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Capítulo 53.

Atravessei a porta da frente e as gotas de chuva bateram com força no meu rosto. Meus joelhos tremiam. Havia tantas coisas, tantos sentimentos borbulhando dentro de mim: a dor, a raiva, o medo... Principalmente o cansaço.

Eu estava exausta física e mentalmente, mas o sentimento não era exclusivo daquele dia. Enquanto meu robe imediatamente ficava encharcado graças à tempestade implacável, quis deitar-me no chão e ficar ali para sempre, quem sabe terminar aquela história da mesma forma que ela começou.

Mas eu não podia.

Olhei para a casa marrom onde Alex dormia. Perguntei-me se ele não ouvira nada, mas logo um relâmpago iluminou o céu e trouxe a resposta junto com o trovão estrondoso. Queria poder pensar que ele nem havia existido, como deveria estar sendo para Alexandre, mas aquela paz não pertencia a mim.

Andando em meio à noite, peguei-me pensando como meus olhos já estavam acostumados ao escuro e tive a triste realização de lembrar que meu coração também. No caminho para a casa de Tom, senti-me mais solitária do que nunca.

Só percebi que sequer vestia sapatos quando cheguei em frente à soleira da porta de Tom. Com a mão em punho, bati três vezes, esperando que a tempestade não engolisse aquele som. Gotas escorriam pelo meu rosto, algumas frias da chuva e outras quentes e salgadas. Tentei limpá-las com a barra do robe, mas era inútil: minha roupa molhada não servia de nada, nem tampouco elas parariam de vir.

— Rebeca, é você?! — Ouvi a voz de Tom depois de esperar por quase um minuto. Havia movimentação dentro da casa.

— Sou eu.

Ouvi a chave sendo girada do lado de dentro e a trava de segurança ser liberada. Quando uma fresta da porta foi aberta, o rosto de Tom apareceu, pálido e assustado.

— O que houve, está tudo bem?! — Ele perguntou.

— Posso entrar, Tom? Preciso falar com você.

Só então Tom percebeu o meu estado e abriu a porta para que eu passasse. A luz principal da sala de estar estava apagada e apenas um abajur fraco iluminava o ambiente. Conseguia ver a silhueta de Carol parada na beira da escada, enrolada em um roupão seco e felpudo como o do marido.

— Está tudo bem? — Ela perguntou, a voz fraca de sono. — Meu Deus, você está encharcada.

Não pedi desculpas quando entrei, molhando completamente o tapete da sala principal, e nem o casal pareceu ligar. Carol pegou a manta cinza que decorava o sofá e veio até mim, colocando-a sobre meus ombros. Percebi que Tom segurava seu revólver, guardado dentro do bolso do roupão.

— Aconteceu alguma coisa, Rebeca? Estão todos bem?! — O homem parecia desesperado com a minha enrolação para falar, mas também não tive pressa. Não era proposital, mas somente pensar em abrir a boca fazia meu estômago revirar.

— Aconteceu. — Murmurei, erguendo os olhos para o casal que me fitava, cheios de expectativa. Não sabia que reação eles teriam quando eu contasse e isso era ainda pior. Queria passar todas as informações em uma batida de coração, para que não houvesse qualquer chance de entenderem errado. Respirei fundo, buscando controlar minha tremedeira, mas quando falei, foi em um gaguejar patético: — Carlos está morto. Melissa atirou nele depois que ele tentou estuprá-la.

Carolina levou a mão à boca, deixando um suspiro de pavor escapar. Até mesmo a expressão corajosa de Tom vacilou por completo, provavelmente nunca esperando que essas palavras saíssem da minha boca.

A demora para encontrarem uma resposta só fez meu coração apertar-se mais. Ansiando mais do que tudo afastar aquele silêncio terrível, continuei falando.

— Eu e Guilherme estávamos dormindo, Hector passou mal durante a noite e Alana e Victória estavam ajudando ele. — Quis omitir a parte da bebida. Aquilo já soava mal o suficiente sem que eu mencionasse nossas decisões imbecis. — Só ouvimos o tiro e, quando chegamos lá, ele já estava...

— Melissa está bem? — Carol perguntou. — Por que Carlos iria... — Ela deixou a pergunta morrer no ar, sem saber como proceder.

