Capítulo Oito
Levi Prescott:
Ciel começou a chorar em cima de mim, ao mesmo tempo que dava tapinhas em Spike e Thackery, mas devo dizer que ele não tinha muita força, o que fez chorar ainda mais para a situação. Sendo que, para os espíritos raposas, ele ainda é uma criança que não controla sua própria força ou nem sabe como usar.
— Meninos, parem com isso agora mesmo! — alguém gritou, e os rapazes pararam.
— Foi ele que começou? — Spike choramingou.
Olhei para ele, chocado com esse lado infantil dele. Thackery revirou os olhos. Vi que os dois senhores estavam olhando na minha direção, preocupados com o que aconteceu e com medo de que eu fosse fugir ou xingar alguém nessa situação. No final, só queria abrir esses dois idiotas que me derrubaram, além de dar um murro no meu namorado com toda a minha força.
— Quem é esse rapaz? — Cilas perguntou, curioso, olhando para mim, que estava levantando do chão com Ciel em meus braços, ao mesmo tempo em que tentava fazer Ciel parar de chorar com carinhos. Ele me abraçou na bochecha e olhou com raiva para Spike e seu irmão. Vou dizer que isso foi fofo, ainda mais com as orelhas de raposa surgindo acima da sua cabeça, o que me fez querer fazer cafuné nela.
Spike chutou o gato e veio bem rápido até o meu lado com uma expressão de desculpa surgindo em seu rosto, mas se manteve afastado. Só olhei para ele, sabendo que minha resposta seria um soco na cara.
— Sou Levi Prescott — falei, estendendo a mão, e Cilas me analisou antes de me puxar para um abraço.
O cheiro dele me fez lembrar de uma tarde-noite relaxante da minha infância, junto do meu irmão. Ao mesmo tempo, me surpreendeu, como se houvesse mais uma lembrança, e murmurei algo sem sentido. Notei que Ciel ficou ainda mais chocado, com um brilho de alegria nos olhos.
— É ele? — Cilas perguntou, afastando-se e me analisando.
— Sim, esse é o meu predestinado! — Spike disse, cheio de orgulho.
— Ele parece... — Cilas começou, mas sua voz foi cortada.
— Mundano... — Darwin disse friamente, com os olhos brilhando perigosamente.
Só o encarei, mantendo uma expressão neutra. Quem ele pensa que é para me olhar com esse jeito superior? Então, eu travei ao perceber que isso não era um pensamento que eu deveria ter se quisesse ir até ele e destruir essa expressão.
— Ele não é mundano, é um titã — Spike disse, pegando na minha mão.
Sei que ele não quer contar que sou humano, para me proteger. Mas ao ouvir que ele disse isso de mim, até que doeu.
— É um prazer conhecer você, Levi — Cilas disse.
— Um titã, que coisa fantástica — Darwin disse, vindo me abraçar. — Nunca tivemos um assim, no meio da nossa espécie.
Cilas e Thackery voltaram à sua forma humana e o impediram.
— Vamos esquecer isso, foi tudo um mal-entendido, vamos entrar que estão todos esperando lá no interior da vila. O almoço está quase pronto, e vocês podem ir para o quarto e tomar um banho enquanto isso, afinal, devem estar cansados — Cilas disse.
— Também quero ouvir as histórias do Spike no mundo humano. — Thackery disse, e os olhos brilharam divertidos.
Thackery pegou meu braço e o de Spike. Assim, entramos ainda mais nessa outra caverna, os irmãos ficaram conversando entre si, ou melhor, brigando um com o outro. Enquanto Ciel ainda me olhava com uma certa expectativa.
Em determinado momento, na mão de Thackery, brilhou um tom prata, e ele jogou um dedo para cima.
— Fiz um feitiço que vai impedir ele de nos ouvir. Então, ele é mundano. — Thackery disse calmamente, e mordi o lábio. — Claro que não vou contar para o pai Darwin, mas devia ter esfregado alguma coisa sobrenatural nele... — Ele me olhou e fez uma expressão estranha que me deixou confuso. — O que aconteceu com a sua pele agora que ela está um pouco mais brilhante do que antes?
Spike não estava dizendo nada para o irmão, só mordeu o lábio. Olhei para os meus braços, estavam normais, e balancei a cabeça, dando de ombros.
— Por que o seu pai odeia tanto os mundanos? — perguntei.
— A família dele foi traída por mundanos, séculos atrás. Como deve saber, os anões são conhecidos por serem alguns dos melhores ferreiros; não só têm habilidades naturais para criar armas e joias, como alguns deles também possuem poderes mágicos que usam para adicionar características especiais às suas criações. Os anões adoram metais raros e tesouros, dedicando muito tempo a cavar nas montanhas em busca de mais. São tão habilidosos que criaram alguns dos artefatos mais renomados para deuses e deusas. Quando a família do meu pai foi traída por um mundano que consideravam muito, eles foram feitos escravos até que a tataravó de Darwin se rebelou e o matou para salvar sua família. Desde então, eles nutrem um ódio profundo pelos mundanos. — Thackery explicou.
Olhei para Darwin, que estava conversando algo sério com Cilas, fazendo um gesto de desdém com a mão.
— Eles são assim há gerações e ficam cada vez mais desconfiados com o passar do tempo. Então, não se preocupe. Contanto que ele não saiba que você é mundano, nunca ficará em maus lençóis. — Spike disse, querendo soar animador.
