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Capítulo 44.

Os dias seguiram tranquilamente enquanto nos preparávamos para partir. Organizamos um inventário dos mantimentos disponíveis (que a família Rosa concordou em dividir, afinal, parte deles fomos nós que reunimos enquanto tentávamos abrir caminho até o hipermercado), traçamos as melhores rotas no mapa que Tom nos cedera e até mesmo concordamos em usar carros, já que àquela altura, as aulas de Alex já haviam se estendido à Melissa e Carlos.

Desde o encontro com a horda de zumbis, suspendemos a limpeza das ruas e nos concentramos em revistar casas próximas para resolver o problema imediato da escassez de comida. Nosso combate também havia chamado a atenção de muitas criaturas naquela área, que agora se reuniam em volta da barreira de carros e dificultavam ainda mais o processo de expandir a proteção. Quando os garotos voltassem a trabalhar nisso, teriam bastante problemas com os quais lidar.

Mas nós já estaríamos longe.

Estive fora naquela manhã, com Alex e Hector, revisitando casas próximas que não foram invadidas anteriormente. Podia parecer fácil nos filmes, mas em um país como o Brasil, o que não faltava em casas de bairros nobres como aquelas, era segurança. Normalmente evitávamos medidas drásticas como quebrar janelas e arrombar portas com golpes, mas confiávamos que as barreiras de carros mantivessem os zumbis longe o suficiente para não serem atraídos pelo barulho.

Agora, ao final da tarde, eu e Mei treinávamos seus comandos no quintal da casa. Sua rotina de treinos havia sido negligenciada por muito tempo, mas agora, mais do que nunca, era importante manter minha cachorra obediente.

— A Mei é muito bem treinada. — Ouvi a voz do garoto que me observava, quieto, já há alguns minutos. — Você quem ensinou tudo?

Sorri para Samuel, dando mais um biscoito para Mei e finalizando com congratulações. Era fácil encontrar ração e petiscos para cães nas casas abandonadas. Infelizmente, era igualmente fácil encontrar os cadáveres desses bichinhos apodrecendo em canis, trancados, deixados para morrer enquanto seus donos fugiram.

— Mais ou menos — respondi. — Um amigo da minha avó, que era policial, ajudou com a parte da disciplina, mas muita coisa aprendi sozinha na internet.

— Eu gosto muito dela. Sempre quis ter um cachorro, mas meus pais nunca deixaram. — Como sempre, Samuel falava comigo, mas mantinha seus olhos fixos em outra coisa — desta vez, na minha cachorra.

— Ela adora você também. Carol me falou que você e Guilherme quem cuidavam dela enquanto eu estava fora. — Coloquei a mão no bolso da calça, pegando um biscoito de cachorro e ofereci para Samuel. — Quer tentar?

— Ela vai me obedecer?

— Sim, pega. — Ofereci mais enfaticamente o petisco e ele aceitou. — Manda ela sentar.

Minha cachorra balançava o rabo de um lado para o outro, os olhos fixos em Samuel. Mei adorava fazer truques para outras pessoas porque eles raramente lhe pediam algo mais complexo do que dar a pata e rolar, então recebia vários petiscos com pouquíssimo esforço.

— Senta, Mei. — Samuel pediu, baixo demais.

— Precisa ser com uma voz mais firme. Fale um pouco mais alto.

— Mei, senta! — Praticamente gritou o comando, mas Mei obedeceu. Samuel abriu um sorriso e ofereceu o biscoito, que Mei pegou com cuidado para não encostar os dentes na mão dele.

Talvez eu fosse uma pessoa simples demais, porém qualquer um que tivesse apreço e tratasse bem os animais já podia contar com a minha simpatia. Felizmente, toda a família de Samuel adorava Mei.

— Você foi bem! Ela é mais obediente comigo, mas você pode tentar fazer a rotina de treino com ela, mandar sentar, deitar, ficar de guarda. Aos poucos ela se acostuma, é bem amigável. — Expliquei, tentada a passar as próximas horas falando sobre todas as qualidades do meu cachorro.

— O que ela faz quando vê os zumbis? — Ele perguntou, enquanto acariciava a cabeça de Mei, que imediatamente deitou com a barriga para cima. Samuel não fazia ideia de como as coisas eram lá fora.

