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Capítulo 54 - Finalmente.

As mulheres foram as primeiras a manifestar horror perante o corpo morto de Benjair caído pelo palco, logo agarraram-se aos braços dos homens e eles juntaram-se a elas no choque coletivo. Gritos histéricos começaram a vir de todos os lados e outros corpos caiam também com facas alojados na cabeça. Todos olhavam procurando de onde vinham aquelas facas, principalmente a que ainda estava instalada na garganta do homem morto, cujo sangue já escorria até chegar aos pés de Lantis que permanecia com as mãos erguidas penduradas pelo cabo. Olhos azuis procuraram pela mulher, pela capitã, mas ele não a encontrava em nenhum canto, talvez um pequeno sorriso houvesse surgido em seus lábios lustrosos, mas foi embora tão rápido quanto apareceu.

Markus terminou de beber o líquido de sua taça, como se já esperasse que algo assim fosse acontecer naquela noite.

— Um a menos no meu caminho. – Ele levantou-se e ajeitou a roupa, caminhou em passos lentos em direção ao palco com uma arma apontada em direção a cabeça de Lantis. — Não se mexa ou dessa vez ela vai encontrar só os seus miolos espalhados pelo chão.

— Não sei quem está esperando. – Lantis disse para a surpresa dos convidados. — Ela não virá, ela escolheu o navio e não a mim, ela...

Ele foi interrompido por uma risada alta e estranha vinda da porta de entrada. O dono dela segurava outras facas iguais aquela que ainda estava na garganta do velho morto.

— Vocês devem estar brincando comigo! – Ele disse. — Calem-se por favor, antes que eu me mije de tanto rir!

Markus o olhava, assim como os outros, o rapaz aparentava ser bem mais novo do que realmente devia ser, os olhos eram puxados como os de Mizuki, no entanto sua pele era mais morena e seus cabelos não eram nada lisos, eram enroladinhos fazendo cachos negros brilharem sob a luz e ele usava uma bandana preta.

Os homens de Markus finalmente tomaram posição de ataque, pelo menos aqueles que estavam do lado de dentro do navio, os que estavam lá fora podia-se presumir que estivessem mortos, mas alguns ainda estavam lutando ou agonizando.

— Deixe-me esclarecer uma coisa, – O rapaz disse. — Eu vim cumprir um favor a um amigo meu, pagar uma dívida, não levem para o pessoal. – Ele tinha um sorriso travesso no rosto e falava com um ar brincalhão. — Vou cumprir a minha parte na tarefa e vou embora.

— Do que você está falando? – Markus perguntou sem tirar a mira de Lantis.

— Na outra festa eu não consegui comparecer, tive uns probleminhas pra resolver, mas agora estou aqui e — Ouviu-se então um estrondo do lado de fora, algo atentava contra o navio, os presentes arregalaram seus olhos e um cheiro estranho subiu no ar junto com o balanço do navio desequilibrando a todos. — Ora, eles já chegaram! – O rapaz disse colocando as mãos na cintura.

Foi então que tudo aconteceu de uma vez.

O som alto veio de fora, como a vocalização de um animal feroz e muito grande, o ranger da madeira e o trepidar destacados entre os gritos e gemidos de assombro. Pelas janelas sombras movimentavam-se de um lado para o outro como acontece em bambuzais quando o vento sopra e num instante o vidro estava estilhaçado no chão. Alguns sofreram pequenos cortes, outros tiveram ferimentos mais profundos, o que na verdade não faria muito diferença quando chegasse a hora do resultado final.

O pessoal daquele rapaz lutava contra os homens de Markus e Benjair, eles eram agéis e tinham um estilo próprio para desferir os golpes. A velocidade e a mobilidade em seus movimentos fazia tudo parecer uma dança muito bem ensaiada, mas uma dança de rua, uma coisa sem pompa e muito bem articulada. Aquele pessoa era muito bem treinada e todos os seus seguiam seus passos.

