Capítulo 59 - Resolvendo as questões pendentes.
Os dois navios navegavam próximos, passaram por duas embarcações menores durante o percurso e por uma das Ilhas Flutuantes daquela região. Nesta, o capitão Soo fez uma parada e pediu a um dos seus homens que descesse ali e procurasse um bom Homem Livre que soubesse arrombar cofres, ele iria precisar desses serviços para mais tarde.
O navio do capitão Soo era muito parecido com o Alma Negra no que dizia respeito ao tamanho e organização, no entanto haviam menos homens a seu comando e o compartimento de cargas era bastante recheado.
— A rota vai mudar pouco, Jane. – Pyra dizia à capitã, um sorriso animado na pele reluzente da mulher negra. — Serão um ou dois dias a mais no mar antes de chegarmos a Ilha Esmeralda.
— Será um alivio para todos nós encontrarmos um pouco de calmaria no Orfanato, tenho certeza que Khalelia ficará muito animada quanto te ver.
O sol estava queimando as peles no navio, apesar de irem em direção a uma temperatura mais amena, ainda assim os raios amarelos chegavam a arder, mas não foi por isso que Pyra sentiu seu rosto aquecer.
— Está certo. – A pirata que tomava conta do leme do Alma Negra sorriu com um pouco de timidez, desde sempre ela fora uma mulher reservada.
Os homens e mulheres iam de um lado para o outro no convéns, outros penduravam-se nas cordas. Simon e Victhor falavam alguma coisa sobre o casco do navio, resolviam entre eles mesmo se aproveitariam a oportunidade para fazer a limpeza.
— Temos ainda seis caixas de batatas. – Will chegou até eles e parou ao lado de Victhor. — Mesmo faltando carne, ninguém vai morrer de fome até a gente parar.
Simon o encarava com seu semblante fechado, Will mantinha um sorriso quase sínico nos lábios, Victhor retirou o lápis de trás da orelha e abriu a caderneta na página onde já haviam outras anotações. Ele franziu a testa um pouco, tombou a cabeça levemente para o lado e sem perceber colocou o lápis entre os lábios apertando-o para falar.
— Estranho. – Disse ele. — Da última vez haviam apenas quatro caixas.
Will passou a mão pelo cabelo loiro e molhado de suor levando as mechas compridas para trás, parecia fazer alguma força.
— Não devem ter contado direito da outra vez.
— Ou você contou errado. – Simon o atropelava com os olhos azuis já que os de Will engoliam Victhor como um redemoinho faz com a água do mar.
— Impossível. – Will soou provocativo. — Tudo que eu faço, eu faço muito bem.
— Pode demonstrar toda sua eficácia limpando as latrinas então. – Rosnou.
— Vai ter que ficar para outra hora, - Will passou o braço envolta do pescoço de Victhor que ainda olhava a escrita na caderna em sua mão, sem nenhuma alteração em sua expressão. — Preciso ajudar o segundo contramestre nas tarefas árduas que ele desempenha.
Simon abriu a boca para dizer algo, mas foi cortado pela voz de Victhor.
— Vou até lá conferir a mercadoria. – Victhor retirou o braço de Will, não com repulsa ou grosseria, apenas como algo que o impediria que caminhar livremente. — Depois disso também preciso checar os guinchos e os cabrestantes, desde o último embate eles não pareciam muito inteiros.
Simon pareceu lembrar de alguma coisa e sua atenção foi de Will para Victhor.
— As últimas amarras também não estão muito boas, o mastro central foi consertado, mas não sei se aguenta uma tempestade forte ou o encontro com algum animal grande.
— Por acaso está pensando em... – trazer a sua mãe a bordo? Era o que Will iria dizer, mas por algum resquício de consciência ele deixou passar a terrível piada. — Nada não.
— Vá se foder!
Will não sabe o perigo que correu.
Victhor foi andando em direção a dispensa do navio, Will o acompanhou estando uns três passos atras.
Apesar de ser um lugar um pouco abafado e não muito limpo, era ali que ficavam os alimentos perecíveis e não perecíveis, Rupert juntamente com Victhor e mais dois rapazes haviam discutido durante dias a melhor forma de manter os cereais a salvo dos ratos e do mofo e com um pouco de cuidado os sacos de estopa e as caixas de madeira resistiam a vida no mar. Depois que Rupert foi morto Victhor e Will cuidavam daquela parte. Will aproximou-se primeiro das caixas e levantou o indicador como se fosse conta-las, no entanto, antes de pronunciar o número dois algo o puxou pela gola detrás da blusa e o jogou contra a parede de madeira do navio.
