Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 33.

Guilherme me passou uma vasilha de cerâmica fumegante e cheirosa, e só então percebi o tamanho da fome que eu sentia.

Melissa encontrou alguns saquinhos de sopa na casa e os cozinhou com macarrão para jantarmos. Com um pacote de torradas cheio, aquela era a refeição mais completa que comíamos há dias. Provavelmente os antigos moradores não tinham cães, pois não havia nenhum saco de ração, mas Mei não pareceu se importar em comer a mesma comida, com um adicional generoso de torradas.

Duas velas iluminavam a sala de estar pequena onde nos reuníamos, em volta de uma mesinha baixa de centro. Achamos uma lanterna pequena na gaveta da cozinha, mas havia somente as pilhas que já estavam encaixadas nela, por isso preferimos não gastar.

Eu e Melissa estávamos cobertas, tentando nos proteger das rajadas de vento que passavam pelas frestas das janelas. Eu não lembrava em que momento havia pegado o meu cobertor e imaginava que havia sido Guilherme quem o colocou sobre mim, durante os minutos que eu permaneci um pouco zonza depois da nossa chegada.

A sensação de calor que invadiu o meu corpo com a primeira colherada de sopa foi bem-vinda. Àquela altura, eu conseguia me sentir melhor, as coisas que aconteceram durante o dia parecendo cada vez mais distantes. Naquela noite não ouvíamos os sons tão frequentes de rosnados e gemidos, pois agora estes eram soterrados pelo rugido da chuva torrencial que espancava o chão. Os ventos faziam toda a madeira velha do forro da casa gemer em agonia, além de balançarem as chamas das velas com os insistentes sopros que passavam pelas frestas das janelas e portas que mantivemos fechadas.

Comi outra colherada de sopa, tentando prolongar o calor. Ainda estávamos em abril, pelo que eu imaginava, mas o frio daquela noite era cortante. A comida estava ótima, mas sinceramente qualquer coisa que eu pudesse colocar na boca seria meu prato favorito naquele momento.

Concentrei-me em mastigar 50 vezes cada torrada para evitar pensar nas quatro pessoas que faltavam naquela sala.

Ainda assim, era inevitável, as últimas imagens que eu visualizei se repetindo em loop na minha mente: Victória e Alana, de mãos dadas, afastando-se dos zumbis em completo terror, os olhos de Hector fixos nos meus, seu desespero praticamente palpável... eu nem sequer havia visto Carlos. Depois de tudo que aconteceu, parecia surpreendente que meu coração pudesse bater pelo medo de ter perdido todos, inclusive ele. Apesar de tudo, eu não conseguiria desejar a morte de ninguém.

A sala estaria mergulhada em um silêncio sepulcral, não fosse o constante incômodo da chuva. Nenhum de nós conversava, todos absortos na tarefa de terminar o nosso jantar, no máximo embalados pelo som ruidoso que Mei fazia ao mastigar sua parte da janta. Talvez estivéssemos com medo do que poderia sair se abríssemos nossas bocas.

— G-gente eu... Posso dormir com vocês hoje? — A voz fraquinha de Melissa quase não foi o suficiente para fazer-se ouvir acima da chuva catastrófica. Ela ergueu seus olhos úmidos, olhando para nenhum de nós em especial. — Eu realmente não queria ficar sozinha.

Olhei para Guilherme por impulso, que também já estava com os olhos nos meus, um pouco arregalados. Em sentimentos tão conflitantes com os quais eu já sentia, percebi que o meu rosto esquentava um pouco. Vi, sob a luz fraca das velas, que Guilherme ficara notavelmente corado. Ele não fazia ideia que Melissa já sabia o que acontecera naquela noite.

Haviam dois quartos na casa, uma suíte principal com cama de casal e outro com duas camas de solteiro. Ninguém tinha propriamente decidido onde iria dormir. Para falar a verdade, eu achava que estava implícito que ficaríamos todos no mesmo quarto.

Fui dominada por um misto de sentimentos, alguns bons, e outros beirando o ultraje por sentir qualquer coisa boa naquele momento. Parecia uma realidade completamente distorcida: havíamos nos beijado, claro, mas somente uma vez (várias, na verdade, mas somente em um dia, este era meu ponto). Era tão diferente da vida com a qual eu estava acostumada, imaginar que somente essa proximidade já seria o suficiente para que realmente fossemos considerados... qualquer coisa que não dois adolescentes se beijando.