— Melissa está bem... Machucada, mas só. Carlos... — Apertei-me mais na manta que Carol me ofereceu, como se pudesse me esconder lá para sempre. — Carlos já fez isso antes. Me beijou à força quando estávamos na minha casa. Eu ameacei ele, se encostasse em mim de novo, mas tive medo de contar aos outros... Antes de se machucar, ele protegeu todos nós diversas vezes. Era tão no começo do apocalipse, tínhamos tantos problemas... Ele devia ter feito o mesmo com Melissa... Eu não sei quando começou, mas ela também não contou para ninguém.

Percebi que Tom estava com o punho fechado em um aperto, ouvindo tudo com os olhos direcionados para o chão. Carol ainda estava horrorizada, mas me vi obrigada a continuar:

— Melissa estava nervosa quando chegou...

— Ela estava com medo porque ficaríamos em casas separadas. — Tom me interrompeu, a voz cheia de mágoa.

— Sim. — Assenti — Poderíamos ter...

— E os outros, Rebeca? — Carol perguntou, puxando-me gentilmente para um abraço carinhoso, que agradeci do fundo do coração.

— Os outros... Guilherme ficou abalado, demorou para aceitar o que Carlos fez. Acabamos brigando... Acho que Victória também ficou horrorizada com tudo. — Apertei um pouco mais Carol em seu abraço, sentindo dificuldade em terminar o que eu ia falar. — Todo mundo ficou chocado porque um sobrevivente matou outro, falaram até em fazer um julgamento, mas... Eu meio que explodi ouvindo aquilo. Achei um absurdo.

Desvencilhei-me da mulher, olhando de Tom para Carol. Claro, seria necessário de qualquer maneira contar para as outras pessoas que dividiam aquele condomínio conosco sobre o que acontecera, mas eu também estava ali por outros motivos. Ao mesmo tempo que temia suas reações e opiniões. Mesmo tendo assumido a responsabilidade, eu sentia que precisava de alguma orientação. Era uma situação complicada e queria pedir ajuda aos dois adultos.

A única coisa que eu tinha certeza era de que ficaria ao lado de Melissa até o fim.

— Querem julgá-la? — Carol perguntou. — Como assim?

— O Guilherme falou que "era a palavra dela contra a dele", e eu até entendo... Só eu sabia quem Carlos era de verdade. Para todos os outros, ele era o herói! Salvou todo mundo, arriscou sua vida inúmeras vezes... Os machucados em seu braço foram feitos enquanto se arriscava pelo grupo. — Balancei a cabeça, desanimada. — Para ser sincera, nem consigo entender onde ele se transformou em um monstro...

— Rebeca. — Carol me chamou. — Ninguém se transforma em um monstro. Ele ainda é um ser humano. Ninguém vira um "monstro" quando faz algo ruim. Se fosse assim, pelo menos conseguiríamos identificá-los...

— Eu não sei se estou entendendo, Carol.

— Monstros não existem, Rebeca. Humanos são ruins. Chamá-lo de monstro faz parecer que é uma exceção, uma doença, mas qualquer humano é capaz de fazer o bem ou o mal. As coisas boas que ele fez infelizmente não o impedem nada e nem servem de perdão.

— Eu.. Acho que entendo. — Murmurei, sentindo meu coração doendo. — Eu jamais poderia ficar contra Melissa, sabendo do que ele é capaz, mas como eu... Como eu lido com os outros?

— Rebeca: vou te perguntar isso uma vez, e uma vez somente. — Voltei minha atenção a Tom, intrigada com a súbita seriedade em suas palavras. — Você acredita nas palavras de Melissa?

Arregalei os olhos, surpresa, e já sentindo o sangue esquentar novamente. Era difícil entender o que ele insinuava, mas nem mesmo aquele homem seria capaz de me assustar, se ele se atrevesse a falar algo a respeito de Melissa.

— É claro que acredito, o que você...

— Então, pronto. — Ele me cortou. — Eu concordo com você. Você vai ter que fazer escolhas difíceis às vezes. Isso é uma situação sem qualquer precedente, mas entenda: um homem capaz de fazer o que Carlos fez, é capaz de qualquer coisa. Eu não sei você, mas eu não confio em alguém assim perto das pessoas que amo.

Senti um alívio varrer meu corpo, mesmo que não esperasse aquela reação. Nem dele, nem da mulher. Minha intenção em ir falar com eles, além de buscar orientação, era ter certeza de que isso não poderia ser o declínio de nossa amizade.

Tom respirou fundo, repetindo sua atitude tão característica de levar os dedos à ponte do nariz. Em seguida, trocou um olhar longo com Carol que assentiu, antes de olhar para mim:

— Rebeca, eu já matei um homem.

