Capítulo 8
Sexta parada – Casa
Talvez eu tenha dormido umas 12 horas depois que cheguei em casa. Joguei as malas num canto qualquer e depois de um banho quente, me escondi embaixo dos lençóis da minha cama. Mas quando acordei a bagunça continuava lá.
Já era noite novamente, e eu estava completamente perdida entre os dias e as horas.
Hoseok não respondeu as minhas mensagens, e ousei ligar para ele. Apesar de termos nos desentendido eu precisava saber se ele havia chegado bem. Não deveríamos resolver as coisas daquela maneira.
De forma insistente fiquei com o ouvido grudado no celular. Ainda estava de pijama, perdida entre a confusão do meu edredom.
— Oi. — Segurei a respiração quando ouvi sua voz do outro lado da linha.
— Você chegou bem?
— Sim. — Ouvi um suspiro. — Você está bem?
— Estou de volta a Coréia também.
— Mas e a sua história?
— Eu não quero falar disso. Numa escala de 1 a 10...
— Soo Yeon, não. — Ele se apressou em me interromper e toquei meu peito sentindo meu coração latejar forte. — Olha, eu sei que a culpa não é sua, e queria realmente me desculpar por ter exposto tanto os meus sentimentos e te pressionado dessa forma.
— Você não precisa se desculpar, Hoseok. Eu... Estraguei tudo, não é? Na verdade não sei o que me deu para dormir... Bem, eu estou muito confusa.
— Eu entendo. Na verdade eu fiquei com vergonha. — Murmurou baixinho. — Mas não consigo parar de pensar em você.
— Também estou pensando em você, mas...
— Não é do mesmo jeito, eu sei.
— Estou pensando muitas coisas, inclusive na possibilidade de desejar você dessa forma. — Me joguei na cama fitando a luminária. — E queria conversar com alguém sobre isso, mas você é o meu melhor amigo, o que ferra com tudo.
Acabei rindo da minha própria declaração, mas não pude escutar a risada do Hoseok.
— Eu sempre imaginei como seria sua reação quando eu me declarasse. — Ele disse me fazendo parar de rir. — Também não achei que iríamos ir além dos limites e passar a noite juntos, só aconteceu, e desculpa.
— Por que está se desculpando por isso? Aconteceu apenas, não fui forçada a nada.
— Mas teve significados diferentes, e eu entendo, apesar de me machucar um pouco. Preferia que não tivesse acontecido para eu não ter essa lembrança real.
Fechei os olhos e não consegui evitar estalar os lábios. Estava enlouquecendo com aquilo. Não sabia realmente o que fazer. Foi maravilhoso beijá-lo e de alguma forma foi encantadora a noite que passamos juntos, mas eu não sabia se o que estava sentindo era algo muito maior ou apenas atração física, e não era justo ficar com ele para me divertir apenas.
E também pensava que seria muito fácil dizer que eu o amava, por todo nosso tempo de convivência e amizade. Mas eu tinha a impressão de que engatar num relacionamento com Hoseok para ele seria mais do que a nossa amizade era, e eu não sabia se era capaz de retribuir da forma que ele merecia.
— E o que vamos fazer agora? — Murmurei. — Eu quero te dar uma resposta, mas não sei ainda.
— Você não precisa fazer nada, Soo Yeon. Está tudo bem.
— E as coisas não vão ficar estranhas entre nós? — Perguntei receosa.
Minha vontade era de ir para a casa dele e passarmos o resto da noite conversando sobre nossa viagem. Era o que pensei que aconteceria, que quando chegássemos da Holanda, eu poderia ficar perto dele enquanto escrevia meu livro. Eu tinha tido várias ideias sobre o que escrever e queria contar todas para meu melhor amigo e contar com sua ajuda e memória.
— É que eu também não posso te ajudar agora. — Hoseok disse depois de limpar a garganta. — Porque eu não quero mais mentir sobre como me sinto.
— Claro que não! Nós precisamos ser honestos. — Soltei o ar pela boca. — Pode me dizer tudo, eu aguento. Sou sua melhor amiga, o mínimo que posso fazer é ouvir sobre seus sentimentos. Pode falar como se fosse outra pessoa se for mais fácil para você. "Aquela vaca", "aloprada sem limites"...
Parei de falar quando ouvi sua risada, apesar de ter sido tímida, aquilo foi suficiente para me fazer sorrir e sentir um segundo de satisfação.
— Eu a amo tanto que dói muito. — Murmurou. — E eu não acho que vou conseguir falar. Me desculpe.