— Então, eu fiquei separada dela nos primeiros dias... Quando nos reencontramos, ela já entendia que eles eram perigosos, mantinha distância e ficava agressiva quando os via. Acho que quando minha avó tentou ir embora, ela teve contato com eles. — Expliquei. — Mas ela não ataca, normalmente só rosna para chamar a minha atenção. Acho que ela tem medo.

— Claro que tem, ela é inteligente.

Orientei Samuel enquanto ele realizava mais comandos com Mei, explorando tanto os truques simples quanto treinos de obediência como andar junto, mandá-la para algum lugar ou ficar numa posição.

Às vezes, uma tristeza debilitante tomava conta do meu coração ao pensar em partir, mas me esforçava para não pensar muito nas pessoas que ficariam para trás. Embora ninguém nunca houvesse colocado em palavras, aquele ambiente trazia um aconchego tão grande que era como se todos fizéssemos parte de uma família. Seria dolorido dar adeus a tudo isso. Era fácil se contentar com a ilusão da segurança, a vontade de fingir que o horror do lado de fora dos muros não era real.

— Rebeca!

Imediatamente franzi o cenho. Minha confusão não era por ouvir a voz de Tomas, mas sim porque ele chamava por mim enquanto se aproximava.

Trocamos poucas palavras nos dias que se seguiram. Na verdade, ninguém conversou direito com Tom desde então. No dia posterior à nossa discussão, ele veio se desculpar pela forma como ergueu a voz comigo e senti a necessidade de me desculpar também, reforçando como minha intenção não era criticá-lo, mas sim fazer o possível para manter todos a salvo. A conversa não se estendeu muito, mas estávamos em paz um com o outro.

Apesar de tudo, ele era um homem bom. Ofereceu-nos abrigo e confiou em pessoas estranhas em uma época perigosa. Carol era tão agradável e gentil que somente a sua presença era capaz de encher um cômodo de luz. E o filho deles era um reflexo dessa criação; que mesmo com algumas dificuldades para se comunicar, sempre foi educado e gentil com todos nós.

Quanto a Victória, com quem também havia me desentendido, cheguei a pensar que ela escolheria ficar, mas aos poucos Alana lhe convenceu de que deveria nos acompanhar. Trocamos algumas palavras educadas nos dias que se seguiram, mas não voltamos a trocar no assunto.

— Olá, Tom — respondi, afastando-me um pouco de Mei e Samuel para ir até ele. — Está tudo bem?

Estranhei até suas vestimentas. O homem que normalmente vestia jeans e camisetas polo, desta vez usava um conjunto de moletom com tênis de corrida.

Também percebi que estava com a pistola no coldre (diferente dos nossos improvisados, aquele era de verdade).

— Está sim, Rebeca. Queria te pedir um favor.

Concordei com a cabeça. Aquele pedido não era estranho. Mesmo nos preparando para partir, continuamos nos esforçando para garantir uma boa convivência nos últimos dias. Tom até nos acompanhou algumas vezes nas buscas por mantimentos, talvez ciente de que, quando partíssemos, ele precisaria voltar às ruas para ajudar Alex e Faber, se quisesse levar para frente o plano de estender o caminho seguro até o hipermercado.

— Você se importa em me acompanhar até o local em que vocês foram emboscados? Não pretendo me aproximar muito, claro, mas Alex contou que aquele lado está infestado de zumbis e queria dar uma olhada no local para ter uma ideia de como podemos continuar. — Pediu.

Estranhei um pouco, afinal Tomas e eu nunca saímos juntos, mas também lembrei que Alex e Faber estavam fora naquele momento. Talvez não se sentisse à vontade para pedir o mesmo à Melissa ou Hector.

— Claro, Tom. Sem problemas. — Dei um sorriso educado. — Só vou buscar meu bastão.

Avisei Guilherme que estávamos de saída e peguei minha arma. Eu não pretendia usá-lo, considerando que nos manteríamos atrás da barreira de carros e meus braços ainda estavam doloridos desde o acidente com Melissa, mas sempre havia risco de encontrarmos algum errante que conseguira se esgueirar.

Saímos de casa (Mei chorou quando mandei me esperar lá dentro) e seguimos em silêncio na direção do hipermercado. Conforme os dias passaram e continuamos saindo (agora sempre optando pelo caminho contrário), ficamos mais tranquilos com relação ao barulho alto que assustou Melissa e desencadeou toda a confusão daquele dia.

