Acampamento Meio-Sangue
O chalé de Hermes era uma bagunça e Thalassa percebeu que não conseguiria ter muita paz por alí, mas para ela, estava tudo bem, na verdade, já que não queria pensar no fato de que nunca havia reparado que se cortava em bronze celestial. Quer dizer, todo mundo ao redor de si se cortava e meio que, em sua mente, isso era normal, mas… Todo mundo das Ilhas Elysian eram meio-sangues (ou pelo menos, a maioria) e parecia até burrice que ela nunca tivesse sequer pensado nisso.
Talvez, o pai dela fosse o deus da Burrice, porque aí, sim, seus poderes tinham se manifestado…
Thalassa adorou Rachel, de forma que ficou levemente sentida quando, no dia seguinte, a ruiva precisou ir embora do Acampamento, prometendo voltar se fosse preciso. Claro, Thalassa e todos os outros não estavam fazendo muita questão da volta de Rachel porque sabiam que o que ela quis dizer, na verdade, era “ Entro em contato caso aconteça algum problema”. Ninguém queria mais um problema, para ser sincera. Nem ela.
O Acampamento era enorme e cheio de crianças e adolescentes e pouquíssimos adultos, pelo que Thalassa pôde notar. Quando perguntou por qual motivo, Luke a explicou que era porque muitos semi-deuses sequer chegavam à idade adulta, embora essa estatística começasse a mudar há alguns anos. E é claro, Thalassa achava isso estranho e de extremo descaso dos deuses, tendo em vista em que cresceu em uma ilha onde haviam semi-deuses idosos, com filhos e netos para todo o canto. Inclusive, havia uma Senhorinha que, com toda a certeza, já tinha mais de 100 anos e, pelo menos, 3 tataranetos.
No entanto, naqueles poucos dias que se seguira, Thalassa começou a perceber que, talvez, os deuses não fossem muito atenciosos quanto davam a entender quando ela vivia na Ilha. Ou talvez, fosse a própria Ilha.
Por ocupar a cabeça tentando teorizar sobre os deuses e conhecendo mais do mundo além das águas que a cercaram a vida inteira, Thalassa não focou nem mesmo em que era seu pai, muito menos, onde sua mãe poderia estar. Ainda não tinha sido liberada para ficar procurando por ela e sabia que estava correndo perigo, desprotegida, fora dos limites do Acampamento.
Thalassa participou de uma escalada três dias depois, descobriu que era uma boa espadachim (embora isso ela já sabia) e que levava jeito com cavalos quando Dionísio pôs ela para cuidar do Estábulo de Pégasus junto de um Sátiro simpático chamado Pomenio.
Também descobriu que, quando queria um pouco de paz, era só esperar o Chalé de Hermes ficar mais silencioso e escuro, e se esgueirar para o Lago, onde podia ficar dentro da água por longas horas e minutos, ou somente sentada, observando as pequenas ondulações. Não era a mesma coisa que observar o oceano e mergulhar na Praia de Elysian, mas Thalassa parecia se sentir mais perto do local que um dia, chamou de Lar por tantos anos e não sabia se iria (ou queria) voltar.
Thalassa estava, inclusive, voltando de um banho no Lago, às quatro e quarenta da manhã do oitavo dia no Acampamento, quando, ao entrar no Chalé de Hermes, um vulto a parou, interceptando-a e quase a fazendo soltar um berro. No entanto, o mesmo vulto foi mais rápido e tampou a boca de Thalassa, a agarrando por trás. Ela estava prestes a tentar dar uma cabeçada em quem quer que fosse, quando Luke sussurrou:
-Hey, calma! Sou eu!
Thalassa se debateu e se soltou de Luke, que a deixou sair dentre seus braços, rindo. A garota se virou para Luke, com a mão sobre o coração agitado, dando um tapa levemente forte no braço do garoto.
-Você ficou maluco?! Quer me matar do coração?
Luke deu de ombros e cruzou os braços, seguindo Thalassa para dentro do Chalé. Ambos pularam gêmeos que dormiam no chão, abraçados, e que não deviam ter mais que 7 anos, enquanto Thalassa ia até a beliche que estava dividindo com uma garota também não reclamada ainda.
