Capítulo 62 - Para o ninho I.
Lantis e Jane ainda tinham mais o que conversar, o tritão sentia vontade de dizer a ela sobre sua história, dividir com a capitã a sua frente as situações que ele passou em sua vida e queria ouvir mais sobre ela, coisas que sabia que ela guardava no fundo do coração, no entanto, quando ele ponderou sobre as palavras que usaria para começar a falar sobre sua mãe uma voz soou forte do lado de fora.
— CHEGAMOS! – Um dos homens anunciava.
Jane percebeu a intenção que ele tinha de dizer algo e esperou, mas, Lantis levantou-se da cadeira e sorrindo Jane fez o mesmo para exercer o papel que lhe cabia.
— Vamos? – Ela disse.
— Vamos. – Ele respondeu.
Ao lado do Alma Negra estava o Dragão Branco, o capitão Soo Yang olhava o mar ao redor usando um monóculo, ele havia dado as coordenadas exatas e sabia que haviam perigos naquele lugar. Talvez se eles dessem sorte por ainda estar calor, as feras abissais que preferiam águas frias ficassem longe da superfície.
Os navios foram emparelhados e o capitão veio falar com Jane, a esta altura Simon já estava ao lado da capitã junto com Lantis.
— Está na hora. – O Capitão disse, os fios dos cabelos pretos de Soo balançavam com o vento, o rabo de cavalo estava preso bem no alto e duas mechas separadas ficavam a frente de seu rosto. Jane sentia-se um pouco incomodada com aquela dança de cabelos e as vezes colocava os próprios cabelos atras da orelha. — Seu sereia está pronto?
— Tritão.
— Como? – Soo movimentou a cabeça levemente para o lado, como um filhote que não entende o comando do dono.
— Ele é um tritão e não uma sereia.
Soo riu. Na verdade, ele já conhecia esse termo há um bom tempo atras, aquela pessoa já havia lhe dito, mas ele ainda usava sereia para todos, não era todo mundo que sabia e ele não gostava de explicar sempre a mesma coisa.
— Certo, o tritão está pronto?
— Estou. – Lantis respondeu.
Soo sorria para ele, mas o tritão não o olhava de volta de tampouco sorria para ele.
— O que preciso fazer?
A pergunta foi direcionada a Jane, mas era certo que seria outra pessoa a responde-la.
— Quando alcançar o fundo, – A voz de Soo era agradável com timbre ameno como quando se conversa com um amigo de longa data sobre as trivialidades do dia a dia. — Você deverá ver uma fenda bastante profunda e larga, eu suponho que no interior dela há uma pequena frota de navios naufragados. Estes navios iam em direção ao Oeste e levavam uma mercadoria muito valiosa e não me refiro à diamantes ou ouro, mas uma família de nobres do Império Central. Eles iam fazer uma visita de cortesia ao Imperador da época, os presentes eram maravilhosos, inclusive havia um baú com pertences do povo da água.
Jane pareceu pensar um pouco, suas sobrancelhas levantaram quando ela concluiu de qual navio se tratava.
— O Estrela Matutina. – Ela disse com pesar. — Capitão Soo, você devia ter dito antes.
— Então você os conhece?
— Já ouvi falar. – Jane disse em direção a Lantis. — Esse navio passou por cima de um ninho de Unagis e dizem que os marinheiros fizeram de tudo para conseguirem capturar um dos filhotes que estava na superficie, o navio foi atacado e as Unagis mataram todos a bordo.
Lantis sabia sobre as Unagis, apenas ainda não havia encontrado com nenhuma.
— Se as histórias forem verdade, as Unagis mantem um de seus ninhos nessa região e não deixam ninguém se aproximar, por isso atacam todos os navios que encontram. Inclusive atacam quem tenta chegar la embaixo.
— Mas quem iria querer chegar até lá embaixo? – Foi Simon quem perguntou.
— Pelos tesouros. – Capitão Soo fez o favor de resolver o questionamento. — São muitos navios que as unagis afundaram e pelas correntesas são levados aquele lugar. São bastante valiosos.
Simon respirou fundo, não gostava muito de Soo e aquele sorriso lhe parecia demais irritante, sempre escondendo a verdade por trás dos dentes brancos.
— O que eu quero não tem nada haver com os navios, mas sim com o ninho que esta por ali perto. É simples, meu caro tritão, - E direcionou seu sorriso para Lantis. — Os marinheiros do Estrela Matutina não conseguiram um filhote, é mesmo muito difícil de ter um, mas o que eu quero é apenas um ovo. Traga um ovo de Unagi para mim e eu lhes darei a pérola do Império da Água.
