Ellyus Lancellotti se tornou famoso em poucos nos Estados Unidos e revolucionou a vida cultural como nunca se viu antes

O que faz de um homem um supermodelo?
Uma beleza sobrenatural, claro. Mas é preciso algo mais: um certo carisma, um instinto infalível para a moda, uma resistência de aço e muito sex appeal.

Um simples modelo se torna "super" não só quando fica famoso em todo o mundo, mas também quando passa, de alguma maneira, a representar uma geração.

Todas as décadas têm o seu supermodelo, um ídolo e por que não dizer um deus, do jovem endiabrado magrelo amantes de jogos de computador e livros à peculiar Mania de se afastar das pessoas, ao sucesso estrondoso hoje.

Mas o fenômeno é muito anterior. Foi no início da primavera dos anos 90 que surgiu o primeiro supermodelo do mundo: Ellyus Lancellotti, um gracioso ruivo vindo do interior da Irlanda, foi o mais requisitado trazendo de volta a Era Dourada dos Estados Unidos.

Sua vida foi tumultuado e sua fama chegou ao ápice quando ele foi envolvido como pivô de um assassinato e participou do que foi chamado "o julgamento do século".

Os boatos e revistas especializadas em fofoca só aumentaram a fama de Ellyus, o tornando não só o homem mais desejado, cobiçado do mundo, mas, dando a forma mais inusitada de ganhar dinheiro. O tornando uma marca viva do sucesso.

Entre dois mundos

Ellyus personificou aquela época de várias maneiras. O fim do século 19 foi um período glamouroso de rápido crescimento econômico nos Estados Unidos, mas também foi uma época de considerável pobreza, com a chegada de muitos imigrantes europeus de origem humilde trouxe sangue novo e novas perspectivas.

Ellyus viveu nesses dois mundos. Vinha de uma família modesta de raízes escocesas e irlandesas que se estabeleceu em Los Angeles, nos Estados Unidos. Depois que seu pais morreram num acidente de carro, deixando inúmeras dívidas, sua tia teve dificuldades em sustentar a família e ele.

Numa época, a onde as pessoas viviam com um pé na formal era do Luxo e do Poder e outro nos permissivas Conexões Políticas: o jovem Ellyus vinha de uma família "respeitável" e, aos 14 anos, começou a posar para artistas – o nu artístico –, como uma maneira de ajudar a família com as despesas.

Ellyus se aproveitava de sua aparência fora do comum, mesmo sendo ainda um adolescente, sua beleza impressionava por não aparentar ter 14 anos. Com 1,85 de altura e tórax: 90, peso e formas bem distribuídos.
Quando foi descoberto em Los Angeles, em 1990, sua ascensão foi meteórica. Mas ele também aterrissava em um mundo completamente diferente do que poderia imaginar.

Infelizmente uma tragédia fez com que  Marcello Savalla, cujo principal marchand era o companheiro Astor Casquel, "adotou-o" e o apresentou para artistas e marcas famosas. Ellyus logo se tornou o modelo mais requisitado da cidade.

Ele serviu de inspiração para inúmeras obras de arte, como a famosa escultura Oltre Peccato, de Beatrice Ricci, (hoje exposto no Museu Metropolitan de Los Angeles), e o quadro Promiscuous:  wherever you are (1995), de Dana Nelly Gibson.

Era também um rosto popular nas capas de várias revistas, entre elas as já badaladas Vogue, Elle, Harper's Bazaar, L'Officiel,  V Magazine, Grazia, e A Glamour.
Muitas das quais apenas mulheres eram chamadas para suas páginas principais.

Seu rosto jovem e de linhas suaves tornou-se onipresente. Ele posava fantasiado – de elfo, cigano, deus grego, anjo caído -, em imagens que eram abertamente sensuais, e que tinham algo de pin-up que contribuiu para a popularidade e a fama de Ellyus.

Os ensaios de moda estavam começando a surgir e, quando Ellyus se aventurou nessa seara, seu sucesso foi instantâneo.

As fotografias se popularizaram e tomaram logo o lugar dos pôsteres e calendários. Ellyus era um nome que ajudava a vender revistas e era imediatamente reconhecido pelo público feminino.

Não demorou para ele ser contratado como bailarino no espetáculo Vogue Man, um sucesso da Broadway em 1991.