Nossa suposição inicial era de que se tratava de um tiro, e apesar de ter sido o lampejo inicial que nos motivou a partir, talvez nos precipitamos e acabamos assustando a todos. O medo de que o grupo que invadiu a farmácia de Alberto estava por perto me assolou pelos primeiros dias em que queríamos partir o mais cedo possível. Porém, decidimos esperar para garantir um melhor estoque de suprimentos e analisar nossos arredores para encontrar brechas entre as ruas infestadas, e a urgência aos poucos se dissipou.

Ainda que fosse o barulho de um tiro, poderia ter vindo de muito mais longe do que antecipamos, ou de possíveis sobreviventes que passaram por ali e partiram (ou foram comidos) imediatamente depois. Pensar nisso era o que me dava coragem para continuar caminhando por aquelas ruas.

— Já dá para ouví-los. — Tom observou, depois de caminharmos em silêncio por quase 500 metros.

Era curioso como gemidos e grunhidos viraram o nosso som ambiente habitual, e ainda assim começávamos a nos tornar capazes de distinguir o quão grande era uma ameaça apenas baseada neles.

— Vamos nos manter afastados, ok? — Sinalizei com a cabeça para sairmos do meio da estrada e seguir para a calçada. Nem sempre funcionava, mas às vezes conseguíamos passar despercebidos, esgueirando-nos pelas sombras dos muros. — Pelos barulhos, parecem agitados. Não quero arriscar deixá-los ainda mais frenéticos, a ponto de tentarem escalar as barreiras.

Tom assentiu. Sua expressão parecia quase tranquila, mas percebi que ele não tirava os olhos de mim. Encarava principalmente o bastão que eu segurava com as duas mãos, pronta para usá-lo se fosse necessário.

— Já sabem quando vão embora? — Ele me pegou de surpresa puxando aquele assunto. Falávamos baixo durante aqueles últimos metros antes de nos aproximarmos demais.

— Depois de amanhã — respondi, sem parar de olhar ao nosso redor, buscando por qualquer errante que pudesse ter passado despercebido. — Sei que falamos em ir antes, mas acabamos-

— Fica tranquila, Rebeca — Tom me interrompeu. — Não quero apressá-los. Fico até feliz que tenham adiado um pouco. Vai ser difícil quando forem embora, Carol, Samuel e os meninos se apegaram demais a vocês....

— Eu sinto muito. — Hesitei em continuar, mas esperava que eu e Tom realmente já tivéssemos deixado as diferenças de lado: — Gostaria, do fundo do coração, que vocês viessem com a gente. Vai ser uma pena mesmo.

Enquanto conversávamos, sinalizei para a esquina seguinte e Tom assentiu. Faltavam apenas poucos metros e já conseguiríamos ter uma boa visão do local para onde corremos em busca de proteção naquele dia, provavelmente rodeado de mortos àquela altura.

— Quem sabe não consigamos nos ver de novo — Tom continuou, ainda mais baixo, e olhei na sua direção para receber um sorriso. — Vocês são sempre bem vindos. Inclusive, desde que... Bom, desde que discutimos, acho que não parei para agradecer realmente por tudo o que vocês fizeram. A ajuda de vocês foi inestimável, por isso...

Sua frase terminou de forma abrupta. Antes que eu pudesse me virar para entender o que acontecia, fui puxada com tanta força que perdi o ar. Quando, por reflexo, tentei gritar, algo foi pressionado contra minha boca ao mesmo tempo que senti o bastão ser puxado de minhas mãos.

Esperei por qualquer tipo de dor, meu coração quase estourando nos ouvidos, mas ela não veio. Respirava com dificuldade, tentando me desvencilhar do aperto. Os pensamentos inundavam minha mente, cada ideia horrenda sobressaindo-se às outras: Tom iria me matar? Será que me trouxera até ali para fazer parecer uma morte acidental?

Quando finalmente entendi, foi como se meu coração congelasse. Lutei contra a falta de ar, pois mesmo inspirando profundamente, não me sentia capaz de levá-lo aos pulmões.