Simon bufou "Tudo isso por um ovo?" ele diria em voz alta se não soubesse que uma das pérolas que Jane juntava estava em jogo.
O mestre para quem Capitão Soo trabalhava parecia ser um cara excêntrico, era colecionador de objetos valiosos e tinha um gosto peculiar. Uma vez Soo pediu ajuda de Jane para conseguirem um jogo de prata de um dos castelos do Leste, outra vez queria a escova de cabelo de uma das princesas do Norte. Jane o ajudava sempre que podia, Soo tinha informações importantes e trocava ajuda por itens essenciais no navio. A relação deles começou com troca de favores e depois transformou em uma amizade de confiança, embora não costumassem sentar juntos para beber, os dois eram francos um com o outro.
Os preparativos nos dois navios haviam terminado, Jane estava em sua cabine com Simon e Victhor.
— Deixem os arpões prontos. – Ela disse. — Essas Unagis não são brincadeira, quase não se tem informações sobre elas porque ninguém sobrevive pra contar.
— Os tampões também estão prontos, mas não vai dar pra todo mundo. Não tínhamos rolha o suficiente. – Victhor estava com seu caderninho aberto sob a mesa assim como o lápis no meio dele.
Simon mantinha os braços cruzados e cara fechada.
— Se tem alguma coisa a dizer, é melhor que seja antes do Lantis entrar na água. – Victhor ajustou os óculos enquanto olhava para Simon com algum sarcasmo.
Simon passou a mão no rosto, sua carranca fechada e o tom de preocupação.
— O problema aqui é que não sabemos nada sobre essas coisas, Victhor. Se estivermos mesmo por cima de um ninho dessas Unagis, qualquer movimento em falso elas podem subir e acabar com a gente. Não importa quantas espadas ou canhões ou rolhas enfiadas no rabo a gente tiver.
— Na verdade vamos colocar nos ouvidos, Irmão. – Victhor sabia o que o outro queria dizer, mas apontar os defeitos do plano a essa altura não valia de nada. Todos sabiam que ficarem parados naquelas aguas eram como esperar as pedras vermelhas explodirem depois do assovio.
— O que sugere que a gente faça? – Jane questionou a ele.
— Vamos dar um prazo ao sereia e se ele não voltar até lá, a gente dá o fora desse lugar.
Victhor ponderou e quando abriu a boca para falar Jane levantou-se da cadeira e bateu com as palmas da mão na mesa. Ela olhou para Simon estreitando os olhos, balançou a cabeça de um lado para o outro e foi em direção a porta.
— Então vai levar a gente até a morte por causa desse peixe de novo, Jane? - O engraçado aqui, era que apesar das palavras amargas, Simon não parecia verdadeiramente dizer aquilo, era mais como uma implicância do que uma afirmação.
Ela parou com a porta aberta, ao abri-la deu de cara com Lantis, de certo que ele havia ouvido um pedaço da conversa.
— É por isso que somos piratas, grandão. – Jane olhou para Simon e sorriu de lado. — É a única escolha que deixa a gente fazer as merdas todas que precisamos fazer.
Simon parou com a boca aberta, Victhor tocou a mão dele sob a mesa e sorriu.
— É melhor eu pegar um machado maior do que este então. – Ele passou a mão pelo rosto, resiliente. — Estou ansioso para usar aquela beleza que Romualdo me deu.
Jane fechou a porta da cabine com um sorriso no rosto e o tritão refletido em seus olhos.
— Vem comigo um instante. – Ela disse e Lantis a seguiu até a proa do navio.
Próximo ao Alma Negra estava o Dragão Branco e seus tripulantes pareciam tão calmos quanto se estivessem caçando tartarugas em águas rasas. O Capitão Soo que estava conversando com seu Imediato viu Jane e Lantis e acenou para eles com um belo sorriso. Jane acenou de volta de forma mais contida e viu que o tritão fechou a cara para Soo.
— Eu não gosto dele.
— Da pra perceber, Lantis.
Jane apoiou as duas mãos na amurada do navio observando a água lá embaixo.
— Logo já vai amanhecer e você vai entrar.
— Sim.
— Aquele dia eu disse a você que se não concordasse com o que eu estava dizendo que você podia ir embora e você resolveu ficar.
Lantis também olhava para o mar.
— Eu sei que você sabe o quanto é perigoso ficar nesse navio e ser um pirata. Você vai ter muito mais chances de morrer de formas horríveis do que se estivesse apenas sendo livre no mar.
