O Segredo da Ilha Misteriosa - Parte 2
Elizabeth ficou sem graça com a facilidade em enganá-lo. E ia conversar o quê?
Já estava enjoada de História iugoslava. O Sr. Stankovie era tão modesto quanto à sua participação na guerra, que, por mais que ela se esforçasse, não ouviria grande coisa. Ele também estava sem assunto. Elizabeth achou então que, se Natasha sabia sobre Mayra, ele também devia estar informado.
Teimosa como uma mula empacada!... — Como Ellyus tinha dito-lhe anteriormente. —, Começou a amolar o velho, que na verdade, só queria almoçar em paz.
— Ah, é difícil resistir a você. Mayra Broz não é da ilha Danica.
— Eu sabia, eu sabia... — Disse ela, triunfante. O pessoal das outras mesas se virou para compartilhar a alegria com ela.
— Psiu, psiu, Eliabeth! Cada coisa na sua hora!
Ora, incrível! Naquele país, tudo esperava a hora certa. A tradição comandava; não a necessidade individual. Mayra podia crescer, ficar velhinha, apanhando do padrasto, que ninguém iria fazer nada. Elizabeth ficou com ódio.
A vitela e o macarrão do Sr. Stankovie chegaram em seguida como sempre.
— Não quero interromper seu almoço, mas de onde ela vem?
Era óbvio que ele não podia comer e falar ao mesmo tempo.
Sorrindo, paciente, largou o garfo e contou de modo bastante divertido.
— Essa menina foi educada em Bojana até os quinze anos, mais ou menos.
— Até quinze! — Elizabeth explodiu. — Então, como consegue ficar em Danica e aguentar tudo?
O Sr. Stankovie completou sem perder o seu apetite.
— A sujeira, os gatos, os analfabetos? — Ela concordou. — Porque muita gente aqui faz o que pode por suas famílias. Temos tradições e costumes que vocês estrangeiros não compreendem. Bem, com exceção de Ellyus que os assimilou muito bem. Aquele jovem até parece que foi um de nós em outra vida.
— Mas nem é sua família. O homem é o padrasto.
— Sim e não. Ela come a comida que ele dá. Ela nasceu sobre a sua sombra e a mãe o aceitou então...
— Mas ganha cada colherada. Parece que ele não ajuda nada.
— É verdade. Pelo que sei, é bem verdade.
— E também não é verdade que o povo de Danica a trata assim porque se ressente de seu contato com o mundo através dos selos e moedas?
— É. Com certeza, ela fica muito sozinha lá.
— E não tem jeito de fazer amigas. Mora num lugar onde é maltratada. Deve sair de lá imediatamente.
— Não sei, não. Aquele homem não é meu ideal de cavalheiro. Ela vive sozinha. Ele a intimida, mas...
— Então, por que não tomam uma providência? Ou vocês ou qualquer pessoa?
O Sr. Stankovie pôs os talheres ao lado do prato e olhou para ela, como se dissesse: Não é de sua conta minha jovem.
— Em assuntos dessa espécie, Elizabeth, temos que andar muito, muito devagar. Eles podem não ser parentes consanguíneos, mas Mayra é uma boa moça e sabe de sua responsabilidade para com os irmãos menores. Ou acha que ela faria o mesmo que a mãe lhes fez anos atrás. Mayra jamais abandonaria seus irmãos a própria sorte e isso querendo ou não é muito admirável. É preciso o máximo cuidado ao tratar de uma coisa dessas, especialmente em Danica! Aqui, nós não damos um pulo e depois olhamos para trás, para ver a distância da praia. Aquele lugar ainda é regido por leis e regras arcaicas, A maioria da população é ou são descendentes de ciganos. Eles possuem o seu própria jeito de viver e nosso governo respeita isso. Tradição é tradição, e cabe somente a eles mudarem isso!
Não tinha mais nada a dizer, e Elizabeth entendeu. O ritmo de vida ali não tinha nada a ver com o de sua terra. O povo pensava em termos de gerações, e não de cada vida individual. Ainda havia leis, regra e tradições que a maioria respeitavam demais.
— Conhece a expressão: Médico, cura-te a ti mesmo? É o caso. Temos tanta coisa a fazer para colocar a casa em ordem, que não dá tempo de sair por aí, resolvendo os problemas alheios. E muitas vezes, eles é que não desejam essas mudanças. Aprenda Elizabeth a mudança precisa vir de dentro para fora e não ao contrário como o seu povo acredita.
Elizabeth não sabia o que responder. Ela própria teria que dar um jeito na vida de Mayra.
Natasha voltou nesse momento.
— Ah, minha querida filha sem juízo algum. — Disse o velho — Você chegou e me salvou. Se não chegasse agora, eu comeria toda essa ótima comida e ia dormir horas e horas. Sem falar nos bendidots doces que estão me chamando sem parar. Acho que vou ter uma overdose de acúçar em breve. Agora, posso dizer adeus e dar uma voltinha.
Elizabeth nunca o tinha visto deixar de comer um prato cheio de doces antes. Estava saindo de seus hábitos. Natasha parecia tão cansada quanto Ellyus de repente. A pressão naquela casa estava apertando o cerco. Todos pareciam exaustos e nervosos. Parecia que algo em breve iria estourar.