Markus estava próximo o suficiente de Lantis, mirou a arma e atirou, Lantis não fechou os olhos, continuou encarando Markus, a bala veio na direção dele, mas Markus havia mirado na corda e ao arrebenta-la tomou o sereia pelos braços apertando a sua pele, a arma voltou apontada para a cabeça dele. Tendo as mãos soltas Lantis tentou reagir, ele era forte, e percebeu, era mais alto que Markus, golpeou-o com sua cabeça e talvez tenha quebrado o nariz de Markus, aproveitando do susto, Lantis conseguiu agarrar o punho que segurava a pistola, tentando levar a arma para o lado oposto do seu corpo, torceu o braço dele para a direita, virando Markus e jogando-o no chão, a arma caiu para longe. Markus ainda não estava indefeso e tirou uma faca da cintura e cortou o tornozelo de Lantis que cambaleou e caiu. Markus aproveitou para se levantar, pegou a cabeça de Lantis e com os joelhos golpeou-o com bastante força, o sereia caiu para trás e virou o corpo de lado, o sangue escorria por sua trança. Ele viu o corpo de Benjair ainda no chão e não querendo ficar como o velho levantou-se de uma vez, como Theodora o ensinou uma vez no navio. Mãos em punho, pés em posição e ele foi para cima de Markus que fez o mesmo. Golpes um pouco sem jeito, mas a maioria deles acertava em cheio e Markus podia sentir que o sereia tinha bastante força. Lantis levou um soco no meio da boca e seus lábios racharam e havia sangue nos punhos de Markus. Contudo, o sereia não se dá por vencido, utiliza seus treinos com Theodora para se movimentar de maneira imprevisível, usando truques e movimentos rápidos para tentar desequilibrar Markus. Com uma postura mais agressiva em seus movimentos, ele utiliza chutes, joelhadas e cotoveladas poderosas, procurando desgastar Markus com ataques contundentes e rápidos.

— Sereia desgraçado! – Markus tinha o rosto sangrando, de canto de olho ele viu a pistola caída no chã abaixo de uma mesa e sem que Lantis esperasse ele correu para alcança-la.

— Não! – O sereia gritou tentando correr para também alcançar a arma, mas seus tornozelos ainda não haviam se curado por completo e ele não conseguia correr tão rápido.

O sereia ouviu quando a arma foi preparada para disparar e dessa vez ele fechou os olhos, não havia mais esperanças, mas o disparo não veio.

— Pare! – A voz de Jane alcançou os ouvidos do homem, com um sorriso macabro ele deixou de mirar em Lantis para mirar na direção dela.

— Finalmente você chegou.

O salão foi tomado por tentáculos que invadiam as janelas e agarravam quem estivesse pelo caminho, haviam ventosas em uns e haviam ganchos ósseos em outros, o que transformava os tentáculos em armas letais, já não bastasse a força que desferiam contra o chão na tentativa de esmagar algo.

Markus aproximava-se de Jane alheio a tudo a sua volta, o calibre da pistola bem direcionado, Jane ia em sua direção com a espada na mão, seus olhos indo entre Markus e Lantis.

Não obstante, os homens ao lado da capitã na batalha invadiram o lugar e lutavam contra os homens de Markus e do já morto Benjair. Os nobres que possuíam armas atiravam sem saber em quem já que para eles todos pareciam iguais, não sabendo diferenciar os bons e os maus julgando todos ali unicamente pela aparência.

Um outro grupo juntou-se a eles, eram homens e mulheres com traços étnicos parecidos com os do rapaz que falava outrora, tinham a pele bronzeada e os cabelos encaracolados.

— Tetsu! – A voz de Romualdo alcançou aquele rapaz que atingia um nobre com uma voadora. — Você demorou, seu tartaruga safado!

O rapaz riu alto.

— Nada disso, eu cheguei na hora certa!

A confusão era grande no salão de festa, havia tentáculos, sangue, piratas, tartarugas e homens bravos lutando com vigias, nobres e homens mal pagos.

Era comum que os nobres andassem armados, era uma questão de honra e de valor ter consigo alguma espada ou pistola, era sinal de virilidade e todos precisavam provar a própria masculinidade por onde andavam, não bastava apenas os atos ou o valor de suas palavras, era necessária uma arma para sentirem-se homens completos. Os Tartarugas riam enquanto chutavam as armas para longe. Eles usavam lâmina com cabos adornados, alabardas que perfuram os homens da marinha e lanças que alguém chamou de yari para acabar com seus oponentes. Tetsu tinha entre os dedos facas de estroque e arremesso. Eram feitas em vários tamanhos e possuíam várias formas. Ele as usava no combate corpo para atingir pontos mortais. A argola servia para que o indicador fosse usado como eixo em movimentos giratórios de corte em alta velocidade, dificultando a retirada da mão numa luta. Não havia quem conseguisse escapar com ele as lançava e um a um seus oponentes iam caindo no chão.

Markus estava próximo o suficiente de Jane, se esticasse o braço para frente acabaria encostando a pistola no rosto dela. A capitã estava com muita raiva, via Lantis e sabia que aquele desgraçado podia atirar nele a qualquer momento só para vê-la sofrer. Simon aproximou-se deles, o sabre firme em uma das mãos, no entanto, Markus não podia ter menos medo dele, o grandão não faria nada sem a ordem de Jane.

— Então você finalmente veio buscar o seu sereia não é? – Ele sorria. — E dessa vez veio bem preparada. – Ele se referia mais aos tentáculos que golpeavam os homens que tentavam cortar com a espada. — Me diga, capitã, como foi que conseguiu que uma besta dessas ficasse ao seu lado?