Lantis pos a mão no ombro de Jane e trouxe a atenção dela para si. Jane o olhava preocupada, sua respiração descompassada. Lantis pegou as mãos dela e as segurou.
— Eu entendo tudo isso, acho que você que ainda não entendeu. Eu escolhi estar aqui, eu escolhi ter essa vida aqui com todos. Se há uma vida mais fácil do que essa, deixa para quem a quer, eu não quero. Eu quero ficar aqui. Quantas vezes mais eu vou ter que repetir isso?
— Só espero que esteja ciente do que está fazendo.
— Você quer que eu assine em algum lugar?
Jane olhava para ele, para as linhas de seu rosto, os seus cílios, o contorno de sua boca. Lantis tinha lábios convidativos, suas mãos eram quentes e estar próximo a ele era como mergulhar num balsamo relaxante.
— Ei, você me ouviu?
— Ah, me desculpe. O que você disse?
Lantis sorriu, ele gostava de como a fazia sentir, ainda que não fosse proposital não havia como deixar de ser um tritão.
— Depois, quando eu voltar lá debaixo, – Jane prestava muita atenção ao que ele dizia. — Eu posso dormir com você?
Jane tentou dar um passo para trás, mas as mãos dele haviam passado ao redor de sua cintura e a seguravam com força.
— Posso?
Jane sentiu-se boba, como Clara dizia que se sentia quando conheceu o marido, como Pyra contava sobre os dias que passou ao lado de Sâmela, mas também sentiu ansiedade.
—Pode.
Ao longe a claridade começou a nascer de dentro do mar e logo o sol tingiu a água salgada de laranja e amarelo.
— Está na hora. – Lantis passou a mão pelos cabelos de Jane.
— Você vai conseguir.
Num instante havia um grande movimento no convéns, Lantis e Jane juntaram-se ao pessoal e não custou para que um grande número de tripulantes com e sem pedaços de rolha nos ouvidos formassem um meio círculo ao redor do tritão.
— Boa Sorte! – Gritou capitão Soo de seu navio que agora estava mais próximo do Alma Negra.
Lantis o ignorou e quem estava mais próximo a Soo poderia ver o capitão sorrir como uma criança bagunceira.
O tritão caminhou até a amurada, de lá tirou a camisa que vestia e desceu as calças ficando nu, as botas já haviam tirado fazia tempo. Os outros tripulantes do Alma Negra, aqueles que morreram há tempos já haviam visto Lantis sem roupa, mas até eles iriam ficar surpresos com as mudanças em seu corpo. Os músculos nas costas estavam muito mais evidentes e fortes, seus braços e suas pernas acompanhavam o novo formato e de alguma maneira Lantis ainda parecia esculpido em mármore delicado e suave. O sol da manhã tocava a madeira e o vapor subia impregnando os narizes com aroma do mar, madeira e umidade, no entanto ninguém prestava atenção em nada que não fosse o dourado do sol em contraste com a pele branca do tritão. Lantis deveria ser queimado de sol, ficava tanto no convés quanto todos os outros piratas, mas os raios quentes não faziam nenhum efeito em sua pele, o mesmo poderia dizer sobre seus cabelos nada danificados pela maresia ou a água do mar, ao contrário, pareciam ficar cada vez mais sedosos e brilhantes com o contato deles com a água gelada e profunda do oceano e o que Jane, em particular, mais gostava era a cor que os cabelos dele haviam adquirido, passaram de louro palha e sem graça para um branco cor de nuvem, como Jane gostava de pensar, até suas sobrancelhas e cílios ficaram assim e ela adoraria deslizar os dedos sob eles. Lantis tinha tudo demasiado belo, o corpo, os cabelos, a boca rosada e os olhos azuis cor de mar. E apesar de adorar Lantis como ele era, Jane sabia que ficaria deslumbrada mesmo que todas as suas características fossem o contrário, Lantis seria maravilhoso de todo jeito.
Lantis não precisou de ajuda para subir na amurada do navio, Jane se perguntou se ele estava mais alto também quando o viu de pé na madeira. Aqueles novos tripulantes ainda não haviam visto um tritão e só depois que Lantis virou seu corpo e encarou Jane foi que as respirações puderam ser ouvidas de novo. Ninguém havia percebido quando foi que o ar ficou preso em seus pulmões. E mesmo no navio do capitão Soo, de onde todos observavam, os homens estavam atentos.