Luke observou Thalassa por alguns instantes. O cabelo dela estava úmido e ondulado, e as roupas de Thalassa estavam úmidas em lugares estratégicos, o que fez Luke forçar com que seus olhos mirassem apenas o rosto dela e esquecesse a rápida imagem que se formou, dela nadando apenas de roupa íntima, em sua cabeça.
-Por que está me seguindo? - Thalassa perguntou, em voz baixa, pegando uma toalha para apertar os cabelos.
-Por que saiu do Chalé de madrugada? E por que voltou encharcada?
Thalassa ergueu uma sobrancelha vermelha para ele e buscou um pente, se sentando em seu colchão.
-Não achei que fosse proibido ficar fora do Chalé durante a noite.
-Bem, hoje em dia, não é… Mas é curioso. - Luke apoiou o corpo lateralmente, no pilar da cama.
O garoto cruzou os braços no peito, fazendo Thalassa reparar nos musculos que saltaram pela camiseta do pijama. Sacudindo a cabeça, ela desviou o olhar e começou a desembaraçar os cabelos.
-Você tem feito isso há umas quatro noites…
-Anda me vigiando, é? - Thalassa perguntou, entre um tom curioso e irritado.
-Tenho dificuldade para dormir. - Luke admitiu, dando de ombros. - Você também, pelo visto.
Thalassa soltou um suspiro, encarando apenas o cabelo entre seus dedos.
-O Chalé nunca fica silencioso. Sinto falta disso.
E disso, Luke não podia discordar. Até ali, de madrugada, tinha barulho. Murmúrios de vozes baixas, como as deles, o som de alguns instrumentos, o som de corujas do lado de fora… O Chalé de Hermes tinha mesmo uma essência completamente agitada. Luke tomou a liberdade de se sentar ao lado de Thalassa, observando o movimento repetitivo de Thalassa em desembaraçar o próprio cabelo, debaixo para cima.
Uns instantes depois, o olhar de Thalassa cruzou com o de Luke e ela sentiu o rosto pegar fogo ao perceber que ele a encarava, como se tentasse adivinhar todos os segredos dela. Luke também desviou o olhar, observando um de seus irmãos se sentar numa cama próxima, falar algo sobre “ extraviar biscoitos de baunilha” e voltar a dormir como se nada tivesse acontecido. Luke sorriu e se virou para Thalassa, que agora, estava guardando pente e toalha dentro do baú com seus pertences.
-Sente falta da Ilha?
-Muita. - Thalassa admitiu, o encarando. - Mas acho que não voltaria. Ainda tem tanta coisa desse mundo aqui que eu quero conhecer…
Luke assentiu, pensativo.
Mais cedo, logo depois que Thalassa tinha saído do Chalé, Luke acordou, gritando, enquanto sonhava com sua antiga embarcação sendo derrubada e atacada por um Tsunami. Quase não conseguia respirar e levou bastante tempo para que conseguisse perceber que não estava se afogando e muito menos, dentro do Princesa Andrômeda, com o Sarcófago de Cronos.
Espantando o pesadelo da cabeça, Luke percebeu que Thalassa estava bocejando, com os olhos vermelhos e que, provavelmente, só estava esperando ele sair da sua cama para que fosse aproveitar as últimas horas de sono antes de ter um novo dia. Então, se levantou, desejou um boa noite e andou até sua cama, do outro lado do Chalé.
-Ele está afim de você.
Thalassa, que tinha acabado de fechar os olhos e se enrolado em um cobertor macio, encarou a parte de cima da beliche, onde a menina ainda não reclamada dormia. Tudo continuava silencioso e por um segundo, Thalassa achou que tinha ouvido vozes do além, mas a seguir, a cama rangeu e a menina se debruçou para pendurar a cabeça, de cabeça para baixo, e encarar ela.
-Oi?
-Oi. - A garota sorriu. - Ele está afim de você. Sabia disso?
Thalassa franziu a testa e se sentou, encarando sua vizinha de cama. Ela era loira, com cabelos longos dourados, bastante sedosos e macios. Tinha olhos azuis, mas em um tom bastante diferente dos de Thalassa. Eram claros e discretos. Também tinha sardas em todo o rosto e uma boca bonita, em formato de coração, que harmonizava com o nariz desenhado e pequeno.