Era tão agridoce, tão contrastante... Queria poder me sentir feliz por algo comum, ser só uma adolescente apaixonada com borboletas no estômago, mas a iminência do apocalipse, suas garras sangrentas e distorcidas, rasgavam essa possibilidade.

— Claro que pode, Melissa. — Guilherme foi quem falou, olhando para ela e em seguida para mim. — Eu levo o outro colchão para lá, você e a Rebeca podem ficar na cama de casal.

— Não precisa, eu só não quero dormir sozinha. — Ela sorriu, um pouco sem graça. — Obrigada.

— Vocês acham que os outros ainda estão vivos? — A pergunta pegou até mesmo a mim, quem a proferiu, de surpresa, como se fosse um vômito repentino de todos os sentimentos que se reviraram em mim durante essas horas.

Guilherme e Melissa olharam para mim, talvez surpresos que alguém realmente colocara aquela incerteza em palavras. Logo em seguida, Melissa olhou para os próprios pés, vestidos somente com meias pretas.

— E-eu não sei — respondeu. — Eu não vi nenhum deles morrer, sabe? Consegui ver Carlos erguer a barra de metal, as meninas se afastando um pouco, mas depois eu não vi mais nada...

Melissa pegou um gole de sopa com a colher, mas só ficou olhando para ele, desanimada. Percebi que a perna de Guilherme começou a bater e ele colocou o seu pote vazio, em cima da mesa.

— Eu não consigo parar de pensar nisso — admitiu. — Não sei dizer nem o que eu acho. Sempre que eu tento pensar em algo, parece que eu estou sendo sufocado e prefiro...

— Só não pensar. — Completei por ele, que olhou para mim e assentiu. — Eu não quero ser pessimista demais, nem uma otária otimista. — Falei, mas não soube completar a frase.

— Carlos é melhor em matar essas coisas do que todos nós juntos. — Guilherme falou, abraçando os joelhos, próximo ao peito. — Hector e Victória são inteligentes, eles sabem se virar em situações complicadas... e eles têm a Alana.

Melissa deu um riso seco, sem graça.

— Parando para pensar, estão melhores do que a gente.

Não dava pra dizer que ela estava errada. Por um lado, realmente podíamos estar a salvo e abrigados, mas não precisava se esforçar para ver que isso também significava que estávamos presos com incontáveis mortos desesperados tentando invadir a casa. A solução provisória de colocar o carro contra o portão realmente se mostrou útil em bloquear a entrada das criaturas, mas também impedia a nossa saída.

Claro que não éramos idiotas que só haviam percebido isso agora, porém não era como se tivesse qualquer outra solução: a rua às nossas costas estava infestada de zumbis, mas eles também começavam a chegar dos cruzamos à frente, atraídos pelo barulho repentino da horda que se formava. Poderíamos ter continuado correndo, mas o risco de sermos encurralados era tão real e apavorante quanto. Os zumbis corredores se aproximaram com tal velocidade, que logo teríamos que parar para exterminá-los, e isso, claro, significava dar mais chance para eles nos cercarem. Somente imaginar a luz começando a ser bloqueada por um mar de corpos decompostos e famintos trazia um arrepio agonizante, a sensação de sufoco... balancei a cabeça, ansiando distanciar esses maus presságios.

Com a realização de estarmos presos, vieram as análises: o telhado era baixo, a casa somente de um andar e era possível que nós três conseguíssemos pular o muro, se necessário. Porém atravessar Mei seria difícil, afinal ela era um cachorro de 45 quilos. Matar os zumbis do portão? Completamente fora de questão, visto que eram centenas.

No fim, devido à exaustão e ao medo, achamos melhor discutir esse tipo de coisa no dia seguinte. Também, por isso, resolvi não trazer aquele assunto à tona. O que não impediu que Guilherme o trouxesse:

— Acho que a melhor forma de sairmos vai ser pela parte de trás, pro jardim da outra casa. A gente pode levar a mesa da cozinha até lá para Mei conseguir pular, mas no pior dos casos, eu pulo e você ergue ela no colo para mim. Se ela me morder, tudo bem, não é como se tivesse outra forma mesmo.

