Hospital Room
— Meu Deus, Lou! Não é assim que as coisas funcionam — a voz de James está desesperada, e eu imagino que ele está no escritório dele em Nottingham Cottage se esforçando muito para se manter calmo — Você é uma pessoa com deveres. Você não decide que vai viajar e tirar um tempo para si sem avisar ninguém.
— Eu estou te avisando — digo e isso sou só eu tentando amenizar a situação.
— Depois de já ter saído de casa. Você está em Heathrow! O que eu vou falar para o Jason? Meu Deus... O que eu vou falar para o William?
— Ele vai entender — eu sei que ele vai. O que me preocupa é o meu pai.
Isso realmente me preocupa, mas eu não comento nada com James.
— O que você não pode dizer do seu pai — ele diz e eu reviro meus olhos, porque ele me conhece bem demais — E isso vai chegar na Rainha.
— Eu tenho certeza que ela tem coisas melhores para se preocupar.
— Eu não diria isso. Ela é a sua avó, e ela se preocupa bastante com tudo que envolve você e seus irmãos. Você, você vai voltar antes do natal?
— Provavelmente.
— E o que eu digo quando me perguntarem para onde você foi? Eu falo a verdade?
— Não, só... Só diz que eu precisei de um tempo. Eu não vou demorar, eu juro.
— E o Jack? — James pergunta, e pela primeira vez eu lembro dele.
Eu tenho um namorado. E isso desapareceu totalmente da minha cabeça.
— Eu vou mandar uma mensagem para ele. Eu vou, não sei, vou tentar explicar o que está acontecendo.
— Você vai explicar que está indo para New York com a garota que você está gostando e que por sinal também gosta de você e que vocês se beijaram e agora provavelmente vão tentar alguma coisa?
— James... — suspiro pesadamente — Não faz disso algo mais difícil do que já é.
— Você namora.
— E você acha que eu não sei? — me irrito e meu tom aumenta um pouco, não muito, mas o suficiente para deixar claro que eu estou cansada.
— Desculpa — James diz — Eu só quero o melhor para você, e eu espero que você aproveite a viagem mas uma hora você precisa voltar pra cá. A sua realidade é essa aqui.
— Eu sei, e eu vou.
— E você precisa terminar tudo com o Jack — ele diz, e eu penso em dizer algo mas ele é mais rápido — E você sabe que precisa. Isso não é justo com ele, isso não é justo nem com você.
— Eu vou fazer isso.
— Certo, bem, eu preciso ir. Uma princesa saiu sem avisar ninguém e está prestes a pegar um voo rumo à New York, e agora eu preciso cuidar do caos que isso vai se tornar — ele diz, o tom dele é calmo, e eu sei que ele está tentando deixar tudo mais leve — Nós conversamos depois, ok!?
— Aham. Até depois!
— Tá tudo bem? — Taylor pergunta assim que eu guardo o celular de volta no bolso do meu casaco.
— Não exatamente. Eu não costumo fazer esse tipo de coisa, e eu nem deveria. Mas tudo vai se resolver.
— Você sabe que não precisava vir comigo, né!? Eu quero muito isso, mas se significar problema para você-
— Tá tudo bem — eu reforço e então entrelaço minha mão direita a esquerda de Taylor, e sorrio de leve, e ela então sorri de volta.
Estamos no avião avião particular dela, e isso nos deixa confortável o bastante pra nos aproximarmos. Então quando vejo, Taylor se inclina, e eu faço o mesmo, deixando um beijo calmo nos lábios dela.
É tão errado, por toda a questão com Jack.
Mas ao mesmo tempo parece extremamente certo.
• • •
James: As coisas estão estranhamente bem. Eu dei a desculpa de que você está na Escócia, em Balmoral. Avisei o Staff do castelo para que confirmem a informação caso perguntem de você, e corroborem a história de que você está lá porque quer um tempo para si. Todo mundo aqui aceitou bem mas eles esperam te ver em duas semanas, então eu espero te ver em duas semanas.
James: Duas semanas e é isso.