Thalassa se lembrava de ouvir o nome Serena e de ouvir que ela tinha cerca de dezessete anos, além de ouvir alguns meio campistas apostando dracmas que ela era filha de Afrodite ou de Apolo. Claro, normalmente, ficava mais fácil chutar quem era seu pai ou mãe do Olimpo, se você sabia se tinha um pai, ou uma mãe, terrenos. Mas pelo que falaram, Serena tinha crescido em um Orfanato, até fazer treze anos e ser adotada. No entanto, há alguns anos, ela tinha fugido de casa, até se deparar com um sátiro que a trouxera para o acampamento. Serena não fazia ideia se ela tinha um pai ou uma mãe.
-Quem? - Thalassa perguntou, após perceber que estava encarando Serena por tempo demais.
-O Luke. - Serena respondeu, ainda pendurada tal qual um morcego. - Você não consegue sentir?
Thalassa franziu a testa ainda mais, sentindo as primeiras rugas chegando.
-Sentir? Como assim?
-Dá para sentir. Não dá?
-Não?
-Ah…
Serena entrou de volta na cama e ficou em silêncio. Thalassa se sentou. Sem saber se a menina tinha dormido, ela comentou:
-Ele não está afim de mim. Ele só… Tem que ficar de olho em mim… Sabe? Eu meio que sou a missão pessoal dele…
-Se você diz… - A Voz de Serena soou, indicando que ela ouviu.
Logo após, Serena se pendurou de cabeça para baixo novamente. Olhos azuis encontraram olhos azuis e Serena sorriu, simpática, fazendo Thalassa sorrir em resposta.
-Alguém já disse que você parece com uma sereia? - Serena perguntou.
-Já… Inclusive, vivem me comparando à Ariel.
-Legal. Me comparam com a Cinderela.
-Legal…
-Você ainda não foi reclamada, não é?
Thalassa negou, vendo Serena se ajeitar na cama e, logo a seguir, começar a descer a beliche. De repente, a menina se sentia muito bem acordada e sem sono algum e até gostou que Serena puxasse assunto. Não era uma coisa que acontecia com frequência, na verdade, Thalassa só não sabia se era por ser mais velha que todas aquelas crianças ou por ter Luke prostado em seu lado, quase como um cão de guarda, na maior parte do tempo.
Serena se sentou ao lado de Thalassa, a observando.
-Você poderia ser filha de Afrodite, talvez. Ou de…
-Ah, não… Eu tenho uma mãe. - Thalassa respondeu, dando de ombros. - É um deus, aparentemente.
-Hmmm… Apolo? Mas ele tem cabelos louros… Se bem, que o genes ruivos pode ter vindo da sua mãe, porque eu não me lembro de Nenhum deus ruivo…
Thalassa deu de ombros, abraçando os joelhos. Então, reparou em uma fina, mas comprida cicatriz no rosto de Serena, cortando desde a testa, até debaixo do queixo. Mas antes que sua curiosidade falasse mais alto, Serena apenas perguntou:
-Já imaginou que desastre que seria, se você fosse filha de Hermes?
-Hermes? Por que seria um desastre?
-Oras, porque aí, você seria irmã de Luke, né?
-Acho que eu ia gostar de ser irmã dele… - Thalassa refletiu, com um pequeno biquinho na boca.
-Quantos anos você tem? Os meninos disseram que você tem quase trinta, mas é simplesmente impossível! Olha essa pele e essa aparência… Você tem vinte, no máximo, não é?
Thalassa negou, fazendo Serena se espantar, arregalando os olhos azuis, mas não explicou que Quíron tinha a teoria de que nas Ilhas Elysian o tempo passava diferente, o que poderia explicar tanto sua aparência mais nova, quanto a longevidade dos semi-deuses e habitantes da Ilha. Se não, teria que falar da Ilha para Serena e Quíron a orientou a não fazer isso, por enquanto.
-E você? Quantos anos tem? - Thalassa devolveu a pergunta para meio que mudar de assunto.
-Acabei de fazer 18 anos. Eu fiquei meio insegura de vir para cá porque o Sátiro que me resgatou, Olivapan, disse que normalmente o Acampamento era para jovens e crianças, mas eu meio que estou espantada de quanta gente da minha idade tem aqui…
-Luke disse que eles estão… Hm… Dando mais estrutura para que os Semi-deuses saiam, o que faz com que alguns fiquem por mais tempo. - Thalassa explicou. - Ele também disse que haviam inúmeros semi-deuses que não sabiam que eram semi-deuses ou quem eram seus pais por se tratar de deuses menores, mas esses também são obrigados a reclamarem seus filhos, então…
-É, maneiro, né? Pelo menos, por mais que demore, vamos saber quem são nossos pais!