Victhor pressionava o loiro contra a parede, o braço posicionado no pescoço dele e o peito contra o seu, ele estava furioso.
— Você está louco? – Victhor disse baixo, como dizia na maioria das vezes, dessa vez as palavras saíram fazendo força para passar entre os dentes.
— Vic? O que foi, Vic? O que eu fiz? – Will nunca o havia visto daquela forma, as veias das têmporas dele saltavam e as mãos se apertavam com força. O pescoço pressionado doía e as costas começavam a latejar.
— Não se faça de idiota, Will! – Os belos olhos de Victhor semicerraram. — Já tem dias que você está provocando Simon e o que foi aquilo lá em cima? Se você tivesse dito algo sobre a família dele, não haveria quem na terra o poupasse de ficar sem a cabeça.
Os olhos de Will vidrados nos de Victhor, ele estava certo, ele ia mesmo fazer alguma piada sobre isso.
— Parece que você me conhece bem. – A voz de Will já saia engasgada, Victhor não tinha afrouxado o braço. — Me desculpe.
O rapaz de óculos ponderou e respirou fundo.
— Pare com isso, Will. Simon não é alguém para suas brincadeiras. – Ele disse soltando Will de seu aperto.
Will ficou um pouco sem jeito, coçou a nuca desgrenhando um pouco mais os cabelos loiros detrás da cabeça.
— Vamos com isso. – Victhor deu um leve tapinha nas costas dele. — Precisamos terminar logo.
Enquanto os dois estavam lá embaixo, Jane, Capitão Soo e Simon conversavam na cabine do capitão sobre a vida em alto mar, parecia uma conversa simples de histórias antigas sendo colocadas à mesa.
— Pena que aquela sereia da Cidade do Sol, - Império Central, não resistiu. – Capitão Soo dizia. — De todas as que você conseguiu, eu acreditava que ela fosse conseguir.
Jane suspirou, as mãos na cintura.
— Foi mesmo uma pena, ela não conseguiu resistir à maldição das bruxas, quando fomos atacados ela enfiou um punhal no próprio coração.
— Que horror! – Soo colocou a mão sobre o peito fazendo uma careta. – Ele olhou de lado, como se percebesse alguma coisa ou alguém e sorriu. — Depois dela quantas mais você conseguiu?
— Não sei ao certo. – Jane levou a mão até a orelha passando os dedos pelas argolas douradas e sentiu aquela que Lantis havia colocado ali. — Acho que mais sete.
Simon bebia algo de seu caneco, não era rum de boa qualidade, mas ele não importava com isso.
— Contando com aquela sereia lá fora?
Jane pensou um pouco.
— Não, Lantis é o oitavo.
— Sorte sua ter arrumado um que não foi amaldiçoado e acata suas vontades por conta própria. – Soo sorria. — Você é boa mesmo.
Jane bebeu da própria caneca, as belas taças de outrora foram todas roubadas enquanto o Alma Negra estava nas posses de Markus e Benjair.
— Na verdade ele já foi até as bruxas. – Foi Simon quem disse. — Só não foi preciso levar ele de novo porque o homem peixe se apaixonou pela Jane e faz as coisas que ela manda.
Jane olhava do alto da caneca para Simon, as coisas não eram bem assim, mas ela não contestaria Simon na frente do capitão Soo.
— Entendo. – Soo disse levando a própria caneca até a boca.
— Mas nós o levaríamos até a Ilha se fosse preciso. – Simon terminou de dizer. — Isso já era o combinado entre nós. Não é, Jane?
Jane o olhou, respirou fundo.
— Sim, se ele não tivesse feito o que mandamos nós o teríamos levado as bruxas. – Ela levantou-se abrupta da mesa querendo colocar um fim naquela conversa. — Se me dão licença eu tenho algumas coisas para resolver no navio. – O estomago dela começou a revirar como se mil larvas perfurassem sua carne.
— Claro, eu vou beber mais um pouco com meu amigo. – Soo disse ainda sorrindo. — E como esta Ana? Espero que ela esteja bem.