Natasha não deu oportunidade a Elizabeth para comentar nada. Começou a falar sobre tudo, afastou o prato e continuou matraqueando. O que estaria acontecendo?
Por que não almoçava? Afinal, conseguiu arrancar dela uma resposta.
— Comi um pouquinho em casa. Fiz um sanduíche para Ellyus. Aquele teimoso agora está compulsivo em relação a cafá e as tâmaras. Falando nisso, preciso passar no porto e pedir mais algumas caixas delas. Fiz um sanduíche enorme para aquele idiota teimoso. Era bastante grande para alimentar... como é que vocês chamam esse animal... para alimentar uma mula. Ele também é teimoso como uma mula. Deveria ter vindo com a gente. Mas ficou andando de um lado para o outro feito uma fera enjaulada.
— Você subiu o morro todo? — Perguntou Elizabeth, atônita.
— E também comprei as entradas. Faço isso sempre, cresci sendo treinada pelo meu pai e irmão. Antes acordávamos as quatro horas todos os dias e corríamos por uma hora.
Bem, agora ela havia batido o recorde mundial. Podia sossegar. Por que tanta pressa? E tanto falatório? Queria que parasse um pouco, para que entendesse o que estava se passando. Mas, em vez disso, Natasha comentava que, como era aniversário de Elizabeth, Ellyus devia ir também.
Ah, é isso!, pensou Elizabeth. Está querendo me poupar do humor imprevisível dele.
E não era a primeira vez. Depois que voltou tão arrasado e mal-humorado,
Natasha e o pai faziam o possível para que Elizabeth não ficasse sozinha com ele.
Era como ser mimada, e não gostava disso. Será que seu amor por Ellyus era tão visível que estavam achando que se tratava de uma paixonite boba pelo chefe egocêntrico?
Natasha interpretou o ar de Elizabeth como de preocupação para voltar e trabalhar.
— Está pensando na hora? Esqueça. Já disse a Ellyus que hoje quem tomava as decisões era eu. Aquele idiota nunca me escuta mesmo!...
— Natasha, adoro que você tome conta de mim, mas não é preciso. Juro. Você se esquece de que estou aqui como assistente pessoal de Ellyus e que o trabalho dele não vai indo muito bem.
— Sei. Ele... — Sacudiu os ombros. — Essas coisas acontecem. Mas, se a gente se diverte um pouco, tudo melhora. Conheço Ellyus há bastante tempo. Com sua ajuda, talvez dê tudo certo.
O que Elizabeth queria saber não era o tamanho do sanduíche que Natasha tinha feito para Ellyus, nem o modo como ele trabalhava. Queria saber o que estava acontecendo naquele momento. O que o perturbava agora e levava de arrasto toda a família. Jogou uma última cartada.
— Natasha, você também não descansa, não é? Toma conta de seu pai, de mim e de Ellyus. Por que não se cuida?
— Não estou bem? É que, quando venho para está ilha, não tenho cabeleireiro. A massagista é ótima, mas...
— Natasha, você está linda. E sabe que não é isso que quero dizer.
— Um pouco nervosa talvez. Todo mundo fica assim, na primavera. No verão é diferente.
— Você está suportando uma tonelada de tristezas. Não sou tão boba como pareço. Já fui infeliz e tive uma irmã que me ajudou. Não dá para fingir que sou sua irmã? Amo você. Pode me contar tudo que deixa seu coração tão pesado.
Se era possível apagar as luzes do olhar de Natasha, Elizabeth conseguiu. A moça olhava tudo, mas não via nada.
Elizabeth havia dito a pior coisa possível. Sabia muito bem que a ansiedade dela era por causa da irmã. E veio com aquela conversa tonta de fazer de conta que eram irmãs. Ah, como podia ser tão sem tato?
— Talvez seja verdade, Elizabeth. Mas meus problemas são como estradas tortuosas e esburacadas. E as estradas incomodam, mas, sem elas, como poderíamos chegar ao alto da montanha e apreciar a vista? Sabe eu posso parecer diferente, mas só estou cuidado das coisas como a minha irmã cuidava anteriormente. Jordana sim, é a mais forte entre todos. Tudo isso só funcionava por que ela esteve a frente de tudo.
— Eu podia ajudar você a subir o morro.
— Vou me lembrar sempre disso, Elizabeth... Mas tem coisas que só eu posso fazer!... Afirmou ficando séria de repente.
— Mas não vai confiar em mim, não é?
— Você é uma convidada, em nosso país. Precisa aproveitar sua estada aqui e ficar de fora daquilo que não entende.
Era o fim. A aristocrata havia falado, afinal. Queria dizer: Não atravesse a ponte. É uma estranha, apenas tolerada. Não confunda tolerância com amizade. Os problemas pertencem apenas a família Stankovie e a ninguém mais!
Elizabeth sabia que Natasha era uma ótima atriz. Estaria rindo dali a dois minutos.
Mas ela estava muito ferida para continuar ali, fingindo.
Foi embora, e não viu os olhos de Natasha, cheios de lágrimas por ter que cumprir uma promessa feita a Ellyus.
1622 Palavras
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