Thalassa concordou, tentando repassar todos os nomes de deuses masculinos na mente, se perguntando qual deles seria, mas desistiu. Ficar ansiosa não adiantaria nada. Ela já tinha vinte e seis anos e nunca foi reclamada, não era agora que seria, certo?
-Desculpa se eu fizer muitas perguntas. - Serena comentou quando viu Thalassa bocejando. - É que tem tanto tempo que tenho me virado sozinha e você parece ser legal… E eu sempre gostei de falar, sabe? Mas se eu estiver incomodando você, é só dizer que eu paro!
-Relaxa, Serena! - Thalassa sorriu, a tranquilizando. - Eu também ando bem sozinha ultimamente, tirando Luke e Pomenio.
-Quem é Pomenio? - Serena olhou ao redor, talvez, imaginando que fosse algum dos meios campistas daquele Chalé.
-O Sátiro. Um dos, no caso…
-Ah, sim… Bem, eu não me importaria nem um pouquinho de andar com você! - Serena respondeu, soando muito feliz. - Posso?
-Claro! Sem problemas!
-Ótimo! - Serena sorriu e Thalassa teve a impressão de que o sorriso dela poderia iluminar o mundo inteiro. - Acho que vamos ser grandes amigas, Lassie!
Thalassa gemeu e afundou o rosto no joelho, xingando as próximas gerações de Luke, já que ele vivia chamando ela assim, então, logicamente, os outros também achavam que podiam chamar. Mas não pensou nem mesmo em reclamar, já que Serena voltou para a sua cama, parecendo bastante feliz e animada em fazer uma nova amiga, mesmo que essa amiga em questão, fosse uns oito anos mais velha.
O Sol nasceu quinze minutos depois. Ou pelo menos, essa foi a sensação que Thalassa teve ao ser tirada da cama com um puxão em seu cobertor. Resmungando, a garota tentou pescar o cobertor novamente, mas Luke estava de bom humor e apenas riu, jogando o pano no chão e cantarolando:
-Vamos acordar, Bela Adormecida?
-Mais cinco minutos! - Thalassa resmungou, tampando a claridade com o travesseiro.
-Nem mais meio segundo, Lassie! Eu não mandei você ficar acordada de madrugada, viu?
-Argh! Me deixa, Luke…! - Thalassa resmungou quando Luke tirou o travesseiro do rosto dela.
Luke esperou por dois minutos para que Thalassa sentasse e terminasse de fuzilar o garoto com os olhos. Quando ela parecia menos disposta a voltar a dormir, apesar dos olhos azuis estarem vermelhos de sono, Luke cruzou os braços e anunciou:
-Vou patrulhar as fronteiras do Acampamento hoje e quero que você vá comigo.
-Por que? - Thalassa resmungou, erguendo o corpo da cama como se alguma força de atração a mantivesse presa lá.
Por alguns segundos, Luke se perguntou se Thalassa poderia ser filha de Hypnos, mas tinha outra teoria que encaixava melhor nela.
-Porque, sim.
Como se isso fosse resposta suficiente, Luke saiu de perto de Thalassa murmurando um “Te vejo em cinco minutos”, o que fez ela revirar os olhos, enquanto prendia o cabelo. Cinco minutos… Se Luke queria tanto assim a companhia dela em um domingo de manhã, pelo menos, ele iria esperar que ela tomasse banho e se vestisse.
Vinte e cinco minutos após o horário estipulado, Thalassa se arrastou para perto da Fronteira do Acampamento, onde um Velocino - Sim, O Velocino!- era guardado por um Dragão enorme, mas carinhoso com os alunos. A primeira vez que Thalassa viu o bicho, ficou extasiada mas o medo de se aproximar foi maior, porém, quase dez dias depois, agora era já se permitia fazer um leve afago no dorso do mesmo.
-Você conseguiu chegar no quintúplo do tempo que eu te pedi! - Luke reclamou, desencostando de um arbusto.