Enquanto os dois continuaram ali, Jane saiu a cabine batendo a porta quando, foi até a amurada do navio e espalmou as duas mãos na peça de madeira que dividia o navio das águas. Seu rosto parecia pálido e sua boca estava arroxeada.
— Mas que merda é essa? – Ela disse a si mesma, sem saber que alguém a ouvia.
— Então era isso. – A voz dele veio detrás. — Eu sabia que tinha algo que escondia de mim, mas não imaginava que fosse algo tão odioso quanto isso.
Jane não conseguia virar para vê-lo, sentia alguém apertar seu estomago, apertar seu pulmão e o ar começou a fazer-lhe falta.
— Quantas sereias você matou, Jane? – Lantis perguntou com escarnio na voz.
Ela dobrou os joelhos e o corpo tombou para trás caindo com o ventre para cima, Lantis aproximou ficando ao lado dela, olhando-a de cima.
— Responda a minha pergunta, Jane. – Ele disse com a voz ainda amena. Jane viu, nos olhos dele, os azuis haviam desaparecido, ali estavam duas pedras vermelhas como aquelas que ela usou para explodir a Ilha Liberdade no dia em que se conheceram.
— Lantis... – Ela disse com muita dificuldade.
— RESPONDA! - Dessa vez ele gritou. — Assassina! É isso que você é!
— Não. – Lágrimas de dor e desespero escorriam dos olhos dela, Jane sentiu que ia morrer ali, sem ar, tendo seus órgãos estourados de dentro para fora. — Eu não queria que elas morressem, eu...
Lantis aproximou-se e ajoelhou ao lado dela, seu rosto ainda continha ódio, mas havia mais do que isso.
— Aquilo era verdade? – Ele abrandou a voz. Os olhos vermelhos marejados. —Você estava mesmo planejando me levar à Ilha das Bruxas se eu não obedecesse?
Jane não tinha forças, as palavras não queriam sair e as lágrimas não paravam de escorrer. Lantis também chorou e enquanto suas próprias lágrimas desciam pelo seu queixo ele sorriu em desespero.
— Eu acreditei em você. – Ele disse. — Durante todo esse tempo eu estava aqui porque não me levar até as bruxas foi a primeira coisa que eu acreditei em você e depois de tudo até isso era uma mentira?
As veias no corpo de Jane pareceram inchar, o sangue em seu corpo queria sair, a dor era insuportável e por um instante ela acreditou que iria morrer. Lantis levantou devagar, olhou para ela com magoa e se dirigiu até amurada.
"Ele vai embora." – Ela pensou. "Ele vai sumir no mar e eu nunca mais vou ter a chance de dizer a ele."
Talvez as pessoas sejam muito mais fortes do que elas pensam, há muitas mudanças que trazem oportunidades e elas não devem ser desperdiçadas.
— Lantis. – Jane conseguiu dizer, curvou seu corpo para frente e com muito esforço ficou de pé. Tudo ainda doía, mas ela manteve firme. O tritão a olhava quase nem nenhuma expressão a não ser raiva. — Eu jamais, nunca, em hipótese nenhuma iria levar você até aquele lugar.
— Eu ouvi você dizendo a eles lá dentro, eu estava perto da porta e ouvi, Jane. Não...
— Eu juro a você. Aquilo que você ouviu, tudo era verdade, mas isso foi antes, foram combinados de antes, coisas que foram ditas antes...
— Antes? Antes de que, Jane?
— Você não sabe mesmo?
Lantis olhou para Jane, o mar, as outras sereias estavam próximas do navio, ele podia sentir. Havia um grande impulso nele de se jogar dali, de unir-se ao mar para sempre e nunca mais se encontrar com qualquer outro humano na vida, mas ao olhar para Jane seu próprio coração o traiu e ele desceu da amurada do navio. Quando os pés descalços de Lantis tocaram a madeira gelada, o corpo de Jane amenizou e dali começou a voltar ao normal. A brisa soprava a maresia entre os dois, cabelos castanhos e cabelos prateados viraram joguetes a bel prazer do vento.
— Lantis, eu... – A voz dela soava um pouco rouca, Lantis deu um passo a frente em sua direção.
— SERPENTES A VISTA! – Alguém gritou da gávea — TEM SERPENTES A BOMBORDO!