Jane não disse nada, seu olhar manteve-se em Lantis todo o tempo, o sereia retribuía, ela não saberia dizer o que ele faria depois que tudo aquilo acabasse.

Markus começava a ficar incomodado sem ter a atenção que queria, mirou o calibre da pistola no rosto de Lantis, Jane não manteve-se a quem, suas mãos apertaram a espada e seus olhos voltaram-se a Markus.

— Agora, eu estou curioso mesmo com essa besta Jane, de verdade, como você conseguiu que ela ficasse ao seu lado?

Lantis parecia fazer a mesma pergunta, Simon já sabia a resposta há muito tempo, ele deu um passo para frente, Jane colocou o braço impedindo que ele avançasse mais.

— Eu fiz um acordo, ele me ajuda e eu ajudo o povo dele. – Ela disse como quem diz sobre as coisas mais trivias.

Markus levantou uma sobrancelha.

— Continue.

Ela respirou fundo, não queria dizer tudo a ele, embora esperasse que ele não saísse dali com vida para contar a mais ninguém. Mas ela queria dizer a Lantis e aquele parecia um bom momento para ganhar tempo.

— Quando eu cai no mar uma vez, eu estava para morrer, Ellyn me salvou e eu fiz um acordo com ela, a besta está aqui para me ajudar a cumprir a minha parte no acordo.

Lantis e Markus tiveram os olhos arregalados pelo nome de Ellyn, por motivos diferentes eles ficaram surpresos ao que Jane mencionava o nome de uma das Imperatrizes da Água que estava desaparecida há tantos anos.

— Ela está viva. – Jane disse olhando para Lantis, ele abrandou o olhar sob ela um pouco. — Eu vou juntar todas as pérolas que restaram e ela vai reerguer o Império da Água novamente.

Jane dizia a Lantis, e não a Markus, por isso o sereia respondeu:

— E o que você ganha com isso?

­— Paz de espirito eu acho. Não vou ser mais conivente com tanta maldade que fazem com as sereias.

Markus riu bem alto, a saliva respingou em Lantis.

— Então você é "o herói" das sereias? – Ele disse de forma debochada. — Uma pirata sendo o herói do dia? – Ele ria ainda mais.

Jane olhava para Lantis ainda sem importar-se com Markus.

— Eu vou libertar as sereias e elas vão ter para onde voltar, vão ter o seu Império e ninguém mais vai colocar uma coleira em seus pescoços. Eu disse isso a Ellyn aquele dia e jurei pela minha própria vida que não deixaria nada e nem ninguém ficar no meu caminho.

— NÃO! – Um grito veio de longe, era a voz de Victhor.

Will havia entrado em sua frente impedindo que ele recebesse um tiro, a bala perfurou o lado do loiro e ele sangrava no chão do salão.

— Will! Will! – Victhor o apoiou em seu colo enquanto aquele que atirou mirava a arma para ele.

— Não se preocupe, já está chegando a sua vez!

A arma disparou e a bala passou raspando no braço de Victhor, uma espada havia atravessado a costa daquele e varado pela frente em seu estomago, sua boca encheu-se de sangue e o liquido vermelho escorreu pingando no chão. Quando o corpo caiu já sem vida, Victhor viu quem havia lhe salvado a vida.

— Não há de que! – Daren sorria com a espada suja de sangue.

Victhor ficaria agradecido outra hora, no momento preocupava-se com Will agonizando em seus braços. Daren não teve tempo de ajuda-lo já que os homens de Markus ainda estavam em grande número atacando os piratas.

— Will, Will! – Victhor arrastou o corpo dele para o canto, desviando de mesas e cadeiras jogadas ao chão, corpos e pratos, os tentáculos da besta quase o acertaram mais de uma vez. Aliás, a besta não resistiria muito mais tempo, haviam perfurado sua carne e o líquido arroxeado vazada de seus ferimentos.

O pouco tempo que Jane prestou atenção em Will fora suficiente para Markus tentar avançar sob ela. Ele levou a mão para agarrar Jane, chegou a tocar em alguns fios de seu cabelo antes de ter a mão cortava pela lâmina do sabre de Simon.

— Aaaahhh! – Markus urrou de dor. — Seu maldito!

A arma que estava na outra mão desferiu disparos contra Simon, um deles o acertou no ombro, o que não pareceu ser nada já que Simon continuou indo pra cima de Markus.

— Simon! – Jane o alertou, apesar do amigo ser muito forte e muito grande, ainda era feito de carne e sangue e não seria páreo para uma arma.

Jane foi para cima de Markus, mas recebeu um "não" de Simon e Lantis a segurou pelo ombro.

— Parece que é algo que ele mesmo quer fazer.

