Capítulo 36.
Meus olhos demoraram até se ajustar à escuridão. Os pedaços de papelão na janela cobriam a maior parte da luz natural, mas algumas frestas permitiam uma pouca iluminação. Assim que passou para o lado de dentro, Mei se sacudiu fervorosamente.
A farmácia não era muito grande. Um balcão comprido ocupava a parede oposta à entrada e separava a área de medicamentos. Três prateleiras repletas de produtos formavam corredores e tudo parecia na mais perfeita ordem, como se fosse somente um dia de venda normal. Apesar de não ver nenhum zumbi, dei o comando para que Mei ficasse na entrada e eu e Hector nos separamos para dar uma segunda olhada nos pontos cegos.
Carlos respirava com dificuldade, sentado no chão com as costas apoiadas na porta de metal. Alana imediatamente ajoelhou-se e escorregou a jaqueta dele pelos braços, para ter acesso aos curativos. As bandagens já estavam sujas de sangue. Ela ergueu a camiseta preta e puída de Carlos e vi que mais gaze circundava seu peito, também suja de sangue.
— Victória, rápido, pegue um analgésico para pelo menos melhorar a dor. Algo forte. Vou pegar tudo que preciso e dou os pontos aqui mesmo. Guilherme, pegue aquela cesta e me ajude. — Alana deu as ordens, olhando por último para Melissa. Indicando com a cabeça para que ela ficasse perto de Carlos.
Imediatamente todos se separaram, cumprindo as ordens de Alana. Depois de revistar a farmácia e garantir que não havia ameaça, fui eu mesma até as prateleiras analisar o que poderia ser útil. Alana corria de um lado para o outro com um Guilherme desesperado a tiracolo, tentando acompanhá-la. Foquei a minha atenção em um vidro de vitaminas que tirei de uma das prateleiras aleatoriamente. Não era sempre que podíamos comer bem e talvez pudéssemos tirar algum proveito delas.
Uma voz fez a minha espinha gelar. Não porque era ameaçadora ou desesperada, somente porque eu sabia que não pertencia a nenhum de nós. O tom profundo e grosso só podia pertencer a um homem adulto.
— Filho? — Foi somente o que ouvimos antes que um homem de aproximadamente quarenta ou cinquenta anos aparecer em nossa linha de visão, saindo de uma porta atrás da prateleira de medicamentos. Parecia cansado, com olheiras muito profundas e barba por fazer.
Em sua mão esquerda tinha uma aliança simples de ouro; na direita, empunhava uma pistola.
Assim que seus olhos perceberam que aqueles dentro da farmácia não eram seu filho, mas sim um grupo de pessoas desconhecidas, o pânico invadiu sua expressão. Imediatamente ergueu a pistola, revezando em apontar o cano para cada um de nós, conforme tentava contar quantas pessoas estavam lá.
Pensei em falar alguma coisa, mas não encontrei minha voz. Meu peito era uma pedra gélida enquanto suor frio começava a escorrer pelo meu corpo. Eu nunca tive uma arma apontada para mim e mesmo a que Hector carregava nunca fora empunhada perto de mim. Era muito diferente ver uma arma empunhada nos filmes e na vida real. Para ser sincera, somente olhar para ela já me causava certo pânico.
Hector estava no corredor à minha esquerda. Eu conseguia vê-lo porque as prateleiras entre nós eram baixas, com no máximo um metro e meio. Ele imediatamente abandonou o que quer que segurava, movendo-se lentamente para encarar o invasor (ou éramos nós que invadimos o lugar?). Guilherme e Alana estavam no último corredor, onde há alguns segundos reuniam diversas coisas que tiravam de uma prateleira na parede. Mesmo sob a pouca iluminação, eu vi que a cor abandonara o rosto de Guilherme e ele começou a tremer. Todos ficamos imóveis e rezei para que o pessoal que estava com Carlos também permanecesse assim. Meu Deus, somente a lembrança de Mei, que poderia estranhar aquele invasor, fez meu peito apertar.
— Senhor, cal... — Hector tentou dizer, atraindo a atenção do homem, que virou a pistola para ele no ato. Eu sabia que Hector também tinha a própria pistola em um coldre improvisado do lado direito da calça e só então percebi que ele se posicionou de maneira a esconder de vista a arma, usando a prateleira como cobertura. O homem não sabia que também estávamos armados.
