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Capítulo 55 - Ayra.

Notícias ruins correm rápidas como o vento – todo mundo sabe disso, elas são espalhadas por todos os lugares feito poeira no deserto e não há quem não fique impregnado delas. Se falarem que notícia boa é tão rápida quanto a ruim, é mentira porque as pessoas preferem falar sobre o que as chocam ao invés das trivialidades do dia a dia e as coisas ruins chocam muito mais que as boas, causam mais estardalhaço e ficam muitos mais tempo presas nas línguas.

Também é difícil encontrar a veracidade de todas as notícias, já que muitas vezes elas são espalhadas de boca em boca e aumentadas e entusiasmadas de acordo com o ponto de vista e desejos do interlocutor. Uma pessoa poderia contar versões diferente da mesma história dependendo de qual lado da narrativa ela está, portanto quando chegou até o Império Leste o que tinha ocorrido no navio da festa naquela noite houve muita comoção do lado dos ouvintes. Os nobres que foram resgatados pelo Garça Branca estavam em prantos e em situação de grande lástima. Contavam aos soluços o quantos os muitos piratas foram terríveis e cruéis com eles, sobre a besta que surgiu da água e varria a todos com seus tentáculos, sobre os selvagens de bandana que se juntaram aos piratas e o quanto sofreram nas mãos da maligna mulher que os liderava. Não dá pra dizer que eles estavam errados, afinal o medo e o temor que sentiram foram genuínos e o exagero das palavras eram causadas pelo pavor em seus corações. Não é necessário dizer que a luxuria, a gula e a soberba foram deixados de lado nas explicações.

O Império Leste que tinha a reputação do mais pacifico entre os Impérios estava com suas águas manchadas de vermelho, ninguém poderia lembrar há quanto tempo atras houve uma chacina tão vil quanto aquela por lá. O período de luto durou dias e várias procissões e homenagens foram prestadas em honra daqueles que morreram nas mãos dos terríveis piratas. Muitas famílias importantes chegaram até a Capital em navios escoltados pela Marinha, vindos de toda parte, cada um ali tinha o que dizer sobre alguém que havia sido assassinado naquela noite. Todas aquelas pessoas eram tão boas...

Depois do velório de Anne Maud ter sido notícia, agora o que mais se falava era sobre aquele episódio terrível no mar em que foram dilaceradas tantas almas inocentes que faziam tão bem ao Império e o povo. Eram príncipes e princesas, duques e duquesas, condes e condessas que estavam lá apenas para divertirem-se e extravasar um pouco da rotina maçante do dia a dia.

Houve também o grande alvoroço por causa das mortes de Benjair e Markus. Cada um com seu destaque próprio, ambos eram conhecidos e seus nomes saíram em jornais por todos os Impérios. Algumas pessoas ainda duvidavam da veracidade das informações e foi necessário a Marinha Imperial ir a público numa declaração oficial para que o povo realmente acreditasse.

Depois que Markus foi então declarado morto, muitos fazendeiros invadiram sua propriedade e lutaram entre si pelo que pudessem pegar. Ninguém ofertou quantia alguma já que a família de Markus resumia-se a ele mesmo. Muitas plantações foram queimadas, o açude foi envenenado como um ato de vingança e uma boa quantidade do gado morreu em três dias. Suas fazendas se tornaram um verdadeiro caos e muitos empregados deixaram o lugar à mercê da própria sorte.

No decorrer de duas semanas a porteira da fazenda foi empurrada por mãos grandes e peludas, um homem bastante caipira chegou até o lugar, disse aos poucos empregados que restaram lá que se chamava Samuel Timoteo e que todos deveriam se reunir no pátio que ele tinha um recado a dizer.

— A partir de hoje, ocêis vão passar a me respeitar como patrão docêis. – Ele tinha os cabelos amarelos e olhos bastante pretos. — Num tem nem o que dizê, é assim que vai ficar a partir de agora e ta resorvido.

E como ninguém ali se opôs, seja pela quantidade de armas e pessoal que o tal tinha consigo ou por não terem outra opção, ficou decidido então que Samuel passaria a liderar a fazenda. Ele fez até um velório para o Markus e mandou construir um memorial luxuoso para ele próximo à casa da fazenda. O que deixou margem para bastante especulação pelas redondezas.