— Mei não te morderia, mesmo odiando colo — falei, deixando meu desânimo evidente: — Mas todas as ruas devem estar infestadas.

Melissa pousou a mão com suavidade no meu cabelo, fazendo carinho. Assim que Mei terminou de comer, abandonou seu pote de comida e veio até mim, deitando-se ao meu lado. Imitei o gesto de Melissa, acariciando a cabeça da minha cachorra.

— Mas o barulho que nós fizemos, e depois o de todos os zumbis, pode ter feito eles se moverem. — Melissa sugeriu, baixinho. — Não sei se é assim que funciona, mas acho que se aqueles ali continuam em frente da casa fazendo barulho... Os outros podem acabar vindo pra cá também.

— Melissa. — Virei a cabeça para ela. — Isso faz sentido, na verdade.

Ela abriu um sorrisinho. Eu sempre lutava contra este tipo de sentimento, mas aquela observação me deu um lapso de esperança, toda a apatia abandonando meu corpo subitamente. Realmente, aquela aglomeração na frente do portão era um risco para nós, porém podia muito bem servir para atrair mais criaturas e, se tivéssemos sorte, esvaziar um pouco as ruas paralelas.

Até mesmo Guilherme parou de tremer eventualmente, seu corpo parecendo mais relaxado. Esboçamos algumas ideias sobre como agir amanhã, sentindo um pouco mais de confiança. Nossas vozes não eram mais sussurros que se perdiam na noite.

A chuva ainda caía com força e, após uma ventania forte o suficiente para sacudir as venezianas da janela, Melissa chegou mais perto de mim e Mei se aninhou entre nós, as três juntas atrás de calor.

Naquele lapso de esperança, só pude acompanhar com os olhos a tempestade, rezando para que aqueles que não estavam presentes também estivessem seguros e tivessem um abrigo para descansar e passar a noite.

Ou que, pelo menos, estivessem vivos para almejar isto.



O avançar da madrugada não contribuiu para afastar meus medos.

Encarei a janela sem venezianas e ela me encarava de volta, impassível e silenciosa. Sem qualquer sensibilidade, atrevia-se a mostrar um céu bonito, com estrelas e poucas nuvens, como se a tempestade que nos assolara mais cedo nada fosse além de um delírio coletivo.

A madrugada se estendia, grande parte dela tendo contado com a minha companhia. Eu não tinha a menor noção do horário (não hoje, especialmente, isso já era realidade há semanas), mas acreditava, pela escuridão intensa do céu que pouco a pouco dava lugar a uma iluminação acinzentada, que o amanhecer não tardaria a chegar.

Cada vez que eu tentei dormir naquela noite, meu sono foi leve e conturbado, sonhos misturando-se com pensamentos que antecediam o momento em que eu fechava os olhos. Não conseguia parar de pensar nem por um minuto em Alana, Carlos, Hector e Victória, se estariam todos vivos, bem, muito longe de nós... se, mesmo vivos, um dia conseguiríamos nos reencontrar.

Olhei para o meu lado, onde Guilherme estava de olhos fechados, respirando levemente. Sua mão estava pousada sobre a minha barriga e ele parecia não estar tendo sonhos.

Tê-lo ao meu lado me tranquilizava, mas muito pouco se comparado com a taquicardia furiosa que se instalou no meu peito desde que acordei. Era injusto não conseguir me sentir bem. Começava a achar que a incerteza era pior do que saber que todos haviam morrido. Talvez simplesmente morrer fosse melhor do que o medo constante, a eterna certeza de que os horrores do dia seguinte seriam ainda maiores do que o anterior.

Respirei fundo, incerta sobre o que fazer, mas decididamente incapaz de continuar naquela cama, afundando-me em sentimentos que até eu desconhecia.

Guilherme se moveu, mas não acordou quando afastei sua mão com cuidado. Arrastei-me para fora da cama de casal, levando o tempo necessário, absorta na minha tarefa de não fazer barulho.

Quando levantei, o bloco de gelo que oprimia meu coração se derreteu um pouquinho, vendo que Mei e Melissa dividiam o colchão da cama de solteiro que Guilherme ajudou a trazer para aquele quarto. Quando Mei havia pulado na cama dela mais cedo, mandei que ela saísse imediatamente, mas Melissa impediu minha cachorrinha de se mover com um abraço, implorando como uma criança para que eu as deixasse dormirem juntas. Agora estava de olhos fechados, seus cabelos compridos e ondulados atirados para todas as direções, inclusive sobre as costas da minha Pastor, contrastando com seus pêlos escuros.