Ellyus passou a ser o garoto da vez e aparecia frequentemente em colunas sociais e em jornais de fofoca. O próximo passo foi ter um papel de destaque na peça Dazed, uma peça toda por ser bastante subversiva, questionadora e chocante, também na Broadway.

Assim como seus sucessores no mundo dos supermodelos, Ellyus se tornou um ícone na época e personalizava perfeitamente os paradoxos daquele momento. Se tornando também um magnata da Moda em pouco tempo.

A escritora Gandra Ferraz, autora de Celebridades, uma biografia sobre Ellyus, define: "Naquela inebriante primeira Primavera, Ellyus Lancellotti era o Garoto do Sonho Americano, cuja vida refletia o clima intoxicante, ousado e acelerado de uma geração inteira".

Para a autora, o modelo "Encarnou todos os impulsos contraditórios dos desejos mais ousados e proibidos da maioria feminina pelo mundo todo". "Às vezes, ele parecia representar a sentimentalidade dos Pecados Capitais, mas seu sorriso enfeitiçador sugeria algo proibitivo além do imaginário".

Percalços da fama

Para especialistas, um supermodelo representa uma era, como Ellyus Lancellotti

Em seus dias de "Bad Boy", Ellyus conheceu a empresária e socialite nova-iorquina  Adella Stanford, cujo escritório foi o responsável por algumas de suas mais famosas fotos e pôsteres mais icônicos, como o Anjo Caído do arco do Washington Square e o Fruto Proibido da joalheria Tiffany's.

Inicialmente, Stanford era uma figura quase materna na vida do jovem Ellyus. Mas logo eles se tornaram amantes e ele passou a receber dela presentes caros e extravagantes, além de um luxuoso apartamento em Paris.

Foi depois do fim do namoro de um ano e com Ellyus recém-casado com a milionária  e viúva Linda White que tudo pareceu sair dos trilhos para o supermodelo.

Enciumada e "afirmando que Ellyus era perseguido pela modelo Natasha Romanoff", Linda se aproximou de Natasha durante um concerto e a matou com tiros à queima-roupa. Atingindo Ellyus Lancellotti de raspão no ombro.

Ellyus foi a testemunha-estrela em um julgamento tão cheio de revelações surpreendentes sobre os relacionamentos com diversas personalidades (supostamente abusivos com ele, pois o mesmo era menor de idade na época) que um grupo ligado a uma congregação tentou impedir a imprensa de noticiar os detalhes mais picantes.

Ellyus passou a ser chamado de "O garoto do Divã de veludo vermelho", em referência um teste imposto as mulheres que desejavam ser famosas e que muitos agora sabiam que os jovens modelos masculinos também eram impostos tais prática.

Por causa da imensa atenção atraída pelo julgamento, o júri teve de ser isolado – a primeira vez na história judicial americana que esse tipo de restrição teve de ser adotada por se tratar de um jovem com menos de dezoito anos.

Linda White foi condenada ao encarceramento perpétuo em um hospital para criminais com doenças mentais depois dos policiais terem descobertos fotos e demais provas em seu apartamento onde comprovava o envolvimento com drogas pesadas e prostituição.

"Tragicamente, com a mesma velocidade com que foi catapultado para a fama, o primeiro supermodelo, símbolo sexual e celebridade genuína dos Estados Unidos se tornou vítima da mesma cultura que o criou e o consumiu em peso por quatro anos".

Legado póstumo

Ainda assim, como toda pessoa digna de ser chamada de "super", Ellyus conseguiu refazer sua vida como modelo depois de dois anos, se tornou ator de cinema e de teatro e como autor de dois livros de memórias onde revelou seu envolvimento com diversas personalidades.

Assim que conseguiu voltar ao auge, Ellyus investiu fazendo de seu próprio nome uma marca reconhecida mundial e criando um grupo empresarial sólido, abandonando de vez as passarelas.

Junto com as obras de arte e fotografias de Ellyus que ainda existem hoje, foram feitos poemas e peças sobre ele, além do filme De pecado em pecado (de 1995) e o livro, Deixe eu te sentir de Xandra Ferreira, que foi adaptado para o cinema em 3079.

Mesmo mais de dez anos se desfilar pelas passarelas, ele ainda fascina as mulheres.

Seu legado continua vivo e provavelmente se manterá – quem sabe até por mais tempo do que o de supermodelos que seguiram seus passos tanto nas passarelas como no mundo dos negócios.

Mas a vida de Ellyus Lancellotti não acabou aqui, ela apenas está se iniciando.

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