Samuel receava algum motim entre os vizinhos e até mesmo mais alguma invasão já que havia olheiros de outros fazendeiros que aguardavam qualquer oportunidade para invadir a fazenda. Tendo ficado alguns dias dentro da grande casa, ele enviou e recebeu muitas correspondências, mas ninguém sabia quem era o remetente. E aliás, o pessoal da fazenda ficou bastante surpreso pelo fato de Samuel saber ler e escrever.

Numa manhã ele chamou alguns homens mais fortes e rumou para dentro da fazenda, tendo chegado ao lugar, cuspiu no chão e passou a mão pelo cabelo.

— Abra isso depressa! – Ele disse. De frente deles uma construção medíocre feita de barro e bambu, sem janelas, com apenas uma porta trancada por fora. — Vamos Eliezer, mete o machado nesse trem e arrebenta logo! – Ele apontava o mosquete de Markus para a grossa corrente que havia ali.

— Tá certo Patrão Tito.

O tal Eliezer, um sujeito meio balofo e careca, bateu o machado na corrente até que a porta foi aberta.

— Credo! – Samuel tapou o nariz com a gola da blusa. O odor que vinha de dentro do barraco era terrível de suportar. — Como que nenhum docêis me falou disso antes? – Ele olhava para os outros. — Ocêis tava esperando eu adivinhar?

— Saiam daí! – Eliezer ordenou sem entrar um só palmo pra dentro. — O chefe quer falar com ocêis tudo.

Poderia haver o estranhamento por parte das pessoas ali de dentro ao ouvirem a afirmação, no entanto eles não estavam em condição alguma de racionar por si mesmos, eram apenas cascas que se moviam.

O pequeno grupo de homens e mulheres apresentou-se ombro a ombro ao novo chefe, não havia temor ou qualquer expressão de medo ou indignação em suas faces, já haviam deixado esses sentimentos para trás.

— O negócio é o seguinte, - O chefe Samuel começou com Eliezer posto ao seu lado, ambos tinham sotaque caipira quando falavam principalmente na entonação do erre. — Agora eu que mando nisso aqui e ocêis devem obedecer tudim que eu mandar.

Eles obedeceriam mesmo que não fosse anunciado o novo posto do homem, o que mais eles poderiam fazer além de olhar para o chão e assentir?

Samuel tinha um plano em mente, e pra assegurar que tudo desse certo ele iria precisar de todo pessoal que estivesse por ali, de graça.

— Ocêis vieram pra cá pra pagar divida docêis, agora que o patrão Markus se foi a dívida ta paga. – As pessoas ainda mantinham os olhares para baixo, os outros empregados não sabiam do que Samuel estava falando ou como ele sabia de tudo aquilo, mas também não disseram nada. — Bem, aqui vai ser o seguinte, ocêis fazem as coisas bem direitim, tudo aprumadinho do jeito que eu manda e eu garanto que comida, água e um lugar pra descansar vai ter procêis. Agora, - Ele disse ajeitando a blusa de botão. A que se notar que embora seu jeito de falar fosse estranho para aquelas pessoas, o tal Samuel se vestia muito bem. — Se ocêis me derem trabalho, ai... Ai o negócio fica quente. – Eliezer segurou com mais firmeza a arma frente ao corpo. Todo mundo entendei o que ele queria dizer. — E pra provar que eu tô falando sério, – Ele fez um sinal para Eliezer que abriu um buraco no barraco de barro. — Bem melhor com uma janela, né não?

As pessoas não tiveram nenhuma reação, mas Samuel não se deu por vencido, havia trago com ele alguns sacos de estopa e dali tirou um pão, o cheiro da massa assada chegou até as narinas dos esfarrapados e alguns deles ousaram olhar na direção do saco.

Samuel deu uma boa mordida no pão e disse ainda com a boca cheia.

— Ocêis podem ter isso todos os dias se cooperarem comigo.

— Comam, não estão mofados, ocêis num vão passar mal. – Eliezer disse colocando um pão em cada mão.

