Lola

05 Março de 2020

— Não precisava disso Kim, é só um ano, ele nem como ainda — digo rindo vendo ela chegar com um bolo enorme. Eu estava pensando num mais pequeno e simples, talvez até caseiro. Mas definitivamente isso não está nos planos da minha amiga que é também Madrinha do Theo.

— Ah, Lola, deixa de ser chata. Você já não quis convidar muita gente, pelo menos um bolo digno você tem que permitir — não reclamo.

— A última vez que me deixei convencer por você acabei grávida — digo rindo.

— Obrigada — ela responde convencida — Se não tivesse te convencido não teria essa coisa linda que é o meu afilhado — Ela diz as últimas palavras beijando a barriga do meu filho que ela tirou do meu colo. Ele ri sem parar, o melhor som do mundo para o meus ouvidos.

— Então vamos parar de conversa e organizar tudo. Não esqueça, é aniversário do Theo, e não uma festa noturna — ela concorda e continuamos organizando os doces e algumas coisas da decoração.

Passou um ano desde que Theo veio ao mundo, se antes eu estava com medo e insegura, hoje agradeço todos os dias por Deus me dar essa bênção que é ser mãe do meu pequeno.
Já o amava antes de ver seu rostinho, já o amava antes de pega-li no colo, já o amava quando ele ainda estava no meu ventre. Mas agora, é ainda mais intenso, mil vezes maior, quero protegê-lo de tudo que possa fazê-lo mal. Amo tanto meu filho que as vezes todo o resto parece insignificante, até eu mesma.

•••

Depois de mais algumas coisas terminamos a organização da pequena festa.
Não é nada grandioso, pelo menos eu pretendo que não seja.
Os convidados são alguns amigos próximos, as crianças do condomínio, e só.
A família da minha mãe praticamente sumiu depois que ela faleceu, ou seja, eu quase não conheço ninguém e não mantemos contacto. E quanto ao meu pai, sua família são seus dois irmãos, e ambos moram no Canadá.

Durante a gravidez eu quase não sai de casa, então, para muitos, foi uma surpresa quando Theo nasceu. Mas mesmo assim, tenho contado com o apoio de todos, os mais íntimos.

Apesar de ser aniversário do meu filho, por ser muito novo parece que a estrela da festa sou eu. Tenho que ficar na frente, cortar o bolo, responder aos parabéns e etc. Apesar de contar com ajuda do meu pai, que tem sido também a figura paterna para Theo durante esse ano.

— Quem é aquela? — pergunto para Kim me referindo a uma ruiva. Seu rosto me parece familiar e depois de forçar minha mente me lembro. Ela estava com o Alex no The Ocean, na noite em que Theo foi concebido.

— Ah, Catarine, ela entrou para o nosso grupo quando você estava fora — assinto. Kim é que convidou o pessoal, então deve ter optado por chamar ela.

— Como ela entrou? — pergunto desviando meu olhar dela para meu filho que está do outro lado da festa com o avô e mais algumas crianças.
Eu vivi para ver meu pai assim. Esse pensamento me faz sorrir.

— Ela estava namorando o Alex — ela diz sem muita firmeza.

— Não está mais? — desta vez olho para ela.

— Não. Eles terminaram — assinto enquanto levo uma mecha do meu cabelo que não está mais loiro para atrás da orelha.

Alex recebeu o convite, mas ele disse que está numa viagem de trabalho. O que para mim veio a calhar. Só o convidamos por educação. Não que eu ainda o ame, mas é estranho. Eu sonhava ter filhos com ele, mas agora, eu tenho um filho de um desconhecido.

Eu sei que ele sabe do meu filho, mas não falou nada a respeito e claro que eu também não. Não saberia o que dizer. É estranho. Constrangedor. Desde aquela noite, há quase dois anos, quando voltei para Boston, não o vi mais, nem grávida e nem depois do nascimento do Theo. Confesso que já evitei eventos que eu sabia que ele também estaria. Porquê? Eu não sei direito.

•••

Quando todos vão embora, começa a parte ruim de toda festa, arrumar a bagunça.
Mas claro, eu dou uma fugidinha com a justificativa de colocar o Theo para dormir. Ele deve estar exausto.

Dou um banho rápido nele, visto seu pijama e coloco-o no berço. Não passa muito tempo e ele dorme sem problemas, então, vou para o meu quarto.

Repito o mesmo processo, agora, comigo. Banho, pijama e cama. Mas antes que eu me jogue na cama e apague, ouço alguém bater na porta.

— Você já está dormindo? — papai pergunta ainda na porta.

— Não. Ainda, pode entrar — digo me sentando na cama.

Papai se aproxima e senta do meu lado. Ele começa a falar sobre a festa, mas sinto que tem algo mais importante para me dizer.

— Ele está crescendo... — ele diz pensativo. 

— É — concordo.

— Já pensou que em breve ele estará perguntando sobre o pai? — penso nisso todos os dias.

Suspiro.
— Eu sei que ele vai papai, mas não posso fazer nada. Eu não imagino onde esse homem pode estar. Eu já criei ele sozinha até aqui, eu vou conseguir. O senhor mesmo me criou sozinho e fez um excelente trabalho — digo certa das minhas palavras.

— Eu tenho certeza que sim. Você vai conseguir — espero por um mas — Mas Lola, eu te criei sozinho. Mas porque não havia outra opção. Sua mãe está morta. Mas o pai do Theo está vivo. Você pode não lembrar, mas quando você tinha três anos começou a perguntar sobre sua mãe, todos os dias, começou a chorar e dizer que queria ter uma mãe como as outras crianças. Lola, você sofria e eu mais ainda, eu te juro, não é como você pensa que será, Theo ainda não percebe, mas ele vai precisar de um pai, como você precisou da sua mãe. Eu queria muito, mas muito mesmo, mas não podia trazê-la de volta, você pode, você pode buscar pelo pai do seu filho. — engulo em seco.

Ouvi cada palavra com atenção. E me lembro perfeitamente de quando as outras crianças perguntavam porquê eu não tinha uma mãe, quando eu chorava. Quando me sentia injustiçada por ser órfã.
Droga. O que eu estou fazendo.
Eu não quero que meu filho passe por isso. Não quero que ele sinta toda dor que eu senti.

— O senhor está certo pai — suspiro — Eu vou encontrar o pai do meu filho — digo decidida.

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Theodore Washington (Theo)

Lola Washington (agora morena)

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Estou amando escrever essa história❤️
Espero que estejam gostando de ler.

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