-Eu nunca disse que ia chegar em cinco minutos, Luke. - Thalassa deu de ombros, jogando os cabelos ruivos e úmidos para trás. - Então, como se Patrulha a Fronteira?
Luke não respondeu, apenas deu de ombros e se pôs a caminhar bem no Limite do Acampamento, com Thalassa o seguindo. Segundos depois, ela entendeu mais ou menos o que ele estava fazendo: Procurando lugares onde a Fronteira poderia ter uma brecha ou onde havia pouca magia. Só de pensar em andar através da Fronteira inteira com Luke, em silêncio, Thalassa já tinha se arrependido de levantar.
-Então… - Pigarreando, ela puxou assunto. - Eu posso perguntar porque você… Hm… Tipo…
Luke franziu a testa, assentindo para que ela prosseguisse, sem tirar os olhos da barreira.
-Por que você ainda está no Acampamento? Quer dizer… Você é o mais velho daqui, não é?
Luke parou, obrigando Thalassa a parar. Ela achou que tinha sido pela pergunta, mas Luke apenas anotou algo na prancheta que, ao ler por cima do ombro dele, Thalassa percebeu que eram as coordenadas onde a magia estava mais fraca, como se fosse uma fenda. Ela encarou o local indicado, mas não conseguia ver nada que indicasse isso, então, apenas pensou em perguntar novamente ou perguntar outra coisa. Mas, então, Luke respondeu:
-Alguém tem que tomar conta desses Meio-Campistas.
Thalassa voltou a andar quando Luke também andou.
-Hm, mas… É que tipo…
-O que? - Luke questionou, finalmente, a encarando de lado, com uma sobrancelha erguida.
Thalassa hesitou, mas mesmo assim, sua curiosidade a venceu. Além disso, ela não conseguia filtrar muito bem os pensamentos e acabava, às vezes, falando tudo que passava pela cabeça, o que resultou na pergunta:
-Ouvi umas meninas do Chalé de Hécate comentando que você estava aqui como castigo por algo que fez e que achavam que você era igual Dionísio… Sabe? Só ia poder sair depois de tantos anos e… Uma delas estava cogitando perguntar o que você fez e quanto tempo tem que ficar aqui. - Thalassa piscou, então deu de ombros e pôs as mãos para trás, sorrindo. - Claro, são as meninas de Hécate que querem saber, não eu. Mas também… Se quiser me contar… Ou desconfirmar também, vai que não é verdade e…
-É verdade.
Thalassa arregalou os olhos azuis e encarou Luke, surpresa. Ele continuou falando, mas pela expressão no rosto dele, era um assunto que não o agradava e Thalassa se arrependeu de perguntar.
-Só não é verdade que tem um prazo, como o Senhor D tem. Eu vou ficar aqui, cuidando das Crianças do Acampamento e “ mostrando que eu me arrependi e mudei “ até os deuses julgarem necessário. É basicamente um “ Não te matamos, mas vamos limitar sua existência e fique agradecido pelo favor”... - Luke fez aspas com a mão livre e forçou um sorriso. - Não posso dizer que é a pior existência do mundo, mas… Também, não é a melhor.
Thalassa piscou, incerta se deveria insistir no assunto, mas sua língua foi muito mais rápida e ela voltou a seguir Luke pela barreira.
-O que acontece se você tentar sair?
-Não sei. Mas imagino que Zeus vá tentar me fulminar com um raio. Ou que Hades leve minha alma para o Submundo mais rápido do que eu pisque. Vai saber… Nunca tive curiosidade para descobrir.
Thalassa torceu os lábios, olhando ao redor. Estavam já na altura do ínicio da Floresta e Thalassa suspirou, antes de enfiar as mãos nos bolsos da calça jeans.
-O que você fez?
Luke não parou. Tampouco, respondeu. Seu maxilar tensionou, fazendo Thalassa reparar na linha da mandíbula dele.
-Não pode falar?
-Não quero falar sobre isso. - Luke respondeu, um pouco ríspido. - E agradeceria se você não saísse por aí falando sobre ou perguntando, okay?