— Saiam daqui! Agora! — ele gritou e gotículas de cuspe voando no ar. Parecia tão desesperado quanto nós, embora demonstrasse isso com movimentos bruscos.
— Nós só entramos para pegar medicamentos para o nosso amigo ferido! — Alana explicou, a voz baixa, sua calma contrastando com o estado semi-transtornado de Guilherme. O homem apontou a arma para ela. — Ele está ali na frente, só precisamos pegar algumas coisas e saí-
— Não vão pegar nada! Quero todos fora JÁ! — O aumento de som repentino ao final da frase me fez tremer de novo. Percebi um calor no canto dos meus olhos, e entendi que eram lágrimas se formando. Queria falar alguma coisa, mas tinha medo de piorar tudo.
— Por favor, seja compreensivo. — Hector tentou de novo, calmo, dando um passo para frente, as palmas para cima.
O senhor imediatamente virou para ele, junto com o cano da arma. Achei que meu coração tinha parado de bater.
— NÃO SE MOVA! — Sua voz era um grito desesperado. Gotas de suor escorriam por sua testa e ele não parecia manter a mira estável. — Eu não quero saber da sua história, saiam agora!
— Eles são crianças! — Alana protestou. — Você está apontando sua arma para adolescentes. Precisamos de poucas coisas, o garoto que está ferido tem só 17 anos, ele pode morrer! — Percebi que ela também estava nervosa pelo tremor em sua voz, mesmo que ela tentasse mantê-la firme.
Meu coração estava acelerado. Somente eu, Hector, Guilherme e Alana estávamos mais próximos do homem, enquanto o resto do pessoal estava na parte de trás. Repentinamente, Mei latiu, e uma nova onda gélida de medo me atravessou quando eu vi a pistola ser apontada para ela.
— Mei, quieta! — falei, em uma voz fina de desespero. Os olhos castanhos sob as sobrancelhas grossas do homem cravaram em mim e deixei um gemido de pavor escapar. — Ela é minha cachorra. Não vai atacar, não se preocupe com ela! — Implorei.
— Eu não quero machucar ninguém! — Ele tremia, o pânico em seu rosto cada vez mais evidente. O cano da arma parecia vibrar. — Só saiam daqui! — Era quase um suplício.
O silêncio tomou conta da farmácia. Meu corpo tremia enquanto eu tentava pensar em qualquer coisa certa para dizer, mas mesmo se encontrasse, não sei se encontraria voz para externalizar. Aquela pistola negra parecia pesada sobre o punho dele, a sua aura mortal inebriando-me como um veneno.
Alana se moveu um pouco, tentando explicar alguma coisa enquanto dava um passo à frente, mas a arma foi apontada para ela em uma velocidade que arrancou o ar dos meus pulmões. Ela congelou, enquanto outro aviso para não nos movermos ecoou dentro daquelas paredes.
O som de uma bomba de estilhaços explodiu no ambiente, congelando a minha alma. Quando o cano da arma, com a escuridão sufocante do buraco onde a bala estava engatilhada, foi apontado para mim, entendi que eu quem produzi o som. O rosto do homem expunha tanto pavor quanto o meu, enquanto do vidro de vitaminas espatifava no chão. Incontáveis pílulas amarelas rolaram para todos os lados. As lágrimas que se formavam nos cantos dos meus olhos finalmente desceram. Pelo que pareceram eras, ouvimos os sons dos comprimidos rolando pelos ladrilhos.
Mais um barulho, na direção de Alana, retomou a atenção de todos. Dessa vez, Guilherme se moveu, mas de maneira brusca. Arregalei os olhos ao perceber seu rosto completamente pálido sob a pouca luz, e seus movimentos extremamente debilitados. Ele cambaleou para frente, parecendo tonto, e ergueu a mão para apoiar-se no balcão.
Antes que ele conseguisse encontrar um suporte, um estouro ensurdecedor pareceu explodir a farmácia, fazendo as janelas de vidro tremerem, como se enfim o apocalipse tivesse caído sobre nós. O susto me atingiu com uma dor tamanha no peito. Hector curvou-se um pouco, provavelmente para proteger os ouvidos, mas eu somente o via pela minha visão periférica.
Meus olhos ainda estavam em Guilherme quando vi seu ombro estourar em sangue. Sem nunca ter encontrado um suporte, ele desapareceu da minha visão, indo em direção ao chão.
