmões quando vi o atiçador se afastar da pele, esticando alguns pedaços de carne que pareciam fundidos ao ferro. Mesmo assim a dor não cedeu, enviando ondas pulsantes por todo o meu braço, deixando minha visão turva. O vento frio que cortava a sala parecia jogar álcool na minha ferida, mas mesmo assim o aperto não cedeu e não pude mover o braço.

Sentia mais gotas de suor se formando e umedecendo todo o meu corpo. Sabia que junto delas, agora também haviam lágrimas. Respirei com dificuldade, mas até isso doía de maneira quase insuportável. Celso não conseguia manter os olhos na cena, e ao invés disso o vi se aproximando de Hector, o que atraiu um olhar suspeito de Enrico, mas ele alegou que só queria ter certeza de que o garoto ainda não tinha morrido. Kleber, o homem com o ferimento na perna, olhava em choque para tudo o que acontecia.

— Conseguiu lembrar da resposta que eu queria? — Klaus perguntou, como quem questiona se o céu está nublado.

Coloquei todo o meu esforço em manter a respiração estável, torcendo para que alguma daquelas lufadas de ar me trouxesse um pouco de alívio. Não respondi a Klaus de propósito, porque se o tentasse fazer, sabia que minha voz viria irregular demais. Lembrei do braço de Joana, com cerca de três ou quatro marcas iguais à que agora maculava meu braço.

— Hm, fodona você, ein? — ele provocou, mas sem qualquer humor. Seus olhos pareciam ainda mais vazios — Vamos ver quantas precisam para te quebrar...

Ele agarrou meu pulso, e quando me preparei novamente para a dor, ouvi a voz de Joana:

— Para! Fui eu, Klaus — ela começou, dando um passo à frente sem se importar com a mira do fuzil — Eu quem soltei ela, mas foi....

Sua frase foi interrompida pelo estampido ensurdecedor quando Klaus enfiou uma bala em sua testa como quem mata um mosquito. A mulher com o rosto permanentemente transfigurado em uma careta de choque caiu no chão, gerando um baque que meus ouvidos machucados não puderam captar graças ao zumbido que se iniciou.

Alguém na sala suprimiu um grunhido de surpresa, mas ninguém se moveu ou se manifestou. Alguns dos homens que receberam outras ordens passaram pela sala nesse meio tempo, mas eram tão obedientes quanto os presentes.

— Viu? Não é muito mais fácil do que passar por isso? — Ele passou a ponta do atiçador sobre meu braço, causando outra onda de dor, mas dessa vez afastou mais rápido.

— Você é um psicopata! — murmurei, um pouco cega pelo desespero. Não esperava assustá-lo com aquelas palavras, mas tampouco imaginava que causaria raiva ou remorso. Havia algo assustador naquele homem, algo maior do que tudo o que eu já presenciara: o vazio em seus olhos, a automaticidade de suas ações. Percebi que Klaus me assustava pois ele não agia como um humano senciente.

— Já me chamaram de coisas piores — ele deu de ombros, visivelmente indiferente — Mas se você colaborar, não precisa passar por isso de novo.

Mordi a língua para não respondê-lo, porque sabia que era inútil. Qualquer intimidação, qualquer suplício seriam igualmente ignorados. O cansaço e a dor pesavam em meu corpo e um pensamento que eu não me atrevia a dar lugar martelava em meu cérebro: o quanto mais eu conseguiria aguentar?

Klaus ergueu-se, pois sempre se agachava na hora de falar comigo. Deu a ordem para Adão manter-me presa, enquanto apontava para o homem chamado Antônio para tirar Joana dali, e queimá-la junto com as outras três mulheres mortas. Com indiferença, recolocou o atiçador de fogo na brasa e esperou de novo até que a fumaça denunciasse o quão escaldante o ferro se encontrava. Todo o meu corpo tremeu enquanto ele retornou até mim.

— Rebeca — eu odiava ouvir meu nome saindo de sua boca, sua voz baixa capaz de me causar calafrios — vamos ser rápidos agora: me conta para onde vocês pretendiam fugir.

Ele envolveu meu braço com os dedos fortes de novo, imobilizando-me e segurando o ferro embaixo do primeiro machucado. Sentia o calor irradiando, mesmo sem me tocar. Lágrimas se formavam e caíam contra a minha vontade, o medo de encarar novamente aquela dor digna do inferno rasgando meu peito.

— Rebeca... — prendi a respiração, percebendo que a voz viera do outro lado da oficina, de onde Hector ainda estava caído no chão. Seu rosto estava inchado dos golpes, mas conseguia ver algo em seus olhos. Por trás de todo o medo, fui capaz de ver o lampejo de força que sempre me inspirou.

Não respondi à pergunta de Klaus e simplesmente fechei os olhos, trancando a respiração e esperando a dor pungente que me destruiria. Pensei nos motivos que eu tinha para ser forte, para resistir e ser morta ao invés de ceder às torturas: Mei, Melissa, Guilherme, Samuel, Leonardo...