Lantis sorriu para Jane, um sorriso tímido, pequenino, ela puxou o ar e deixou que ele saísse pela boca devagar, um movimento leve com a cabeça e Lantis se jogou ao mar. Agora bastava esperar, os piratas dispersaram-se aos poucos, alguns chegaram até a amurada para tentar vê-lo com a cauda, em vão, Lantis já estava bastante profundo. Jane foi a última a deixar o convés, cada pirata já sabia sua posição e todos estavam em estado de alerta. Simon estava na popa, olhos abertos vidrados no mar, sua respiração era pesada como se a qualquer momento uma fera maligna pudesse surgir e arrancar sua cabeça, o que na realidade podia mesmo acontecer. Pyra e Theodora estavam próximas, Pyra tinha uma espada em cada mão e apesar de não querer um banho de sangue Theodora adoraria ver a amiga em ação. Victhor estava no deposito de cargas com alguns outros piratas, estava lá para proteger aqueles que não conseguiram tapar seus ouvidos com o pedaço de rolha, Will havia sido destinado ao convéns, mas recusou-se a deixar Victhor sozinho na parte de baixo e estava lá ao lado dele, Jane entendeu o rapaz, se fosse Lantis ela faria o mesmo. A capitã tomou posição na proa do navio, tinha um grande arpão numa das mãos e a espada embainhada aguardava para ser usada, assim como Simon ela esperava o pior, mas torcia para que não tivesse de lutar hoje.
Enquanto isso, uma série de acontecimentos foram sendo contados pelo povo dos Impérios ao redor das águas. Navios naufragavam sem deixar nenhum sobrevivente, mesmo os barcos pesqueiros passaram a ter histórias de homens que morriam afogados, pescadores a beira do mar e alguns ribeirinhos percebiam movimentos estranhos na água e aqueles que insistiam na pesca poucas vezes voltavam para casa. A causa de tudo isso era única e estava na boca de todos: as sereias.
Os donos das Ilhas Flutuantes legalizadas pelos Impérios começaram a pedir escolta em suas atividades e a Marinha Imperial estava tendo muito trabalho com a demanda de serviços. Além da busca pelos piratas, além dos ataques das feras, agora teriam que lidar com mais essa. As Ilhas clandestinas ou aquelas que não eram agraciadas com a boa vontade da Marinha passaram a ter que lidar com os próprios problemas. Arpões espalhados por todo lado, Homens Livres contratados, toques de recolher com as subidas da mare, a desordem ainda não havia chegado a todo lugar, no entanto era questão de tempo até que o medo subisse as cabeças.
No Império Central, por outro lado, medidas paliativas deviam ser implantadas. Desde que o Imperador Idris anunciou a retirada vagarosa das sereias de lá tudo não passou do papel e nenhuma ação especifica havia sido tomada. Agora o Imperador recebia ordens de sediar mais uma Reunião da Cúpula Imperial e o receio estava batendo a sua porta. O Imperador trocava correspondências com os demais e todos, com exceção de Priyanka alegavam que as sereias ainda eram mantidas em seu Império sob coleiras de ouro e rubis. Diziam eles que a burocracia para essas atitudes eram demoradas e custosas e demandavam bastante tempo. Agora teriam a oportunidade de lidar com o assunto mais de perto.
A Imperatriz Florence havia feito o pedido para ausentar-se da Reunião, o pedido foi negado e acrescentado a ele que se fosse necessário trazer a recém nascida, que assim fosse. Trouxesse a bordo uma ama de leite que fizesse o bebê ficar em silêncio durante as reuniões e tudo estava resolvido. Já o Imperador Hathor, do Oeste estava satisfeito em participar de mais uma reunião, suas terras precisavam de proteção e ali ele poderia custear alguns homens para voltarem com ele para o Império.
O Império do Sol se preparava mais uma vez para receber os ilustríssimos convidados, o povo sempre maravilhado com as pessoas importantes que pisavam em solo Central e cantavam e faziam festas. Os alfaiates recebiam muito dinheiro, as lojas de tecidos e apetrechos em geral ficavam sempre lotadas e todo Império só sabia falar da reunião que logo aconteceria.
— Meus irmãos estarão viajando novamente durante toda a reunião. – Dizia Zahra ao seu pai.
— Sim, eu mesmo autorizei.
A filha mais velha fechou o semblante. Ambos estavam a mesa para o almoço, não era raro que fizessem as refeições juntos, Idris fazia mais que o possivel para manter as memórias da falecida esposa presente em todos os momentos possíveis e estar à mesa em família era algo que ela fazia questão.
— Desse jeito eles nunca irão casar! – Zahra deixou o motivo de seu descontentamento sair.
— Nenhum dos Imperadores tem filhos na idade para casar, minha querida.