Um zumbido ensurdecedor dominou meus dois ouvidos, quase tão torturante quanto o próprio som do tiro. Ao que pareciam quilômetros de distância, ouvi um grito estridente. Minha visão ficava turva, enquanto eu tentava digerir o que acabara de acontecer. Os cabelos azul celeste de Alana foram a última coisa que vi antes que ela também desaparecesse, ajoelhando-se atrás de Guilherme.
Senti um baque nas minhas costas e compreendi que eu mesma havia perdido o equilíbrio, apoiando-me na prateleira atrás de mim. Tentei arrumar a postura, mas o zumbido no ouvido me desorientava. Uma sensação aterradora de vazio pareceu engolir meu coração, conforme meu corpo não atendia ao impulso de correr na direção de Guilherme. Eu simplesmente não conseguia processar o que estava acontecendo, quase preparada para acordar de um sonho ruim, ainda em minha casa.
— ... uma criança! Ele tem 17 anos! — Bem ao longe, a voz de Alana começou a se tornar clara. Ela estava aguda, marcada pelo choro.
— Eu não queria! Me desculpe, eu achei que ele estava vindo na minha direção... Eu mandei ficarem parados! — Só então me dei conta do homem que empunhava a arma, agora estava ajoelhado no chão, em prantos. Seu rosto estava em um vermelho profundo e lágrimas se formavam. A arma agora estava apontada para cima, conforme ele mantinha as próprias mãos erguidas.
Os latidos de Mei começaram a se tornar mais definidos. Mandei que ela calasse a boca, mas a minha própria voz não saiu.
— Calma, agora. — Hector disse, mantendo sua voz em um tom surpreendentemente calmo. Virei o rosto e vi que agora ele empunhava sua pistola, suportando seu peso sem tremer, mantendo seu cano fixo no homem à nossa frente. Quis gritar para que ele atirasse. — Alana, como ele está?
— Está vivo! — Aquelas palavras foram uma doce brisa de esperança, que me fizeram perceber que a minha respiração estava trancada até então. — Mas sangrando. Muito.
— Por favor, vão embora! — Mesmo em prantos, seus berros continuavam. Suas mãos tremiam ainda mais do que antes, mas ele voltou a apontar a arma para nós. — Eu não queria machucar ninguém!
— Vamos sair! — Hector berrou ainda mais alto, tentando tomar o controle da situação.
— Hector! — Finalmente ouvi a voz de Melissa, que parecia horrorizada, e lembrei das pessoas que estavam perto da porta. Virei o rosto e pude ver que Carlos continuava sentado no chão, Victória estava com as mãos em seus machucados. Melissa estava em pé, olhando para nós com lágrimas nos olhos, enquanto Mei como podia, tentando acalmá-la.
— Atira antes que... — Pela primeira vez tentei falar algo, mas fui interrompida. Eu nem poderia dizer se minhas palavras saíram altas o suficiente para serem compreendidas.
— Cala a boca, Rebeca! — Hector falou mais alto do que eu, sem tirar os olhos do homem. — Vamos sair agora! Mas você machucou o nosso amigo. A garota de cabelo azul é médica e consegue salvar ele, só precisamos pegar algumas coisas! — Gotas de suor escorriam pela testa de Hector. — Todo mundo vai para fora e você deixa ela pegar o que precisa!
O homem parecia em um impasse, ainda com a arma mirada em Hector. O rosto do meu amigo, sério e devidamente sob controle, contrastava com a aparência transtornada do homem que atirou em Guilherme. Eu não sentia o ar chegar aos meus pulmões, sem conseguir desviar os olhos daquela cena estática em que os dois se encaravam.
— Escuta, fica calmo. — Hector disse, mas a tensão não parecia ter se rendido nem um pouco. — As duas meninas lá de trás vão ajudar o nosso amigo e eles vão sair primeiro.
— Qual é o seu problema?! — Carlos gritou, a voz grossa ecoando pela farmácia.
— Calem a merda da boca e me deixem resolver isso! — Hector virou o rosto para trás e o encarou, mas rapidamente voltou os olhos para o homem à nossa frente. — Você quer que o Guilherme morra?! Sai daqui e deixa a Alana pegar o que precisa para vocês dois! — Pela primeira vez, percebi que Hector tremia, uma veia grossa saltando em seu pescoço.