Quando a queimação chegou, eu não estava nem remotamente preparada. Centímetros abaixo do primeiro ferimento, a pele estava sensível o suficiente para tornar aquela violência com o meu corpo ainda mais intensa, arrancando-me gritos sufocados que machucavam minha garganta. Debati-me por instinto, ansiando afastar-me daquela dor, de Klaus, de tudo... E isso talvez fosse a única coisa que fizesse um sorriso cruzar o rosto do homem.

Senti meu corpo tremendo quando acabou, e talvez se não fossem os dois homens me segurando, meus joelhos teriam cedido e eu acabaria no chão.

Apesar de tudo, mantive a boca fechada após meu grito morrer e depois de segundos me esforçando para manter a respiração estável, ergui o rosto para que meus olhos retribuíssem o olhar de desdém de Klaus.

Eu resistiria.

Minha atitude, a escolha de permanecer quieta diante da tortura parecia ter arrancado algo dos olhos mortos do homem à minha frente. Talvez perceber que eu ainda não cedia a nenhuma de suas ordens. Não era o pavor diante de uma ameaça ou a incerteza de como prosseguir, era o mais puro ódio.

— Vamos fazer uma suástica no braço dela, ver se ela gosta — Adão sugeriu, um pingo de humor no trovão que era sua voz.

A ideia sacudiu meu corpo com desgosto, mas juntando o resto de força que tinha, contive o tremor. A ameaça era tão vazia quanto as minhas: eu já sabia que não sairia dali viva.

O susto com o movimento repentino me pegou de surpresa, e soltei um grito de dor quando senti os dedos de Klaus se enroscando em meu cabelo, puxando-me com tanta força que não havia escolha além de levantar e seguir seus passos. O aperto do meu pulso soltou imediatamente, e vi surpresa também nos olhos de Adão vendo Klaus praticamente me arrastar pela oficina até a lareira improvisada.

— Eu vou deixar tua cara tão desfigurada que você nunca mais vai conseguir sorrir, sua puta de merda — ele falou, num rosnado profundo.

Mal tive tempo de processar a ameaça quando ele começou a pressionar minha cabeça para dentro do fogo. Caí de joelhos, mas tentei ser rápida para colocar as mãos nas laterais de metal quente, lutando contra a pressão para afastar meu rosto do fogo.

Ouvi os gritos das mulheres, ouvi a voz de Hector distante, mas não fui capaz de entender o que diziam, o calor que se espalhava pelas palmas de minhas mãos cegando meus sentidos. Klaus apertava com cada vez mais força meu couro cabeludo, forçando minha cabeça para dentro do fogo. Ele se movia, mas meus olhos estavam fechados e eu não sabia o que estava fazendo, até que a lareira repentinamente explodiu em chamas altas que quase engoliram meu rosto.

Supri o grito que quis romper meus pulmões quando o calor do inferno se alastrou. Desisti de lutar contra a força de Klaus e, desesperada, esforcei-me para virar a cabeça e proteger os olhos. Sentia minhas palmas queimando contra o metal aquecido da lareira, mas precisava continuar fazendo força para impedir o homem de afundar minha cabeça completamente no fogo. A dor perfurou meu crânio enquanto queimaduras destruíam a pele da minha testa, onde o fogo acertava em cheio. Pelo cheiro, percebi que meu cabelo também queimava.

Respirar era impossível com o calor sufocante, e com os pulmões ardendo, pensei em Mei. Como se de alguma forma aquilo pudesse afastar a dor, desejei abraçar minha cachorrinha e brincar com ela ao final de uma tarde. Mas não era suficiente e logo desejei morrer.

Quando achei que não aguentaria mais, fui puxada pelos cabelos e caí no chão, encostando as queimaduras pelo ferro no piso gelado, sendo atingida por outra onda avassaladora de dor. Independente do quão fundo respirava, era como se o ar não chegasse até meus pulmões para afastar os pontos brancos da minha visão. A lateral do meu rosto ardia quase a ponto de me enlouquecer. Eu sabia que havia uma comoção acontecendo na sala, entre os gritos das mulheres e vozes masculinas, mas era incapaz de entender o que acontecia, a dor anuviando tudo além dela própria.

Era impossível dizer quantos segundos passei no chão, prestes a implorar para que cessassem tudo com um tiro. Sentia minhas mãos arderem em contato com o piso, o vento frio só incitando mais a agonia.

Conforme minha visão desembaçava, percebi que os olhos de Klaus estavam em mim e finalmente sua expressão revelava algo mais do que contemplação, uma expectativa cruel em sua face. Ali entendi que não era mais sobre a informação que ele queria; era sobre me quebrar.