E realmente tinha, Jane e Lantis foram até os balonetes, haviam carcaças de jubartes boiando na água, ao redor delas grandes serpentes do mar lutavam entre si para conseguirem um bom pedaço da carne e a espreita de alguma migalha haviam tubarões e pequenos peixes com grandes dentes.
Pyra estava ao leme fazendo força para manobrar o navio, todos deviam estar preparados caso alguma das serpentes resolvesse trocar de alvo. Se os filhotes faziam grande estrago no navio, os adultos não deixariam restar nenhuma madeira sob a água e a fera de tentáculos que acompanhava o navio não daria conta de todas aquelas.
— Elas devem ter encurralado o bando e atacado! – Theodora apareceu esbaforida ao lado de Jane que ainda encarava Lantis. — Jane?
A capitã respirou fundo e as duas aproximaram da amurada para ver melhor as serpentes.
— Pyra está tentando dar a volta. – Jane disse ao perceber a movimentação no navio.
Lantis foi para o lado de Jane e os três viam as serpentes abocanharem e destroçarem o que flutuava das jubartes. Pedaços menores eram puxados para baixo por tubarões e sem dúvida haviam outros animais participando do banquete mais fundo na água, pedaços da carne das baleias em sugados para baixo. As serpentes com certeza comiam a maior parte, as sereias na água pareciam tranquilas nadando próximas ao navio, Lantis também não parecia preocupado com elas.
— Elas não vão nos atacar, tem comida o suficiente ali e elas nãoo tem motivo para vir até o navio. – Lantis disse com bastante certeza.
Jane olhava para ele, ela sempre olhava para ele.
— Venha comigo. – Jane disse a ele enquanto deu alguns passos a frente e vendo que ele não a seguia ela virou para trás. — Vamos resolver as coisas, se você não concordar com o que eu direi, pode se juntar a elas lá embaixo e eu prometo a você que nunca mais nos veremos novamente.
Theodora manteve o olhar nas serpentes a frente, ela queria empurrar Lantis e quase o fez, mas não foi preciso, ele mesmo deu o primeiro passo em direção a Jane e os dois entraram na cabine da capitã.
As serpentes não pareceram ligar para os navios e tanto o Alma Negra quanto o Dragão Branco saíram de lá sem nenhum problema.
Theodora ficou olhando para o mar durante mais algum tempo, seus pensamentos foram até Rupert, seu velho amigo, numa situação como essa ele certamente faria piadas com o "sereio" e a capitã, falaria sobre sopas de serpentes que já havia provado em suas viagens e os dois fumariam cigarros fedidos e tossiriam escondidos. Theodora sentia muita falta dele, algumas lágrimas caíram sem avisar e ela limpou o rosto com o dorso da mão.
— Você está bem? – Darren apareceu.
Theodora olhou para ele com uma expressão confusa.
— Ah, sim. – Ela lembrou-se. — Você é o menino de Mizuki.
Jane já havia apresentado Darren para todos, mas nem todos se lembravam.
— Acho que não tenho mais idade para ser chamado de menino. – Ele sorriu.
Theodora olhou para sua aparência, haviam poucos pelos em seus braços, quase nenhum em seu rosto, sua pele era tão lisa quanto de uma menina, seus cílios eram longos em seus olhos puxadinhos e sua cor era queimada de sol. Ela riu, não tinha como não o confundir com um menino, a não ser pela altura, ele parecia bem mais novo do que era.
— O que você está olhando aí? – Ele perguntou.
As serpentes haviam ficado para trás e havia somente o mar aberto.
— Nada demais.
— "Nada demais" não faz as pessoas chorarem.
Theodora riu.
— É verdade. – Ela aspirou o ar e deixou que ele inundasse seus pulmões. — Perdemos um companheiro há um tempo, sinto muita falta dele.
Darren pensou um pouco.
— Vocês eram apaixonados?
Theodora poderia corar se ela fosse do tipo que se envergonha fácil.
— Não, éramos bons amigos. – Ela não iria dizer que Rupert a amava. — Passamos bastante tempo juntos e ele me faz muita falta.
Darren continuou olhando para ela, Theodora era uma mulher muito bonita, mas mais do que isso sua aura era quente e era bom ficar ao lado dela.
— Você sempre foi pirata? – Ele perguntou, Theodora ainda olhava para frente e a pergunta não lhe trouxe nenhuma surpresa.
—Na verdade eu sempre quis ser pirata, mas demorou um pouco para que eu realmente entrasse nessa vida.
Darren debruçou-se sob a amurada também olhando para frente, o movimento das ondas e a cor da água. Theodora olhou para ele, era notório como ele esperava que ela continuasse com a história.
— Eu vivia com meu pai na Ilha do Homem Bravo, minha mãe faleceu de febre quando eu tinha oito anos e eu vivia bem com meu pai e os homens dele. Crescer com eles não foi triste ou problemático, todos me tratavam bem, haviam muitos meninos que perdiam para mim nas lutas. – Ela riu, Darren riu junto. — Eu aprendi a atirar, a ser forte, a lutar com espadas, mas eu não estava realmente feliz lá. Eu sei que meu pai se esforçava muito para estar sempre ao meu lado e não deixar que eu ficasse triste pela perda da minha mãe, mas não era suficiente. Eu sempre via ele conversando com outros homens sobre as coisas fora da Ilha, sobre as feras do mar, sobre as emboscadas e sobre os piratas, tudo parecia mais interessante do que ficar só ali, então quando o Alma Negra parou na Ilha para fazer negócios eu conheci Jane, Simon e Victhor.
Darren ouvia tudo com bastante atenção e imaginava todas as cenas que Theodora contava.
— Na época eles ficaram por lá uns dias, o navio estava esperando por um carregamento que havia atrasado e iriam levar dois canhões junto deles. Sei que ouvi alguns homens falando sobre Jane e fiquei curiosa sobre uma mulher pirata. A partir dai fiquei sabendo que Jane precisava de homens em seu navio e persuadi meu pai a me deixar juntar a eles.
— Ele não deve ter aceitado fácil
— Não aceitou, mas ele sabia que não perderia meu amor só por estarmos longe. O capitão antes de Jane já fazia negócios com ele e ela manteve a palavra pagando as dívidas em nome do Alma Negra.
Theodora riu, tudo daquela época voltava a sua mente, as dificuldades em acostumar com os hábitos no navio, os insultos que recebeu e as primeiras impressões sobre ser uma pirata.
— Nunca foi fácil e ainda não é, mas estar aqui hoje faz tudo valer a pena, foi uma vida que eu escolhi, se estou aqui foi por minhas próprias escolhas e eu não me arrependo de quem eu sou.
Darren olhava para Theodora, não era como se ela tivesse feito somente as escolhas certas, mas mesmo as escolhas erradas a tinham levado àquela amurada, naquele navio, naquela tarde.
— Você não se arrepende de nada, não é?
Theodora riu alto.
— É claro que me arrependo de algumas coisas, acho que é importante a gente se arrepender sabe? Assim a gente evita de fazer a mesma merda de novo.
Darren arqueou uma sobrancelha e os dois riram um pouco. O sol começava a abaixar no horizonte, havia um alaranjado bonito tomado conta das nuvens no céu, um cardume de golfinhos nadava junto ao navio.
— Tomara que aqueles dois se resolvam logo. – Foi Darren quem disse.
— Até você já sabe, novato?
— Esta estampado na cara deles, acho que só eles que não vêem.
Theodora pensou um pouco.
— Acho que não é que não vêem, mas não deve ser fácil tomar algumas decisões. Não é como se todos apoiassem um sereia e uma pirata.
— Será que eles se importam com isso?
— E tem como não importar?
— Se fosse eu não daria a mínima para ninguém e só faria o que eu quisesse.
— Mas você não é capitão de um navio pirata e nem um sereia que precisa redescobrir o mundo ao seu redor.
— No momento em que eles fecharam a porta daquela cabine, nenhum deles deveria levar isso em conta. Ter a pessoa que a gente ama perto da gente é milagre suficiente, querer que todo mundo apoie e ache bonito já é querer demais.
Theodora ficou um pouco surpresa.
— Mas você já percebeu que a gente sempre quer mais do que pode ter?
— E olha só onde nós estamos? – Darren levantou os ombros e depois deixou que eles caíssem descuidadamente.
Dali em diante os dois passaram a conversar sobre as feras do mar que já haviam visto, sobre as comidas que já haviam experimentado e sobre alguns amores que haviam deixado para trás.
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