Simon recebeu mais duas balas, uma na perna e outra abaixo da costela. Uma terceira passou próximo ao seu pescoço e ele teria recebido mais se a pistola não houvesse parado de atirar.

Enquanto o corpo volumoso de Simon avançava sobre Markus, este tentava atirar com a arma, em vão. Markus caiu ao chão, tropeçando em uma cadeira. Daí em diante sabia que sua vida estava no fim.

Ele riu alto, muito alto.

— Você pensa que vai conseguir? – Ele disse a Jane. — Você não vai realizar esse seu desejo idiota! Muitos vão se opor ao seu caminho! – Ele ria ainda mais, a baba escorrendo por sua boca.

Simon parou em frente a Markus, sua sombra cobria todo o corpo dele e ainda havia espaço para mais. Markus retirou um punhal da bota e apontou para Simon.

— Você pensa que eu tenho medo de você?

— Deveria ter. – Simon disse sem nenhuma emoção na voz.

Markus atentou com o punhal contra Simon, não adiantou de nada, o homem era vil e tinha muito poder e influência, mas na realidade era só um homem como outro qualquer.

Markus olhou ao redor, havia o caos e a perda, seus homens eram muitos e a maioria estavam mortos. Os tentáculos da besta já voltavam para o mar, encharcados de sangue dela mesma e de outros, ele não havia contado com aquilo, não haveria como.

— Eu sabia que você viria por ele. – Novamente ele se referiu a Jane. — Sabia que cedo ou tarde você tentaria recuperar o sereia que trocou por seu navio.

— Você teria matado a nós dois, você quis mostrar a ele que ele não tinha valor para mim, pois bem, foi feito a sua vontade, agora você sabe o quanto este sereia vale. – Caos para todo lugar, espadas e gritos, disparos e choros, risos e sangue. Tudo, Jane faria tudo. — Ou melhor, um tritão.

Lantis a olhou surpreso, haviam anos que ele não escutava aquelas palavras. Na língua dos homens, aquela era a forma correta de se referir a ele, sentiu-se bem, não era como um animal 'macho" ou "fêmea", ele era um tritão.

O Alma Negra estava lá fora, haviam o suficiente de homens nele para aquela noite, e os que haviam eram fortes e leais a sua causa, Romualdo estava nele também, trazia sua ferocidade e seu espirito imperativo. O Alma Negra era feito de homens e mulheres resistentes, corajosos que dariam a própria vida pelo seu objetivo, aqueles não tinham mais nada a perder, que seriam chamados de loucos. Muitos dos homens que navegaram pelo Alma Negra não eram dignos dele, mas muitos eram, como Rupert era, como Daniel era, e por isso diziam os outros que a carranca da sereia de três cabeças chorava a noite, chorava pela tristeza e pela perda dos valorosos homens que mereciam navegar a bordo de seu navio.

O cargueiro da festa estava cercado, não havia para onde ir e aquele seria o fim de muitos que financiavam a compra e venda de sereias.

Simon não esperou mais, o sabre contra o punhal já tinha um vencedor e a outra mão de Markus foi separada de seu corpo. O grito de dor foi ecoado pelo salão e logo silenciado pela lâmina que perfurava seu peito. O sabre partiu o tórax ao meio, a boca aberta escorria um sangue escuro, Markus caído pelo chão, os cachos de seus cabelos cobertos de sangue e Simon só parou de golpear porque Jane já não aguentava mais segurar o que restava em seu estomago. Seria difícil reconhecer Markus, mas qualquer um saberia que aquele era ele.

Simon deixou o corpo de Markus, olhou para Jane que estava atônita e saiu para buscar alguém, ainda estava um grande alvoroço ao lado deles e muita coisa precisava ser resolvida. A tensão da batalha ainda pairava no ar, mas Markus havia sido derrotado. Lantis olhou para Jane, ela o olhou de volta, tudo perdeu a cor, o brilho, a forma, não existia mais nada a não ser um e o outro. Os olhos de Lantis se encheram e os de Jane transbordaram, ela estendeu os braços e sem dizer uma única palavra ele foi até a capitã num abraço apertado, ansiado e entre choro e alivio, os dois puderam estar juntos sem que uma arma estivesse na cabeça de um deles. Ouvindo seus próprios corações e sentindo o calor de cada um, era uma sensação familiar, como chegar em casa depois de um dia cansativo e cheio de dificuldades, enquanto se abraçam, um turbilhão de emoções corria por suas mentes, cada segundo desse abraço era precioso, havia troca de calor e proximidade. Jane afastou o mínimo para olhar Lantis, passou a mão por seu rosto e abriu a boca para dizer a ele algo muito importante.

— Jane! – A voz de Simon veio de longe, com muito custo Lantis deixou o abraço dela.