— Hoseok... — Murmurei inconsciente. Não percebi que meus olhos estavam arregalados e minhas mãos congelaram sobre o celular.
Apesar de ter namorado algumas vezes, nenhum homem havia dito que me amava desse jeito. E pensar que ouviria essa declaração da pessoa que esteve mais próxima de mim todo tempo.
— Eu te amo. — Mas sua voz foi desaparecendo. — Como mulher e não amiga.
Engoli minha saliva sem fazer ideia do que responder.
— Não acho que possamos continuar sendo amigos ou nunca vou superar. — Ele continuou preenchendo meu silêncio. — Me desculpe. Eu espero que tenha conseguido encontrar a história que tanto queria. Eu continuarei sendo seu leitor e fã número 1. Dorme bem, minha escritora favorita.
Suas últimas palavras foram sussurradas e me fizeram sentir um arrepio no ouvido. Hoseok finalizou a chamada e deixei meu celular escorregar caindo na cama.
Eu havia entendido que aquela era uma despedida e não fui capaz de insistir para que as coisas continuassem a ser como eram antes. Parte do sofrimento dele era culpa minha, por nunca ter percebido seus reais sentimentos.
E acabei perdida encarando a luminária do teto do meu quarto e pensando em todos os momentos possíveis em que magoei Hoseok. Todas as vezes que ele cuidou de mim quando terminei namoros e casos que não deram certo, de me ouvir falar de outros homens. Todas as vezes que o joguei para cima de garotas e no mesmo instante senti ciúme, como aquilo pode ter o ferido e alimentado suas esperanças ao mesmo tempo. De quando eu invadia seu espaço físico, porque achava que éramos apenas amigos, quando na verdade estava o deixando desconfortável. Como não percebi que ele era daquele jeito só comigo, e apenas comigo... Eu não percebi. Uma pessoa como eu não o merecia.
Deixei os dias seguintes apenas passarem. Minha vontade e inspiração haviam me deixado, e consegui apenas assistir uma série de dramas românticos e melosos, que me fizeram querer chorar por não ter um romance meloso.
— Faz quase dois meses que não te vejo. — Mamãe passou por mim quando abri a porta. Estava com esperança de ser o Hoseok, mas apenas sorri sem graça quando vi minha mãe. — Esse lugar está imundo.
— Já aceitei que sou uma escritora desorganizada. — Me joguei no sofá observando mamãe ir direto para a cozinha e abrir a geladeira.
— Você tem sorte de ser bem sucedida. — Ela resmungou. — E por falar nisso, não devia estar trabalhando?
— Estou sem inspiração. — Murmurei escondendo meu rosto embaixo de uma almofada.
— Chame o Hoseok, ele sempre te ajuda com essas coisas.
Ela disse naturalmente enquanto enchia minha geladeira com as sacolas que havia trazido. Mas apenas suspirei profundamente, o que trouxe sua atenção para mim.
— O que houve? Vocês brigaram? — Ela disse de soslaio.
— Não, só... Não posso contar com ele agora.
Mamãe me analisou um pouco. Meus pais estavam acostumados com Hoseok, e gostavam dele. Eu passava mais tempo com meu melhor amigo do que com minha família, e de repente eu percebi que tudo ficou vazio sem ele.
— Por que não assumem logo que se gostam? — Mamãe disse passando o dedo pelo armário e analisando a quantidade de poeira.
— Do que está falando? — Reclamei impaciente.
— Todo mundo sabe que ele gosta de você, pensei que sentisse o mesmo.
Me ergui do sofá, mas mamãe continuou mexendo nas coisas como se aquilo fosse algo natural.
— Por que pensou que eu gostasse dele dessa forma? — Perguntei, mas não queria soar agressiva, na verdade queria encontrar as respostas que eu não conseguia sozinha. — E como assim todo mundo sabe que ele gosta de mim?
— Porque você parecia gostar, ué. — Ela continuou sem me dar importância. — Você nunca percebeu o interesse dele? Esses anos todos?
— Não... Espera. — Baguncei meu cabelo. — Me responde de forma clara, como eu parecia gostar dele?
— Os jovens de hoje são complicados... Tsc, tsc, tsc. — Me encarou com a cara de nojo típica da minha mãe.
Mesmo que eu tenha grudado nela e feito várias perguntas, mamãe não compreendeu e apenas começou a limpar minha casa como se eu estivesse enfrentando mais uma crise louca de escritora.
Todas as pessoas achavam que Hoseok e eu éramos mais que amigos. Recordei de todos os momentos da viagem e de nossas vidas, e vim a me perguntar: o que estou sentindo afinal de contas?
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