XLI - Avisos e Notícias
ALYON
Alyon estava um pouco tenso e temeroso enquanto ia ao encontro de Plutão. Ele não fizera nada errado, até onde sabia, e havia pedido desculpas à Cassie, então o que Plutão quereria com ele...? Talvez sejam notícias do Olimpo, pensou esperançosamente.
Chegou onde Plutão estava, e olhou para trás: os outros estavam fora de vista no terreno acidentado. Era ele e o deus dos mortos. Entretanto, quando se virou para Plutão, a expressão do deus era tudo, menos de alguém que tinha disposição para começar qualquer discussão. Estava sentado em uma pedra alta, passando as mãos nos cabelos negros.
Alyon se sentou em uma pedra próxima e perguntou:
– E então... o que eu fiz de errado?
– Hã? – Plutão olhou para ele, como se acabasse de tê-lo notado. – Perdão, não estava ouvindo... Não quis preocupar Cassie, mas o Hades está pior do que eu gostaria de admitir. Está ficando inabitável. Habitantes das Ilhas dos Abençoados vestindo armaduras com a idéia fixa de que vai haver uma guerra contra Melinoe, os mortos dos Asfódelos e do Elísio em histeria, monstros invadindo mundos e o meu próprio palácio, queixas de pencas e todos me cobrando por tudo. Parece que cada vez que resolvo algo mais dois problemas aparecem. Não posso fazer mais nada sem ser calculado, e Júpiter quer me jogar nas profundezas do Tártaro. Sabe que não vou poder ajudá-los, não é? Qualquer demonstração de favoritismo e meus súditos me chutam do trono.
– É, eu sei – Alyon concordou. – Não contou a Júpiter sobre as Portas?
– Não, eu não poderia. Para preocupar mais ainda o Olimpo? Não. Posso pagar caro depois, mas estou apostando Cérbero em vocês, mas se fracassarem... Não vou ter escolha.
– Estamos fazendo o que podemos – Alyon falou rispidamente. – Mas Lycaon sequestrou um garoto mortal de sete anos, não é de se esperar que algum de nós vá escolher dar-lhe como um pedaço de carne aos lobos e ir fechar as Portas e chutar Melinoe de lá. Foi para isso que me chamou, Plutão? Posso ir?
– Não, não era isso. Desculpe se o importunei com meus problemas, não tenho mais cinco mil anos, estou ficando velho. Entrementes, vim trazer notícias do Olimpo.
– Olimpo? O que foi? Houve mais ataques?
– Houve, sim. Muitos, para meu gosto, desde que você partiu. Nenhum sinal de algum líder ou algo assim, é como se os monstros atacassem porque a idéia pareceu atraente.
– Talvez tenha parecido. Os monstros andam querendo se rebelar há éons.
– Não, eles sabem que muitos estão morrendo, e sabem que existem mais Imortais que o Tártaro poderia abrigar de monstros... E, ah, claro. Sobre seu pai...
– O que tem ele?
– Athírio está bem. Asclépio está uma fera porque Júpiter já o mandou para a batalha, mas seu pai se recusa deliberadamente a ficar em cima de uma cama assistindo o Olimpo lutar. Sua mãe está bem, mas Júpiter perdeu a cabeça quando soube que ela lhe mandou néctar...
– Foi ela... Que aconteceu? Não foi punida, foi?
– Não, não, você sabe como é Júpiter. Ele está mais preocupado com você do que admite.
– Engraçado o jeito que ele demonstra.
– Você não entende o lado dele –Plutão suspirou. –Enfim... Boa sorte na sua missão... E me faça um favor?
– Sim?
– Não deixe Cassie cometer alguma loucura. Ela faria isso por qualquer um de vocês, e o Mundo Inferior é perigosíssimo...
– Ela é mais forte do que você pensa.
– Eu sei que é... – Plutão fez uma pausa, depois prosseguiu. – Tentei falar com a mãe dela essa semana – Perséfone ficou danada.
– Como? – espantou-se Alyon. – E falou isso a Cassie, certo?
– Não – Plutão admitiu. – Não quero dar a ela mais dores de cabeça. Seria ótimo se ficasse em silêncio.
– É a mãe dela, Plutão. A pessoa que praticamente a escravizou... E você falou com ela, meus deuses, você é o pai de Cassie... Ela quer confiar em você, não comesse esse relacionamento com mentiras e segredos.
– Eu sei o que é melhor para ela, Alyon, e Cassie não precisa pensar em Audrey agora.
– E então? Como foi isso? O encontro, quero dizer. Audrey sabe que você é deus, certo?
– É claro que sabe, ela sempre soube. E sabia que Cassie era uma semideusa... Pensei que se falasse a ela que a filha estava indo ao Hades ela colocaria a cabeça no lugar... Mas apenas gritou que eu arruinei a vida dela, e jogou coisas para todo lado. Tem uma ótima mira.
– É isso que acontece – Alyon falou amargamente – quando deuses se apegam demais a mortais.
– E você não é a melhor pessoa para falar isso – Plutão falou sarcasticamente, mas sem maldade, e havia até um sorriso no rosto.
– O que você quer dizer?
– Ora, se você não sabe não sou eu que vou falar – o deus riu.
Alyon torceu o nariz, mas logo mudou de assunto:
– Plutão – chamou; o deus o encarou atentamente – porque deixamos de vir à Terra?