Thalassa torceu o lábio, assentindo. Mas isso teve efeito contrário sobre ela, infelizmente, e agora, mais do que nunca, Thalassa queria saber o que tinha acontecido. Quer dizer, ela sabia que Dionísio perseguiu uma Ninfa proibida. Luke teria feito algo semelhante? Bem, Dionísio tinha sido condenado a tomar conta das crianças por cem anos - 48 agora - mas podia sair. Já Luke disse que, talvez, Zeus o fuzilasse com um raio, o que poderia ser tão sério a ponto dele ser ameaçado de morte por um deus?
Thalassa começou a pensar nela. Tinha desafiado Nêmesis e, provavelmente, a deusa estava com raiva dela, mas se quisesse matá-la, já teria matado, correto?
Coincidentemente, Thalassa não viu um galho de árvore jogado no chão e, enquanto pensava nisso, prendeu o pé no mesmo, fazendo com que perdesse o equilíbrio. A queda só foi registrada pelo seu cerébro, no instante em que sua testa bateu em uma pedra e Thalassa ouviu a voz de Luke.
-Caramba! Você está bem, Lassie?
Thalassa se virou, no chão, pondo a mão na testa. Tinha algo úmido e quente e quando ela encarou os dedos, percebeu que estava sangrando. Xingando todos os xingamentos que sabia, ela deixou Luke a sentar no chão, sentindo a pontada dolorida do local da pancada.
-Está muito feio?
-Foi superficial. - Luke a acalmou, dando uma olhada no ferimento. - Como que você conseguiu cair sozinha, sua tonta?
Thalassa revirou os olhos e deu de ombros, chutando o galho para longe do seu pé, com raiva. Mas pelo menos, Luke já nem parecia lembrar que Thalassa o encheu de perguntas, o que era algo bom para ela. Conseguia lidar com uma dor de cabeça, mas odiaria que ele a odiasse.
-Foi esse galho. Eu estava distraída.
-Olha, eu sei que é bem díficil para quem tem TDAH, mas tentar não se perder nos seus próprios pensamentos e prestar atenção por onde anda, pode ajudar, sabe?
Thalassa revirou os olhos novamente e deixou Luke a levantar do chão, olhando ao redor, como se ele estivesse procurando por algo.
-Vem, vamos lavar esse ferimento aí antes que infeccione…
-Não precisa, Luke. É só um machucadinho… Já tive piores.
-Eu sei. Mas você está sob minha supervisão, lembra? Vem logo, Lassie! Seja uma boa menina e obedeça seu don…! Ai!
Luke soltou uma risada quando Lassie enfiou o cotovelo nele, com força, mas, embora estivesse irritada pela preocupação excessiva e pelo apelido, ela o seguiu até o lago, ainda patrulhando a barreira. Thalassa usou a água para limpar a testa e o sangue que escorreu até sua bochecha, se sentindo melhor quase que instantâneamente, enquanto Luke a observava de longe.
Thalassa apenas ficou alí, sentindo a temperatura do lago entre seus dedos e com o rosto molhado e limpo por alguns segundos antes de criar coragem e se levantar para continuar a patrulha. Ela, com toda a certeza, não reparou, mas Luke, sim. Afinal, quando levantou do Lago e caminhou em sua direção, Thalassa não tinha mas ferimento algum em sua testa.
Oiie, Xuxus! ❤️
Nossa, nem acredito que a série finalmente acabou. Eu juro que queria mais uns 20 episódios, de verdade!
O que vocês acharam dela, no geral? Eu fiquei bastante satisfeita, gostei da maior parte das mudanças e inclusive, acho que eles trabalharam muito mais o Luke!
Foi um ponto que você entende quando lê, mas que ficou mais fácil de entender que não é o Vilão mesmo, sabem?
Enfim, me animei essa semana e escrevi uns 3 capítulos, então decidi vir postar mais um para vocês e esse é um pouco mais paradinha em relação aos outros, mas pelo menos...
Tivemos a apresentação da Serena, que é MUITO importante e tivemos uma conversa com Luke (que também vai ser bem importante). Ah, e não podemos esquecer da água curando a Thalassa bem no finalzinho hehehhee
De quem será que ela é filha, gente? Nossa, vai ser uma surpresa quando descobrirmos KKKKKKK
Enfim, terça feira não temos mais PJO, mas teremos capítulo dessa fanfic!
Espero que estejam gostando dela, tô trabalhando com bastante carinho em casa cena escrita!
Até terça! ❤️
Beijos 💋 💋
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