Com o repentino silêncio, aquelas vozes ficaram mais claras do que nunca. Vozes que eu nunca havia ouvido antes.

— Rebeca, fica quieta. — A voz de Tom, tão próxima ao meu ouvido, me causou um sobressalto. Ainda assim, ele falava tão baixo que era difícil ouvir: — Tem mais gente aqui.

Manteve a mão pressionada contra minha boca com tanta força que machucava, mas não me importei com isso. Lutei contra seu aperto para conseguir virar a cabeça e a expressão que encontrei em seu rosto me assustou muito mais do que o ódio cego que inicialmente temia encontrar. Tom estava apavorado e provavelmente seu semblante também era um reflexo do meu.

— ... conseguiram abrir caminho até o mercado. — As batidas do meu próprio coração pareciam me ensurdecer, mas distingui algumas palavras. Era uma voz grossa, masculina. — Vamos para lá primeiro, aproveitar enquanto tem luz do sol para revistar. O pessoal vai querer passar a noite lá.

— A gente tem que ficar de olho. Vocês viram como estava cheio de corpos no chão, e esses carros também foram amontoados por outras pessoas. — Um segundo homem respondeu, a voz mais clara, como se estivesse perto.

— Não viu quantos fodidos ainda tinham lá perto do mercado? — Uma risada. — Se ainda tinha gente aqui, viraram janta depois do tiro daquele imbecil.

— Amanhã cedo a gente revira esse lado, Gil. — Engoli em seco, ouvindo ainda uma terceira voz masculina. — Esses mortos devem estar aí há semanas. A gente volta armado e seguimos com calma até a avenida. Deve ter coisa boa nesses casarões também.

Levei um susto quando Tom finalmente desfez o agarrão que me imobilizava. Seus movimentos lentos como se aquelas pessoas estivessem logo ao nosso lado ao invés de a vários metros. Sem desviar os olhos dos meus, ele levou um dedo à frente da boca, fazendo um "shh" inaudível.

O homem deu um passo insignificante para o lado, mas só o barulho de seus tênis parecia estrondoso diante de tanta tensão. Senti minhas mãos suarem, percebendo o que ele queria fazer, e imitei seu movimento, esgueirando-me como ele para conseguir enxergar alguma coisa.

A princípio, demorei para encontrar e forcei a vista contra o sol que se punha. Quando distingui a primeira silhueta, meu coração deu um solavanco. Estavam mais perto do que eu imaginara, logo na esquina seguinte, e meus olhos voaram para as armas que empunhavam: dois deles seguravam objetos compridos, possivelmente para bater nas criaturas, mas quando um se virou em outra direção, percebi uma pistola presa ao seu coldre; o verdadeiro horror foi compreender o que o último deles carregava. A tiracolo, preso pela bandoleira, estava uma arma maior, talvez um fuzil.

— ... prontos para atirar o tempo todo — falou o primeiro deles. — Pode já ter gente vivendo naquele mercado.

Sentia meu coração na garganta. As criaturas que matamos naquele dia estavam espalhados pelo asfalto, mas ao contrário do que esperava, não encontrei o resto da horda que deixamos para trás. Não sabia dizer se eles foram atraídos por outras coisas, ou àquela altura, também estavam entre os cadáveres caídos.

Sem me permitir chegar a qualquer conclusão, senti outro puxão de Tom, agora para segurar meus ombros com as duas mãos. Em outro momento, poderia ter ficado assustada com a grosseria, mas sua expressão deixava evidente como suas ações eram ditadas pelo mais completo pavor.

Rebeca, vamos voltar antes que eles nos encontrem! — sussurrou, os olhos arregalados fixos nos meus. — Estão muito perto! Precisamos ir embora!



Refizemos os quase um quilômetro até a casa da família Rosa correndo como loucos. A pior parte foi lutar novamente contra o medo que incapacitava meus movimentos, enquanto cada som de nossas passadas parecia reverberar por toda a cidade silenciosa. Caminhamos rápido pelos primeiros metros com a intenção de não fazer muito barulho, mas não durou muito até que a agonia nos fizesse acelerar como se o próprio diabo estivesse a nosso encalço.

Fiz todo o percurso olhando para trás, esperando que a qualquer momento aqueles homens virassem a esquina e nos encontrassem. Um tiro daquele fuzil tornaria a distância que abríamos completamente irrelevante. Depois de alguns metros, Tom começou a mostrar dificuldade para acompanhar meu passo, mas nenhum de nós parou.