– Veja, meu caso com Audrey é o melhor exemplo: os mortais tanto não precisam mais de nós como não nos aceitam mais. Nossa presença pode acabar com a vida de alguns, entende? E às vezes o amor nos visita, se é que me entende, e em alguns casos isso resulta em semideuses... Você acha que Cassie realmente quer ser o que é? Eu a conheço melhor do que ela pensa, e ela não tem culpa se eu errei. Nem mesmo Audrey é culpada; eu conhecia as leis, conhecia os limites, sabia no que resultaria... E olhe no que deu. E onde há deuses há monstros, estávamos pondo em risco os mortais... Então, para o bem dos dois lados, Júpiter decidiu que era melhor vivermos assim: separados. Mas é claro que alguns deuses, e sou um deles, sempre tiveram o espírito de rebeldia...
– E já vi de onde a sua filha puxou.
Plutão riu brevemente.
– É... Algo horrível e maravilhoso, o amor, não acha?
– Quem sou eu para responder? Essa nunca foi minha especialidade.
– Você é jovem, rapaz, mais dia menos dia alguém vai te fazer ser "especialista", confie em mim.
– Mas, então – Alyon pensou desesperadamente algo para poder mudar de assunto. Poderia ter apenas dito que queria ir embora, mas algo o chamou a atenção. – Plutão, você sabe por que Cassie tem aqueles "acessos de conhecimento"...?
– Ora, isso! – o deus exclamou. – Entenda, Alyon, Cassie sabe mais do que imagina sobre nós, olimpianos – é parte deusa, afinal – , mas não tem a capacidade ou o preparo para descobrir ainda, sabe. É um lado dela que não está pronto para despertar... Então tomei partido e tento ajudá-la no que posso...
– É você que diz a ela as coisas? – admirou-se Alyon.
– Não que ela saiba, e eu adoraria que não falasse nada... De alguma maneira, é preferível a ela que pense saber de coisas por ser semideusa a ter um deus "dentro da cabeça dela" – Alyon soltou uma risada, porque isso seria exatamente o que Cassie diria. – Vá, eles estão te esperando – Plutão falou. – Trate de não falar nada à minha filha, entendeu?
– Claro, não tenho muito que fazer quanto a isso.
Alyon se virou para ir embora, quando Plutão o chamou novamente:
– Alyon – a voz do deus dos mortos soava tranquila, mas havia um quê de aviso. – Sabe que estou de olho em vocês, todos vocês, não sabe?
– Por que o senhor está falando isso para mim? – Alyon indagou, mas Plutão apenas riu. Com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, Alyon voltou para junto aos outros, ouvindo o suave farfalhar de asas de corvo às suas costas.
– E então? – Cassie perguntou assim que Alyon chegou perto deles. – Me diga que meu pai não te deu sermão por qualquer idiotice? E não ficou falando sobre as muitas maneiras de morrer no Hades?
– Não – Alyon tranquilizou-a, embora não estivesse exatamente falando a verdade. – Não era nada importante, apenas notícias do Olimpo: ataques continuam, a paz deu no pé, Júpiter tá com uma baita dor de cabeça com tantos problemas, enfim... Coisas olimpianas.
– Isso não é reconfortante – Clarisse falou. – Mas alguma notícia que nos ajude? Algo?
Alyon tentou com todas as forças não olhar para Cassie, então apenas forçou um sorriso na cara e falou:
– Nadinha de nada. E a sua conversa, algo interessante?
Cassie mostrou a ele uma saca com o que pareciam moedas. Alyon arregalou os olhos.
– Isso são...
– Óbulos – Cassie confirmou. – Para pagarmos Caronte, o barqueiro, segundo Plutão.
– Sabe que ele não devia te dar isso, certo?
– Por isso todo mundo tem que ficar de bico fechado – falou, colocando a mão na boca e soltando um longo bocejo. Piscou algumas vezes, suspirou e encarou Dylan. – Você não se importaria se parássemos uns poucos minutinhos para descansar, não é?
– Rodamos a noite acordados, caminhando – Clarisse concordou.
– Não adianta chegar ao Hades s'endormir – Dylan falou por fim.
– Obrigado – Clarisse suspirou, afundando em uma pedra como se fosse a cama mais confortável do mundo.
Em pouquíssimo tempo, todos estavam escorados ao redor de uma pedra gigantesca, perto de um grupo de árvores onde Lupa caçava pobres lebres. Alyon percebeu que Cassie fora a primeira a cair num sono silencioso e profundo, e não teve coragem para acordá-la e dizer que já se passara "uns poucos minutinhos", e que deveriam seguir viagem, e o mesmo para Clarisse, cuja respiração suave era audível. O que restou a Alyon foi encarar o céu, imaginando seu lar no Olimpo; imaginando e torcendo, pedindo silenciosamente, para que ainda estivesse inteiro, que os que conhecia ainda estivessem lá, que aguentassem mais um pouco... Aquela viagem não era apenas para tirar os monstros do mundo mortal, para se livrar de Lycaon ou Melinoe; era para levar a vitória e a paz ao Olimpo, era para salvar vidas, para salvar seu lar. Mas ainda assim, com um pensamento culpado, lembrou o quanto sentiria falta daquele mundo humano e estranho aos seus olhos. Talvez o Olimpo não fosse mais o mesmo para ele, talvez seu brilho divino e celestial se ofuscasse um pouco, e a brisa leve e aconchegante trouxesse saudades e lembranças. Alyon percebeu, espantado, que talvez o motivo para os deuses terem se recolhido do mundo mortal não fosse o perigo que eles ofereciam aos mortais, mas sim a capacidade daquele mundo de cativar um deus, de fazê-lo se sentir em paz. E Alyon nunca imaginou que doeria tanto pensar em abandona aquele lugar e aquelas pessoas.
O Alyon é um fofo, admitam
Ele está fazendo tudo pelo Olimpo, mas não quer abandonar a Terra e seus novos amigos
Isso é muito legal da pare dele!
Mas, deixem seus comentários do que acharam!
Até amanhã!
Bjos e uivos,
Lana
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