Lou: Ok, em duas semanas eu volto para casa.
James: Ah, e você precisa ligar para o Jack. Ele já sabe da "história" de que você está em Balmoral mas é bom conversar com ele.
Lou: Eu vou tentar fazer isso.
Lou: E obrigada, J. De verdade
James: Eu sou seu amigo antes de ser um funcionário da coroa britânica. Isso que eu tô fazendo não é nada.
James: Fica bem, ok.
Lou: :)
— É o James? — Taylor pergunta, e pela primeira vez desde que entramos no carro eu tiro os olhos da tela do meu celular e a encaro.
— Sim... E, hm, nós temos duas semanas — eu digo — Foi o que ele conseguiu.
Ela sorri de leve e então diz:— Eu preciso resolver algumas coisas aqui na cidade mas o que acha de irmos para Utah? Tem esse resort incrível e nessa época do ano é realmente lindo. Eu acho que a gente precisa de um lugar mais afastado, então... — ela dá de ombros.
— Eu acho ótimo — é tudo que respondo.
E dois dias depois estamos entrando em uma das cabanas privativas do Deer Valley Resort, em Park City, Utah.
Os primeiros dias no lugar são realmente incríveis. Fazemos tudo que podemos fazer, e aproveitamos que ninguém sabe que estamos ali.
Ninguém além de James e a equipe de Taylor. Claro.
É uma manhã extremamente fria. Taylor está tomando chocolate quente direto de um copo branco descartável, e nós estamos prestes a tentar algo que eu não faço há algum tempo.
— A gente vai descer aquilo mesmo? — eu pergunto cerrando os olhos, tentando ver melhor.
— Você está com medo? — eu sei que ela está brincando e eu reviro os olhos, ainda que ela não perceba.
— Sério? — meu tom é irônico, e Taylor ri de leve quando me escuta.
— Nem é tão difícil — ela dá de ombros — É só uma descida. E nós vamos fazer isso juntas.
— Uau, você me tranquilizou muito agora.
— Como alguém consegue ser tão irônica assim?
— Sei lá, metade das coisas que eu digo saem nesse tom.
— É, eu sei — ela diz e eu reparo que ela deixa o copo descartável, agora vazio, em uma das lixeiras que tem ali por perto. Taylor volta a se aproximar e dessa vez se inclina na minha direção, levando as mãos até o meu rosto. Ela ajeita a proteção que eu estou usando e se aproxima o suficiente para deixar um selinho em meus lábios - eu acabo sorrindo com o contato, e ela sorri de volta — Vem, vamos. Eu te ensino a esquiar.
— Tay, eu faço isso desde pequena — digo e ela arqueia as sobrancelhas — Ok, eu fiz muito isso quando era criança e já tem um tempo desde que não faço mas... Mas eu ainda sei — dou de ombros — Quero dizer, eu acho que lembro como fazer isso.
Certo, eu não me lembrava.
E isso fica muita claro quando tento fazer um dos movimentos básicos para frear. As pontas dos meus pés estão viradas para dentro e eu sei que a única coisa que preciso fazer é abrir bem as pernas e fechar os esquis para dentro, sem cruzá-los.
Eu faço isso.
Mas faço isso sem jeito, e muito antes do que deveria fazer.
E quando vejo estou no chão.
— Meu Deus, Lou! — a voz de Taylor toma meus ouvidos e eu estou confusa demais para entender o que está acontecendo. Minhas visão está levemente embaçada e eu só entendo o que realmente aconteceu quando sinto a mão da garota em meu rosto.
Quando ela me encara eu sei que a minha situação não é a melhor, e quando eu desvio meu olhar para a minha roupa e vejo alguns pingos de sangue eu só tento não me desesperar, porque sei que isso não vai dar em nada.
— A gente vai precisar ir pro hospital? — eu pergunto, e meu queixo dói demais quando faço isso.
Taylor não tem ideia do que dizer e apenas balança a cabeça positivamente.
— Tá muito feio?
— S-Só tem muito sangue.