As pessoas escravizadas olharam umas para as outras, o que poderia ser pior do que a situação em que já estavam?

Cada uma delas abocanhou o pedaço de pão que estava em sua mão, duas ou três engasgaram pela rapidez em que engoliram. Eliezer e Samuel olharam-se satisfeitos pelo resultado.

— Então é isso, ocêis vão trabalhar pra mim agora. – Samuel dizia e recebia olhares de volta, agora eles prestavam atenção em suas palavras. — E eu vou tratar ocêis melhor do que o antigo patrão Markus.

Ele tirou o chapéu que usava e fechando os olhos fez alguns segundos de silencio, Eliezer fez o mesmo.

— Ocêis também! — Para aqueles que comiam. Houve um momento de dúvida e ninguém queria parar de mastigar, Eliezer deu um tapa forte na mão do mais próximo, o pão caiu no chão, a marca avermelhada no braço evidenciando bem os cinco dedos.

— Ocêis também!

Ninguém mais queria perder o seu pão e fizeram o que ele mandou. Foi o tempo suficiente para uma respiração, logo Samuel colocou de volta o chapéu e o homem pegou seu pão caído do chão levando-o novamente a boca.

— Hahaha, - Samuel riu. — Não tem necessidade disso meu rapaz, - E entregou a ele mais um pedaço de pão novo do saco. — Tome este.

O rapaz pegou o pão da mão dele sem nenhum receio, mas guardou o outro mesmo que sujo em seu bolso.

Samuel estava contente com o rumo que as coisas estavam indo, além dos homens de Markus que ficaram ao seu lado, agora ele poderia contar com os escravizados da fazenda, ele passou a chamá-los de trabalhadores mesmo eles não recebendo nenhum salário. Eles não criavam caso por conta disso, agora tinham um local menos ruim para dormir, recebiam comida e água limpa e Samuel os estava ensinando a atirar. Sem ter outra opção melhor, eles aceitaram agradecidos a bondade do novo chefe.

Já Benjair era um homem influente no meio do tráfico de mercadorias, tinha uma boa lábia e sabia bajular muito bem, mas era apenas isso e não havia tempo a perder em alguém que pode ser facilmente substituído. Logo alguém assumiu seu posto e essa pessoa ficaria anuviada durante um bom tempo até conseguir fazer seu nome valer a pena ser mencionado como era o de Benjair.

Aquele navio pirata havia causado tanto reboliço pelos Impérios e o nome do Alma Negra e sua capitã não saia da boca de ninguém. Haviam aqueles que queriam tanta fama quanto ela e outros que queriam provar que podiam mais. O número de pilhagens aumentou bruscamente por todo lado e em todo canto se ouvia falar de saques a navios e roubos em plena luz do dia. Diziam até que Jane era a fundadora de uma nova Era onde a "Nação Pirata" voltaria aos seus dias de glória encorajados pelos boatos que se espalhavam e aumentavam os feitos do Alma Negra por todo lugar. Haviam aqueles que aproveitavam essa nova euforia e aqueles que queriam vingança. E não havia uma ilha sequer onde os piratas não voltassem a espalhar o terror.

A Marinha Imperial que julgava haver controlado o número de violências causadas pelos piratas – o que também não era tão verdade assim, precisou dobrar a frota em alto mar já que muitos saques a navios cargueiros e de transporte começaram a brotar em suas águas. Aqueles que diziam ser aliados do navio Alma Negra não deixavam reféns e como era o costume de Jane, e Daniel antes dela, eles matavam a todos deixando suas gargantas cortadas sangrando pelo convéns.

O número de mortes sobre as costas de Jane havia aumentado consideravelmente e nem um terço daquela parte havia sido ela realmente, mas isso também não fazia diferença nenhuma, entre os piratas ela passou a ser vista como instigadora e isso bastava para que a Marinha e Exercito a quisessem aniquilar mesmo que muitos dissessem que ela havia voltado dos mortos pelo menos três vezes.

"Ela tem uma besta sob seu comando, dizem que ela se alimenta de bebes prematuros" – Diziam.

"Ouvi dizer que ela é tão poderosa que até as bruxas tem medo dela e não ousam tocar na sua sereia."