Um arrepio sacudiu meu corpo, e pela primeira vez as emoções conflitantes daquele dia foram soterradas pelo medo e surpresa.

— Eu... — Ele parou, buscando as palavras para continuar. — Não fui eu que efetivamente o matei, mas foi graças a mim.

Carol se encolheu um pouco, murmurando algo sobre ir para a cozinha fazer um chá.

— Durante o apocalipse?

Um riso sarcástico se estendeu pelo seu rosto.

— Teria sido melhor, né? — Ele respirou fundo, sentando-se no braço do sofá. — Não. Samuel tinha dificuldades na escola, a maioria dos colegas não era muito tolerante ou amigável com ele, por isso meu filho acabava fazendo mais amizade com os professores. Quando se conquista o Sam, ele vira uma pessoa muito amável e fiel. — Enquanto ele me contava, percebi como sua expressão corporal mudava e seu rosto atingia um tom avermelhado. — Tinha um professor de Educação Física de quem ele ficou particularmente próximo quando tinha onze anos. No mesmo período, pela primeira vez na vida, começou a causar problemas em casa.

Abaixei a cabeça, sentindo meu coração apertar, imaginando que estaria por vir.

— Não vou me torturar com essa história de novo, mas quando Samuel finalmente conseguiu nos contar que o professor fazia coisas de que ele não gostava, e insistia que se meu filho contasse a alguém, ele mataria a mim e a Carol... — As mãos de Tom se apertaram em um punho e ele precisou respirar fundo. — Foi assim que chegou da aula, o último horário foi de Educação Física... Rebeca, eu dirigi até o colégio e peguei aquele filho da puta ainda dentro do ginásio.

— Você... Por isso a pistola?

— Não, não teria sido burro a esse ponto. Eu bati tanto naquele homem que o mandei para emergência, inconsciente. Ele precisou fazer uma cirurgia, houve uma complicação e... — Ele deu de ombros, desviando o rosto. — Carol, uma mulher normalmente tão pacífica, sabia o que eu estava prestes a fazer e nem se meteu... Acho que você só pode imaginar como pais se sentem diante dessa situação.

— Eu sinto muito mesmo por isso, Tom.

Por mais que aquela fosse uma revelação difícil de digerir, eu só conseguia sentir empatia por Tom, e o mesmo ódio que corroía suas veias.

— Rebeca, a única coisa que eu sinto foi de não ter matado eu mesmo aquele traste. — Ele cuspiu as palavras e imediatamente lembrei do que eu mesma disse sobre Carlos.

— E você foi preso? — Questionei.

Ele deu um sorriso fraco, sem graça.

— Você sabe que as coisas no mundo de antes não eram mais justas do que hoje em dia, né? — Tom deu de ombros. — A minha família e a de Carol têm muito dinheiro, e meu cunhado era um excelente advogado. Os parentes do professor entenderam que não daria em nada entrar na justiça contra mim, então fizemos apenas um acordo para que a imagem de ninguém fosse manchada.

— Eu... Realmente não sei o que te dizer.

— Você não precisa me dizer nada, pelas suas atitudes eu já sei que você não me considera nenhum monstro. E você pode imaginar o que acho de toda essa situação.

Carol apareceu novamente, vindo da direção da cozinha.

— Rebeca, você quer um chá?

Lembrei que não havia tempo a perder e que as coisas estavam ruins o suficiente em minha própria casa.

— Não posso, Carol. Preciso voltar para casa, ainda tem coisas a resolver.

Para a minha surpresa, Tom assentiu e se levantou.

— Rebeca, me dê dez minutos para falar com Samuel e trocar de roupa e vou lá te ajudar.

— Tom, não precisa. — Falei, olhando-o nos olhos enquanto devolvia à Carol a manta que usara para me cobrir. — Já é tarde, e meu grupo...

— Rebeca. — Ele me interrompeu. — Somos um grupo agora. Você não precisa assumir toda essa responsabilidade sozinha.

Pensei em protestar, pensei que Tom poderia ficar decepcionado se soubesse das bebidas, mas no fim apenas aceitei, incapaz de iniciar mais um conflito. Agradeci a hospitalidade, as palavras e me desculpei pelo incômodo.

De certa maneira, era um alívio saber que havia com quem contar. Ainda assim, voltei antes de Tom e, a caminha da casa onde meu pesadelo começou, por muito algum fiquei sob a chuva que enfraqueceu, chorando sozinha. 

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