— Como não? A Imperatriz do Norte...
Antes que ela terminasse a frase recebeu um olhar desaprovador do Imperador.
— Florence não tem nenhuma filha mulher.
— Não sabe se a criança que está no ventre será menino ou menina. Pelo que sei, logo ela irá nascer.
— Seus irmãos tem dezesseis anos!
— E quando foi que isso impediu alguma coisa? – Ela levantou as mãos para cima. — Quantos casamentos arranjados não são feitos com meninas de doze anos e até menos com homens de mais de trinta? Ora, papai, não é possível que o senhor não saiba.
O que Zahra dizia era verdade, Idris sabia desses acontecimentos, mas não se intrometia nos assuntos que não diziam respeito a ele.
— O que você teria feito se eu a tivesse casado aos doze anos com um homem de quarenta? Teria tido um casamento feliz?
Zahra riu alto e precisou de um tempo para recuperar o folego.
— Casamento feliz? – Ela balançou a cabeça em negativa. — E como isso pode ser um casamento feliz? Uma menina sendo vítima todas as noites de seu marido não traz felicidade a ninguém.
— Zahra! – Idris a repreendeu. Apesar de sempre conversarem sobre tudo, sempre haveria um limite.
— O senhor me perguntou o que eu faria? Pois eu o mataria na primeira noite que tentasse encostar em mim.
Idris respirou fundo.
— Chega desse assunto. O casamento dos seus irmãos será arranjado logo, não se preocupe com isso. – Idris levantou o indicador. — E não, nenhum deles se casará com uma criança.
Zahra sorriu, era isso que ela queria ouvir.
Dali a uma semana os Imperadores já começariam a chegar, pela proximidade o primeiro deveria ser o Sul e os aposentos de Estevão já começariam a ser arrumados. As ruas da Cidade do Sol também recebiam enfeites, ninguém falava sobre os reboliços internos no Império Oeste, ou os ladrões ainda sem solução no Império Sul, as mortes na água, ou qualquer outra coisa que não fosse a chegada dos Imperadores e Imperatrizes dali a alguns dias. Logo esses assuntos voltariam até as línguas, mas por enquanto elas estavam reservadas a vestidos, comidas, bebidas e apresentações.
A vida no Império central corria comumente, como todos os dias. Perto dali, num arquipélago não tão grande, um casal encontrava-se aos beijos numa despedida triste mais uma vez.
— Toda vez que você vai embora eu acho que nunca mais voltarei a vê-la. –Ele tinha cheiro de ferro e mar, ela de perfumes cítricos e ouro.
— Eu também espero pelo dia que possamos ficar juntos sem que seja escondido.
Ele abraçou o corpo dela apertado, as fendas felinas nos olhos dela abriram e fecharam e a moça aconchegou-se nos braços dele.
— Pri, você sabe que isso é impossível. – Ele a colocou de frente para si segurando-a pelos ombros. — Olhe para mim, eu não sirvo para o mundo que você vive.
Priscila sorriu, um sorriso que só os gatos possuem.
— Eu sei Tetsu, é por isso que eu estou tentando construir um mundo diferente. Vai demorar um pouco pra que as coisas se ajeitem, mas eu tenho fé nas deusas que esse dia vai chegar.
As palavras da Conselheira Imperial Priscilla não faziam sentido para o Tartaruga, mas os olhos dela brilhavam e ela ficava tão linda que ele não pôde deixar de ter esperanças. Ele a beijou com doçura.
— Tudo bem, mas até lá, espero que não demore para tornar a ver você.
Tetsu havia contado a Priscilla sobre a participação do clã Tartaruga na noite do massacre no navio de festa, ela já sabia da história, mas ficou feliz por ele não omitir dela que havia estado lá. Desde que haviam começado este relacionamento os dois sabiam que pertenciam a mundos completamente diferentes, ela andava ao lado da lei e da ordem e ele queria que tudo isso fosse pelos ares.
Priscilla ouviu um assovio de longe, era o sinal de que sua hora havia chegado.
— Eu te amo. – Ela disse enquanto o abraçava.
— Eu também te amo. – Ele apertou o corpo dela contra o seu. — Não se esqueça que você é maravilhosa, que é única e que ninguém jamais será melhor do que você, não deixe que ninguém lhe diga o contrário.
— Pode deixar.
E a partir daí cada um seguiu seu caminho, Priscilla para o Palácio Central onde iria encontrar-se com o Imperador Idris e Tetsu contornaria as ilhas para chegar até a Ilha Tartaruga.
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