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Rumo ao Desconhecido

Era óbvio que era desse homem que Mayra tinha medo. Como um sujeito estúpido daquele podia exercer qualquer pressão sobre ela? Ou melhor, ter tanto poder e autoridade?

Elizabeth lutou para manter o pé na realidade. Talvez estivesse imaginando a metade daquilo. Como a viagem a Danica começara azarada e depois só fizera piorar, talvez ela estivesse reagindo em excesso. É claro que estava! Essas coisas não aconteciam nos dias de hoje.

O pai de Mayra acabou com qualquer tentativa de pensamento positivo de Elizabeth. A voz dele era forte e suficiente para amedrontar um batalhão.

— Mayra, já perguntei uma vez, pergunto duas. O que esta mulher fazia no correio?

Como o dono de um cachorro amestrado, ele olhava a moça lá do alto. Ela nem levantava os olhos. Parecia uma criatura boba e anormal.

Seria fingimento? Queria enganá-la? Não, Elizabeth tinha certeza que não. Mayra ficava sem ação junto dele. Ela é que teria que imaginar uma saída. Muito tarde! Ele viu o lenço.

— E isso, de onde vem? — As duas olharam para ele, uma esperando que a outra falasse. — Se você vem do Canadá... você tem carta dos parentes de Mayra, não é?

— É. Trouxe esse lencinho de presente. — Preferia morrer contar o resto.

Mayra, abobalhada, catava moedas no chão.

— Deixe isso, garota. Pegue depois. Agora, vamos falar do Canadá.

Elizabeth, que também estava de joelhos, levantou-se. Mayra encontrou a voz perdida.

— Está aqui. É só isso. Um lenço bonito, não?

Ele abriu o lenço, alisou-o com a mão de dedos sujos, contrastando com a brancura do linho. Deu uma risada má. É claro que não acreditara em uma palavra que haviam dito.

— Talvez tenha outro presentinho, hein? Uma carta desses parentes? Você não veio até Danica, querida... — Suspendeu o queixo de Elizabeth. Ela, involuntariamente, se encolheu. — Não veio até aqui só para entregar um lenço. Uma outra coisinha também, hein?

Graças a Deus, havia escondido o dinheiro. E a carta? Não devia pegá-la.

— Ela trouxe... — Mayra começou a apoiar Elizabeth.

O padrasto curvou-se e agarrou seu punho.

— Sim, meu bem? — O tom era de encorajamento. — Diga, diga o que trouxe.

Mayra calou-se.

— Esta pequena é muito burra mesmo. Igual a seus parentes!... — Disse ele a Elizabeth.

A falta de reação dela mostrou a ele, sem palavras, que Elizabeth não acreditava nisso.

— A cabeça não funciona. Preciso tomar conta da minha querida enteada, não preciso, Mayra? Sabe a mãe dela, é uma rameira que me traiu com o primeiro estrangeiro que pareceu aqui. E o pior que fugiu sem ao mínimo levra os próprios filhos.

A moça tinha parado de mexer nas moedas e estava imóvel, muda como uma pedra.

— Ela é teimosa. Ensino tudo, mas não aprende. Igual a mãe e toda a sua família! Afirmou novamente entre os dentes.

Olhou para Elizabeth, com ar de cúmplice. Ela logo entendeu que o homem queria cativá-la para que colaborasse com ele, ajudando a burra e boba Mayra. Imagine se ia cair numa cilada dessas! Ele agarrou o pulso de Mayra com mais força e perguntou.

— O que tinha dentro do lenço?

A garota precisaria ser muito forte para desafiar aquele bruto enorme.

— Uma carta. Uma cartinha.

— Dê para mim.

— Está por aí. Deixei cair... — Disse Elizabeth, mentindo tão mal que até dava pena.

— E tinha dinheiro, hein? — Parecia uma aranha gigantesca, tecendo sua teia sobre Mayra. Tomou o silêncio de Elizabeth pelo que era: uma fuga da verdade. — E talvez o dinheiro esteja escondido em você? Para não ter perigo, hein?

Elizabeth sentiu um arrepio na espinha. E se aquele homem viesse com aquelas mãos imundas para cima dela? Morreria ao primeiro contato. Mas ele não teria coragem. Olhou Mayra, que não a encarou. É, talvez tivesse coragem...

Ele pôs as mãos nos ombros de Elizabeth, que recuou. Tinha que enganá-lo e não deixar que a aterrorizasse. Fazer o quê? Era necessário e obrigatório se controlar.

Subitamente, ele a largou, deu um passo para trás e começou a observá-la, dos pés à cabeça, sem perder um detalhe.

— Você não é do povo iugoslavo. O que veio fazer aqui?

— Trabalho aqui. Moro com os Stankovie.

Deixou escapar. Queria dizer que era vizinha deles. Não, não queria dizer nada, para não envolvê-los... Por que dissera, então?

— Os Stankovie, donos da ilha Verica? — Tirou as mãos de cima dela. Sua expressão ameaçadora transformou-se na de um patife temeroso pela própria segurança, imaginando quais seriam suas chances.

Elizabeth sentiu o sangue voltar ao rosto. Com aquele homem repulsivo longe dela, era mais fácil respirar. Graças a Deus o nome dos Stankovie queria dizer alguma coisa naquele lugar horroroso! Tinha que se aproveitar disso, controlar-se e usar sangue-frio.

— Tenho um encontro marcado com eles às cinco horas.

— Então, é preciso ir para o barco, antes da maré alta. Um amigo meu leva você.

A última coisa que Elizabeth queria era ser levada a algum lugar por alguém das relações dele. Tentando parecer natural, perguntou a Mayra.

— Talvez você tenha uma amiga que me leve até o porto. Não quero incomodar seu padrasto. E o barqueiro está me esperando.

A garota estava amedrontada demais para responder. O padrasto riu, aquele riso de demônio, para mostrar que não desistiria e ainda controlava a situação.

— Moça, a senhora não está entendendo. Sou o guardião de Mayra, então, o dinheiro que tem para ela é meu. Vou entrar em contato. Não fique tão alegre, que ainda não me viu pelas costas. É por isso que é importante chegar sã e salva a ilha. Não pode acontecer nada com a senhora, até que eu veja a cor do dinheiro.

Mayra desafiou o padrasto. Olhou-o desdenhosamente nos olhos, enquanto abraçava e beijava Elizabeth. Estava lhe dizendo, em linguagem mais expressiva do que palavras, como sentia ter, inadvertidamente, colocado a moça naquela situação, naquela teia sem saída. Elizabeth abraçou-a também.

A adversidade fez com que as duas se juntassem como irmãs, e Elizabeth prometeu a si mesma que, acontecesse o que acontecesse, aquela moça e seus irmãos menores teriam uma oportunidade de sair de sob a tutela do gigante dominador e estúpido.

Ela daria um jeito, ainda não sabia como, mas os tiraria de lá o quanto antes.

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