— Tá mais fácil de falar, piranha, ou vai precisar que eu enfie essa barra de ferro em você?!

— Klaus, você vai matar ela! — Mariana deu um passo à frente, mas foi contida com um agarrão no pulso de Celso ao mesmo tempo que recebeu um olhar mortal do homem que me torturava. Acrescentou: — Ela não vai ser mais útil, se você fizer isso.

— Klaus — Enrico chamou, seu tom jocoso sempre um pouco mais hesitante diante do psicopata pelo qual cultivava respeito — Se tortura não adianta, tem uma coisa que vai fazer ela falar.

Pondo fim à minha percepção da dor somente para soterrar meu corpo em desespero, ele desembainhou a pistola e liberou a trava de segurança, apontando o cano para a cabeça de Hector. Meu amigo tentava manter-se erguido, mas o excesso de sangue perdido parecia deixá-lo completamente zonzo e fraco.

Gemi, porque era incapaz de formar qualquer frase, tentando inutilmente me erguer para impedir que ele fizesse qualquer coisa, mas a dor era incapacitante. Klaus captou o medo em meus movimentos, porque imediatamente abandonou sua posição e foi até Enrico, tomando a arma de suas mãos para que ele mesmo a apontasse para o meu amigo.

— Você sabe que eu não blefo — foi tudo o que falou. Eu sabia.

Por nunca ter de fato me visto naquela situação, angustiada para cuspir qualquer informação na cega esperança de impedir que algo acontecesse a Hector, sequer sabia o que dizer. Eu guardava duas informações e para mim era difícil decidir qual implicava no maior perigo: direcioná-los para o condomínio, onde todos permaneciam alheios a qualquer perigo que enfrentávamos; ou para a escola, com tantas pessoas que precisavam ser protegidas e tantos outros com quem eu me importava.

Queria poder contar essa história de uma maneira diferente. Narrar minha frieza em perceber que o estado de Hector já não permitia qualquer esperança, ou como não tive medo quando fui queimada até a morte sem nunca ter colocado aqueles que eu amava em risco.

Mas a verdade é que a dor era enlouquecedora. A ponto de confundir meu discernimento e me deixar incapaz de escolher entre uma realidade em que Hector morresse ou que eu voltasse a ser queimada daquela forma. Eu desmaiaria mais cedo ou mais tarde e pensar no pesadelo que ainda continuaria quando eu abrisse meus olhos era sufocante, principalmente no que fariam se eu me atrevesse a contar uma mentira. Essa era a verdade: tentar ganhar tempo distraído-os era inútil, porque a ajuda nunca viria.

A realização de que talvez, não conseguindo arrancar nada de mim, fizessem o mesmo a Hector, foi o estopim:

— Tem uma escola — falei, enquanto as lágrimas que desciam pelo meu rosto queimavam minha pele machucada. Míseros segundos se passaram desde a ameaça de Klaus, porque a velocidade com a qual ele as cumpria era alarmante e eu não podia arriscar que ele pressionasse aquele gatilho. Olhei para Celso, ansiando de que alguma forma ele pudesse entender que aquele fora meu esforço final, e rezando para que ele pelo menos tentasse proteger aquelas pessoas — Uma escola grande, em Botuverá.

— Celso — Klaus chamou e o homem de aparência cansada enrijeceu — confirma isso?

A face de Celso perdeu a cor. Ele olhou para mim, a boca entreaberta em um segundo de hesitação que talvez só eu tenha captado. Talvez soubesse que sua negação resultaria em um fim pior para mim, talvez estivesse pensando na possibilidade de colocar o seu plano de fuga em prática imediatamente. Falou com o que restava de sua voz:

— Sim... Acho que sei onde pode ser.

Olhei para Hector e mesmo que ele parecesse não entender o que se desenrolava pelo seu estado de tontura, eu estava aliviada por vê-lo vivo. Até que sangue estourou de sua cabeça e cobriu o chão, antecedendo a queda do corpo inerte do meu melhor amigo sobre o piso manchado.

O estrondo do tiro só chegou aos meus ouvidos depois, a cena congelando meu sangue em um choque tão grande que por um segundo a dor das queimaduras desapareceu.

— Três dos meus por um dos seus — Klaus murmurou — no fim você saiu na vantagem. 

Dessa vez o que estava em chamas era meu coração.


✘✘


Nota da autora:

Dessa vez não vou perguntar se está tudo bem, porque sei que não está nada bem.

Quero pedir perdão pelo atraso nesse capítulo. Espero que entendam que fico tão chateada quanto vocês, porém se trata somente de uma exceção devido a um imprevisto e semana que vem manterei a pontualidade ❤

E o que será da Rebeca agora? :(

PS: quem está escrevendo isso é a Mei, pois a autora se encontra escondida em um bunker para evitar retaliação. Ela mandou um beijo, desejou um ótimo ano novo a todos e pediu para que não sejam mordidos.

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