— Nós precisamos conversar. – Ela disse, ele fez que sim ainda segurando as mãos dela.

— Eu vou estar onde você estiver. – Ele disse.

A voz de Simon veio com mais urgência e Jane precisou ir.

No fim, foi Simon quem tirou a vida de Markus, que acabara com aquele ciclo de perseguição. Se parasse para pensar, Jane não poderia ter previsto pessoa melhor para o fazer, fora Simon quem sempre a protegeu, quem estava ao lado de Rupert quando ele morreu por culpa de Markus, quem carregou Theodora nos braços, quem sempre foi leal e fiel aos princípios do Alma Negra e quem era a força e o pilar de sustentação para Jane fazer todos os seus planos. Ela sabia desde sempre que podia contar com ele para tudo e qualquer coisa.

Após a morte de Markus não tardou para o rendimento dos que sobraram, os senhores nobres levantaram suas mãos e suas esposas ou acompanhantes fizeram o mesmo. O saque foi feito, os piratas levaram tudo que havia de valor com os nobres, eram muitos colares, anéis, dinheiro, eles pegaram tudo que valesse alguma quantia, claro que até dos mortos eles tiraram e os corpos foram deixados de lado para terem o destino que lhes coubesse depois. Não era da conta deles o que fizessem.

Os remanescentes do grupo de Jane rumaram para o navio, Romualdo ia com os seus na frente, todos animados pela vitória, poucos deles haviam padecido e vindo de uma batalha era algo a que comemorar, além do pequeno carregamento que seria dividido mais tarde. A capitã vinha com Simon no último grupo, Victhor carregava Will que andava com muita dificuldade ainda sangrando com a bala alojada no abdome e Lantis apoiava o loiro do outro lado pelo ombro. O tritão não havia dito nenhuma palavra depois da morte de Markus, o corpo desfigurado a sua frente era tudo o que havia sobrado daquele homem e Lantis não aguentava olhar para ele. Assim que pode tirou aquela roupa de escravo e limpou o rosto com água de beber que estava nas mesas, desfez a trança e deixou o cabelo solto. Sentia-se menos sujo assim.

Seu coração mantinha-se pesado, por ordem de Jane as sereias que de alguma forma haviam sido atingidas e mortas durante o combate foram levadas para o Alma Negra, mais tarde seriam levadas de volta para o fundo do mar, as que sobreviveram ainda sentiam o efeito da Ilha das Bruxas e foram colocadas no porão do navio onde permaneceram com seus olhos apáticos. Lá seria o melhor lugar para elas, estariam protegidas até que pudessem voltar ao mar. Receberiam água, comida e sempre teriam luz.

Lantis pensava sobre elas, lembrava-se das pequenas sereias que havia encontrado num outro momento e de como elas eram diferentes das que estavam ali. A liberdade faz muita diferença sobre alguém, sendo ela do povo do mar ou não.

— Bem-vindo de volta, irmão! – Foi com bastante dificuldade que Will disse as palavras.

Lantis não sorriu como ele esperava, o tritão olhava Jane apoiando em Simon mais a frente deles, ele não havia percebido que ela tinha um enorme corte na coxa. Lantis pensava se ela teria em mente algum destino para aquelas sereias, o que poderia fazer com elas a partir de agora. Mas mais do que isso, ele sentia que queria tirar Jane dos braços de Simon e tê-la nos seus.

— Ela não queria te deixar lá, Lantis. – Foi Victhor quem disse como se os sentimentos do tritão fossem transparentes como vidro. — Ela sofreu muito por ter que faze-lo. – O tritão passou a olhar para Victhor, ponderando sobre suas palavras. — Se ela não o deixasse, Markus mataria vocês dois. – Victhor fez uma pausa. — Mas eu acredito que você já saiba disso.

Lantis havia sim pensado sobre isso.

— Eu só, – Ele disse com a voz baixa, o cor azul em seus olhos parecia mais clara do que antes, talvez fosse o momento que a mudara assim. — Só não queria que doesse tanto, que ela não tivesse tanto poder assim sob mim, que não fizesse tanta diferença ela dizer que não me queria, mesmo que fosse para salvar a minha vida.

Victhor entendeu, afinal ele era alguém que vivia uma vida pelos desejos e vontades dos outros.

— Mas eu tenho certeza, – Foi Will quem disse. – Que ela se sente da mesma forma, – Havia um sorrisinho nos lábios esbranquiçados dele. — Ela também ama muito você, homem-peixe.

A cor nos olhos de Lantis pareceu ganhar alguma intensidade com aquelas palavras, se aquilo fosse mesmo verdade...

— Então ela... – Lantis não teve tempo para prosseguir, Will perdeu a força nas pernas, soltou um gemido de dor e sangue saiu por sua boca.