Eu não conseguia compreender de onde ele havia tirado tanta calma, tanta capacidade para lidar com a situação. Se meu corpo não estivesse estático, gritaria para que ele atirasse, de novo, mesmo tendo certeza que ele não o faria. Embora a raiva transbordasse em meu coração, havia sentido no que ele dizia: se Guilherme sobreviveu ao tiro, ele precisava de socorro. E ainda estávamos todos sob a mira da arma.
Ouvi alguns protestos baixos e virei para trás a tempo de ver Melissa e Victória oferecendo apoio a Carlos enquanto escancaravam a porta de metal para poder passar. Mei olhava para mim, ansiosa, esperando qualquer comando.
O senhor olhou para eles, confuso e tremendo.
— Olha para mim! — Hector chamou, enquanto ambas as armas permaneciam se encarando. — Eles estão saindo, tá vendo? Vai sair todo mundo, então a médica vai pegar o que precisa e nós vamos embora, combinado?
Para a minha surpresa, ainda com gotas de suor escorrendo por sua face, o homem que empunhava a arma assentiu, com hesitação.
— Qual é o seu nome? — Hector perguntou.
— Hã?
— O seu nome.
— É... Alberto — falou, um pouco confuso.
— Escuta, Alberto, agora a menina de maria-chiquinha vai sair, e vai levar a cachorra dela, entendeu? — Hector esperou até que o senhor assentisse com a cabeça. — Rebeca, pega a Mei e vai.
— E o Guilherme? — perguntei, aflita.
— Eu levo ele depois, só vai. — Ele me respondeu, mas nem sequer virava o rosto para mim, seus olhos fixos em Alberto.
Travei a maior luta interna que já havia feito até então, esforçando-me para mover meu corpo como se realmente precisasse lutar contra quilos de areia que me prendessem no lugar. Senti-me tonta, mas foquei os meus olhos em Mei, tentando encontrar um objetivo no qual me agarrar. Cambaleei na direção dela, que adiantou-se para vir ao meu encontro. A luz que entrava por baixo da porta de metal quase me deixava cega. Mandei que Mei viesse comigo e me segurei com força na porta, tentando manter o equilíbrio, e senti mãos me ajudando quando abaixei o tronco para atravessar.
Alguém me abraçou forte do lado de fora, tanto para me dar apoio quanto para me acalmar. A fragilidade sob meus braços indicava que era Victória, nossos cabelos negros se embolando conforme eu apoiava minha cabeça sobre o ombro dela. Mei gania logo ao meu lado, inquieta, mas só consegui erguer a mão e colocá-la sobre seu focinho.
— Rebeca, calma, vai dar tudo certo! — Victória estava surpreendentemente calma e começou a passar as mãos em meu cabelo, lentamente. Apertei-a mais, afogando-me naquele abraço, tentando encontrar algum consolo. As lágrimas agora saíam em torrentes pelos meus olhos. Estávamos no meio do nada, com duas pessoas seriamente feridas e sem o menor plano. Alana não poderia simplesmente parar em frente à farmácia e cuidar dos dois.
Um grunhido pesado chamou a minha atenção e virei a cabeça para ver Melissa acertando um zumbi no rosto com o meu bastão. Eu não fazia ideia de quando ela havia pego, mas se esforçava ao máximo para lidar com um pequeno grupo que se aproximava. Sempre evitávamos mais do que dois juntos, mas Melissa se movimentava bem, afastando-se quando necessário e golpeando-os, para depois finalizá-los com um golpe no chão. Em meu egoísmo, somente consegui assistir, incapaz de ajudá-la.
Carlos estava sentado no chão, os braços envolvendo um ao outro, uma expressão de agonia em seu rosto. Gotas de suor pareciam escorrer por todo o seu corpo. Por mais calma que Victória parecesse, a expressão ansiosa em seu rosto não me negava que a nossa situação não era boa.
— Vic! — Melissa chamou, e a garota negra me ajudou a apoiar o peso do corpo na porta de metal, imediatamente abandonando a mim e Carlos para juntar-se a Melissa, empunhando um facão. Minha visão estava confusa, e eu não sabia dizer se estes que se aproximavam eram um grupo de 5 ou de 10.
Senti-me inútil, mas estava tão atordoada que sequer conseguia mover meu corpo. Queria colocar a cabeça de volta para dentro da farmácia. Queria saber se estava tudo bem. O completo pavor em esperar um som de tiro que poderia chegar era desesperador.