Quando passamos pelo último cruzamento, demos de cara com Alex e Faber. O mais velho carregava uma caixa de aparência pesada, e pareciam estar tendo uma conversa agradável até perceberem nossa urgência.

— Tom, Rebeca, o que houve? — Alex perguntou e, como não paramos de correr, insistiu ainda mais: — Meu Deus, tá tudo bem?!

— En... Entrem na casa, rápido!

Nosso ritmo já estava esporádico nos metros finais. Meu corpo parecia completamente aceso pela adrenalina, mas Tom tinha dificuldade para falar, de tão esbaforido que estava.

Alexandre entregou a caixa pesada para Faber, mandando-o entrar, mas desobedeceu a ordem e correu até nós, dando suporte para um Tom completamente exausto.

— Encontramos outro grupo! — Senti a necessidade de explicar, sem tomar cuidado com meu tom de voz. — Eles não nos viram, mas estavam armados. Chegaram primeiro no mercado!

Apenas falar aquelas palavras em voz alta pareciam anunciar nossa localização. Senti um medo gélido atravessando a minha espinha, pensando no quão próximos estavam. Se tivessem mudado de ideias e decidissem explorar o nosso lado antes do anoitecer, não levariam muito tempo para entender como funcionava nossas barreiras de carros e que, o que quer que protegiam, estava próximo.

Faber provavelmente anunciou que havia algo errado, porque assim que passamos pelos portões, uma Carol desesperada correu para atirar-se nos braços do marido. Mei gania de nervosismo, mas mandei que ficasse quieta enquanto um a um meus colegas se dirigiam até a pequena comoção em frente à casa.

— Entrem todos! — Tom mandou, abraçando a esposa e, em seguida, o filho. — Apaguem as velas e fechem as cortinas!

— Pai, o que está acontecendo?! — Samuel insistiu, em meio a todas as outras vozes que se juntaram nos questionamentos. — Estamos correndo perigo?

— Não, por enquanto! — Quem respondeu fui eu, erguendo a voz apenas o suficiente para que todos me ouvissem. — Encontramos outras pessoas, estavam armadas. Ainda estão longe, mas...

— Precisamos ir embora! Todos! — Tom interrompeu, surpreendendo-me com as palavras.

Assim que entramos na residência. Carol e Victória correram para as janelas, puxando as cortinas e venezianas; Samuel passou por algumas velas acesas e apagou-as com um sopro, mas trouxe até nós a lanterna-lampião que usávamos como iluminação principal, abaixando a intensidade da luz. Guilherme se aproximou de mim, nervoso, querendo saber como eu estava.

O pôr do sol já chegava ao fim e, apesar de faltar alguns minutos para a escuridão completa, o clima ficava ainda mais assustador naquela baixa iluminação.

Passamos um por cima do outro enquanto tentávamos detalhar nosso encontro, várias frases se perdendo no ar por conta da falta de fôlego. Apesar do nervosismo ser palpável, sob a iluminação que aos poucos diminuía, conseguimos nos acalmar e abaixar nossas vozes conforme o resto das pessoas entendia a gravidade do problema.

— Então o que ouvimos foi um tiro mesmo — Hector pontuou.

— Mas mesmo naquele dia, parecia estar muito mais longe! — Melissa falou. — Deviam estar vindo de outra direção.

— O objetivo deles também era o mercado! — Tom repetiu o que havíamos ouvido há alguns minutos. — Já estão lá, não vieram mais para cá porque queriam revistá-lo antes de anoitecer.

— Eles perceberam a nossa barreira com os carros — falei. — Perceberam os zumbis abatidos, já estão suspeitando que tem mais pessoas por perto... Mas o que eles falaram...

— "Estejam prontos para atirar o tempo todo" — Tom concluiu, sentando-se na poltrona da sala e passando a mão pelo rosto, tentando normalizar a respiração. — Não sei se são os mesmo que estiveram na farmácia, mas estão armados. Pareciam saber o que faziam, não estavam assustados... Na verdade, pareciam antecipar um conflito.

Pegando-me de surpresa, Tom ergueu o rosto para me olhar nos olhos antes de continuar:

— Vocês estavam certos, não dá pra ficar aqui.