— Não se esforce demais. – Os cabelos leves de Victhor balançavam com o vento passando por eles. — Logo Pyra vai cuidar de você.

No fim todos estavam no Alma Negra com todas as joias que haviam para pegar e com a carga que estava no navio da festa. Os feridos foram colocados no porão onde havia mais espaço. Simon estava junto com eles e havia levado bronca por ter escondido um ferimento enorme no ombro direito.

Dos homens de Romualdo haviam alguns ajudando aqueles mais feridos, Daren estava entre eles e parecia ter bastante jeito com ferimentos graves.

— Logo que tivermos o material necessário você vai ficar melhor. – Ele disse sorridente para Simon. O grandão não disse nada, manteve o corte escondido o tempo todo e somente no final foi que mostrou a Daren. — Você é bem forte, tenho certeza que pode levantar um boi inteiro com esses braços!

E Daren ficou ao lado de Simon durante bastante tempo, perturbando-o com sua falatória sobre o quanto Simon era forte e que ele queria ser forte assim um dia. De alguma forma Simon não se sentiu incomodado com o rapaz, ele devia ter a mesma idade que Ana e tinha a mesma disposição para falar e sorrir ao mesmo tempo que ela. Daren queria ser forte como Simon, assim como Simon desejou um dia ser o homem mais forte. Hoje toda sua força valeu a pena, Jane estava onde deveria estar e logo ele veria Ana, isso era o que importava.

Os Tartarugas estavam todos no convéns do Alma Negra, alguns sangravam na cabeça, outros já tinham hematomas surgindo pelo corpo, mas eles riam alto e imitavam uns aos outros durante a batalha na festa. De certo a ajuda deles havia sido crucial para a vitória, eles eram muitos e lutavam muito bem principalmente corpo a corpo e com armas de corte.

— Bem, parece que paguei a minha dívida. – Tetsu ofereceu a mão a Romualdo que a apertou com satisfação.

— Seu pessoal foi de grande ajuda.

— É sempre um prazer fazer negócios com o senhor!

— Digo o mesmo Tartaruga.

Tetsu sorriu grande como uma criança, essa era uma de seus características mais notáveis. Os tartarugas desceram pela escada de cordas do Alma Negra, poderia ser que algum curioso quisesse espiar para onde eles estavam indo já que não havia navio ou escaler sequer ali, mas esses estavam ocupados com suas próprias coisas e logo todo o Clã Tartaruga desapareceu sem levar nenhuma das jóias saqueadas e mar a fora se via várias tartarugas gigantes na superfície da água com pessoas rindo alto e conversando em cima de seus cascos.

O navio cargueiro foi ficando para trás a medida que o Alma Negra se afastava pelo mar, os vigias do mastro alertaram que um navio branco se aproximava, mas nem Jane e nem Romualdo pareciam se importar. Não daria tempo para que eles fizessem as duas coisas, eles teriam que escolher entre ir atras deles ou resgatar as pessoas que sobraram vivas no navio dos nobres.

— Qual navio é? – Foi Victhor quem perguntou, ele havia recebido a notícia e o receio de ser o Rainha do Mar chegou até suas espinhas.

O vigia do mastro demorou algum tempo para responder.

— É o Garça Branca, senhor!

Victhor correu até a amurada e olhou fixamente para o ponto onde estava o navio. Ele não soube dizer se fora sua imaginação ou não, mas jurou ter visto Éric em pé na proa olhando fixamente para ele.

— Eles estão pareando com o navio nobre, senhor.

Victhor recebeu aquela notícia com um alivio, não sabe o que faria se o Garça Branca resolvesse vir atras do Alma Negra a essa altura.

Mas de todo modo ele sentiu que seu reencontro com Éric estava mais próximo do que ele poderia querer, e temeu sobre quais seriam suas atitudes quando isso acontecesse.

Quando o sol se levantou no terceiro dia depois da luta contra o navio dos nobres, Jane e Lantis ainda não haviam conseguido conversar. Parecia que o destino estava contra os dois.

Assim que as coisas estavam minimamente estáveis no Alma Negra, ainda quando navio dos nobres podia ser visto pela luneta, Jane foi até Lantis para conversarem, no entanto, o sereia dedicava seu tempo com Will que tinha uma bala alojada na cintura e Lantis havia dito a eles sobre os dons de cura das sereias. Dessa forma Pyra passou a solicitar a ajuda do sereia muitas vezes, seja para cuidar dos ferimentos pos batalha, seja para novos ferimentos naqueles que trabalhavam nos arremates do navio. Theodora também recebia uma boa quantidade de cura e cada dia ficava mais disposta dando a Lantis aulas sobre luta corporal e dicas de como usar a espada. Além disso, toda vez que o tritão ia até a cabine da capitã e abria a boca para dizer qualquer coisa alguém entrava aos berros dizendo que um outro navio pirata estava prestes a atacar o Alma Negra e eles entravam em batalha, ou havia ataque serpentes, ou infestação de ratos ou todo tipo de coisa que Jane tinha que lidar. Dai havia sangue para limpar, armas e canhões para recolocar no lugar e o Alma Negra só flutuava sobre as águas sabe-se lá por quê, o navio precisava de manutenção todos os dias e todos estavam destinando seu tempo para que o naufrágio não fosse imediato.