Ciel olhou para Spike como se ele fosse idiota.
— Ele pensou antes de dizer isso? Me recuso a acreditar que não foi isso que aconteceu — Ciel resmungou.
— Seu jeito de ajudar alguém com os problemas é tão exótico. Bafo de dragão. — Thackery disse, o que fez ambos começarem a brigar novamente.
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Adentramos ainda mais na caverna, e quando estávamos virando um local, Cilas informou que era a entrada da vila dos dracos.
Então, ouvi um choramingo. Olhei ao redor e nada; parecia que eu tinha imaginado. Ciel tremeu no meu ombro, e olhamos na mesma direção, vendo algo se movendo pelas sombras, uma cauda de pelagem dourada.
Por sorte, a viagem acabou sendo rápida, e logo estávamos entrando em um local bem chique, onde as casas eram verdadeiras mansões feitas com as pedras da caverna.
Sempre soube que as criaturas sobrenaturais conseguem viver bem com a fauna e flora da região em que moram.
Apesar disso, Spike não aceitou nada deles e foi viver no mundo humano do seu próprio trabalho, uma das coisas que mais admiro nele, por sinal. Contudo, nunca pensei que fosse para tanto.
Thackery também me contou sua origem no meio do caminho. Ele era um menino que vivia com seus pais e sua irmã, Emily. Um dia, ele a seguiu para a floresta, onde ela iria morrer por causa de algum submundano. Quando tentou salvá-la, seus poderes se manifestaram, e com medo do que a família faria, ele fugiu. Foi encontrado por Cilas e Darwin, que o adotaram.
Ele se transforma em um gato preto como símbolo de sua ligação com a magia antiga das bruxas ou o sangue ancestral que existe em suas veias.
— Algum tempo atrás, descobri que meu pai era meu padrasto e que minha mãe é completamente mundana, ou pelo menos ela pensava que era. Nunca descobri de qual clã de bruxos vêm os meus poderes, mas às vezes escuto rumores sobre um clã que se esconde no submundo e lida com esse tipo de magia, semelhante à minha. — Thackery disse e parou no lugar. — Chegamos em casa.
A casa dos pais de Spike era enorme; algumas pessoas se afastavam quando todos passaram, mas notavam minha presença e ficavam curiosas com toda a situação.
A casa dos dracos era impressionante. Construída com as próprias pedras da caverna, era uma mistura de elegância e harmonia com a natureza. As grandes janelas de vidro permitiam a entrada abundante de luz natural, revelando a beleza das esculturas de pedra que decoravam os interiores.
Entramos na casa, e havia algumas fotos dos quatro penduradas na parede, todos sorrindo. Inclusive uma foto de Thackery completamente sujo de fuligem, com Spike ao fundo. Ao entrar, fui recebido por móveis sofisticados e uma atmosfera calorosa. A sala principal exibia tapeçarias elaboradas com padrões mágicos, enquanto candelabros encantados iluminavam o ambiente com uma luz suave e acolhedora.
— Está tudo muito bem arrumado, as Pixies organizaram tudo para ficar ao que pediu nas cartas. — Cilas disse e puxou o marido para ver alguam coisa.
Os corredores pareciam um labirinto encantado, com portas esculpidas em detalhes mágicos que indicavam a presença de quartos e salas especiais. Cada canto da casa exalava a história e a magia da família draco.
Thackery conduziu-me através da casa até um quarto espaçoso com móveis luxuosos e uma cama com dossel. As paredes eram adornadas com quadros mágicos que contavam a história da família draco ao longo dos séculos.
— Este será o seu quarto enquanto estiver aqui — Thackery anunciou com um sorriso amigável. — Sinta-se à vontade para descansar ou explorar. O almoço estará pronto em breve.
Me joguei na cama, e rápido como um foguete, Thackery passou pela porta antes que Spike a fechasse.
— Aqui — Thackery disse, jogando uma pequena planta no meu colo. — Flor de drens, para ocultar o seu cheiro.
A flor tinha pétalas rosas com uma mistura de cinza no centro e media cerca de 5 centímetros de comprimento.
— Isso vai ocultar o cheiro dele para o pai Darwin e possivelmente os vizinhos fofoqueiros? — Spike perguntou.
— Sim, é possível que impeça que eles sintam o seu cheiro a alguns metros. Mas na parte de ficar bem perto, não posso garantir nada. — Thackery disse, e percebi que ele ficou visivelmente desconfortável por isso. — Então, amanhã, na festa de celebração que os nossos pais vão fazer, faça o que for necessário para os vizinhos ficarem longe do Levi.
— Por que está nos ajudando? — Spike disse desconfiado.
— Mesmo que eu te provoque o tempo todo, ainda me preocupo com o meu irmão mais velho. — Thackery disse timidamente, e antes que Spike falasse algo maldoso, dei uma cotovelada nele.
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Depois que comemos, ficamos conversando com Thackery o tempo todo, e o nosso primeiro dia aqui terminou. No entanto, notei que Ciel ficou ansioso com alguma coisa.
— Sinto uma energia estranha nesse lugar — Ciel disse e tremeu por todo o corpo.
Olhei para ele atentamente, mas o mesmo simplesmente ficou olhando para a parede.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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