Anos pareceram se estender antes que eu ouvisse um grunhido de esforço do outro lado e visse a porta abrindo um pouco mais. Primeiro Hector passou, apoiando Guilherme em seu ombro. Alana segurava-o no outro lado, cuidadosamente evitando o machucado, enquanto carregava uma cesta cheia de coisas no braço. Hector estava com a arma, mas apontava para o chão. Quase arrastando Guilherme, que estava consciente, mas parecia atordoado com o rosto pálido e o olhar perdido.
E havia sangue. Meu Deus, muito sangue.
Sua camiseta cinza parecia molhada com algo escuro, que se concentrava sobre o ombro direito e escorria por toda a extensão. Algumas gotas carmim manchavam até mesmo o pescoço branco de Guilherme. A princípio, vê-lo me trouxe alívio, mas ao compreender a real extensão de seu machucado, meu coração foi devorado pelo medo.
— Como ele está? — Melissa perguntou, virando o rosto para ver. Ela estava completamente coberta de suor e mal parecia conseguir ficar em pé. Havia cerca de 4 ou 5 corpos de zumbis estirados ao chão, imóveis.
— Vivo, mas mal. — Alana disse. Ela ajudou Guilherme a se apoiar em Hector, ajoelhando-se para ver como Carlos estava. Falou algo para ele e em seguida o ajudou a engolir alguns remédios. Tirou uma garrafa de água da mochila para dar a ele.
Obriguei-me a regular minha respiração, inspirando e expirando com calma. Dar-me ao luxo de não ser útil era a atitude mais egoísta que eu poderia ter naquele momento, e poderia significar nosso fim.
— O que a gente faz agora? — Ouvi na voz de Vic uma pontada de desespero.
— P-precisamos entrar em alguma casa para Alana cuidar dos meninos. D-depois encontramos outra forma de sair daqui — falei, sentindo minha voz quebrar em algumas palavras. No choque de pensamentos, lembrei da residência de número 97 que Hector indicou como ponto de reencontro antes de entrarmos na farmácia.
Minhas mãos tremiam e eu não saberia dizer de onde tirei forças para agarrar a barra de metal que estava caída no chão e ajudar Melissa com os zumbis que se aproximavam. Os pedaços de madeira que Guilherme e Hector ainda carregavam não estavam mais à vista, provavelmente abandonados na parte de dentro da farmácia, onde nunca ousariamos colocar o pé novamente.
— Aquela casa que combinamos como ponto de encontr... — A frase de Hector se perdeu no ar, sem motivos aparentes. Virei para ele, tentando entender o que acontecera. A nossa situação não poderia estar mais desesperadora e aquele suspense não contribuia em nada.
Ele e Carlos olhavam na mesma direção, nosso colega machucado parecendo subitamente esquecer a dor dos braços ensanguentados.
Para a minha mais completa surpresa, Carlos abriu um sorriso.
— Nem fodendo — falou, apoiando-se em Alana para se levantar.
Virei o meu rosto na direção em que eles olhavam, tentando ignorar o crescente número de zumbis que se aproximavam pelos lados da rua. Não demorou para que encontrasse o motivo da surpresa: a alguns metros de nós, no cruzamento das ruas, alguém acenava desesperadamente, perto do tapume de um prédio em obras.
Era um garoto magro, de pele parda e cabelos negros que chegavam na altura dos ombros. Demorei muito tempo para perceber que eu o conhecia, principalmente porque seus cabelos estavam mais compridos agora.
Deixei um suspiro de surpresa escapar e vi que Victória forçava os olhos por trás das lentes do óculos, buscando o que chamara nossa atenção.
— Aquele é... — ela começou.
— Eu não acredito. — Melissa arregalou os olhos quando percebeu. — É o Faber!
Nota da autora:
Eu não esqueci de vocês (e ainda não é meia noite, então tecnicamente não me atrasei!)
Esse capítulo foi o que mais me rendeu ameaças de morte da primeira vez que postei, e acho sensato manter a estratégia de me esconder assim que postar novamente!
Se vocês acham que está caótico agora... Esperem mais um pouco 👀
(nesse capítulo, na primeira postagem, eu comecei a fazer suspense de um projeto futuro que viria a se tornar Lilium... o tempo voa!)
Um beijão a todos, não sejam mordidos
e até semana que vem!
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