Quando Jane ia até Lantis na ala dos doentes, já que o tritão tentava usar seus dons para ajudar os feridos, logo chegava mais alguém com um corte nas mãos ou uma arma enfiada na cintura durante o treino. No mais o tempo deixava a situação um pouco estranha e Lantis e Jane foram ficando um tanto afastados, mesmo que não quisessem. Quem os visse notava rapidamente que eles precisavam conversar já, mas ainda que houvesse urgência, era como se o navio balançasse e eles fossem para lados opostos e com o nascer e se por do sol, Jane e Lantis mantinham o desejo ainda entranhados em seus corações.

— Capitã. – Ele disse enquanto abria a porta da cabine dela.

Jane foi pega um tanto desprevenida e enquanto a porta abria ela tentava enrolar uma faixa de algodão na cintura, a faixa era para cobrir um curativo que ainda sangrava e Lantis chegou bem no momento em que ela começava a colocar a faixa.

— Espere um pouco! – Ela disse ficando de costas a ele, mas já era tarde, ele havia fechado a porta e visto o curativo dela.

— Você tem um ferimento grave?

— Não é nada demais.

Jane normalmente usava calças de tecido grosso, não tão justos ao corpo, mas também não muito largos para não atrapalhar seus movimentos, porém naqueles dias ela usava calças tão largas que se pareiam com as de dançarinos do Oeste.

— Por que você não foi até mim? Eu poderia ter resolvido isso para você.

Ele aproximou-se dela e ficaram de frente para o outro. Jane usava somente aquelas calças estranhas e uma roupa íntima um tanto transparente que cobria parcialmente os seios. Haviam hematomas em suas costas e muitas feridas mal cuidadas que virariam cicatrizes horríveis.

— Não é preciso. – Ela deu um passo para trás à medida que ele estava perto demais. — Já tem homens demais lá, isso aqui não é nada.

— Entendo. – Pode ser impressão de Jane, pode ser porque eles ficaram sem se ver durante um bom tempo e depois longe um do outro, mas ela achou que os azuis de Lantis estavam ainda mais intensos e pareciam como ondas dançando em seus olhos. Era hipnotizador e seu corpo não reagia ao olhar para ele. — E o que houve com sua perna?

— O que? – Jane demorou um minuto a mais para entender o que ele estava dizendo.

— Vi você andando com dificuldade esses dias. O que houve?

— Não é...

— Não diga isso. Deixe-me ver e – Ele tocou a faixa que ela havia amarrado descuidadamente em sua cintura. — Tire isso também.

Jane não sabia explicar o porquê, mas fez exatamente o que Lantis disse. Desenrolou a faixa da cintura e fez uma careta quando o algodão ficou um pouco preso no sangue do curativo repuxando a pele, jogando a faixa no chão ela retirou aquele curativo feito com dificuldade por mãos tremulas e o sangue escorreu um pouco chegando até sua calça. Esta foi desabotoada, desamarrada e caiu no chão pelo peso. Lantis observava cada movimento de Jane parando para olhar a profundidade daquele ferimento na cintura, que devia ter sido feito por uma espada e aquele na perna.

— Isso está muito ruim? – Ela perguntou desviando um pouco dos olhos dele.

Lantis abaixou o corpo e manteve o peso do corpo nos joelhos.

— Posso? – Ele disse esticando um pouco a mão como se quisesse tocar Jane.

— Eu queria dizer que não.

— Mas eu vou tocar mesmo assim.

E ele o fez. Os dedos de Lantis deslizaram pela pele dela, o contraste da temperatura quente dele com a fria dela, e as pontas dos dedos dele tocaram uma ferida horrivelmente preta na parte detrás da coxa da capitã. Não doeu como ela pensou que doeria, na verdade ela sentiu grande alivio.

— Não deixe que fique assim numa próxima vez. – Ele disse enquanto suas mãos pressionavam levemente o local. Jane sentiu um calor subir por seu corpo e atribuiu aquela quentura aos dons de Lantis e em certo tempo aquele ferimento deu lugar a uma pele boa, saudável novamente.

— Obrigada.

— Eu não terminei. – Sem mudar de posição Lantis tocou aquela ferida na cintura dela e Jane precisou apoiar nos ombros dele já que seus joelhos pareceram dissolver por completo. — Talvez doa, aguente um pouco.

— Tudo bem. – A voz de Jane saiu um pouco mais sôfrega do que ela esperava e depois de dizer as palavras uma dor queimou aquele local e ela apertou os ombros de Lantis com um pouco de força.

— Já está acabando. – Ele disse enquanto concentrava-se ali.

Jane olhava-o de cima, e por sorte a dor era forte o suficiente para que ela não pensasse em outras coisas.

— Eu tenho algo que gostaria de dizer a você. – Ela disse entre os dentes,

— Depois que eu terminar aqui.

— É que... Ah!

Com uma tontura repentina os joelhos de Jane realmente cederam e ela caiu um pouco sobre o corpo de Lantis. Seus rostos ficaram bem próximos e seus corpos estavam praticamente abraçados já que ele a segurou.

— Desculpe, acho que exagerei um pouco. – Lantis disse perto do rosto dela.

Jane voltou seu olhar diretamente para ele, envolveu os braços em seu pescoço de deixou que seu corpo se aconchegasse ao dele.

— Jane...

Ela não disse nada, seus olhos estavam vidrados e suas pernas foram passadas ao redor da cintura dele, a fina faixa que cobria seus seios foi parar próxima ao seu umbigo e ela apertou ainda mais seus corpos.

— Jane, o que você... Ah. – Lantis sentiu algo sendo pressionado e seu corpo começou a reagir. No entanto, mesmo que fosse algo que ele quisesse, Jane não parecia ela mesma, agindo como se tivesse bebido demais.

— Jane, pare com isso. – Ele disse numa voz tão calma como se falasse sobre bolinhos de baunilha. E ela parou. — Me desculpe, não sabia que isso podia acontecer. Acho que forcei você, me desculpe.

Mas ela continuava a olhar para ele com olhos inebriados, ela estava cheia, intensa, repleta e seria até mesmo perigoso deixa-la sozinha assim.

— O que eu faço?

Lantis perguntou a ela, sem que houvesse um resposta para dar, Jane levou a mão até os cabelos do sereia e puxou seu rosto para mais perto do dela.

— Me beije. – Ela disse e ele obedeceu.

Sentindo-se estimulado pelo beijo e Jane em seu colo, foi difícil para Lantis não ceder ao querer, no entanto, ele precisaria parar quando o efeito passasse e ele e a capitã precisariam ter uma conversa sobre as coisas que aconteceram e sobre decisões que deveriam ser tomadas.

— Lantis... – Jane sussurrou o nome dele em seu ouvido e o tritão sentiu seu corpo enrijecer. — Não pare de me beijar.

Lantis não se movimentava mais suavemente, não era possível para ele parar a partir dali e seu ritmo tornou-se intenso. Jane seguia os movimentos em seu colo, ambos no chão da cabine, sem se importar com o curso do navio, desfrutando dos sabores das línguas que faziam todos seus sentidos interagirem. Jane sentia seu corpo esquentar a todo instante, sua respiração tinha peso e dificuldade e ela sentia cada parte de si queimar. Naturalmente não haveria nenhuma cicatriz em seu corpo depois dali, a não ser as marcas dos dedos de Lantis que ficariam um tanto avermelhadas em sua cintura, costas e nadegas.

Jane e Lantis se olharam e ele viu que já não havia mais aquele efeito narcótico sobre ela, ao invés disso, era Jane que o beijava por vontade própria, ela alisa os lábios de Lantis com a ponta da língua, de olhos fechados ela deixou seu corpo completamente entregue aos desejos de Lantis que eram os mesmos que os seus. Ele a segurou pela nuca levando o rosto dela um pouco a frente para que a pudesse olhar, os lábios de Jane estavam tão vermelhos quanto os seus, como se fossem aquelas maçãs caramelizadas vendidas nas feiras, as bochechas de Jane estavam rosadas, ela tinha um cheiro completamente libidinoso, provocante e um olhar lascivo que Lantis não poderia resistir. Ele era um tritão, mas a verdade é que ele se sentia completamente enfeitiçado por aquela pirata e não haveria paz em sua mente se ele não a tivesse e se ele não pertencesse a ela agora.

Por fim, a conversa séria e importante que eles deveriam ter precisaria esperar, por hora a porta da cabine não deveria ser aberta, os nomes deles não deveriam ser ditos por outras pessoas e o tempo deveria esquecer de passar. Jane e Lantis tinham saudade um do outro, vontade um do outro e toda civilidade que exigia os assuntos sérios seria colocada de lado. Por quês, decisões, motivos e importâncias não iriam fazer sentido agora, o amanhã serviria para os esclarecimentos e o hoje seria apenas dos dois até a hora que seus corpos estivessem cansados o suficientes para que suas mentes precisassem descansar.

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