— Tá falando sério, pai? — Samuel perguntou, surpreso.

— Sim, filho. Desculpa não ter te ouvido também. — Aquelas palavras chamaram minha atenção. Então Samuel também havia tomado nosso lado na discussão. Tom olhou para a esposa. — Carol... Não podemos arriscar. Precisamos ir com eles, e precisa sair logo. Se eles realmente vierem nessa direção, não vai demorar muito para nos encontrarem, queriam revistar as casas...

Sua esposa assentiu, esticando os braços para envolver as mãos do marido. Em seguida, olhou para Alex e Faber:

— Vocês estão de acordo?

Os garotos pareciam um pouco hesitantes, mas provavelmente graças à mudança repentina e não à necessidade de partir. Já haviam deixado claro que concordavam conosco, mas não partiriam se a família Rosa resolvesse ficar.

— Sim — Alex quem deu a resposta. — Vamos com vocês, com certeza.

— Ótimo — Tom assentiu. — Rebeca, precisamos sair assim que possível.

— Nós já temos um plano — informei, e apesar de querer sair dali assim que possível, precisei acalmar Tom: — mas não dá para ir embora de noite, é muito perigoso! Vocês ainda precisam se preparar, temos que colocar as coisas no carro... Começamos agora, fazemos tudo durante a madrugada, e saímos com os primeiros raios de sol.

Aquele mundo era estranho e eu ainda não me acostumara com a ideia de que adultos realmente dando importância para minhas opiniões. Lá fora, correndo pela vida, ninguém tinha nome ou idade, todos eram sobreviventes lutando; mas aqui, tratando de assuntos tão delicados quanto a proteção do grupo, tornava-se verdade o que eu tanto pregava sobre matar zumbis não ser a única coisa importante daquele mundo.

— Da nossa parte, está quase tudo pronto. — Victória informou. Estava com os braços cruzados, segurando os próprios cotovelos, uma posição que evidenciava seu nervosismo.

Imediatamente repassamos nosso plano, majoritariamente bolado por Carlos e Hector, mas refinado com a ajuda de Faber e Alex, que nos ajudaram a reunir os carros e repassaram informações sobre as ruas com menos acidentes e melhores bairros por onde passar.

Já havíamos selecionados alguns carros, dentre eles um Ônix batido com o tanque cheio — quando falei, finge que quem bateu nele não foi eu mesma — e um Fiorino em bom estado, usado inicialmente para a barreira, mas que pegamos de volta. Alex nos ensinou a pegar a gasolina dos outros carros e nos ajudou a encher o tanque. O plano era carregá-lo com comidas e mantimentos, principalmente se conseguíssemos encontrar um mercadinho menor que pudéssemos pilhar no caminho.

— Podemos usar a minha Picape — sugeriu Tom — Talvez o Smart da Carol não seja a melhor opção, mas podemos pegar a gasolina.

A conversa se estendeu por mais meia hora em que as tarefas restantes foram divididas e reforçamos a necessidade de manter a iluminação o mínimo possível, assim como evitar barulhos. Bolamos um esquema rápido de vigia por turnos para que alguém sempre estivesse de olho nos arredores, atento à menor sugestão de perigo.

Ficou estabelecido que nosso objetivo final seria o condomínio onde a casa de férias do casal ficava. Contei sobre minhas intenções de seguir a oeste para o interior do estado, e foi uma ideia debatida, mas somente para longo prazo. Naquele condomínio estaríamos protegidos, afastados da cidade e teríamos estabilidade.

Partiríamos ao raiar do sol, mas a noite era curta e o medo sempre estava presente. 


Nota da autora:

Fun fact: esse oficialmente foi o capítulo com maiores mudanças na história, eu o reescrevi completamente durante a revisão 🙏 é um dos capítulos que eu mais gosto hoje em dia.

Amigos, Em Decomposição está com quase 900K de visualizações!

Como estamos chegando na reta final, decidi que quando alcançarmos esse número, vou postar o restante dos capítulos 🖤 O que acham?

Então aproveitem para conferir os capítulos anteriores e ver se deixaram suas ⭐ em todos! 

Espero que estejam gostando da história, e que estejam preparados para a reta final.

Não sejam mordidos.

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