Com movimentos tão calmos que chegavam a me entediar, esgueirei-me para fora do quarto com uma cautela que eu não teria nem se meus companheiros fossem zumbis. Acordar Guilherme e Melissa não me preocupava, mas era de Mei e seus sentidos aguçados de cachorro que eu tentava escapar. Por sorte, abandonei o quarto sem despertá-la.

Fora do cômodo, imediatamente envolvi meu corpo com os braços, em reflexo ao vento frio que ainda entrava pelas frestas. A chuva havia acabado, então os sons naturais, junto com o incessante barulho dos mortos, fez-se presente novamente. Dentro daquela casa cercada por cadáveres canibais, subitamente senti-me sufocada. O ar que vinha de fora, passando por um oceano de corpos podres e fétidos, começou a parecer sujo. Aquelas ideias faziam meu coração acelerar ainda mais. Como se isso fosse possível.

Saí de casa mesmo sem os coturnos calçados, mas evitei o pátio da frente, com medo de alvoroçar os mortos. A área na parte de trás da casa era apertada, mas pelo menos o ar gélido da rua ajudava a me acalmar. Se eu ficasse na ponta dos pés, conseguia olhar por cima do muro para o quintal com grama da outra casa.

Então uma ideia me atingiu. As palavras de Melissa não saíram nem por um segundo da minha cabeça: "se aqueles ali continuam em frente da casa fazendo barulho... Os outros podem acabar vindo pra cá também". Naquela suposição, encontrei alguma esperança quanto a sair daquela casa e, já que não conseguia dormir, queria pelo menos ter uma certeza para confortar meu coração.

Mas claro que não iria me expor. Como a casa era pequena e com apenas um andar, o acesso para o telhado parecia simples o suficiente. Quando eu era mais nova, costumava escalar o muro da minha casa para subir no telhado sempre que brigava com a minha avó. Lá no alto, olhando para as estrelas ou o céu repleto de nuvens, sentia que nenhum problema poderia me alcançar.

Antes de subir no muro, roubei uma toalha de banho do varal e deixei-a sobre o ombro. Precisei de um pouco de impulso, mas consegui escalar tranquilamente. Felizmente, já havia voltado às buscas por mantimentos desde a semana que passei de cama, então meus músculos se reacostumavam com os exercícios. Tive esmero na hora de passar do muro para o telhado, tanto para não acabar caindo, quanto para que ninguém me ouvisse do lado de dentro. Pela primeira vez, os rosnados dos zumbis foram úteis para algo. Não queria ter que explicar o que diabos eu estava fazendo no telhado da casa no meio da madrugada.

Mesmo se eu quisesse, eu nem saberia o que dizer. Eu só queria me afastar da sensação sufocante. Talvez lá em cima, olhando ao meu redor, eu encontrasse alguma esperança para me agarrar.

Ou, talvez, constataria o fato de que estávamos realmente fodidos.

Minha primeira realização foi que, na verdade, eu não conseguia ver tanto quanto eu esperava. Era possível enxergar as ruas próximas, mas o lampejo do amanhecer ainda era distante e a escuridão implacável de uma noite de lua coberta escondia os segredos daquela cidade. Os gemidos — muitos deles — denunciavam a presença das coisas. De incontáveis delas. Eu também entendia que havia movimentação, embora não tivesse a nitidez para entender quantos eram exatamente. Ao meu ver, parecia somente uma enchente de escuridão que se concentrava em frente ao portão da frente.

Olhei ao redor, mas precisei de muito esforço para distinguir qualquer coisa. Porém, somente o fato de que as ruas paralelas não pareciam o mesmo oceano negro de corpos decompostos já me dava alguma alegria. Talvez conseguiríamos realmente sair ao amanhecer, mesmo que isso significasse ter que continuar correndo por nossas vidas.

Fechei os olhos e respirei fundo antes de esticar a toalha de banho sobre as telhas para me sentar. Lá em cima era frio e, apesar de tremer, sentir aquilo pelo menos distraía meu cérebro cansado do medo e ansiedade. Devia ser por isso que as pessoas se viciavam em bebidas ou drogas, imaginei, provavelmente para sentir algo diferente das coisas ruins.