"Ah! Aquela sereia macho dela foi roubada do Markus, vocês sabiam?"

"Não diga!"

"É verdade, dizem que ela lutou com mais de cem homens e o tirou da ilha dos piratas montada naquele demônio do mar!"

E por aí se falava muitas e muitas outras coisas.

De toda forma, tudo serviu para difundir ainda mais o ódio das pessoas pelos piratas que matam inocentes por joias e diversão. Houve pressão ao exército e fizeram uma nova campanha contra os piratas. Os mares infestaram de navios brancos e ilhas foram reviradas pedras por pedras durante semanas inteiras e sem descanso. As praças ficaram lotadas de curiosos odiadores dos ratos do mar e vê-los enforcados pelas cordas era a melhor forma de passarem os dias e as prisões foram esvaziadas e as covas foram poucas para tantos corpos.

Com toda a agitação a Imperatriz do Leste foi pressionada. Não houve como esconder por muito tempo que o pai de Jane estava em sua prisão. Ela havia dito a Henrique que não faria nada a ele, mas com a fama da capitã ganhando força todos os dias estava ficando difícil controlar a situação.

Em seu gabinete Priyanka estudava os documentos trazidos dos reinos que pertenciam ao Império Leste, ela havia ordenado que toda família que possuísse sereias escravizadas enviassem o registro de suas sereias para o palácio. A xícara com chá não ficava vazia, a colaboradora Jester eficiente mantinha o liquido fresco e quente para a Imperatriz. A xícara era rosada com desenhos de pequenas flores brancas que combinavam com o pires e a chaleira, tudo escolhido com muito cuidado pelas colaboradoras que desde os acontecimentos recentes prestavam ainda mais atenção aos detalhes cuidando para que Priyanka tivesse sempre o melhor e pudesse voltar a sorrir com felicidade como fazia antes. De fato, a Imperatriz era muito querida por todos os colaboradores do palácio de Cristal, ela sempre os tratava com bondade e respeito.

Naquele dia alguém bateu à porta, devia ser importante já que a Imperatriz havia dito que não gostaria de ser interrompida.

— Senhora, - A colaboradora entrou e fez uma reverência. — É sobre Priya.

Os olhos de Priyanka evidenciaram o seu alarde.

— O que houve com minha filha?

— A febre dela está muito alta e nada do que fazemos parece adiantar.

Fazia alguns dias que a pequena sereia vinha tendo uma febre estranha, Priyanka escrevera uma carta solicitando Phillip, mas ele ainda não havia respondido e ela estava muito preocupada.

— O que o médico disse?

— O mesmo de antes, senhora. - A colaboradora estava muito chateada.

A Imperatriz precisava revisar todos aqueles documentos e não iria passar a tarefa para ninguém, mesmo que os reis membros da Aliança do Leste insistissem para pôr as mãos nos escritos ela não permitiu, não iria arriscar ser traída novamente sabendo que muitas das casas nobres e famílias de influência tinham vínculos com reis que poderiam facilmente deixar passar um ou outro documento e deixar as sereias ainda condenadas a correntes de ouro. Priyanka não era ingênua, podia até ser boa demais, mas os olhos vinham se abrindo à medida que o coração ia sofrendo com as desventuras, pois não foi somente Khan que insultou sua confiança, mas também todos aqueles que o ajudaram e ela sabia que haviam àqueles que riam para ela em sua face e debochavam dela em suas costas. Soube, inclusive, que uma das famílias as quais sempre a visitavam para conversas saudáveis sobre as safras e eventos da capital do Império recebiam descontos nos impostos quando cediam colaboradores para a viagem de Khan até as bruxas, outra família nobre certa vez trouxe um conceituado doutor até o Leste para que examinasse Priya a pedido de Khan, o tal doutor aproveitou-se da ocasião para examinar a sereia bem mais do que precisaria, tirando dela mechas de cabelo da nuca, amostras de sangue, lascas de unha, amostra de saliva e medindo todo seu contorno, o homem respeitou a virtude da sereia tirando proveito ali apenas pela ciência, no entanto somente Phillip tinha autorização para tal. Priyanka recebeu informações mais tarde que tudo era uma farsa e que as amostras foram levadas até as bruxas para remédios contra impotência, a família foi convidada pela Imperatriz para se retirar do Império Leste e nunca mais pisarem por lá.

Priyanka deixou todos os papeis sob a mesa de forma que pudesse voltar e eles mais tarde e foi até o quarto da filha de onde havia vindo há poucas horas atrás.

A sereia estava deitada em sua cama, o rosto corado como seu houvessem passado ruge em suas bochechas, ela ofegava e de sua testa escorria suor. Em outrora os olhos de Priyanka já estariam cheios de lágrimas, mas chorar não iria recuperar sua filha das moléstias as quais foi submetida pelo ato infiel de Khan. Priyanka sabia que aquilo era culpa dele e das bruxas terríveis daquela ilha maldita, ouviu falar de casos assim onde as sereias começam a sofrer algo parecido com a abstinência depois de serem levadas muitas vezes a ilha e pelo o que as colaboradoras disseram, Khan sempre levava a sereia quando a Imperatriz viajava, mesmo que fosse antes do prazo necessário e isso trazia sérias complicações à sereia. Dos casos que Priyanka ouviu falar muitas sereias morriam poucos dias depois que aquilo começava e Priya já havia tendo essas febres longas antes mesmo que a Imperatriz descobrisse sobre a traição de Khan.

— Oh, minha pequena. – A Imperatriz sentou-se na beirada da cama, passou a mão com delicadeza sob o rosto da filha sereia e sentiu a quentura de sua pele. — Eu queria tanto saber o que fazer por você.

A Imperatriz amava tanto aquela sereia, a sinceridade das suas palavras era tão grande que seu coração chegava a doer por sentir-se impotente diante de uma vida que ela sabia tão pouco.

Priyanka sentiu pequenos dedinhos enlaçarem seu pulso, ela havia apoiado uma das mãos sob a cama e aquela mãozinha pequena e frágil havia alcançando-a. Um sorriso gentil apossou-se rapidamente de seus lábios, no entanto, na mesma velocidade ele se desfez.

— Priya... – Ela levou os olhos dos próprios pulsos até o olhar da pequena que se dirigia a ela. A sereia tinha os olhos azuis como uma lagoa paradisíaca do Leste com águas calmas e límpidas, mas agora eram como uma tempestade em alto mar, escuro, irritadiço, medonho e seus cabelos antes loiros como trigo foram tomados por uma cor escura acinzentando e foram tornando-se ne negros como a escuridão da noite.

A Imperatriz não teve tempo de dizer mais nada, sentiu seu corpo ser sugado para baixo, para dentro do mar e num piscar de olhos seu corpo foi envolvido por ondas e ela foi afundada para baixo.

Priyanka estava confusa, não havia nada ao seu redor a não ser o mar. No entanto, mesmo que estivesse dentro da água ela podia ouvir risadinhas misturadas ao som de bolhas na água, sentiu mais uma dúzia de pequenas mãos tocarem seu corpo e a levarem direto para o fundo, como outrora acontecera em seus sonhos. Seu ventre virado para cima enquanto o corpo afundava e ela via a luz ficando para trás e seu corpo sendo envolvido pelo escuro. Seus pensamentos foram inebriados, o toque das meninas levava-a e ela não sabia se desejava voltar. Ali no meio do mar parecia tão calmo e em paz...

"— É ela." – Disse uma voz ao longe como se fosse um sussurro. "— Tragam-na mais para perto." – O timbre era como um canto que preenchia todo lugar e fazia cocegas aos ouvidos de Priyanka e ela desejou ver de onde vinha. Com um pouco de esforço ela virou seu corpo para baixo, suas vestes flutuando na água dando a ela a impressão de voar e não de afundar.

"— Ela é linda. "– Uma das sereias disse.

Priyanka começou a notar algo, as sereias falavam e riam, mas nenhuma delas abria a boca para deixar o som sair.

"— Não tenha medo, Vossa Graça." – Continuou a voz e Priyanka notou que ela vinha de uma forma luzente rodeada de outras sereias e tritões – que Priyanka ainda chamava de sereia macho. — Nenhum de nós tem a intenção de machucar.

— Quem é... – Priyanka disse e assustou-se por conseguir dizer, levou a ponta dos dedos e tocou os lábios, sentia-se no fundo do mar e molhada, mas não estava sufocada.

"— Vossa Graça deve estar confusa, mas não tenho tempo de explicar tudo agora. – À medida que se aproximava da luz que emanava do ser Priyanka pode notar melhor as suas formas, ela era uma sereia, a mais linda sereia que Priyanka já houvera visto em toda sua vida.

A Imperatriz franziu um pouco a testa, olhou com atenção e com cautela e a sereia pareceu sorrir ao perceber que estava sendo analisada.

"— Sim, - A sereia disse – Sou eu."

— Mas... como?

As sereias deixaram Priyanka frente a frente com ela, os trajes da Imperatriz flutuavam ao seu redor e bolhas de ar subiam vez ou outra.

"— Existe alguém que me ajuda, Vossa Graça, este alguém tem passado por situações muito difíceis para que eu possa recuperar um pouco do meu poder e é graças a ela que podemos nos falar."

Priyanka não sabia de quem a sereia falava e isso ficou evidente em seu semblante.

"— Você ainda não a conhece, mas desejo que um dia possam encontra-se e por este motivo eu pedi a Ayra para ter contigo."

— Ayra?

A luz da sereia começou a esmaecer o brilho e as sereias a sua volta foram ficando borradas como um quadro deixado na chuva.

"— Meu tempo é pouco, é preciso muito poder para lhe falar assim e eu já o uso demais." – Disse a sereia e aproximando-se de Priyanka tocando gentilmente a sua face. — "Eu vim lhe dizer uma verdade porque sei que ao seu lado há muitas mentiras. – A sereia tinha duas pérolas no lugar dos olhos e quando ela falava sua boca se abria sem som e Priyanka sentia-se sugada por um redemoinho. — Não se deixe levar pelo ódio dos outros quanto no seu coração há tanto amor para dar." – Priyanka estava deslumbrada desde o primeiro momento em que a viu, mas agora, assim mais de perto percebendo melhor as suas formas, notou que ela era apenas luz, sem um corpo de verdade. "— Cuide de Ayra por mim, diga a ela que logo suas irmãs a encontrarão."

Uma onda passou por elas e levou mais da metade das sereias embora, a outra metade se foi pouco antes da sereia terminar de dizer as últimas palavras como se nunca estivessem ali e fossem apenas nuances da água.

"— Encontre Jane Sanches, ajude-a Vossa Graça, deixe que ela lhe diga o que acredita e entenda que ambas, Vossa Graça e a capitã, estão do mesmo lado."

Ao ouvir o nome da capitã, Priyanka não escondeu sua surpresa, a sereia sorriu e algo como pálpebras feitas de nácar cobriram-lhe os olhos, diante da Imperatriz aquela sereia tornou-se muitas bolhas que seguiram junto a água e deixaram de existir um segundo depois. Priyanka ficou ali ainda um tempo olhando para o nada e viu alguém caminhando em sua direção, lágrimas misturaram-se ao que parecia água do mar, suas mãos tremeram e seus joelhos perderam a força fazendo-a cair com os dois no que parecia o chão.

— Não pode ser! – Ela levou a mão a frente enquanto a figura feminina aproximava-se mais. – Priya!

A pequena sereia parou a sua frente, olhando para a Imperatriz com o rosto apático. Tudo ali parecia como a sereia era, mas ao mesmo tempo nada era como ela.

Priya estava como da última vez que ela havia visto-a, os longos cabelos antes loiros agora eram pretos, os olhos azuis foram tomados por um castanho acobreado praticamente dourados, suas bochechas rosadas e seu ar meigo e infantil havia desaparecido completamente como se a sereia tivesse vivido por muitos e muitos longos anos.

— Priya, seus cabelos... – Priyanka disse. – O que houve com eles?

— Não me chame assim.

— Priya, você está falando! – Priyanka quase sorriu de felicidade por ouvir a voz da filha pela primeira vez, mas sua felicidade foi cortava por uma rajada de água gelada vinda da direção da sereia.

— Não me chame assim! – Ela tinha uma voz firme, sem falhas, bem articulada. — Não me chame assim. – Ela abaixou o tom que a raiva a fez elevar.

A sereia andou até Priyanka e ofereceu a mão para que ela levantasse e assim a Imperatriz o fez. Estranhou o momento, pois pondo-se de pé viu que sua altura condizia com a mesma de Priya.

— Você está diferente.

— Não estou. – Seus olhos fixaram-se nos de Priyanka. — Esta sou eu de verdade.

Priyanka ainda não havia compreendido o que estava acontecendo.

— A forma que me conhece é apenas um disfarce, eu não sou daquele jeito, mas se deixassem que me vissem assim...

— Está tudo bem para mim. – Priyanka tinha muitas lágrimas nos olhos a emoção a flor da pele — Não me importa como seja a sua aparência. – Ela sorria com grande amabilidade. — Só quero que você fique bem.

— Eu não estou bem. – Ela disse. — Há coisas acontecendo com meu corpo, está difícil suportar. Esta doendo e minhas emoções estão distorcidas.

— Isso é culpa das bruxas.

— Sim, - A sereia franziu a testa. — Mas não só delas.

Priyanka fez uma pausa encarando a sereia a sua frente, lembrou-se dos sorrisos, das brincadeiras, dos momentos felizes que tiveram juntas. Era tudo mentira. Será?

— Eu sinto muito.

— Eu sei. – E para a surpresa da Imperatriz a sereia tomou sua mão devagar e beijou seu dorso e sua palma. — Preciso que me escute com atenção agora. – Priya tinha toda atenção que a Imperatriz podia oferecer. A sereia levou um momento e então tornou a dizer. — Quero que me conheça de verdade, que saiba das coisas que eu gosto e das coisas que eu não gosto, que participe da nova vida que eu terei e que esteja comigo nos momentos bons e ruins. As coisas não são tão simples como poderiam ser e haverá ainda mais luta pela frente. – Ela fez uma pausa, mais para Priyanka do que para ela mesma. — Eu não sou aquela sereia pequena, frágil e infantil que você conhece, mas eu quero uma vida ao seu lado, quero construir muitas outras memórias, passar pelas dificuldades e comemorar conquistas com você. – Seu rosto tinha uma expressão séria, adulta. — E eu gostaria de saber, está eu que estou aqui na sua frente gostaria de se saber se você quer continuar sendo minha mãe?

Tudo ficou escuro e Priyanka acordou em seu quarto com três colaboradoras de olhos inchados e dois médicos preocupados ao pé de sua cama.

— Senhora! – As colaboradoras gritaram em uníssono quando viram os olhos abertos de Priyanka.

A Imperatriz percebendo o lugar em que estava atirou-se para fora da cama, por sorte Jester já havia chegado perto o suficiente para amparar-lhe a queda.

— Senhora, seu corpo ainda está fraco.

Priyanka sentia sua cabeça girar e foi colocada com todo cuidado em sua cama, no momento em que ela abriu a boca para dizer algo a porta de seu quarto foi escancarada.

Priya estava lá com o rosto vermelho, ofegante e com expressão assustada. Ela continuou na porta olhando para a Imperatriz que também a olhava. Lábios rachados pela febre, corpo fraco pelos dias acamada, mas Priya estava ali a espera de algo que só Priyanka poderia oferecer-lhe.

— Senhora! – Uma das colaboradoras tentou mantê-la na cama, mas a Imperatriz colocou-a gentilmente de lado e foi vagarosamente em direção a sereia. Todos a olhavam curiosos.

A sereia estava como sempre a viram, olhos azuis, cabelos loiros, pequena e frágil. Priyanka ajoelhou-se frente a sereia e sorriu gentil, foi impossível para ela manter as lágrimas em seus olhos, então elas desceram como dois rios indo de encontro ao chão.

— Sim, eu quero continuar sendo sua mãe. – Ela deu a resposta que a sereia tanto ansiava e como recompensa recebeu o abraço mais apertado e mais sincero que Priya já havia lhe dado em toda sua vida.

"— Eu sou Ayra." – A sereia disse mesmo sem falar para que só Priyanka pudesse ouvir.

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