• • •
— Pronto... Vinte pontos — o médico diz assim que termina a sutura — O efeito da anestesia não deve demorar a passar então isso talvez doa um pouco, provavelmente não vai doer mas caso aconteça, hm, eu já vou receitar alguns medicamentos e... — ele desvia a tenção do meu rosto e alcança um pequeno bloco de notas no jaleco — Limpa isso bem, ok!? Eu vou receitar uma solução aqui e você vai utilizar uma gaze umedecida com ela e limpar a ferida em forma circular. Tenta começar por onde se encontram os pontos de sutura e então esterilizar toda a área em volta, sempre de dentro para fora — ele termina a explicação bem no tempo em que Taylor entra na sala de emergência carregando um expressão preocupada — Eu acabei por aqui. Caso apareça alguma dúvida, é só me chamar — ele sorri de leve e se despede antes de deixar o espaço — Eu volto daqui à pouco pra te liberar.
— O James falou incessantemente por doze minutos — Taylor comenta se posicionando do meu lado.
Eu quero mesmo falar alguma coisa, porque quero saber o que James disse.
Sei que Taylor precisou ligar para ele para perguntar algumas informações sobre mim, por conta da entrada no hospital.
E isso é quase péssimo. Porque agora algumas pessoas sabem aonde eu estou.
Não sei se é saber disso, se é meu queixo ou qualquer outra coisa mas quando vejo estou chorando.
Não é um choro alto. Apenas algumas lágrimas escorrem do meu rosto, e Taylor tenta entender o que está acontecendo mas eu mal consigo falar.
Então continuamos assim até o médico voltar e me liberar.
No tempo que entramos no carro eu pareço mais calma, não estou de verdade, e isso é claro assim que colocamos os pés na cabana em Deer Valley, porque meu choro volta mais uma vez.
E dessa vez Taylor derruba algumas lágrimas, provavelmente sem saber como lidar com toda a situação.
Mas isso nem eu sei.
O céu já está escuro, e eu sei que passamos praticamente a tarde inteira no hospital. Eu estou cansada, mas ao mesmo tempo minha mente parece cheia demais para que eu consiga fechar os olhos.
Me pego nos braços de Taylor, na cama, com a cabeça no peito dela, enquanto ela faz um carinho calmo em meus cabelos, e eu suspiro de leve. Tentando me acalmar.
— Só... O que tá acontecendo? — a voz dela toma o quarto, ainda que ela fale baixo. Mas o silêncio é tão grande que a sensação é de que a pergunta ecoa.
— Eu só fiquei com medo — comento — O pessoal do hospital, eles sabem que eu estou aqui.
— Babe, isso... Isso não vai causar problemas — ela assegura — Eles sabem que você está aqui mas eles não vão comentar.
— Como você tem certeza disso? — pergunto, e minha voz ainda está embargada.
— Eu não tenho certeza de nada mas eu acredito mesmo que eles não vão comentar sobre isso.
— Eu só, s-só deixei coisa demais pra trás antes de vir pra cá e eu não quero ir embora, ficar longe de você, mesmo sabendo que preciso. Eu nunca fiz esse tipo de coisa, Taylor... Eu sou aquela que tem medo de dizer um "a" errado por conta do que isso vai causar. Se descobrirem que eu fiz o James mentir e inventar que eu estou Balmoral, isso vai- isso é péssimo!
— Nada vai acontecer — ela diz, totalmente calma — Olha, porque não nos deitamos e amanhã, assim que o sol nascer, nós pegamos meu avião e voamos pra casa? Pra sua casa? Eu só... Eu só quero ficar com você, e por agora mais nada me prende aqui nos Estados Unidos, então...
— Você faria isso?
— Claro, Lou.
Eu balanço a cabeça positivamente, e não digo mais nada. Taylor suspira de leve e nós continuamos ali.
Eu não consigo dormir realmente, e Taylor também não, então quando o sol nasce nós estamos ainda deitadas.
Eu estou perdida no momento em si.
Eu ainda estou com medo.
E eu sei que o olhar dela está em mim.
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