Consegui me distrair por alguns minutos, ponderando se era ou não uma má ideia encher a cara no meio do apocalipse, quando algo no horizonte fez um calafrio de susto percorrer minha espinha, como se meu coração tivesse escorregado para fora.

Apesar de ceder lentamente para a iluminação fraca do nascer do sol, a escuridão só me permitia enxergar com nitidez duas, talvez três casas de distância. Tudo além disso eram formas negras mal definidas.

Mas agora havia algo novo. Uma coisa clara e compreensível naquele mar de escuridão e desesperança. Uma luz.

Literalmente.

Eu não sabia dizer a quantos metros ou casas de distância ela estava. Pareciam muitos, pois mesmo sua óbvia existência era somente um ponto iluminado no horizonte. Mas estava ali, e o frio cortante era uma lembrança de que eu estava completamente acordada: um brilho distante, mas persistente.

Em intervalos desconexos, a luz sumia e reaparecia, fazendo meu corpo se acender de empolgação. Eu não tinha certeza ou qualquer pista que pudesse me confirmar, mas de alguma forma, sabia que tinha a ver com eles. Meus amigos estavam bem. Alguém estava lá em cima, fazendo um um anúncio silencioso da sua sobrevivência.

Fiquei distraída, completamente absorta por aquela felicidade. Somente após um minuto outra realização me eletrocutou: quem quer que fosse, não fazia ideia de que eu estava ali! E se abandonasse o local onde estavam, desesperançosos, sem nunca saber que mais alguém viu aquele sinal?

Que eu também estava viva.

Estava com tanta pressa que praticamente pulei do telhado para o pátio, indiferente ao barulho do impacto. Quase escorregando no piso molhado, invadi a casa como um trovão e fui recepcionada por uma Mei exasperada saindo do quarto. Passei por ela e corri em direção ao balcão da cozinha, onde havíamos deixado a lanterna, e quase a derrubei ao correr de volta.

Enquanto refazia o caminho até o telhado, senti a canela bater na quina do muro, mas a dor desagradável não me parou. Uma telha solta caiu no pátio vizinho e se espatifou no chão. Mei começou a latir, mas continuei mesmo assim. Àquela altura o frio já não me incomodava.

Com o coração acelerado, percebi que o mundo começava a ficar mais claro com a aproximação do sol. Ergui a lanterna acima da cabeça, apontando-a para a direção de onde veio o sinal e deslizei seu interruptor para lançar um feixe de luz contra o alvorecer. Tentei ignorar a apreensão enquanto torcia para receber uma resposta. Para saber que eu não estava sozinha.

Nem o nascer do sol era tão lindo quanto rever aquele ponto brilhante no horizonte, respondendo-me em uma conversa sem palavras. Mesmo assim, uma conversa de esperança.

Eu não sabia se a pessoa fazia um sinal específico, uma vez que os espaços entre o liga-e-desliga da lanterna não pareciam constantes, mas esperava que pelo menos a minha resposta fosse a certeza necessária de que havia mais gente naquele mundo.

Eu sabia que um sorriso estava desenhado no meu rosto e, pela primeira vez em horas, meu coração estava acelerado por um bom motivo. Ele parecia pronto para explodir de alegria.

O sol se erguia preguiçosamente no horizonte, os primeiros raios limpando o frio que a noite deixou pra trás e também varrendo o meu coração daquele medo constante. Ouvi Melissa e Guilherme chamando meu nome, Mei latindo ansiosa, mas somente tive o impulso de erguer a minha mão e acenar freneticamente, sem parar de ligar e desligar a lanterna. Com a luz da manhã, eu tinha um vislumbre da pessoa que lançava aquela luz para mim. Era somente uma mancha preta no horizonte, a vários metros de distância, mas agora ela acenava de volta para mim.

Quando finalmente desci, o primeiro impulso que me dominou foi beijar Guilherme com força, deixando-o ainda mais confuso do que já estava. Finalmente a desesperança me dava uma trégua e eu conseguia sentir as coisas como deveria.

Enquanto ele trocava olhares confusos com Melissa, falei, sem saber se queria informar a eles ou somente reforçar aquelas palavras em meu coração:

— Eles estão vivos. — Abracei Guilherme com mais força. — Eles também estão vivos!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro